terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Até 2009!

Então é natal!
Cá nos trópicos, essa época se confunde com o início do verão, e na verdade tudo é festa!
Não quero contextualizar os motivos da data, até porque convicção religiosa e questões de fé, nós já conversamos muito durante o ano que se termina.
Quero sim, desejar à todos um belo período de festas e que acima de tudo, estas festas sejam de encontros e reencontros.
Amem desmesuradamente...
Cantam e dancem como se a vida fosse realmente uma festa...
Sejam felizes e gozem tudo com saúde...
Felicidades, amor e prosperidade à todos!
Até 2009...
Fraterno abraço!
André

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Crise do André!

Há algumas semanas minha mãe está comigo, na minha casa, passando um tempo até que passe aquilo que ela conceituou de "a crise do André!" Ouvi algumas vezes ela justificando pelo telefone para minha irmã, que ficaria "até que passasse a crise do André!" Logicamente que não ando nos meus melhores dias, e afinal crises todos tem e que bom se todos tivessem mães como a minha velha Norma( é o nome dela)!
Mulher da minha vida, lembro daquela mulher linda que acalmava meus ímpetos edípicos lendo as grandes histórias da minha infância. E minha mãe lia como se estivesse num palco repleto de gente... e sua única platéia era eu... eu menino e apaixonado!
Lembro da maldita creche onde só fui um dia e fiquei chorando desesperadamente sem mover-me um passo até que minha amada me resgatasse no fim da tarde!
Adolescente, era dela que eu recebia presentes no dia dos namorados quando eu estava sem ninguém. e as outras mulheres de minha vida era ela quem mais as amava e as fazia sentirem-se filhas!
A mãe, budista, toda vez que me vê, agradece aos céus por eu ter nascido, e me chama de filho de deus perfeito!
Minhas dores doem mais nela, e acaba eu tendo de fingir alívio para que ela pare de sofrer...
E a mãe canta! Aprendi a gostar de tangos e ópera com ela, e em virtude disso ela me ensinou o espanhol quando ainda tinha 8 ou 9 anos.
Estive com pouquíssimas mulheres que ao escutarem música francesa não me chamassem de descornado ou algo que defina aquele que sofre por amor. Minha mãe canta Mireille Matthieu!
Senti saudades de meu pai nesse período de crise...Minha mãe lembra meu pai.
Eu devia ter uns 10 ou 11 anos, quando sorrateiro, peguei os dois numa cena romântica. Ele estava deitado na rede, e ela sentada fazendo-lhe um carinho no rosto! Ainda ouço nitidamente quando fecho os olhos, a voz do meu pai que, olho no olho de minha mãe cantava:
" Tu és, divina e graciosa estátua majestosa,
Do amor , por deus emoldurada..."

Fico feliz por ter minha mãe e as lembranças de meu pai nas minhas crises...
Fraterno abraço!
André

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Corpos Dilacerados!

Na minha atividade, tanto na clínica como nos hospitais, tenho me deparado com as mais diversas nuances do sofrimento humano. Ao psicanalista, não é próprio o preconceito e acho até que o termo conceito é uma coisa muita subjetiva, contudo devo confessar que tenho vivido com alguns de meus pacientes, peremptorias dores causadas pela dogradição.
Tenho visto narizes perdidos, carros perdidos, casas perdidas, corpos perdidos e dilacerados, filhos perdidos, amores perdidos!
Já vi uma mãe implorando a vida do filho ao negociante implacável, que com BRILHO nos olhos insistia em jogar roleta russa sobre uma cabeça desequilibrada;
Já vi meninas cortadas, com carnes e cérebros ENFUMAÇADOS, e seus retalhos sendo distribuidos pelas valas comuns;
Já vi mulheres sendo rifadas em rodas de chefes do tráfico, tendo o marido como crupiê de seus próprios encantos;
Já vi lágrimas de filhos pelos manicômios e necrotérios, e essas lágrimas sempre estavam misturadas com o PÓ da estrada demoníaca de seus pais doentes;
E vi... e vejo todo dia...vidas perdidas.... sonhos perdidos...corpos perdidos e dilacerados!
Fraterno Abraço
André

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Dezembro!

Quero falar de sapatos que voam e erram(?) o alvo...
Quero falar dos dezembros em que tudo parece brilhar e ascender ao entardecer, como se uma mágica habitasse o ar...
Quero falar de velhos simpáticos vestidos de vermelho que multiplicam-se pelas esquinas com sorrisos generosos...
Quero falar dos meninos e meninas que desembestam nessa época, justamente esperando aqueles velhinhos...
Quero falar do verão que se avizinha e que prenuncia cio...
Quero falar de pais e mães que se angustiam pensando se pagam as contas ou se bancam os velhinhos simpáticos vestidos de vermelho...
Quero falar do cheiro das árvores que sempre nessa época parece ser melhor...
Quero falar daqueles que não creem, e no entanto se contagiam com as luzes da época...
Quero falar dos crentes que mesmo nessa época não são simpáticos...
Quero falar de mim... que há muito não creio... mas como na música do Chico... peço à deus por minha gente...
Fraterno abraço
André

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Divina Comédia Humana!

Divina Comédia Humana
Belchior

Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol..
Quando você entrou em mim como um sol no quintal
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou viver satisfeito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um transa sensual
Deixando a profundidade de lado
Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia
Fazendo tudo de novo e dizendo sim à paixão morando na filosofia
Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso
Eu vos direi no entanto:
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não
Eu canto....
Maravilha esse Belchior.... Fraterno abraço à todos, e bom fim de semana
André

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Mentira e Traição!

Na clínica psicanalítica, não se diferencia verdades absolutas, mentiras absolutas ou qualquer coisa que seja absoluta uma vez que o importante é a subjetividade e a experiência da maneira como ela se apresenta consciente e inconscientemente. Contudo, hoje quero falar de temas como mentira e traição.
Quando se mente, na minha opinião, deixamos aflorar bastante de nossa humanidade, afinal, mentir é coisa dos humanos, e poderíamos acreditar que ao mentir estamos reproduzindo aquilo que invariavelmente gostaríamos que fosse verdade.
Afinal, se eu digo: "Eu minto!" - Estarei falando a verdade??
Acho que devemos medir o nível de maldade da mentira, quando esta carrega na sua origem todo o nexo causal que pode gerar à outro! Isso é que deve ser visto: O quanto uma mentira pode ferir... o resto é perfumaria!
Acho que a ferida que é provocada, pode ser classificada como a ferida da traição!
Se tem ferida portanto, e se ela vem da mentira, ela pode ser classificada como maldade, e não mais como mentira ou traição.
E assim caminha a humanidade... ferindo e sendo ferido...
Fraterno abraço
André

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Solidariedade Humana!

Como todo mundo, estou acompanhando a tragédia que assola o Estado de Santa Catarina. Momento de dor, não me cabe aqui abordar assuntos que levam ao questionamento da relação causa e efeito, entre os quais a falta de infra estrutura, falta de cultura ambiental e ecológica, além de o mais absoluto descaso das autoridades no que se refere à políticas de desenvolvimento sustentável desde que o país existe.
Mas quero falar da solidariedade humana!
Creio que a grande maioria dos brasileiros está solidária com as vítimas de SC. Milhões de reais já foram arrecadados e a doação de gêneros tem uma cifra titânica.
A Globo mobiliza suas "estrelas" que transmitem o sofrimento em tempo real, e podemos até ver o Bonner, marido da Fátima, tentando conter uma indefectível lágrima que cisma em escorrer no horário nobre.
Me lembro do quanto fomos solidários no caso Nardoni...Só se via gente indignada, falando em pena de morte, justiça hamurábica, etc....
Quem não sofreu desesperadamente, pranteando pelos telejornais o acidente da Tam em Congonhas???
Fico pensando que talvez sejamos o povo mais solidário do mundo, e nossa capacidade de sofrer a dor alheia é algo contagiante...
Ou talvez.... bem... existe a hipótese de que nossa capacidade de sofrer a dor alheia esteja vinculada exatamente ao fato de desejar-mos que o nosso próprio sofrimento, que é anônimo, que é só nosso, e que ninguém chora, manifeste-se reflexivamente quando a dor de todos ganha espaço na mídia...
Quem sabe...
Fraterno abraço!
André

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ser ou Não Ser!

TO BE OR NOT TO BE
(Willham Shakespeare)


Ser ou não ser? Eis a questão!
Acaso é mais nobre à cerviz curvar aos golpes da ultrajosa fortuna, ou lá lutando extenso mar vencer de acerbos males?
Morrer, dormir, não mais. É um sonho apenas, que as angustias extingue e a carne, a herança da nossa dor, eternamente acaba.
Sim! Cabe ao homem suspirar por ele!
Morrer, dormir, dormir? Sonhar, quem sabe! Aí, eis a dúvida.
Ao perpétuo sono, quando o lodo mortal despido houvermos, que sonhos hão de vir? Pesa-lo cumpre!
Essa a razão que os lutuosos dias alonga do infortúnio.
Quem do tempo sofrer quisera ultrajes e castigos, injúrias da opressão, baldões do orgulho, do mal prezado amor choradas mágoas, das leis a inércia, dos mandões a afronta, e o vão desdém que de rasteiras almas o paciente mérito recebe.
Quem, se na ponta de despida lâmina lhe acenara o descanso?
Quem ao peso de uma vida de enfados e misérias quereria gemer, se não sentirá terror de alguma não sabida coisa que aguarda o homem para lá da morte, esse eterno pais misterioso donde um viajor sequer há regressado?
Este só pensamento enleia o homem!
Este nos leva a suportar as dores já sabidas de nós, em vez de abrirmos caminho aos males que o futuro esconde, e a todos acovarda a consciência.
Assim, da reflexão à luz mortiça a viva cor da decisão desmaia;
E o firme essencial cometimento, que esta idéia abalou, desvia o curso, perde-se até a ação perder o nome.
Com essa... encerro a semana...
Fraterno abraço
André

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Loucos e Serpentes!

