segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Tempo que Passa!

Entao: Acabou 2014! 
Apesar de ter passado voando, ele passou como passam todos os anos. O tempo passa do mesmo jeito. Ou pelo menos do mesmo jeito que nós entendemos que ele passa. Porque em outras circunstâncias ( no espaço, em outros planetas, etc) o tempo passa de maneira diferente daquela que nós medimos. 
E foi tempo. E muita coisa aconteceu. 
Nada de fazer retrospectiva, e apenas penso que se aprendeu bastante nesse 2014. Quem quiz. Porque teve gente que não quiz. E não aprendeu. 
Eu aprendi.
Aprendi que foi oportuno eu ter entregue meu coração.
Entreguei aos que eu amo e aos que me amam. E isso me fez mais feliz e sensível à todas as questões que exigem amor. E todas as questões exigem amor. 
Entreguei ao meu competente cardiologista André (também!! com esse nome só pode ser bom... rs)  que com alguns (muitos) toques de mestre reviveu meu coração para que eu tivesse mais pra entregar e amar. 
Entreguei aos meus pacientes. Mesmo pra aqueles que duvidam que o psicanalista tenha coração. Porque isso sempre fiz. Porque isso também faz parte de meu ofício. 
Entreguei aos meus credores. Porque isso faz parte.
Entreguei aos meus devedores. Porque isso faz parte. 
Entreguei meu coração também às minhas esperanças. Porque são elas que fazem meu coração bater. 
Entreguei aos meus medos. Porque eles existem. E são eles que fazem meu coração quase parar de bater.
Entreguei aos meus projetos. Porque eles são frutos do amor que sinto pelo que faço. 
Então: Acabou 2014. 
Eu aprendi, entreguei, amei, vivi, paguei, cobrei, trabalhei e isso tudo com muita esperança. 
E em 2015 desejo que todos os medos sejam banidos do meu e do coração de todos os que acabam de ler essa última crônica do ano.
E não esqueçam, que meu livro REFLEXÕES DO PSICANALISTA NA VIDA COTIDIANA na versão EBOOK continua a venda. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com ou pelo email da editora laura.ncunha@gmail.com

Fraterno abraço e feliz ano novo !
  
    

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A Solidão do Psicanalista!

- E o que será que eu posso fazer com essa dor aguda que atormenta o peito, a alma e todo meu ser?? Me ensina como lidar com essa tristeza de perder algo muito especial e querido mesmo sem ter perdido ainda? E como eu faço com o alimento que não consigo digerir porque o estômago rejeita qualquer coisa? E como faço com essa vontade incontrolável de chorar e por incontrolável me desmancha a maquiagem e mesmo a minha nata fisionomia? E minhas unhas roídas pela ansiedade e pelo medo? E o meu sono que não chega e quando chega me cansa mais do que o  mais árduo dos trabalhos? E o Sol que sempre amei?? Será que um dia ainda vou voltar a gostar de ver ele nascendo? Ou o nascimento do Sol sempre vai despertar em mim o medo do dia que inicia?? E a luz do luar? Um dia ainda voltarei a ver o luar com a esperança e expectativa dos amantes? E a água que bebo e que se transforma em sal nos olhos e lava minha face com água do mar? E as feridas que já são chagas sangrantes? Me diga que elas vão cicatrizar?? Por favor???

Isso foi o apelo desesperado daquela paciente naquela tarde de calor intenso. 
O psicanalista não podia dar-se ao luxo de simplismente deslocar-se para um lugar da zona de conforto dentro da técnica e do pragmatismo. Ele sentiu que naquela hora ele precisava, hipocraticamente, consolar. Lembrou-se do juramento de Hipócrates: "....consolar SEMPRE!"

- Não sei o que fazer com essa dor, mas sei que estarei contigo enquanto essa dor te estiver maltratando. Não posso te ensinar a lidar com a dor da perda daquilo que não perdeste. Mas quando perderes estarei contigo na estrada amarga do luto e juntos acharemos o bálsamo que vai fazer a falta transformar-se em saudade. E eu não posso te prometer a volta do apetite,nem a falta de choro, nem o Sol e a Lua e nem o estancamento do sangue de tuas feridas. Mas te juro: Só me afastarei de teu lado, quando tu estiveres segura e reencontrado a felicidade, pois a minha será ter ver segura e feliz!

E é por isso que alguns (sábios) dizem que o único diploma que deveria ter no consultório do psicanalista é aquele em que está escrito: Um solitário feliz!

Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista

P.S.: Vocês sabem. Meu livro em formato EBOOK Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana está em campanha de comercialização (custa muito baratinho.. risos). Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com    


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Os Ciclos e o Ciclo!

Perdi. Começar a procurar de novo. Achar. Retomar!
Sofri. Chorar. Roer o próprio fígado. Salgar as feridas com lágrimas. Cicatrizar. Voltar a viver. Reviver!
Quebrei. Gritar de dor. Gelar. Entalar. Reconstituir todos os tecidos. Reaprender os movimentos. Recaminhar!
Afundei. Entrar em pânico. Sentir os pulmões ardendo pela falta de oxigênio. Espernear. Bater os pés no chão. Lutar para voltar. Voltar a superfície. Gritar de alívio na primeira respirada. Emergir! 
Morri. Alguém chorou. Alguém sorriu. Alguém falou. Alguém calou. Alguém sofreu. Alguém festejou. Alguém se lembrou. Alguém esqueceu. E eu bem quietinho... sem sentir mais nada....! 

P.S.: Meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana  está à disposição aos interessados na edição em formato EBOOK. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com

Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Mentira e Traição!?