Agora mesmo, aqui na clínica, conversando com uma colega fisioterapêuta, comentávamos sobre um título famoso: " O Poder da Língua Bifurcada!"
Passando à margem da metáfora relacionada às serpentes, que na minha opinião são injustiçadas, resolvi falar do poder da língua com uma visão diferente de bifurcação: O da maldade e da bondade!
Lembrei agora das peneiras de Sócrates que certamente todos já leram... ( só pra lembrar, as peneiras por onde devem fluir as palavras: verdade, bondade e causa justa.)
Fiquei pensando, que se fóssemos quantificar o quanto nossa língua bifurcada envenena o cenário perfeito das coisas, certamente seríamos em tese, o "creame de la creame" das criaturas mais odiosas que o planeta já teve ( olha que falamos de milhões de anos de evolução)...
Só nós sibilamos nossa língua para mentir, prejudicar e locupletarmos com o sofrimento alheio.
Só no estado de loucura plena não prejudicamos ninguém! (Lembrei da Balada para um Louco do Piazzola: - VIVA... VIVA OS LOUCOS QUE INVENTARAM O AMOR!!!!)
Sou solidário às cobras que perturbadas no seu idílio de alimentar-se de ratos, estigmatizaram-se de traiçoeiras, cruéis e assassínas.
Acho que nossa cultura transferiu paras as cobras, o nosso próprio mal estar de sabermos que somos nós mesmos os responsáveis por todos os movimentos rastejantes, nebulosos, obscuros e traiçoeiras que poluem um mundo perfeito...
Me confraternizo então... Com os loucos e as serpentes...
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Oração à Vida

Meus amigos diletos!
À seguir, um poema escrito para Nietzsche, pela Psicanalista Lou Andréas Salomé, o grande amor ( platônico??) da vida do filósofo. Espero que gostem, pois creio ser um dos mais lindos poemas que já li.

ORAÇÃO À VIDA

Com certeza é assim que
um amigo ama o amigo
Assim como te amo
enigmática vida!
Se em ti chorei, se me alegrei,
se me deste sofrimento ou prazer
Eu te amo com toda a tua
felicidade e aflição
E se deves me aniquilar,
arrancar-me-ei dolorosamente
de teus braços
Como um amigo se arranca
do abraço amigo

Com toda a força eu te abraço
Deixa a tua chama
acender meu espírito e
No calor da contenda
achar a resposta
para o enigma de tua essência

Teu conteúdo despeja milênios
para se meditar e viver
Derrama dentro tudo o que tens
E se não tiver mais nenhuma
felicidade para me presentear
Que seja, ainda tens tua dor...

Fraterno Abraço à todos...
André

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma folga!

Amigos que acompanham as postagens diárias!
Perdoem... por esses dias, estarei incapacitado de atualizar o blog!
Vou me recuperar e volto com tudo em dois ou três dias...Aproveitem e leiam aqueles textos que ainda não leram e não esqueçam de que seus comentários sempre serão bem vindos...
Fraterno abraço
André

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Diabos à solta!?

Hoje pensei em escrever sobre transfêrencia ou como chamou Freud o "Amor Transferencial", que na verdade é previsto no tratamento psicanalítico. Fiquei tentado à escrever sobre isso lendo os comentários que estão fazendo com que eu precise de dois carros: Um pra mim, e outro pro meu ego...risos.
Mas, vou deixar isso pra semana que vem, porque afinal é sexta-feira, e todos os diabos se libertam na sexta!
Gosto de ver, nas minhas idas e vindas depois do entardecer aquelas pessoas todas nas calçadas dos bares, e parece que na minha zona sul amada ainda é melhor, pois está todo mundo muito feliz!
Estou enganado???
Será que não está todo mundo feliz???
Será que aquilo tudo é só uma perspectiva de busca???
Será que a grande maioria volta pra casa frustrado ou ainda com algo faltando?
Não.... devo estar enganado!
De qualquer maneira, meninos e meninas, não bebam de copos que não sejam os seus, e usem camisinha... além de não esquecerem suas consciências!
Bom fim de semana e fraterno abraço!
André

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Virando uma Estrela!

Um Poema:
" Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol! Agora o braço é uma linha, um rastro, um traço espelhado e brilhante!
Agora retiram de mim a cobertura de carne, e escorrem todo o sangue deixando os ossos esguios e luminosos...
E ai estou pelos salões, pelas casas, numa forma nebulosa parecida comigo!
Uma forma nebulosa feita de luz e sombra...! Como uma estrela...! AGORA EU SOU UMA ESTRELA!"
Este poema, foi recitado por Elis Regina na noite de sua morte.
Dedico minha publicação de hoje, aos meus pacientes dos hospitais, reiterando a verdade absoluta que nós estaremos sempre juntos, até que um de nós vire estrela!
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Amar é Fazer Sofrer?

Que maravilha a alma humana! Só ela é capaz de nos apresentar milhares de facetas absolutamente diferentes a cada dia... e as vezes, em alguns casos a cada minuto!
Alguém já disse que psicanalisar é exatamente ajudar a organizar as mudanças da alma, que muitas vezes provocam sintomas que levam ao sofrimento!
Acho que passo grande parte de minha vida tentando ajudar a aliviar o sofrimento, e em menor tempo, tentando fazer com que entendam os seus sofrimentos, e as vezes acho que faço sofrer!
Fazer sofrer também é próprio da alma humana!
Atitudes, gestos, jeitos, omissões, desatenções, etc, etc, etc, fazem sofrer aqueles que nos cercam e aqueles que amamos.
Que amamos???? Então amar também é fazer sofrer?
Acho que sim....
Costumo dizer que no consultório do psicanalista, somente um diploma deveria estar na parede: SOLITÁRIO!
E assim, caminhamos nosso caminho, que invariavelmente nos levará sempre ao desconhecido, pois assim como desconhecido é o destino, desconhecidas são as nuances da alma!
Aqueles todos à quem eu já fiz sofrer, por um motivo ou outro, creiam que o caminho deverá me cobrar, se já não me cobrou!
Fraterno abraço
André

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

As aventuras de Sigui!

Sigmund Freud teve com Melanie Klein, os filhos Lacan, Ema e Leonardo da Vinci.
Lacan morreu e Leonardo fugiu! Melanie, acho que de tristeza morreu também!
Sigui então, ficou com a filha Ema, e disso resultou no nascimento de Themis, Aquiles e Psiqué!
Calma... risos... não estou tendo um surto psicótico!
Refiro-me aos meus canários belgas, que estão de cria nova... alegrias em casa!
Cuidem bem de seus bichos...risos
Fraterno abraço!
André

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A Convivência e o uso do Banheiro!

Estou feliz com a participação dos amigos que comentam meus textos, e na verdade acho ( sem falsa modéstia) que não mereço metade dos elogios, e agradeço o carinho e o afeto.
Mas hoje quero falar da complexidade que envolve a convivência humana nas situações mais primárias, como por exemplo, a vida em família.
Existe coisa mais avassaladora do que a convivência?? Porque será que conflituamos tanto exatamente com aquelas pessoas que sabemos que queremos e precisamos conviver???
Quando se namora, o que mais se deseja é morar junto, dormir junto, acordar junto, tudo junto enfim. Depois do casamento, passados os festins da conquista, essa coisa do tudo junto passa a se chamar invação de privacidade...risos
Antes do casamento, aquele acne que sai na ponta do nariz é a coisa mais "xuxuquinha" do amoxinho da minha vidinha... Depois do casamento é aquele "bah! tira essa coisa nojenta desse nariz que estou perdendo o apetite!"
E com os filhos, irmãos ... Tem um momento da vida, que o filho não suporta sequer pensar em ter uma vida parecida com aquele que já tinha sido ser herói!
Irmão então, por qualquer lápis, canetinha ou blusinha, é aquele arranhão no rosto, cabelos puxados, e já vi até mordidas que pareciam originários de ataques de pit bulls.
É a conviência...risos
Mas o mais engraçado que eu acho, é a questão do banheiro!
Quem, casado (a) não se sentiu invadido naquela hora em que todas as defesas estão desativadas e as funções estão todas relaxadas e enfim, absolutamente inerte, e derepente a porta se abre como se fosse um assalto e alguém entra no banheiro como se fosse proferir um tiro!
O Herói, com cara de roubado na Rua da Praia ainda grita: " Tu não vês que estou ........?" Ao que o antagônico responde: " E daí??? nós não somos casados?????"
É a convivência, que afinal também transforma a certidão de casamento numa entrada franca ao banheiro.... risos
Fraterno Abraço... e bom final de semana!
André

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Eu Vejo Deus!