Antes de qualquer coisa quero falar de minha publicação anterior. 
Publiquei um caso clínico, e o título apareceu como CASO CÍNICO:
Mais de seis mil pessoas tiveram acesso ao texto. Eu, pessoalmente, só recebi dois manifestos de que isso foi notado. 
Pensei em escrever sobre  ato falho... e poderia até criar algo em torno disso e confesso, tive várias ideias e teorias sobre o caso. 
Contudo informo: Foi apenas um erro de digitação. Me desculpo pelo erro. Entre os meus escritos já existe amplo material sobre o ato falho e na medida que eles realmente surgirem podemos retomar o temo. Creio que o psicanalista não deve ter a atitude premeditada de criar um fato. Portanto, segue o baile e perdão pelo erro na última publicação. 
.........................

Mentira e Traição!
Na clínica psicanalítica, não se diferencia verdades absolutas, mentiras absolutas ou qualquer coisa que seja absoluta uma vez que o importante é a subjetividade e a experiência da maneira como ela se apresenta consciente e inconscientemente. Contudo, hoje quero falar de temas como mentira e traição.
Quando se mente, na minha opinião, deixamos aflorar bastante de nossa humanidade, afinal, mentir é coisa dos humanos, e poderíamos acreditar que ao mentir estamos reproduzindo aquilo que invariavelmente gostaríamos que fosse verdade.
Afinal, se eu digo: "Eu minto!" - Estarei falando a verdade??
Acho que devemos medir o nível de maldade da mentira, quando esta carrega na sua origem todo o nexo causal que pode gerar à outro! Isso é que deve ser visto: O quanto uma mentira pode ferir... o resto é perfumaria!
Acho que a ferida que é provocada, pode ser classificada como a ferida da traição!
Se tem ferida portanto, e se ela vem da mentira, ela pode ser classificada como maldade, e não mais como mentira ou traição.
E assim caminha a humanidade... ferindo e sendo ferido... Vamos debater isso??

Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista
P.S.: A comunicação por via da internet é sempre muito rápida, e tudo passa correndo. Assim, repito e relembro que a edição em EBOOK do meu livro REFLEXÕES DO PSICANALISTA NA VIDA COTIDIANA, já está disponível. Além de ser uma opção de presente nessas épocas pré natalinas, acho que está bem feito e já é um sucesso... risos... pedidos pelo email  andrelacerda15@gmail.com


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Caso Cínico: Seremos nós Cometas?

Ela foi derramando suas demandas e o psicanalista nem teve tempo e oportunidade de expor as preliminares comuns em todo início de tratamento. 
- Sinto que estou cansada e que tenho carregado um peso que não estou suportando mais. Na verdade estou me sentindo como se eu fosse um cometa.
Silêncio...O psicanalista questiona:
- Como assim um cometa?
A mulher adota um semblante extremamente sério e o psicanalista percebe que aquela elaboração prometia revelar muito para uma primeira consulta. 
Ela responde:
- Sinto que sou um cometa e minha trajetória representa minha história e experiência de vida. 
- Mas isso é poético até. Gostei da metáfora.
- Mas não é pra gostar. E nada tem de poesia nisso. Todo cometa tem cauda. E na cauda do cometa está tudo o que é colhido pelo caminho. E a grande maioria das coisas é lixo espacial. Sei que passei por planetas incríveis, e muitos momentos fizeram dessa minha viagem  uma coisa maravilhosa. Contudo, sinto que nos últimos anos minha rota entrou num sistema da galáxia decadente e morto. Os planetas que tenho passado estão destruídos e capto deles somente  o lixo que sobrou. Não tenho visto sóis no meu caminho. Apenas estrelas anãs que há muito perderam a vida e a luz. E o lixo e as sombras do momento da morte são captados e se incorporam ao meu corpo vagante. Não tenho brincado pelas nebulosas como dizia a canção juvenil de minha adolescência. Acho na verdade, que o universo com toda a sua energia, me atribuiu a missão de ser um astro celeste lixeiro. Estou cansada. Estou com uma carga muito pesada de lixo e desgraça. 
O psicanalista pensou por alguns instantes e falou da desconstituição necessária de toda a experiência negativa e da igualmente necessária construção de uma nova história e das coisas do tratamento enfim. Contudo, já no aperto de mão final, na porta do consultório,  o psicanalista finaliza:
- Como te disse, continuo gostando da metáfora do cometa e mesmo com todo o teu sofrimento ainda vejo poesia nisso tudo. Não esqueças que existem várias teorias aceitas pela ciência que revelam que é no corpo do cometa, entre lixo cósmico e sombras, que existem também as partículas que dão origem à toda a VIDA conhecida. 

Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista

P.S.: Pra não perder o costume relembro: Meu livro em formato EBOOK - Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana está à disposição dos interessados. Pedido no email andrelacerda15@gmail.com


      

sábado, 22 de novembro de 2014

Caso Clínico: As Baratas que Habitam!

Antes de qualquer coisa vou manifestar:
TODOS os meus escritos, são elaborados a partir de minha formação e de minha experiência psicanalítica. Quando em algum texto faço menção à algum autor (normalmente Freud e Lacan) faço as devidas citações.
Todas as minhas publicações são feitas com origem no blog O Criador e a Criatura, que foi criado, registrado e devidamente classificado em 2008. E para fins de comercialização, todos os meus direitos autorais são de propriedade da Editora que me publica e administra os mesmo. 
Contudo, jamais tranquei ou proibi que as redes sociais compartilhassem ou publicassem alguma crônica minha. E continuo pensando que " só e justo cantar, quando nosso canto carrega consigo as coisas e as pessoas que não tem voz!" Isso quem disse foi o poeta Ferreira Goulart.
Dito isso... segue o baile...