Cotidianamente, com meus pacientes, me deparo com questões voltadas para a fé e a religiosidade e invariavelmente o assunto é DEUS!
Todos que me conhecem sabem da minha convicção científica, e que sou herdeiro de Freud no que se refere ao absoluto desconhecimento da hierarquia religiosa, além de ser agnóstico por respeito à mim mesmo e a tudo aquilo que é minha fé!
Então vamos falar de DEUS!
Mas não quero falar do deus que tem portavozes que deixam os fiéis apatetados ante um altar mítico ( show???) e fogem pelos fundos com malas e malas e muitas malas de dinheiro que são remetidos ilicitamente pra Miami!
Também não quero falar do deus que em seu nome permitiu que milhares de cientistas e pensadores ou simplesmente homens e mulheres livres servissem de atrações em festivais tirânicos e opressores, e a luz da fogueira divina era alimentada pelos ossos e carnes daqueles.
Tão pouco vou falar do deus que cobra o dinheiro que era pra pagar a luz pra tirar o diabo do corpo de um outro pobre diabo que vai sofrer no escuro.
Mas... quero falar de DEUS!
Vejo DEUS quando deslizo pelas ondas da praia da Guarita ou da Mole ou nas águas do Guaíba que bem ou mal cuidam de exterminar o demônio da sede;
Vejo DEUS quando ando pelos caminhos floridos da minha zona sul ou do menino deus, e mesmo que o pólen primaveril instigue os demônios das minhas alergias, respiro esse DEUS colorido;
Vejo DEUS na esperança das pessoas que sonham e lutam pela taça de café com pão e manteiga;
Vejo DEUS na grandeza daqueles que brindam com Chandon e Beluga, mas sabem que a vida não se resume em festivais e enfim, fazem a parte deles (?);
Vejo DEUS nas coisas boas que EU mesmo faço, e acho que DEUS é maior que os diabos que EU mesmo produzo;
Vejo DEUS enfim, nos olhos da MULHER que Lacan classificou de inexistente, sobretudo quando destes olhos, brota a luz de um gozo divino, grávido de felicidade...
Fraterno Abraço!
André

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

As Mudanças!

Sempre na vida da gente, e DE gente, acontecem mudanças! O circuito que percorremos, e que prefiro chamar de experiência subjetiva, muitas vezes nos leva a fazer mudanças drásticas e que na maioria das vezes se tornam traumáticas, porque em mudando sempre achamos que perdemos algo, ou ainda que deixamos alguma coisa pra trás!
Acho que toda mudança deve ser analisada pela ótica de que um ciclo se acaba e outro se inicia, e daquele que acabou, levaremos as coisas boas da experiência, e as coisas ruins, temos que deixar no lixo insinerado e que suas cinzas voem pelos ventos.
Claro... um psicanalista sempre ajuda...risos
E lembrando o Freud... " Ter ressentimento é como tomar veneno e esperar que o outro morra!"
Fraterno abraço
André

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Grande Cafetina!

Lá pelo início da década, um colega meu, grande psicanalista e filósofo, numa sala de estudos de nossa associação, me formulou um convite para participar de um site de relacionamentos onde discutiríamos com colegas e amigos da Europa, questões da psicanálise e da filosofia.
Lembro-me que de início, fundamos 3 comunidades cujos objetivos eram a psicanálise freudiana e lacaniana, e filosofia de Nietzche e os ensaios de Michel Foucault.
Tratava-se do orkut no ano 2002....
Bem.... ou ando meio careta e fora de qualquer conexão sensata, ou o orkut se transformou em poucos anos na mais barata, vulgar e traiçoeira cafetina do planeta!
Será que são meus olhos degenerados que estão vendo pornografia barata onde só existe uma fraterna e comunitária rede de amigos???
Por favor, nada tenho contra! É que não quero parecer pedante ou mesmo patético, o que diga-se de passagem acontece quando eu escrevo sobre ética platônica ou socrática, e me oferecem na contrapartida uma loura e uma morena que não devem ser lá essas coisas, pois elas vem acompanhadas de uma kaiser quente grátis!
Fraterno abraço
André

O Grande Ditador!

Recentemente, assistindo à um daqueles canais alternativos da tv à cabo, revi o Grande Ditador com o Chaplin. Na década de 30, o gênio da grande arte conseguiu descrever na minha opinião, algo mais do que o horror da guerra e dos regimes autoritários!
Chaplin aborda com sua sátira, os horrores da banalização do próprio ser humano!
"Homens! Homens! Não sois máquinas! Homens é o que sois!"
Com essa fala do filme, Chaplin apela pra consciência humana chamando atenção para o fato de que os homens estavam perdendo o seu referencial mais característico que é a sua capacidade de conceitualizar padrões de fraternidade, justiça, humanidade, igualdade....
Passados mais de 60 anos, o Grande Discurso do "ditador", deve ter perdido o contexto e eu me recoloco na posição de um retardado social e cultural, pois na verdade entendo que esse filme poderia ter sido feito ainda ontem...
A globalização que nos uniu, é a mesma que nos escraviza com seus apelos midiáticos transformando à todos em frustrados que necessitam ter! E olha que nem importa mais o que ter... é necessário TER!
O progresso, que nos banha de tecnologia hight tech, é o mesmo que transforma homens em máquinas!
Máquinas de soluções, máquinas de produção, máquinas de consumo, máquinas neuróticas enfim!
As verdades mal elaboradas e aproveitadas, matam a filosofia e transformam a cada dia nossas meninas e mulheres em bifes pendurados em açougues fétidos e são cada vez mais invadidas por moscas sociais asquerosas que lhes contaminam a alma, endurecendo-lhes os músculos, transformando-as em máquinas! Máquinas do sexo banalizado!
A internet que é um instrumento indescritivel de diminuição de distâncias sociais e culturais, ao invés de facilitar o ensino e a produção intelectual, transforma cada vez mais nossas crianças em zumbis compulsivos e mecânicos e na verdade, se vista bem de perto, a rede mundial na verdade, é um grande prostíbulo que funciona num mundo nem tão virtual!
Sou um livre pensador... e acho que a tendência dos livres pensadores é o exílio numa cauda de cometa cuja órbita seja qualquer uma desde que longe do universo conhecido.... risos
Com certeza, devo estar errado. Devo ter produzido esse texto sob o efeito de uma crise depressiva própria dos retardados sociais e culturais, e que um dia terão escrito nas suas lápides a identificação de " Homens e mulheres que não conseguiram suportar a realidade!"
fraterno abraço
André

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Mal Estar da Civilização!

Recentemente uma jovem acadêmica me pediu que fizesse um comentário, sob a ótica da minha área, a cerca de um fato ocorrido na cidade, onde figurava um cidadão que havia agredido um animal e tal tema seria objeto de um trabalho de estudos de seu curso universitário.
Pensei que talvez eu devesse indicar uma obra da coleção "Clínica Psicanalítica" (muito boa aliás) , onde a jovem estudante pudesse encontrar alguma informação mais técnica.
Mas, obviamente omitindo o nome da jovem por uma questão de princípios do blog (e só tem um princípio : LIBERDADE), vou fazer esse comentário aqui no nosso espaço, e talvez até, nosso blog configure naquelas referências bibliográficas chiquéssimas dos trabalhos de faculdade (muitos risos).
A moça pergunta-me:
- André! O que leva um homem a agredir perversamente um animal? Seria esse um problema patológico?
Prezada Jovem amiga:
Pensei na tua pergunta, e depois de elaborar todas as circunstâncias, resolvi te responder por aqui, até porque acho que é um assunto que à todos interessa.
De imediato, pensei nas pulsões. Só as pulsões (desejos instintivos) poderiam explicar essa violência desmedida...
O Freud aborda em sua obra (Mal estar da Civilização, Totem Tabu , Moiséis e o Monoteísmo, etc) a questão do início antropológico da civilização quando na era primitiva, a humanidade consistia na dita horda primeva ( primitiva), e nada existia (lei, cultura, etc) que não fossem as pulsões, ou seja os instintos também primitivos.
Até que um dia, com o surgimento daquilo que chamamos de pai primevo, estabeleceu-se pela primeira vez um arquétipo de lei, onde começou a história das interdições, e as interdições mais significativas foram a do incesto, do homicídio e do canibalismo. Mas, em contrapartida dos interditos, o pai estabeleceu que num determinado dia de suas vidas eles (a horda primeva) poderiam fazer todas as coisas, inclusive aquelas que não eram mais permitidas, e como no samba do Chico, " E um dia afinal, tinham direito à uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval....!"
Bem... naquele dia, sabes o que a horda fez???? No dia do TUDO pode... mataram e comeram o pai... e parecerem que comeram também...risos!
Assim, tudo volta a ser como antes e a horda que tinha uma lei, agora sem pai (limitador) voltava a ser primeva até a descida da montanha, de um outro pai, com as tábuas da lei, e essa parte da história eu não vou entrar pra não ferir a certas susceptibilidades.
Cara jovem, te contei a história freudiana da horda, exatamente pra te explicar que poderíamos atribuir a selvageria de certos homens à uma herança que devemos de ter do tempo em que éramos movidos pelo instinto, assim como os animais. Animais??? Espera! Deleta tudo! Estou tentando imaginar um leão tentando amarrar um cachorro no rabo de um puma e fazer o puma correr pra ver o cachorro se destruir na pedras...
Ou ainda uma serpente estudando o Príncipe de Maquiavel, preocupada em elaborar um plano que a mantivesse perenemente no poder de seu pântano, tendo sapos e rãs como aspones.
Não menina. Não é a pulsão nem o instinto que explicam as agressões humanas! É a psicopatologia!
No caso que te referes, só posso atribuir à uma doença chamada perversão.
O perverso, escolhe entre seus objetos de desejo, aquilo que lhe é inferior ou dependente. Ele necessita de exercer o seu poder, subjugando sua vítima. Assim, o perverso tortura, agride, e muitas vezes mata! É assim que ele goza!
Nunca verás minha cara amiga, um panda perverso! nem um lobo! nem um verme!
Contudo, sinto te dizer, que tenho visto muito mais perversos (todos homo sapiens) do que pandas, lobos e vermes...
Espero ter ajudado, boa sorte à ti e teus colegas no trabalho, e felicidade!
à todos... fraterno abraço e bom final de semana!
André

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Preto é uma Cor!