Esse caso clínico é muito discutido e serve como aula inaugural em qualquer percurso de psicanálise. 
A paciente jovem de 20 anos, é encaminhada pela família em estado de depressão profunda. Mas depressão da braba mesmo. Não saia da cama sequer para realizar suas necessidades fisiológicas. Ou seja, fazia tudo na cama. E não tinha anti depressivo que resolvesse. Então... a familia procura o psicanalista. Eis o caso:
- Já é nosso segundo encontro. Venho na tua casa, quero te conhecer, saber de tuas dores, saber de teus sonhos e pesadelos, saber de ti, ser teu acompanhante nessa luta que se chama vida, mas não me falas uma única palavra? Já estou até me acostumando em te ver nessa cama com teus cobertores. Lá fora faz quase quarenta graus sabia? Não sentes nem vontade de tomar um mega banho?
Nada...
A paciente não se manifestava de jeito nenhum... ele esperou mais um tempo... repetindo a primeira visita... e pensou que mais uma vez iria embora sem nenhum resultado. Falou pra paciente e para as paredes:
- Vou embora mais uma vez me sentindo mal... não estás me ajudando mas creio que estou falhando contigo. Não estou conseguindo te ajudar... estou triste!
Levanta-se e vai devagar se dirigindo à porta do quarto da jovem paciente... e escuta por primeira vez uma voz fraca vindo da cama:
- Eu não posso tomar banho. Nem ir no banheiro. Nem andar por essa casa. Eu tenho medo!
- Do que tens medo?
- Medo das baratas. Essa casa toda está investada de baratas. A cidade é das baratas. O único lugar que elas não estão é na minha cama. 
O psicanalista escreveu em suas anotações a palavra BARATA. A paciente continuou:
- Sonho sempre com uma barata gigante que habita o banheiro. E ela sai de dentro de uma GARRAFA!
O psicanalista pega duas canetas. Uma Monblanc dourada com ponta de platina e custando alguns milhares de dólares. E uma Bic... comum... de dois reais.
Perguntou:
- Essa Monblanc custa  4 mil dólares. Que achas dela?
- Bonita! e CARA!
- Essa Bic custa dois reais. Que achas dela?
- BARATA!
.......
Vou encurtar os relatos e vou objetivar. 
Muitas vezes o inconsciente se manifesta de uma maneira que somente uma escuta bem atenta (puxando a brasa pro meu assado - o psicanalista!) pode decifrar. Neste caso, o medo de barata teve estruturas formadas a partir da morte do pai da paciente. Quando o pai morreu, a mãe já separada ha muito tempo ao vê-la chorando, a critica, dizendo que seu pai não merecia uma lágrima. Havia abandonado a família. Era um bêbado. Não valia nada. Ou seja: Uma coisa que não vale nada é uma coisa ??? BARATA. Uma barata saindo de dentro de uma garrafa, afinal  o pai tinha problemas com alcoolismo. Entenderam? 
Esse caso terminou bem. Depois de estruturada a dor inconsciente, a paciente foi melhorando, se entendeu com a mãe e acabou fazendo o luto da maneira devida. 
Este é apenas um jeito de se entender como funciona a Psicanálise nos tratamentos psiquicos. 
Fraterno abraço
André

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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Caso Clínico: Ressentimento!

A frase "guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra", é atribuída há dez autores distintos entre eles o Freud.
Confesso que jamais encontrei a expressão em qualquer obra freudiana, e penso que se o Freud citou isso em alguma entrevista etc, deve ter citado Buda ou Shaskespeare... não sei. Se alguém puder que me ilumine ...
Mas vou me deter brevemente na expressão e penso que ela deve ser pensada e discutida. 
Sabemos que a repetição do trauma é provável causa e origem de sofrimento psiquico ou psicopatologia.
A literatura técnica tem vários exemplos disso e eu vou citar suscintamente um caso que acompanhei.
Paciente de 19 anos em estado depressivo grave.
Sintomas iniciaram-se quando o menino foi traído (abandonado) pela namorada numa festa da faculdade. Ela simulou uma ida ao banheiro, e encontrou-se com outro menino atrás da capela da Universidade. O Namorado (paciente) por acaso (se o acaso existisse) flagra o evento e assim acusa o golpe. 
No tratatamento descortina-se o fato de que o menino havia sido abandonado pela mãe com poucos meses de vida... na porta de uma igreja. Ou seja... ele não foi só traído e abandonado pela namorada. O evento fez com que o inconsciente fizesse a leitura de repetição do trauma vivido. E com o tratamento ainda descobriu-se adotado, renegado, dispensado, etc..
Logicamente que com o tratamento também descobriu-se amado pelos pais adotivos, acolhido e na verdade com muita sorte pois a vida lhe dera muitas coisas boas. 
Contudo me ponho a pensar: 
Como evitar o ressentimento?
Será que ressentindo estaremos desejando a morte do outro?
Existe uma fórmula que nos dê o condão de não sentir aquelas agressões que nos são contumazes?
Não sei... acho que tudo é (como vida) muito subjetivo. 
Mas não creio que o Freud tenho dito essa frase. E muito menos escrito essa frase. 
Fraterno Abraço

André Lacerda - Psicanalista

P.S.: Meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana ainda está à disposição de todos na versão EBOOK. As pessoas estão comprando para presentear amigos nesse final de ano. Basta mandar os email de destino que serão encaminhados os livros com dedicatória personalizada. Pedidos no email andrelacerda15@gmail.com


  

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Caso Clínico: Só mais um sobrevivente!