Acho que o principal evento dos últimos 50 anos no mundo, aconteceu agora nos Estados Unidos.
Obama presidente! Um preto presidente da mais importante nação do globo terrestre. Um preto, origem muçulmana ( Barack Hussein Obama), principal indivíduo da nação mais poderosa, preconceituosa e egoísta do planeta!
Tenho a herança freudiana de não ter nenhuma simpatia por tudo que se refere aos Estados Unidos... mas vamos falar sério - Eles dão um show de democracia!!!
Mesmo depois de passarem os últimos 8 anos sendo violentados pelo sádico George, deram-se o direito ao gozo que veio prolongado pelo fator liberdade.
Tá certo que mataram o Luther King, eliminaram o J Kennedy ( e a Marilyn Monroe entrou nessa!!!!), fizeram o horror do Vietnan e todas as coisas que se seguiram. Mas agora... Tem o preto Obama!
Tomara que o preto tenha cuidado com as estagiárias republicanas e seus vestidos captadores de líquidos fluorescentes e escândalos nebulosos ( sempre gostei do Clinton).
Mas... alma lavada enfim... porque aqueles votos da Flórida que roubaram o cargo do Al Gore, até ontem não tinha me descido ainda ....Alma lavada enfim!
Que os tambores de todos os cantos, do pelourinho da Bahia aos becos coloridos de Angola, passando (de leve) por New Orleans, repiniquem a festa do preto com nome muçulmano, democrata, homem de paz e idéias libertárias, e hoje, o mais poderoso do planeta.
À propósito, PRETO é uma cor! NEGRA é uma das formas de apresentarmos CONSCIÊNCIA, que eu espero que aquele preto e todos nós tenhamos sempre!
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pelas Esquinas e Galáxias!

E um dia, quando a gente se encontrar pelas esquinas da vida, ou pelas galáxias do cosmos sei lá, poderemos falar de como era feita a nossa esperança!
Esperança é a virtude que impulsiona os nossos desejos, mesmo aqueles mais mais inatingíveis.
Essa partícula universal nominada homo sapiens, é a mais poderosa força conhecida.
Movidos ( muito ) pelas paixões e (pouco) por outros sentimentos, criamos todas as coisas que circundam nós mesmos, e influenciamos todo o contexto ambiental.
E sempre com a criação, surgem os conflitos, e para solucioná-los, sempre em última instância, depois que tudo falhou, ativamos a esperança.
E de que é feita a esperança????
Acho que é feita de sonhos. De sonhos, areia e fogo... e isso é cristal, que pode se quebrar...
E tem tanto caco de esperança nas nossas esquinas e galáxias, que hoje e sempre ainda a gente se corta....
Fraterno abraço.
André

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Amanhã Vai Ser Outro Dia!

Percebi recentemente, que mesmo nas manifestações culturais mais divulgadas, muitas vezes não se pode dizer ser isso ou aquilo uma coisa popular. Me explico: Por exemplo, as músicas do Chico Buarque de Hollanda.
O Chico tem uma obra variada, que parte de diversas premissas e nos faz viajar por diferentes campos do pensamento humano.
Sob minha ótica ( ou minha escuta???), o Chico é um dos compositores mais cantados e escutados e muito pouco entendido. Pego por exemplo, a música Morena de Angola que todo mundo cantou: " Morena menina danada minha camarada do MPLA...!" Será que todos os cantantes sabiam que MPLA referia-se ao Movimento Pró Libertação de Angola???
Será que todos que cantaram e cantam que " apesar de você amanhã há de ser outro dia..." era na verdade um grito de esperança pela democracia num país ( o nosso no caso) sob regime ditatorial???
Quem não lembra de todo o país cantando " Joga pedra na Geni...ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir..."??? Será que todos perceberam que não era um deboche à uma meretriz de periferia e sim uma manifestação sistemática explicando que os donos do poder e os beneficiados por estes, usam, abusam, lambuzam e jogam fora????
Acho que todos deveriam escutar mais Chico Buarque e por isso vou pelo divulgar de quando em vez, alguma música dele aqui...
Aqueles que gostam dos livros, Indico o Chico Buarque autor, e recomendo entre tantas... BUDAPESTE...
Fraterno abraço
André

Mal estar!

Penso que não fui muito feliz na postagem do texto do Tolstói! Era previsto...risos
Todos temos a tendência natural de evitar o tema morte que diga-se de passagem, é a prova absoluta da nossa impotência ante uma das coisas que não podemos evitar. E vejam bem.... eu disse UMA das coisas que não podemos evitar!
Na verdade, são bem poucas as coisas que podemos elencar como sendo de nosso total e absoluto controle e vontade. E isso com certeza, inexoravelmente nos abate e nos causa mal estar...
Abraço
André

domingo, 2 de novembro de 2008

Morte!

"Que ceco! Que rim! - pensou.- Nada! Nada!
Trata-se é da vida e da morte. Sim, a vida se esvai, se esvai, sem que eu possa impedir. É isso, só isso! Por que me iludir! Não é patente a todos, menos a mim, que eu estou morrendo e que é apenas uma questão de semanas, de dias, talvez agora mesmo?
Havia luz na minha frente, mas agora só trevas.
Eu estava no mundo e vou abandoná-lo! para onde irei?
Eu deixarei de existir, mas o que haverá depois? Nada.
Então, onde estarei quando não mais existir? "
(Tolstói, A morte de Ivan Ilitch)
Vamos discutir isso??? a morte??? Sempre é bom pensar...
Fraterno abraço
André

sábado, 1 de novembro de 2008

E ENTÃO, QUE QUEREIS...?

Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo, de cada fronteira distante,
subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos,
nada de novo há no rugir das tempestades.
Não estamos alegres, é certo.
Mas também, porque razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado.
As ameaças e as guerras, havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio, cortando-as,
Como uma quilha corta as ondas....

Poema de Maiakóvski, escrito em 1927...
Bom sábado à todos...
Fraterno abraço
André

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Comentários!

Não esqueçam que comentários são livres.
Basta que escolham a opção anônimo depois de fazer o comentário!
Abraços!

Os guris de hoje!

Na minha atividade clínica atendo adolescentes!
Fico atento e maravilhado com cada história, com cada aventura, e não raramente preocupado com o quanto as coisas mudam, e sobretudo na velocidade em que as coisas mudam.
Minha infância e adolescência parecem ser coisas pré históricas, e mesmo sendo do século passado, isso não faz tanto tempo...
Lembro da primeira professora, amor primeiro meu (???) ....
Omito o nome, pois nada mais sei dela, mas lembro que nutria uma paixão ambígua que se mesclava entre o medo e a admiração. Pura paixão....risos... medo e admiração...risos...
Lembro da segunda professora, meu amor inesquecível que omito o nome pelos mesmos motivos...
Há poucos dias, retornando à cidade de minha infância, depois de virado o século, passei em frente ao lugar onde ela morava e me lembro que tinha uma oficina de artes onde aprendi (?) a entalhar pedaços de cheiroso cedro...
Aos 9 anos ao jurava saber amar aquela mulher que me fazia entrar 3 ou 4 vezes na fila do beijo no final da aula...
E era tão bom exagerar nos perfumes do pai ou da mãe, pra agradar a professora...
Adolescente, minha forma de encantar as paixões docentes, era tentando saber. Aos 13 virei comunista, elegi o Chê como meu herói, usava chinelos de couro feitos pelos artesãos da rua da Ladeira, e juro: Comecei a ler Marx e Hegel para encantar a professora de história!
Ao ouvir meus guris de hoje, penso que posso ter sido duas coisas na minha infância e adolescência do século passado: Ou um precoce romântico com um édipo mal elaborado; ou um retardado reprimido pela ditadura e suas reformas famigeradas do ensino brasileiro!
Bem... pra mim são doces lembranças e penso que desejo que aquelas mulheres de minha vida, tenham sido tão amadas quanto eu pensava que mereciam...
Quanto aos guris de hoje, posso dizer que virei motivo de muita graça quando lhes confessei que um dia, lá no século passado, entrava 3 ou 4 vezes na fila do beijo no final da aula...
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Amor pelas Estrelas!

Sempre amei as estrelas!
Menino, tal qual o personagem de Piazzola, sonhava em ser o primeiro astronauta à por os pés em Vênus!
Depois, me contentei em sonhar ser apenas astronauta!
Imerso na fantasia, e sem a realidade de uma espaçonave, gosto de ver as estrelas! E foi Descartes quem acabou com meu delírio primário de poder tocar uma estrela!
O sistema cartesiano foi cruel com a poesia humana, pois a criação do método pressupôs que nossos sentidos não eram confiáveis, exatamente por termos a sensação de poder tocar os astros celestes, e isso era uma mentira da nossa visão!
Que bom seria, ser pré cartesiano, e poder estabelecer como meta tocar uma estrela com a ponta dos dedos e trazer neles a marca de sua luz fosfuorescente e brilhante.
Resta a poesia...
Quem me dera sonhar ser poeta e diminuir com minha poesia minha distância das estrelas!
Resta a poesia de Piazzola, na falta da minha, onde anjos, astronautas e crianças bailam ao redor de uma estrela e a chamam para dançar.
Olhemos mais as estrelas.... risos
Fraterno abraço
André

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Um Nova Linguagem???

Faço parte de uma comunidade na internet, que discute a psicanálise lacaniana, e achei interessante uma das condições estabelecidas pelos mediadores para os participantes: Cumprir o artigo 13 da constituição do Brasil, que diz que a língua oficial é o português.
Obviamente, que o pessoal se referiu à essa novíssima linguagem escrita pelos internautas ( não só os adolescentes ) e por aqueles que usam o celular no modo de troca de mensagens de texto.
Num primeiro momento, eu mesmo, que considero-me livre de preconceitos, fiquei assustado ao receber uma mensagem em que a palavra cabeça era escrita somente com as consoantes K, B, e Ç acompanhada da vogal a.
Depois comecei a pensar que poderia estar presenciando o nascimento de um idioma, uma nova forma de manifestação cultural... sei lá!
Pensei como deve ter sido emocionante, quando o primeiro ancestral nosso ouviu a primeira palavra emitida por um de seus pares, ou ainda quando viu pela primeira vez um símbolo garratujado em alguma parede de caverna, que tivesse um significado.
Lacan ( psicanalista francês criador da corrente que sigo) nos ensina que o homem está inserido em um universo de linguagem, e portanto o ser humano é, graças à sua inclusão em um sistema de significantes, e é esta diferença essencial que distingue o homo sapiens das outras espécies do mundo animal.
O SUJEITO, só existe porque é FALADO pelo outro.
O incosciente se estrutura como linguagem e existe porque há linguagem ou convenção significante em um sentido muito amplo.
O desejo do ser humano desliza, incessantemente, de um objeto ao outro, seguindo um caminho que a linguagem lhe indica, com sua organização de deslocamento sintagmático ou metonímico.
Se estou certo na minha crença de que a linguagem determina o sentido que engendra as estrutura mentais, então acho que a antropologia de Levi-Strauss e a linguística de Saussure deverão ter seus conceitos reformulados....
Risos...entendem com bom humor...
Fraterno abraço
André

A destruição de Egos!

Meu ofício me proporciona ouvir histórias! Meu ofício aliás, me remete ao obstinado desejo de ajudar a entender a problemática subjetiva de cada um, e na maioria das vezes, me deparo com as dores e o conjunto do sofrimento!
Recentemente, me deparei com alguns ( isso mesmo, não foi um caso isolado) casos que em mim, foi causa de , no mínimo indignação e dor!
Vou falar de internações...
Internações feitas em instituições (??) que não passsam de depósitos onde egos e subjetividades são destruídos.
Internações onde as pessoas são ....enfim... Vou esperar mais uns dias pra falar disso!
Fraterno abraço
André

sábado, 25 de outubro de 2008

Sábado de Chuva!

Sábado! Chove em Porto Alegre!
Do meu lugar, vejo as grandes águas recebendo mais águas, e penso que tudo se renova e se recria a cada segundo que passa pelo meu tempo que é digital.
Independente de mim, as coisas acontecem e se desenvolvem numa progressão geométrica.
Gosto de pensar que faço parte do universo, mesmo que em forma de partícula, e que a minha falta ou a minha presença altera esse cenário infinito.
As águas do guaíba sentiriam minha falta se eu me fosse??? Acho que não...risos... Mas é bom saber que o todo universal são seria mais o mesmo sem mim!
Saturno ( ícone da melancolia ) habita a manhã de sábado primaveril e chuvoso nas margens do guaíba!
Será que o ambiente nos deprime??? Ou será que essa tristeza molhada nada mais é do que a certeza de que somos impotentes ante as coisas que se renovam e se recriam constantemente?
Me consolo em Freud, que preconizou que o acaso não existe e então não é por acaso que estou aqui. E se logicamente estou aqui, faço parte da renovação... e não só o Guaíba, mas todo o universo sentirá minha falta quando eu me recriar...
Sábado primaveril.... chove em Porto Alegre!
Fraterno abraço
André

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Origem de Afrodite, Eros e Psiqué!

As origens das duas deusas, Afrodite e Psiqué , são muito interessantes. Quando os genitais de Urano foram cortados por Crono, caíram no mar e o fertilizaram, dando nascimento a Afrodite ou Vênus. Faltando outro lado, Psiqué nascera quando uma gota de orvalho caíra do céu sobre a terra. A primeira é filha do conflito e da discórdia, mãe da inveja. Psiqué é fruto do céu, em si reúne desejo e vontade, através dela vê-se o ideal faltando trás do real.
Em “O Banquete”, Platão, o tema é o amor. Para Aristófanes, o amor nasceu quando Zeus castigou os andróginos, cortando-os em dois: desde então, cada parte cortada procura a outra metade perdida. Mas Sócrates narra uma outra versão : o Amor é o filho da pobre e ignorante Pobreza e do rico e sábio Recurso. Como a mãe, está sempre mendigando e procurando, mas como o pai busca o que é belo e sábio. Entre esses dois extremos, o Amor ama a beleza da sabedoria sem ser sábio: ele é filósofo!...
Sobre cada mito pode-se falar a vontade sem no entanto esgotar seu significado e sentido. Aqui não se tentou esgotar nada, este texto constitui apenas em aperitivo para aqueles que sem medo queiram mergulhar nas profundezas do seu inconsciente e descobrir-lhe as potencialidades e possibilidades sempre a atualizar na construção da consciência. Daqui podemos entender melhor os opostos Eros e Tânatos, amor e morte, pois a paixão não canalizada para o amor pode tornar-se em rancores, rejeição, ódio, isto é; em guerra. Entender a estrutura do amor e as nuanças da paixão é questão de sobrevivência do Ser de cada um de nós.
Assim, encerramos a série Eros e Psiqué!
Próxima semana, vamos falar do mito de Narcíso!
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Análise e Comentário do Mito Eros e Psiqué!

Os símbolos presente neste mito são, como dissemos muito significativos. O próprio amor aparece nele como símbolo, algo a ser desvendado. Assim também é com as duas deusas, uma representa o amor dos sentidos, Afrodite, enquanto a outra é o amor personificado na alma, manifestação metafísica. Psiqué é a inteligência, o amor em forma, idealidade. Isto é; a paixão.
O “estar apaixonado” é uma característica suprahumana, e a humanidade ainda não a sabe dominar, ou se quer conviver com este estado de espírito. É um estado da subjetividade de cada um que, muitas vezes , ao objetivar-se perde-se no objeto. É um estado de crise, em que algo deve nascer como projeção do inconsciente ao nível do consciente, não para se materializar, mas para constituir-se como força metafísica na constituição do si mesmo. Quando alguém se apaixona, seu ser é carregado para estados inebriantes, para níveis de consciência muito acima dos comuns, além dos que algumas pessoas têm capacidade para suportar.
É preciso saber diferenciar amar e estar apaixonado. Amar alguém é ver a pessoa como realmente ela é, e apreciá-la pelo ser que é, com suas falhas, com suas banalidades e sua infinitude.
Se pudermos desfazer-nos da cortina de nevoeiro das tantas projeções que fazemos na vida, a distinção entre amar e estar apaixonado tornar-se-á mais fácil.
Amar nada tem de ilusório; é ver o indivíduo, vê-lo, mas não através de um determinado papel ou imagem que tenhamos planejado para ele. Amar é dar valor à individualidade daquela pessoa, dentro do contexto do mundo comum
Estar apaixonado é outra história, é uma intrusão, para o melhor ou para o pior, é uma inundação de sentimentos e emoção, proveniente de um mundo divino. De repente, vê-se no ser amado um deus ou uma deusa, e através dele, ou dela, vislumbra-se um estado de ser além do pessoal, além da consciência. Sem limites.
O , ou A apaixonada, olha “através” um do outro. Cada um deles está apaixonado faltando uma idéia ou um ideal, ou ainda faltando uma emoção. Estão apaixonados pelo amor, pela idéia de amar no outro o amor de si, projetado na ânima ou no ânimus do outro. É ilusório, não dura, se desfaz com a revelação, torna-se comum e não raro, enfadonho, tedioso. O grande desafio dos apaixonados é manter-se em tal estado, sem objetivar suas emoções. A paixão não se traduz em amor automaticamente, é preciso um aprendizado para se passar do ideal para o real , da paixão para o amor, do finito para o infinito. Estar apaixonado é estar tocado pela deusa Psiqué, sempre pronta a revelar-se como ilusão. Já o amor tem mais a ver com Afrodite, enquanto Eros é a fonte da dúvida entre uma e outra.
A lâmpada e a faca são símbolos. A faca é aquela capacidade destruidora que a mulher tem para afogar o homem com um torrente de palavras. É o comentário arrasador, causador de confusão. A lâmpada, faltando seu lado, simboliza o discernimento, a capacidade de revelar o valor de seu homem com
a luz de sua consciência
O mito diz que Psiqué, ao acender a lâmpada, vê que realmente desposara um deus . Fere o dedo em uma de suas flechas e se apaixona pelo amor. Imediatamente após, perde-o. Como é comum essa experiência em pessoas que enxergam divindade no ser pelo qual se apaixona !
Amar é estar junto com o outro indivíduo, criar laços, somar-se a ele. Estar apaixonado é olhar através da pessoa e com isso perdê-la, inexoravelmente. Tragédia significa ver o ideal e não conseguir atingi-lo.

Entretanto, pode-se transformar a paixão em amor, e é o que os relacionamentos bem sucedidos conseguem.
Este mito oferece ainda outras chaves interpretativas, abrindo-se para a compreensão da personalidade feminina, ânima, que habita a essência do inconsciente masculino que busca sua outra metadade, saudoso da sua androginia.
Amanhã,veremos a origem das deusas Afrodite e Psiqué!
fraterno abraço
André

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Narrativa do Mito de Eros e Psiqué!

O MITO. “Uma história de amor e ódio”

EROS é o amor personificado; o desejo dos sentidos.

PSIQUÉ é igualmente a alma personificada.