Era uma tarde daquelas no prenúncio de verão. Calor de trinta e muitos graus...
Ele chegou com humildade... melhor dizendo... ele chegou com sinais de extrema humilhação... 
E ele já entrou se explicando:
- Antes de começar-mos gostaria de dizer que essa vai ser minha primeira e última consulta, e na verdade estou aqui na espera que tu faças um milagre em apenas essa sessão. Estou acabado e preciso somente de orientação.
O psicanalista imaginou que o estigma de milagreiro não iria lhe cair bem e pensou em interromper de imediato a conversa... mas... ficou atento... afinal não ia negar aqueles cinquenta minutos de estruturação. Perguntou:
- Que te trazes aqui?
- Minha vida acabou. Meu último grande problema foi ter perdido o emprego. Tenho mais de quarenta anos... sabes como é né?
Ao longo de minha vida fiz escolhas erradas e muitas vezes fui injusto com os outros e até comigo mesmo. Iludi, menti, traí e fiquei devendo favores e dinheiro. Nunca fiz maldades voluntariamente, mas hoje sei que algumas ou muitas vezes fiz o mal a quem não merecia. Exerci o poder quando me foi permitido e muitas vezes como um tirano e não como um líder. E usei do poder que tinha, e que mesmo sendo efêmero e limitado muitas vezes mexia com a vida das pessoas que me cercavam e que em mim confiavam. E nem sempre minhas ações foram benéficas. Me arrependo de todo o mal que causei e acho até que já paguei por tudo. 
O psicanalista interrompeu e perguntou:
- Estás aqui pela culpa que sentes de tudo isso?
- Não. Como te disse eu acho que por esses erros eu já paguei.  Estou aqui por que estou sem norte. Falta emprego e dinheiro. Sobram dívidas. Sobra decadência e me sinto indigno de encarar meus filhos. Sinto vontade de me matar. Aliás penso que morrer seria bom, já que morrer é inexorável.  
O psicanalista conseguiu ver que definitivamente não iria conseguir fazer fazer o milagre e depois de alguns minutos verbalizou:
- Não sou juiz e por isso não vou julgar tuas atitudes como certas ou erradas. Também não sou advogado e por isso não posso dizer o que deves fazer para saldares tuas dívidas. Não sou policial e não vou ver em ti crimes ou más atitudes. Penso que devemos juntos identificar os materiais que foram usados na tua construção e escolher aqueles que precisam ser substituídos e quais ainda podemos aproveitar. E penso que tua morte não te perdoará de nada. Penso sim, que tu és um sobrevivente. Um sobrevivente. Não um morrente! 
- E o que tu me recomenda então?
- Te recomendo um tratamento. Começaremos com três sessões semanais.
- Não tenho como te pagar. Sequer tenho dinheiro pra pagar a consulta de hoje. Entrei aqui no desespero. O calote que vou te dar hoje foi premeditado. 
- Te acolho. Me pagas quando puderes. Quero te ajudar. E se eu tiver sucesso, tu me ajudarás. 
Ali estava se iniciando um forte vínculo clínico. 
O psicanalista ainda pensa:
- Seremos dois sobreviventes??

Fraterno Abraço 
André Lacerda - Psicanalista

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Caso Clínico: A Suposta Ninfomaníaca.

Ela chegou numa manhã de inverno e eu não vi, mas todos que estavam presentes disseram que sua chegada causou frisson e que o própio sol matutino ficou babando pela sua beleza.
Era linda. Loura. Olhos azuis e corpo de sílfide que baila ao caminhar. Uma menina... 20 anos...
O psicanalista não se admirou muito quando ela antes mesmo de se apresentar deitou no divã freudiano e acidentalmente(???) deixou à amostra um belíssimo par de pernas. Essas coisas acontecem com frequência na atividade clínica. São nesses momentos que o psicanalista deve realmente saber qual é o seu lugar no processo, e sobretudo saber que na clínica tudo deve ser entendido como demanda clínica.
Pensou:
- Valei-me meu São Lacan!! Prevejo tempestade na minha calma manhã de inverno. Valei-me!!
Estabeleceu (ou procurou estabelecer) o vículo inicial:
- Fico feliz em te receber. Sinta-se a vontade nas nossas sessões. Mas te peço que sentes aqui na poltrona. Vamos conversar um pouco. Terás tempo para o divã! Agora é tempo de eu te conhecer. Preciso saber de tuas dores, do que te falta, de tua vida enfim. Porque me procuraste?
Ela levantou-se do divã... olhou-se no espelho de uma das paredes... ajeitou a saia e o cabelo. Sentou solenemente na poltrona cruzando quase 15 metros de pernas e pigarreou:
- Sou ninfomaníaca. Sou bipolar. Sou hiperativa. Sou depressiva. Acho que sou border. Sou inteligente pra vida mas sou burra pra faculdade. Exijo fidelidade mas não consigo ser fiel. Enfim, quero que tu me internes naquela clínica lá da zona sul. Aquela com área verde, quadra de tênis, sauna, piscina, etc. Já olhei no site. Mas lá não deixam levar o celular né??? Mas isso tu podes autorizar né?
O psicanalista pensou, e ficou novamente com vontade de chamar São Lacan e que viesse com o reforço do São Freud... e que deixasse a Santa Melanie Klein na reserva pro segundo tempo...
- De tudo que falaste quero que me expliques porque te achas inteligente pra vida e burra para as coisas da faculdade. Podes fazer isso?
- Claro! Mas isso é meio óbvio né? Vivo bem e tenho amigos que me querem bem. Leio bons livros e os entendo. Acho que a cultura é nosso maior bem. Consigo conversar com todos e todos me acham interessante. Meu problema é com os teoremas, conceitos matemáticos, geometria analítica, algebra, cálculo e essas coisas que são tratadas na faculdade de arquitetura.
- Entendi. Fazes arquitetura. Que legal. Mas essas coisas todas não são curriculares do próprio curso?
- São. Mas eu nã gosto!
- Não gostas de arquitetura?
- Gosto! Mas só da obra pronta. Quero ser arquiteta porque acho bonito ser arquiteta. Desde menina minha mãe disse que eu levava jeito pra arquitetura. Tu não acha que tenho cara de arquiteta?
- Acho que tens cara de Sofia (obviamente que não é esse o nome da paciente). Mas me diga: Porque dizes que és bipolar, borderline, hiperativa e ninfomaníaca? E de onde vem essa ideia de internação?
- Bem...
Ela deu uma pausa... e pensou... e pensou... e pensou...
- Quando sinto vontade eu faço sexo. As vezes fico triste quando algo não está  de meu agrado. E as vezes fico a milímetros de explodir quando minhas vontades não são atendidas.
- Mas quem diagnosticou em ti essas psicopatologias?
- Tu não tá entendendo??? Se eu tenho vontade eu trepo mesmo! E nem tenho namorado! Isso é coisa de tarada... tá na cara que sou ninfomaníaca...
- E????
- Será que tu não tá vendo que preciso ser internada????
Naquela manhã de inverno os santos da Psicanálise não vieram ao socorro do psicanalista. Mas naquela hora que se seguiu, o psicanalista conseguiu entender perfeitamente todas as demandas da jovem mulher.
Foi um tratamento breve... em alguns meses Sofia trocou a arquitetura pela comunicação e hoje milita no campo da  publicidade, além do cinema e do teatro.
Dia desses o psicanalista encontrou-se com ela num restaurante da cidade. Conheceu seu marido e seus dois filhos. E viu que era uma família feliz.
Naquele dia voltou pra casa com a tranquilidade de ter exercido seu ofício do lugar que lhe era devido.  E lembrou-se da máxima entre os psicanalistas:
" Nós somos como aquele vidrinho de remédio que nosso paciente guarda no armário do banheiro. Quando a dor passa, aquele vidrinho ainda fica ali para o caso de uma recaída. Quando não existe mais dor, o lugar do vidrinho de remédio é no lixo."
Me sinto muito feliz por ter escolhido esse ofício... rs
 
Fraterno abraço
André 
 
P.S.: Recordo à todos que meu Livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana está à disposição dos amigos e amigas. A edição que está disponível é em formato de EBOOK... pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com
 
 
   
 


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Caso Clínico: A abordagem inicial!

- Vamos deixar uma coisa bem clara: Estou aqui por que a família está insistindo e tudo isso está me enchendo o saco. E já te aviso que não preciso de psicanalista e se esperas que eu vá falar de mim pode tirar teu cavalinho da chuva. Entendido?
Foi assim que aquela paciente se apresentou na sua consulta inicial marcada com insistência pela família.
O psicanalista logo pensou em dispensá-la e recusar o atendimento... mas (até hoje não sabe porque) entrou no jogo. Queria ver onde aquilo ia dar e respondeu:
- Sem problemas. Temos 50 minutos. Podemos falar o que quiseres. Podemos começar com Física Quântica?
- Tu estás maluco? Nem sei o que é isso!!!!
- Certo. Podemos falar da reengenharia proposta por Maslow para reerguer o Japão pós guerra? Afinal esse teórico complementou todos os ensinamentos, de Taylor, Fayol e Ford!
- Ai meu deus!!! Minha mãe escolheu um psicanalista bêbado e louco????
- Oi? Preferes falar sobre a experiência europeia dos micro buracos negros? Penso que antes de afetar, isso pode confirmar e até dignificar a teoria da relatividade de Einstein. Que achas?
- Tu só pode estar "tirando com minha cara" né?
- Não entendi. Podes me explicar o que é "tirando com minha cara"?
- Ahhh Tá! Tu já estás me irritando ....
- Certo. Vou deixar ao teu critério. Sobre o que falaremos? Eu sugeri alguns temas, mas pelo jeito não gostaste de nenhum deles?!
O silêncio habitou o consultório e quase congelou  o psicanalista e sua nova paciente naquela tarde tórrida de 40 graus em Porto Alegre.
Ele esperou. Ela pensou. E ela por fim manifestou:
- Sinceramente? Nada pessoal tá? Mas quero a tua Física Quântica se dane junto com a tal reengenharia do mané Japão. Aproveita e pega a tal relatividade do Einsten e enfia no teu buraco negro tá? CACETE.... TU NÃO VÊS QUE ESTOU SOFRENDO E SE CONTINUAR ASSIM EU VOU PIRAR??????
O psicanalista a encarou com um olhar paternal e pensou que talvez fosse mais difícil despertar os primeiros demônios de sua nova paciente. E lhe sorriu enquanto observa uma lágrima que começava a cair... e disse:
- Não te preocupes. Estaremos juntos e vamos juntos desconstruir esse sofrimento. Estarei contigo e estaremos de mãos dadas enquanto atravessarmos o teu inferno.
A Psicanálise ajudou aquela jovem paciente na construção de sua vida. E até hoje ela frequenta o psicanalista com disciplina espartana.
 
Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista
P.S.: Lembro aos amigos que meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana,  na edição eletrônica  está à disposição de todos. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com
 
 
    

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Medos ou Exagero!