“Em certa civilização havia um rei e uma rainha que tinham três filhas lindíssimas. As duas mais velhas, ainda que fossem também muito belas, podiam perfeitamente ser celebradas por louvores dos homens, mas não havia linguagem humana capaz de descrever ou pintar a formosura extraordinária da mais moça. Muitos a proclamam como a nova deusa do amor, ameaçando assim o trono da soberana Afrodite, mãe de Eros. Preterida e abandonada a deusa planeja e prepara a vingança contra a jovem Psiqué, formosa, bela e sedutora da alma e da inteligência humana. “Uma beleza metafísica”, assim é Psiqué.
Ao par do perigo que a cerca, a Grande Mãe, impulso físico do mundo, Afrodite, querendo evitar o confronto de beleza, a deusa chamou seu filho Eros, menino alado e de maus costumes, corruptor da moral pública e provocador de escândalos, o desejo dos sentidos, e deu-lhe uma incumbência urgente. Levou-o à região onde vivia a linda Psiqué, e pediu-lhe que a fizesse apaixonar-se pelo mais horrendo dos homens.
Sim, porque Eros simboliza o Cupido, Sagitário, o arqueiro do amor, que com suas flechas “envenenadas” espalha o amor em todos quantos consegue atingir, sem distinção, fazendo juntar e separar casais e “si mesmos”, que se gosta e desgosta de acordo com as correntezas ou maresias do amor e a necessidade constante de fugir ao ódio ou a morte de si. Beijou-o, muitas vezes, com os lábios entreabertos e retornou ao seu habitat preferido, o bojo macio do mar.
O rei, casadas as duas filhas mais velhas e temendo, como Liríope, a cólera dos deuses por causa da beleza da mais jovem, mandou consultar o Oráculo de Apolo em Mileto. A resposta do deus foi direta e aterradora: Psiqué, coberta com uma indumentária fúnebre, deveria ser conduzida ao alto de um rochedo, onde um monstro asqueroso com ela se uniria. Eros, entretanto, que em lugar de ferir com suas flechas a jovem donzela, havia sido ferido por ela, ordenou ao vento Zéfiro que a transportasse para um vale macio e florido, que se estendia na orla da montanha. Após descansar de tantas emoções e restaurada faltando um sonho vivificador, a jovem princesa se ergueu e viu logo, cercado por um bosque, à beira de uma fonte, um palácio de sonhos: as paredes eram recamadas de baixos-relevos de prata; o pavimento, confeccionado de mosaicos de pedras preciosas; os imensos salões tinham paredes de ouro maciço. Naquela mesma noite da chegada da princesa ao vale dos encantos, Eros, sem se deixar ver, fez de Psiqué sua mulher, mas, antes do nascer do sol, desapareceu rápida e misteriosamente.
Toda noite Eros voltava ao vale e desposava a princesa e partia incógnito e a jovem acabou por acostumar-se à sua nova existência: as Vozes, atentas e solícitas, apaziguavam-na da solidão.
A Fama, uma divindade que simboliza “a voz pública”, fofoqueira, porém, denunciou a aventura de Psiqué e as irmãs casadas, tristes e cobertas de luto, deixando seus lares, apresentaram-se em visitar e confortar os pais.
Eros pressentiu a ameaça que pesava sobre a felicidade do casal e avisou a esposa do perigo iminente: as irmãs, dentro em pouco, viriam até o rochedo para chorá-la. Psiqué deveria fazer ouvidos moucos ás suas lamentações e nem sequer “olhar para ela”, para não incidir no mesmo erro de Orfeu... A jovem esposa tudo prometeu, mas tão logo o amante retirou-se, incógnito com sempre, Psiqué se viu mais que nunca prisioneira da própria felicidade, impedida de consolar e até mesmo de ver suas irmãs (fofoca).
Usando de persuasão e muita astúcia e sedução, Psiqué consegui arrancar do esposo permissão não apenas para vê-las, mas ainda o consentimento para que Zéfiro as transportasse até seu palácio paradisíaco. Entorpecido, Eros concordou com tudo, mas recomendou-lhe e implorou que jamais tentasse ver-lhe o rosto, pormais que as irmãs insistissem nesse ponto.
O encontro, a princípio, foi uma festa, um êxtase. às Lágrimas de dor sucederam as manifestações de alegria e regozijo. Persuadida pelo o ambiente do encontro, a ingênua Psiqué ia-lhes abrindo os segredos de sua doce ventura, a abundância de suas riquezas, as sementes da inveja começaram a germinar-lhes no coração. Embaraçando-se cada vez mais com as perguntas de uma das irmãs, Psiqué tratou-se de inventar respostas e, cumuladas as irmãs de ouro e jóias, fez que Zéfiro as levasse de volta ao rochedo. Mas agora envenenadas pelo fel da inveja, começaram a questionar e confrontar a vida delas com o destino luminoso da irmã mais jovem.
Eros, naquela mesma noite, voltou a advertir a esposa: Não vês o perigo que de longe te ameaça ? Se não procederes com a máxima cautela, o destino se abaterá sobre ti. As bruxas traiçoeiras esforçam-se porte armar uma cilada e a pior armadilha é persuadir-te a contemplar meu rosto. Já te adverti muitas vezes de que nunca mais o verás, se o contemplares uma única vez (...) Dentro em breve teremos um filho.
Ainda uma menina, dará à luz uma criança. Se guardares nosso segredo, ela será um deus; se o propalares, será tão-somente um ser mortal.Os dias se passaram rápidos e o esposo noturno voltou, desta feita, mais incisivo em admoestá-la de que chegara o momento decisivo: as bruxas já se aproximavam, prontas para destruir-lhe a paz e a felicidade. “Deixa-as uivar do cume do rochedo, como as Sereias, com sua voz fúnebre”.
Novas lágrimas de Psiqué, novas promessas, novas juras de amor e o deus apaixonado novamente se curvou aos caprichos da esposa. As conspiradoras, entretanto, tal era a presa em executar seu plano sórdido, tão logo chegaram ao alto do rochedo, nem mesmo esperaram faltando Zéfiro, lançando-se temerariamente no abismo.
A contragosto, o Vento as acolheu e depositou no solo. Com fingida alegria congratularam-se com a irmã pela gravidez, conseguindo, desse modo, desfazer qualquer suspeita. Em seguida, vieram as perguntas, sempre as mesmas: queriam saber quem era o marido de Psiqué. Esta, em sua ingenuidade, se contradisse: na primeira visita dissera-lhes que o esposo era um jovem lindíssimo e agora o descreveu como um homem de meia-idade, um riquíssimo comerciante. Era o que lhes bastava: ou a irmã estava mentindo, e o marido era um deus, ou ela simplesmente ignorava seu aspecto.
De qualquer forma, era preciso destruir a prosperidade de Psiqué. Passaram uma noite em claro em casa dos pais, matraqueando o plano que deveria ser colocado em prática, já pela manhã, estavam novamente no palácio de Eros. Com fingida e cínica preocupação, mostraram à irmã o perigo que a ameaçava. Quem à noite se deitava a seu lado não era um homem, mas uma serpente enroscada em mil anéis, com as faces túrgidas de peçonha, a boca larga como um abismo.
Lembraram-lhe o Oráculo de Apolo que a predestinava a unir-se a um mostro, reforçando seu intento diabólico com a mentira: a medonha serpente, segundo camponeses e caçadores da região, têm sido vista à noitinha, atravessando o rio vizinho em direção ao palácio. O mostro aguardava apenas o momento oportuno para devorá-la, bem como à criança que ela trazia no ventre. Elas, porém, as irmãs, ali estavam prontas para ajudá-la! Transtornada, Psiqué confessou-lhes a verdade: jamais contemplara o rosto do marido e pediu-lhes súplice que a protegessem e assistissem. Vendo que tudo estava aparelhado para o plano sinistro, há muito arquitetado, uma das bruxas o transmitiu à insegura e desditosa esposa de Eros: deveria ela preparar um punhal bem afiado e um candeeiro de luz bem forte.
Quando a “serpente imunda” mergulhasse em sono profundo, seria o instante propício: iluminar-lhe cuidadosamente o rosto e de um só golpe cortar-lhe a cabeça. Embora tivessem prometido que permaneceriam a seu lado, até a “execução do mostro”, tão logo perceberam que o veneno fizera seu efeito, apressaram-se em deixá-la. Sozinha, com o espírito transtornado, Psiqué se agita e parece decidida a perpetrar o crime, mas eis que subitamente hesita, depois resolve; vacila outra vez, desconfia das irmãs, se enfurece, lembra-se dos ternos abraços do esposo... Seria ele, realmente, uma serpente imunda ? Psiqué num mesmo corpo odeia o monstro e ama o marido. Eis a ambigüidade do amor ; mosntro ou fada, medo e curiosidade.
Eros a seu lado dormia tranqüilamente. Como fora de si, a jovem esposa reuniu todas as suas forças: numa das mãos o candeeiro, na outra o punhal. Muito de leve aproximou a luz do rosto do marido. Estava revelado o grande segredo: viu a mais delicada, a mais bela de todas as feras. Eros, o deus do amor, ali estava diante de seus olhos. Tomada de pânico, a jovem quis matar-se, mas o punhal se lhe escorregou da mão. Percebendo ao lado do leito a aljava e as flechas do deus, ao tocá-las, acabou ainda por ferir-se com uma delas. Agora, mais do que nunca, sua paixão seria eterna. Inflamada de amor, inclina-se sobre ele e começa a beijá-lo como louca. Esquecida do candeeiro, deixa-o curvar-se em demasia e uma gota de azeite fervente cai no ombro do deus adormecido. Eros desperta num sobressalto e, ao ver desvendado seu segredo, levantou vôo no mesmo instante; sem dizer uma só palavra, afastou -se rapidamente da esposa. Esta ainda tentou segui-lo através das nuvens, segurando-lhe a perna direita, mas, exausta, caiu ao solo.
Foi então que, descendo das alturas celestiais e pousando num “cipreste”, Eros falou à sua amada: Quantas vezes não te admoestei acerca do perigo iminente, quantas vezes não te repreendi delicadamente. Tuas ilustres conselheiras serão castigadas em breve, faltando suas pérfidas lições; quanto a ti, teu castigo será minha ausência.
Estava decretado o início do itinerário doloroso de outra Psiqué.
Fora de si, a princesa, desejando morrer, lançou-se às correntezas de um rio próximo, mas as próprias águas, numa corcova, repuseram-na em terra.
Para nosso propósito a narração do Mito em si encerra-se aqui .
Amanhã, postarei comentários e análise do mito.
Fraterno abraço;
André

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Eros e Psiqué!