- Controle-se André! Esse teu medo de ter um AVC está se tornando um exagero! As coisas estão controladas!
Era meu médico me falando....
- Acho que o senhor está exagerando, pois isso de efeito estufa é conversa desses radicais ecologistas! Essa coisa de mudanças climáticas, secas e enchentes sempre houveram! Relaxa!
Era uma dona de casa me respondendo quando eu falava da importância em reciclar o lixo e não despejar o óleo usado no ralo da pia da cozinha...
- Meu avô morreu com 100 anos e nunca deixou de comer carne gorda e beber  de tudo. Sem contar que seu último pedido foi um cigarro no leito de morte!
Era um amigo me contestando enquanto eu defendia uma dieta alimentar mais saudável e o evidenciava os malefícios do tabagismo...
- Não tem necessidade de trocar todas as fechaduras da casa! Quem iria se dar ao trabalho de fazer cópia e esperar o momento certo para cometer o assalto!
Era eu mesmo em 2009 dizendo pra mim mesmo pouco antes de fazer uma viagem de férias...
Depois de pensar sobre isso me preocupei. Estaria eu ficando paranoico? Estaria eu perdendo meu otimismo que sempre foi uma de minhas marcas registradas? Fui pra minha análise. E levei isso como demanda.
- De onde vem esse teu medo André?
Era minha psicanalista me fazendo estruturar...
- Recentemente descobri e estou tratando de severas cardiopatias. Somente depois disso abandonei o tabagismo, e apesar de manter uma dieta apropriada ainda vivo momentos de profundo stresse como todo mundo, e por todos esses motivos estou incluido no grupo de risco do AVC. E é claro, o AVC é a doença que mais mata no Brasil. E tenho realmente muito medo disso tudo!
Era eu no divã quase chorando...
- Calma André! Não vai ter um AVC aqui no meu divã!!!
Era a minha psicanalista tentando apaziguar minha angústia...
- Mas não para ai! Temos verão bem no meio do inverno, inverno na primavera, primavera em pleno outono e isso quanto não temos tudo isso num mesmo dia... O Sul sofre com enchentes e o sudeste amarga com a falta dágua... é lógico que o planeta está sendo muito agredido pela civilização. Isso só pode dar problema. E a violência??? É só olhar os jornais!!! E u mesmo já tive minha casa invadida e roubaram tudo o que tinha dentro. E o que não roubaram queimaram! Isso aconteceu quando eu fiz uma viagem de férias. Voltei e só tinha bagunça e sofrimento pelas sérias perdas.
A psicanalista calou-se e pensou um pouco... e logo retomou:
- Não estás paranoico André. Fica tranquilo. Mas por hoje temos que encerrar.
- Mas porque??? Ainda tenho coisas pra estruturar!
- Vamos deixar pra próxima sessão. Agora preciso ir no meu médico. Vou pedir check up geral e a indicação de uma dieta mais apropriada. E se der tempo, ainda vou procurar um chaveiro porque preciso trocar todas as fechaduras da minha casa...

Fraterno Abraço!
André Lacerda - Psicanalista

P.S.: Hoje é o dia Mundial do AVC. Procurem saber das causas, dos sintomas e principalmente da prevenção.
E não esqueçam: Meu livro Reflexões Do Psicanalista na Vida Cotidiana está à disposição de todos na edição eletrônica ao custo de 12 Reais. Pedidos no Email andrelacerda15@gmail.com
  
 
 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Totem e Tabu - Sempre Importante!

Comecei a ler a obra de Freud ainda muito cedo. O primeiro livro "As Psicopatologias da Vida Cotidiana" de certa forma definiu meu caminho que era a Psicanálise.
Desde então nunca paro de ler Freud. Sempre estou lendo Freud. Não tem dia que não leio Freud. E acho que demora muito ainda pra descobrir tudo. E acho que não terei tempo hábil. Mas vou tentando... risos.
Estou agora encerrando pela enésima vez a leitura de Totem e Tabu. Repasso aos amigos leitores algumas anotações, e a lembrança, que à todos aqueles que de uma ou outra maneira se acham envolvidos com as ditas "humanidades", é uma leitura muito importante. Espero que gostem.
Até Totem e Tabu (1912/1913), Sigmund Freud sempre se limitara a obras dedicadas estritamente à Psicanálise, campo de estudos recém aberto. Porém, a indagação quanto às origens e ao modo de transmissão de uma culturas (no caso, na sociedade moderna) conduziu sua atenção para a antropologia e para a etnopsicologia; Freud via, nos homens primitivos, mecanismos semelhantes aos operantes no homem moderno.
Detectou dois fenômenos recorrentes nas tribos primitivas: a representação do pai primordial na forma de totem e o tabu do incesto. Por meio de uma "dedução histórica", Freud propõe a hipótese do "pai tirano", cujo assassinato pelos filhos estaria na base do sentimento de culpa, da exogamia e da religião.
Considerada pelo próprio Freud uma de suas obras mais importantes, Totem e Tabu sinaliza a aproximação da psicanálise às ciências humanas.
O ponto de partida de Freud para Totem e Tabu foi a origem das proibições (os tabus). Os tabus são definidos como obediência transmitida diante de certas proibições mantidas pela tribo, clã, grupo ou sociedade. Porém Freud montava seu problema a partir da investigação sobre a suposição de sua origem: o totem.
Para Freud, a fonte visível, dotada de força e autoridade sagrada e sobrenatural inquestionável, à qual todos os membros do mesmo clã deviam temor, obediência e respeito é o totem. O totem constitui a forma figurada, em geral representada por um animal, que condensa essas fantasias no seio de cada um dos clãs. Nesse mesmo sistema operam os tabus, prescrições e proibições dotadas de imensa força que determinam comportamentos sociais entre os que pertencem ao mesmo clã , acima deles, pelo totem que os rege. Os tabus são proibições sem genealogia, isto é, eles determinam a obediência a seus preceitos sem que seja necessário, de modo algum, uma explicação sobre sua origem e força (sobrenatural).
Freud viu nesses dois fenômenos, presentes, atuantes e interdependentes na cultura dos povos primitivos, dois elementos discutidos e trabalhados em profundidade na teoria e na clínica psicanalítica: a representação psíquica ambivalente do pai (totem) e o tabu do incesto como obediência e dívida inustrapassáveis a esse mesmo pai primevo.
O sujeito da psicanálise, o sujeito do inconsciente está nas antípodas do indivíduo atomizado e autossuficiente e, segundo a psicanálise, o psiquismo jamais pode ser compreendido como estrutura interiorizada e autorregulada, independente dos laços e ligações que mantém com o mundo e com os objetos. Foi o que Géza Róheim, antropólogo e psicanalista discípulo de Freud, e um dos responsáveis por manter via uma antropologia psicanalítica a partir dos preceitos de Freud, sugeriu ao dizer, em 1936: " o que nós chamamos de "neurose", no sentido clínico, também pode ser chamada de "civilização individual", assim como a civilização é uma " neurose grupal"".
Leitura obrigatória para todos aqueles trabalham na área. Leitura fácil para os leigos. Recomendo sempre Totem e Tabu.
 
Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista
   
   

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Caso Psicoteste!

Antes de qualquer coisa, quero pedir auxílio aos amigos Psicólogos e depois de lerem o texto de hoje, por favor, lancem luz sobre a ignorância do Psicanalista aqui certo??
Então segue o baile:
 
Aina hoje passei por ela na principal rua do Centro Histórico de Porto Alegre e lembrei dos fatos que passo a narrar. Informo que esse caso realmente é verídico e tenho guardado todos os documentos porque ainda hoje não acredito quando lembro... então revejo os documentos e confirmo e sempre fico abasbacado.
Era o ano de 2006 ou 2007... não lembro bem...mas sei que a Clínica que sou sócio e Psicanalista, foi credenciada pelo Departamento de Polícia Federal para que realizasse os testes psicotécnicos que habilitam o cidadão interessado para aquisição e porte de arma de fogo. Era questão da lei etc...
Eu e meu sócio vimos que era uma oportunidade boa. Contudo tínhamos um problema. Eu não era Psicólogo. E meu sócio, apesar de ter origem na Psicologia há muito era Psicanalista e nem lembrava mais de como fazer os tais testes. Então buscamos a parceria de um Psicólogo especializado no assunto e tocamos o projeto. Eram dezenas de laudos realizados por dia e deixamos inclusive, um espaço físico esclusivo para tal atividade.
E tudo estava indo bem. Eu na verdade não me envolvia muito nisso. Até que um dia....
Cheguei na Clínica na primeira hora da tarde, e ela estava sentada na recepção. Vestia uma espécie de túnica romana branca e era loura...bonita até. Dei boa tarde à todos e entrei para meu consultório para preparar minha agenda de atendimentos para aquela tarde de calor senegalês em Porto Alegre.
Passadas uma duas horas, alguém bate na minha porta. Era  o Psicólogo que aplicava os tais testes psicotécnicos. E estava abismado com o resultado de um teste que tinha acabado de aplicar e me fala:
- André!!! Tenho anos de prática nisso e te garanto que raramente vi resultados tão bons quanto esses aqui.
E me mostrou 90% de aproveitamento nos risquinhos, 95 % nos números coloridos, 90% nas bolinhas, e etc... e confesso que aquilo tudo para o Psicanalista aqui, que  vive entre labirintos subjetivos, aquilo era aramaico. Ou seja... não entendia nada. Mas vi que era muito bom, pois o Psicólogo assinou o laudo que dizia: APTA PARA ADQUIRIR E PORTAR ARMA DE FOGO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL.
E nesse ponto, ouvimos um certo tumulto e gritos que vinham da recepção da Clínica. Nos adiantamos e fomos verificar.
A tal loura que havia acabado de dar um show no psicotécnico estava aos brados dizendo:
- Como ousam me cobrar para fazer testes psicotécnicos??? Com quem vocês pensam que estão falando? Vocês é que deveriam me pagar pelo simples fato de eu estar aqui!!!
O Psicólogo ainda argumentou:
- Sra Y... esse valor é cobrado de todos os candidatos e refere-se aos nossos honorários e mais as taxas governamentais.
- Tu falaste tudo. Cobrem dos candidatos. Eu não sou canditada!  
- Mas o que a senhora é então?
- Sou Procuradora da ONU. E estou diretamente ligada ao Presidente dos Estados Unidos e com o Presidente do Brasil!
- Mas porque a senhora precisa de licença para portar arma de fogo?
- Porque hoje fui aclamada Comandante em Chefe dos exércitos de Nosso Senhor Jesus Cristo e vamos declarar guerra à todo o resto do mundo profano!
Bem... não houve jeito. Tivemos que acionar o resgate que a levou para o Hospital Psiquiátrico numa camisa de força pois ela estava em fator de risco para ela e para todos os que estavam presentes.
É lógico que ela estava em crise permanente de delírio, com sintomas de psicose ou esquizofrenia.
Ainda hoje cruzei com ela na Rua da Praia. Ela estava vestindo uma túnica romana branca. E hoje ostentava um cora dourada sob os cabelos louros desgrenhados. E tem um crachá no pescoço onde se lê em letra redondinha a inscrição: Procuradora da ONU. Comandante do Exército de Deus!
Sempre que posso mostro os testes pra amigos que entendem disso, e todos são peremptórios. São resultados que habilitam para qualquer atividade que requeira testagem psicotécnica.
Como pode isso??? Como alguém em surto psicótico pode ser aprovado num psicoteste?  
Abro questão para quem possa me esclarecer:
Estou errado quando penso que esses testes não são fidedignos e por isso são facilmente derrubados quando os prejudicados os submetem à uma decisão judicial?
Estou errado quando penso que perfil psicológico não pode se fundamentar numa técnica simples de lógica de premissa maior e premissa menor, pois a psiqué é subjetiva e precisa ser analisada com muita dedicação, tempo e estudo?
Devo estar muito errado né? Perdoem... mas não sou Psicólogo e realmente isso não é ironia minha. Preciso de esclarecimentos.
Fraterno Abraço
 
André Lacerda - Psicanalista
 
  
 
  

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Tanta Amar???