Freqüentemente, quando uma nova era desponta na história, um MITO brota ao mesmo tempo, como se fosse uma pré-estréia do que vai acontecer, trazendo em si, sábios conselhos para lidar com os elementos psicológicos desse período.
Estamos no limiar de uma era e o mito que se nos desponta é o de Eros e Psiqué visto que o AMOR e a individuação são os principais pontos de busca do ser humano desse novo período da história.
Algo bonito à respeito do inconsciente na personalidade humana é quando chega o tempo de crescer, quando as velhas formas, os velhos hábitos, pavimentam o caminho e dão as boas-vindas aos novos. As velhas formas de agir parecem perseguir as novas que desabrocham, mas, quem sabe, talvez seja a maneira correta de dar à luz uma nova consciência.
É importante lembrar que um mito é algo vivo que existe dentro de cada um de nós. Seremos capazes de captar-lhe a forma viva e verdadeira se o imaginarmos como uma espiral girando sem cessar dentro de nós; poderemos sentir como o mito está vivo dentro da nossa própria estrutura psicológica. Todo “grande”mito é o registro simbólico de um estágio de crescimento na vida de um Ser na busca da sua individuação; é um de-vir, isto é, um vir-a-ser que pulsa latente do inconsciente e se traduz em linguagem a ser decifrada pelo consciente.
O Mito nos mostra os conflitos e as ilusões potenciais da existência autêntica, mas também as possibilidades contidas na situação existencial presente. E, em certo sentido, nada é mais causador de conflito quanto a distinção do que seja o amor. Muitos o colocam em lugar onde certamente ele não se encontra, outros o confundem com outros sentimentos ou lhe atribui sentido equívoco, uma miscelânea de carência, desejo, poder..., O fato é que por amor, o ser humano vem provocando guerras e, ao mesmo tempo, por confundi-lo com procriação, vem povoando a terra com entes mal amados porque de certa forma não desejados, não programados, um acidente de percurso no itinerário do amor. Afinal, o que buscamos quando dizemos que estamos “a amar” ?
A história de Eros e Psiqué é um mito pré-cristão e ainda hoje nos diz muito. Isto porque a química do corpo humano não mudou muito de lá para cá, assim como também a dinâmica do inconsciente psicológico continua a mesma. As necessidades básicas do ser humano, tanto físicas quanto psicológicas, permaneceram fixas, embora a forma de serem satisfeitas tenham variado no decorrer do tempo e dependendo do lugar.
Por essa razão é que, quando queremos estudar os padrões humanos, tanto de comportamento quanto de personalidade, é muito elucidativo irmos às fontes primeiras; o Mito.
Amanhã, vou postar a narrativa completa do Mito de Eros e Psiqué.
Fraterno Abraço!
P.S,. Os comentários são livres!

Paixão e Morte!

Tentei não falar sobre o sequestro e morte em Santo André. Acho a mídia e as pessoas já estão pensando demais nisso!
Contudo, vou abordar a capacidade que temos de confundir, mudar e alterar tragicamente situações originárias da paixão!
Costumo dizer que a paixão é a mais avassaladora força na terra. É dela que originam-se guerras, desastres sociais, e até a super população.
Num momento, Eloá era a razão do viver, e logo no outro, vira um corpo inerte onde se depositaram os tiros e a fúria da falta de razão.
Num momento, Lindemberger era a vítima do desprezo e da falta de amor, e momento seguinte faz vítimas de sua ( in) capacidade (?) de traduzir a paixão.
Devemos nos próximos dias, abordadar as questões que nos apontam para caminhos entre Eros e Tánatos, e assim, enfocaremos melhor as pulsões de vida (Eros ) e de morte ( Tánatos).
Fraterno Abraço

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Prometeu.

À propósito do texto abaixo, para quem não lembra, Prometeu é o deus mitológico que ensinou aos homens o segredo do Fogo, e por isso foi condenado a ter seu fígado comido pelos abutres.

Os Rótulos que nos Decifram???

Comentando um crônica do L.F. Veríssimo, um dos mais brilhantes advogados do RS, meu amigo, me induz com o seguinte questionamento: "E mesmo sem rótulos André, quem somos nós afinal? Como viemos parar aqui? De onde saímos e para onde vamos?"
É lógico meu caríssimo Doutor, que não posso responder cartesianamente nenhuma das questões, e acho que ninguém pode.
O próprio Descartes nos mostrou que não podemos confiar plenamente em nada imperfeito, nem mesmo nos nossos sentimentos que tantas vezes acreditamos perfeitos.
Contudo, com a licença poética que a psicanálise permite, acho que posso dar seguimento às demandas oriundas de seu questionamento, num verbo conjugado num modo imaginário, onde o significado fica submetido à entendimentos próprios e individuais.
Supondo que conseguissemos nascer sem rótulos, creio que seríamos o somatório de nossos desejos, inclusive aqueles escondidos nos mais profundos porões de nosso inconsciente. Desta forma, seríamos vistos na essência. Sem as máscaras que muitas vezes nos protegem dos nossos próprios demônios (?), e seríamos vistos como Prometeus híbridos que não precisariam de abutres para comer os fígados expostos.
Teríamos vindo numa nave abastecida pelo desejo de outros, propulsionada pela fusão de combustíveis poderosos cujos princípios ativos foram tirados da paixão, do encontro, da convivência, do amor e até do ódio.
Teríamos saído, prezado amigo, de um lugar indizível, e por isso inexistente, constituído de todos os elementos originais: Água, Terra, Fogo e Ar. E mais alguns elementos que habitam nosso imaginário como: Fé, esperança, crença, inteligência, afetos, vaidades, orgulhos, etc...
E teríamos saído, exatamente pelo desejo absoluto e inexorável de todos os elementos constituintes de nosso lugar original e inexistente.
E para onde vamos enfim?? Nem a poesia me permite elucubrar sobre isso. Talvez, do pó ao pó, das cinzas às cinzas... quem sabe...????
Contudo, um questionamento que o senhor não fez, e que eu incluo nessa demanda:
Onde estamos??
Acho que estamos num lugar iluminado pelo fogo trazido por aquele mesmo Prometeu híbrido, e andamos pelos salões, pelas casas e pelas cidades, mascarados por uma forma nebulosa que inebria peremptoriamente, a imagem do que somos, como viemos, de onde saímos e para onde vamos.
Assim.... resta-nos os rótulos...
Abraço Doutor
Do seu amigo André

Fraterno abraço à todos e até a próxima.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Mulher Não Existe!

Hoje quero falar das mulheres!
Musas, ninfas, valquírias, as de Atenas e as Troianas... e as espartanas com suas armas de guerra!
Lacan estebeleceu que a mulher não existe, e isso chocou alguns jovens psicanalistas no seminário de Roma...
É que Lacan, na verdade, não estava se referindo a inexistência da mulher. Estava se referindo à incapacidade do homem em alcançar A mulher! Ou seja, o homem, tentando alcançar a mulher, alcança apenas o objeto "a" que é o seu objeto de desejo.
E é disso que quero falar. Porque, a história do desenvolvimento humano não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidencias. Ela se desenrola fundamentalmente, nas casas, nas ruas, nas cozinhas entre feijões e molhos, nos quintais entre plantas e galinhas, nos prostíbulos e nas escolas, e sobretudo nos namoros de esquina e em todos os lugares onde a mulher, mesmo sendo a protagonista, é tratada como coadjuvante que se transforma num rastro de luz e sombra!
A mulher, é a conexão mais efetiva com o divino!
A mulher é em todas as circunstâncias a atriz principal desse teatro bizarro que os homens tentam protagonizar ao invés de ensinarem seus filhos à serem coadjuvantes em papéis igualmente importantes!
A mulher é afônica.
E é disso que eu quiz fazer a minha fala de hoje, que na verdade é um canto. E só é justo cantar, quando nosso canto carrega consigo as pessoas e coisas que, afônicas, não tem voz!
Fraterno abraço

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Subjetividade e Diferença Humanas!

Estava pensando na minha subjetividade. Vivo da atividade clínica como todos sabem, e portanto a subjetividade humana é meu principal objeto de estudos e de minhas elaborações enfim!
Amar e entender a diferença, e saber que dela surge a experiência e que da experiência surgem as questões que enriquecem a subjetividade, é estabelecer para si e para o Grande Outro, que a partir de nosso amor e entendimento é que nasce a esperança.
Não se tem esperança quando nossos olhos etnocêntricos visualizam apenas verdades nascidas de nossos próprios conceitos;
Não é possível viver integralmente a riqueza da experiência, quando vestimos o manto negro do preconceito;
Quantos de nós vivem de ressentimentos?
Quantos de nós não suportam a diferença, ou ainda só a aceitam quando conseguem dela extrair o gozo(?) do exercício do poder?
Quantos de nós desfraldam bandeiras de liberdade e de igualdade, e na verdade acham mais fácil dar e receber um tapa do que um abraço?
Será que num contexto paranóico não estamos deixando a vida passar inexoravelmente, deixando de lado um detalhe que pode fazer a diferença???
Quem sabe não deveríamos pensar melhor na subjetividade e na diferença humanas?
Quem sabe....
Até a próxima, e fraterno abraço!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A Linguagem do Inconsciente! Um pouquinho de Lacan!

No dia 13 de abril de 1901 nascia Jacques Lacan, um ano depois do lançamento da obra fundadora da psicanálise: a Interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Apesar de não terem se freqüentado, é Lacan quem promoverá nos anos 50 o famoso movimento de retorno a Freud, trazendo os textos freudianos para o foco de interesse não só de psicanalistas (dispersos em outras referências) como também de médicos, filósofos, lingüistas, antropólogos, literatos, matemáticos e do público em geral que vinha assistir aos seus seminários. Esse movimento continua até hoje: a conexão da psicanálise com outras disciplinas chegou para ficar.
Lacan procurou dar um status científico à psicanálise, utilizando recursos da matemática e da lógica (da teoria dos conjuntos à topologia). Seguindo o ideal de transmissão próprio à ciência, ele propôs ''matemas'' (''o que se ensina'', em grego) tanto para os conceitos freudianos quanto para os que ele foi produzindo ao longo de seu ensino (grande Outro, sujeito barrado, objeto ''a'' etc), compondo, assim, uma ''álgebra lacaniana''. Por outro lado, sempre acentuou a especificidade e a independência do saber psicanalítico em relação à magia, à religião e à ciência (na medida em que esta rejeita a verdade do sujeito do inconsciente). E nunca deixou de enfatizar a singularidade da relação analista/analisante, vínculo inventado por Freud em contraposição a todos os outros já existentes.
Lógico por um lado, literário por outro, o psicanalista, dizia Lacan, deve ser letrado, pois ele lida com a instância da letra no inconsciente e com o sintoma do sujeito que nada mais é do que uma letra que fixa um gozo. Situa, assim, a psicanálise entre matema e poema.
Encontramos também em Lacan, evidenciado na última parte de sua obra - uma teoria da cultura e de seu mal-estar dentro da perspectiva inaugurada por Freud. O analista, dizia, deve ''alcançar a subjetividade de sua época'' e não ''abaixar sua armas diante dos impasses crescentes da civilização''
Mais conhecido por seu aforismo o ''inconsciente é estruturado como uma linguagem'', indício de sua contribuição dos anos 50 ao inserir a psicanálise no campo da linguagem e fazer sobressair assim a função da fala, Lacan também inovou a psicanálise nos anos 70, incluindo-a no ''campo do gozo'', denominado por ele de ''campo lacaniano''.
O gozo e seu campo é o conceito lacaniano que abrange o prazer e o desprazer, apontando como estes estão em continuidade - ele expressa a conjunção de Eros e Tánatos. O gozo não se deixa apreender totalmente; ele está sempre extravasando, transbordando, escapando como o tonel das Danaides, que contém um furo que faz com que elas estejam sempre o enchendo sem jamais o completarem. Ele se encontra no ato de se coçar e até mesmo no de se incendiar com gasolina, como os bonzos. Não há limite para o gozo. Entretanto, ele não pode ser reduzido ao sexo, pois não se deixa aprisionar pelo significante fálico. O que não quer dizer que seu campo não seja estruturado.

sábado, 11 de outubro de 2008

Um pouco da filosofia de Nietzsche

Quanta é a verdade que um espírito suporta, quanta é a verdade que ele ousa? Essa foi,para mim, e cada vez mais, a tábua para medir valores. Engano (-a crença no ideal -) não é cegueira, engano é covardia...Tod conquista, todo o passo adiante no conhecimento é consequência da coragem, da natureza em relação a si esmo, da decência consigo mesmo... Eu não refuto os ideais, eu apenas visto luvas diante deles... Nitimur in vetitum (Nós buscamos o proibido): é sob esse signo que a minha filosofia sai vitoriosa, pois até agora sempre foi proibida fundamentalmente apenas a verdade...
Friedrich Nietzsche, em ECCE HOMO , De como a gente se torna o que a gente é.
postei um pequeno trecho da obra deste que é meu filósofo predileto.
Indico à todos os que pensam.
Fraterno Abraço, e até a próxima.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Criador e Criatura!

à propósito do título, devo explicar:
Minha linha psicanalítica é Lacaniana, de Jaques Lacan, Psicanalista francês que releu Freud, e na minha opinião, conduziu a psicanálise depois da morte de Freud, tal qual o Freud faria!
Na gravura, uma colagem partindo da obra famosa, aparece o Freud como Deus Criador e sua criatura, no caso , o Lacan.
Contudo, como o próprio Lacan disse: " Vocês que sejam lacanianos! Eu sempre serei Freudiano!"
Na verdade, se não for freudiano, acho temeroso o psicanalista se conceituar como tal!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Porto Alegre No Divã (1)

Quando te vi ali, na entrada do consultório, sentadinha, cabeça baixa e olhos fixados no jornal de ontem, tremi ao pensar no que podias querer.

Tenho estado contigo nos últimos 40 anos, e jamais me passou pela cabeça que precisasses de meus ouvidos de psicanalista lacaniano.

Um rastro de luz me transportou num "flashback" delirante para o início de nosso amor, onde eu, ainda no colo do avô, velho portoalegrense, criei aquela que seria a primeira lembrança que levarei até o último pensamento consciente.

Era um final de tarde qualquer perdido num inverno dos meados da década de 60. Lembro com nitidez branquíssima das luzes amarelas da Borges, por onde passava o nosso transporte - talvez um dos últimos bondes elétricos.

Lembro do gosto do diamante negro e da mancha que ele produziu na camisa volta ao mundo branca de meu avô.

Passei a te amar naquele dia, e acho que ali decidi que serias minha, uma vez que tu ali me encantaste.

Na infância, pouco te vi. Mas te amando ao longe, sabia meu inconsciente, que viveríamos juntos, meus sonhos, meus pesadelos e um pouco da tua e tudo da minha futura história.

Adolescente, te fiz minha enfim, e acho que sequer percebeste que eu te invadia com todo meu desejo recalcado e juvenil...

Me sinto ainda percorrendo teu centro, como se teu útero fosse. Eu entre milhões buscando o caminho de tua fecundação? ( Ainda hoje caminhando na Andradas gosto de fantasiar com isso...)

Naquele tempo, tudo me era esperança e fé. Lembro de me benzer ao passar na catedral da praça da matriz, pedindo bênçãos antes de chegar no Água na Boca da praça Conde.

E tinha a feirinha da Ladeira, com os hippies que faziam bolsas, cintos e chinelos que deixavam expostos nas vitrines de concreto, e pintavam à mão camisetas com o rosto do Che que deixavam ocultas dentro de sacolas, que naquele tempo, mesmo que moribunda, a “Dita” ainda era dura...

Nos 80, deu pra ti (no bom sentido!)... Lembro da fila do táxi na frente da OSPA, saindo da Papagayus, indo pra velha New Looking e seus ambientes, ali, passando a Ipiranga.

E tinha teu cotidiano arrabalero, que mesmo sendo metropolitano vestia-se de interior nos domingos do Cristal, do Partenon, da Zona Norte, onde nos churrascos de passeio público, riam Maria que trabalhava na loja do centro, o Carlos mecânico da Azenha, o Paulinho do SulBrasileiro, etc, todos esperançosos mas com saudades de suas cidades de origem.

Mas.... espera ai! Isso tudo é até que bem recente! Não vejo razão pra demandas melancólicas.

Ainda temos o pôr do Sol (e o gasômetro está mais bonito!), temos os domingos da redenção, ainda temos GRENAL, e temos.... Ah! Um monte de coisas TRI ainda...

Ta certo... tens razão! Tem uma neurose te afetando.

Há dias, vi meu filho, somando-se a muitos de teus filhos, naquele mesmo centro que eu fantasiei de útero materno, sangrado por uma faca impulsionada pela miséria e pelo crak por não querer voltar pra casa sem os Nike e o telefone (mas não exagera!! o atendimento no HPS foi rápido e o guri ficou bem).

Tens razão.... novamente! Minha mulher, como todas as tuas filhas, não pode mais olhar as vitrines da Rua da Praia tranqüila ( é... mas tens o Praia de Belas, Iguatemi, e os outros, e logo logo também o Barra Shoping ali do Cristal, acho que estás exagerando e se queixando de barriga cheia...).

Era só o que faltava! Estás te queixando porque o arrabalde mudou????É claro... isso é fruto de teu crescimento, é uma tendência mundial desde a revolução industrial. Ah??? Não é isso???

Mais uma vez tens razão...

As Marias, Carlos, e todos os outros não habitam mais os domingos festivos e milongueiros... O arrabalde é território... território da boca, do patrão, do gerente da boca, do aviãozinho, do mula, do tecasso e do menino morto esperando o DML e com sorte, uma lágrima da mãe.

Tentei evitar te aceitar como paciente. Acho que meu amor por ti desencadeou um impedimento inconsciente de te analisar...

Mas me entrego!

Vem cá ...ocupa meu divã freudiano. Me fala de tuas dores, de tuas faltas, de teus sonhos. Fica bem à vontade Porto Alegre! Vamos conversar um pouquinho????


09 de setembro 2008.

Interagindo na vida cotidiana!

Na verdade, a idéia surgiu de uma conversa familiar.
Todos que me conhecem, sabem que minha vida é plena e vivo a intensidade de uma fusão indescritível produzida pela psicanálise.
Esse espaço, nasce agora para ser um forum de discussão e aprendizado!
Quero interagir com meus amigos e principalmente com meus amigos pacientes, aprendendo e ensinando e até quem sabe, tentando mudar o mundo!
Quem passou ou passa pela experiência psicanalítica, sabe que o cotidiano nada mais é que uma construção incessante!
Quem passou ou passa pela experiência psicanalítica comigo, sabe que procuro ser o pedreiro de tal construção, que mesmo tendo que muitas vezes destruir paredes, ajudo a carregar e a unir tijolos.
Tijolo por tijolo, construiremos cotidianamente nossas moradas harmoniosas e calmas, e sob o conforto do calor da lareira, teremos o alívio que precisamos!
Sejam bem vindos, e aproveitem! Eu, certamente aproveitarei!