E penso que o olhar da verdade é o olhar do amor. Ou não... afinal sou apenas um aspirante à menestrel que tenta contar as coisas dessa vida tão cigana...
Mas penso que se por acaso o olhar do amor não é o mais verdadeiro, certamente é o mais generoso. E dentro dessas circunstâncias evoco: Valei-me meu são Chico Buarque!!!
 
" Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho a pestanejar
e outro me fita..."
 
E digo que o olhar de quem ama se despe de conceitos e de opiniões, afinal dizem que o amor é cego. O que não concordo! E me explico:
O amor, não nos torna cegos. Quem vê no seu objeto de desejo a imagem do seu prórpio desejo. E ele sempre é o melhor de todos os desejos... e seu objeto é sempre o mais lindo de todos os objetos.
 
"Ela pode rodopiar
E mudar de figura
a paloma de seu mirar
vira miúra..."
 
E mesmo o amor harmônico tem seus dias de paz e conflito. E mesmo no conflito ele ainda se faz indispensável e imperdível.
Há quem o confunda com a paixão. E há quem diga que com paixão ele é profano. E eu penso que com paixão é muito bom... e não dá câncer... e não da ruga... e também não faz crescer pêlos na palma da mão. 
 
"Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um "chico"
Já pensamos em nos casar
Em Puerto Rico!!"
 
E mesmo tendo a parceria do Chico Buarque no texto, não foi minha intenção falar da alma femina e amada. Minha intenção foi falar de como quem ama vê o seu amor.
Recomendo o clip do Chico ... é só seguir o link.
 
Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista
 
 
   

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Pílulas do Mal-Estar

Penso que muitos autores, principalmente nas últimas três décadas, se dedicam à chamada literatura de auto ajuda, que muitas vezes ao meu juízo, sofrem até críticas injustas e cruéis.
Atire a primeira pedra aquele que nunca ficou esperançado com uma frase do Paulo Coelho ou do Josefh Murfy.... risos...
De minha parte, depois de publicar artigos sobre o Mal-Estar da Cultura, vou inaugurar o gênero "Pílulas do Mal-Estar"... risos...
Não se assustem queridos leitores...Ou se assustem (pessoal da gestapo e doi codi de minhas poucas angústias). Na verdade vou cotidianamente fazer uma publicação abordando pedaços da Obra O Mal-Estar da Cultura, no sentido e cumprir meu papel de divulgar a Psicanálise, e de repartir com os leitores amigos o entendimento freudiano.
Espero que muitos gostem. Espero que muitos aproveitem. Espero que muitos comentem. Afinal, com essas pílulas abro o debate sobre o Mal - Estar. Topam? risos
 
" Em meu escrito intitulado O Futuro de uma Ilusão, tratou-se muito menos das fontes mais profundas do sentimento religioso e muito mais daquilo que o homem comum entende por sua religião, do distema de doutrinas e promessas, que, por um lado, lhe esclarece os enigmas desse mundo com invejável completude e, por outro, lhe assegura que uma Providência cuidadosa zelará por sua vida e, numa existência no além, compensará eventuais frustações. O homem comum não consegue imaginar essa Providência de outro modo a não ser na pessoa de um pai gradiosamente elevado. Somente um pai assim é capaz de conhecer as necessidades da criança humana, compadecer-se com suas súplicas, apaziguar-se com os sinais de seu arrependimento. Isso tudo é tão manifestamente infantil, tão alheio à realidade, que se torna doloroso para uma mentalidade humanitária pensar que o grande maioria dos mortais nunca poderá se elvar acima dessa concepção de vida. Mais vergonhoso ainda é saber do grande número de nossos contemporrâneos que não podem deixar de reconhecer que essa religião é insustentável e mesmo assim procuram defendê-la parte por parte em lamentáveis combates de retirada." (Sigmund Freud- O Mal-Estar na Cultura, 1930)
 
E embrulho a pílula de hoje, sempre com o Freud, na mesma obra já citada, onde o mestre cita o poema de Goethe, Xênias mansas IX:
 
"Voltemos ao homem comum e à sua religião, a única que deveria levar esse nome. O que primeiro nos ocorre é a conhecida declaração de um de nossos maiores poetas e sábios, que trata da relação da religião com a arte e a ciência:
"Quem tem arte e ciência
Tem também religião;
Quem não tem nenhuma das duas,
Que tenha religião!"
 
Fraterno abraço!
 
André Lacerda - Psicanalista
 
 
     

terça-feira, 29 de julho de 2014

O Mal-Estar Na Cultura - Parte Final

Já inicio me justificano: Tenho espaçado as publicações por absoluta contigência pessoal e em virtude de ainda estar me recuperando de pequenos problemas de saúde. Mas agora tudo bem... e segue o baile... Baile aliás, com música nada leve, afinal essa obra do Freud deu e ainda dá muito pano pra manga.
Já citei e recito o grande Professor Márcio Seligmann Silva que prefaciou a edição que estou seguindo de cujos ensinamentos estou me valendo e repassando aos leitores.
Acho que a parte mais polêmica e discutida deste  ensaio do Freud, é extamente aquela em que o mestre retoma sua análise da religião e localiza a sua origem na sensação de desamparo da criança, que é oposta ao seu nasrcisismo originário e o violenta. Para comprovar essa tese, Freud lança mão de dois procedimentos que lhe são muito caros.
Primeiro ele faz um cruzamento (uma tradução, poderíamos dizer) entre elementos que foram conquistadosw pela psicanálise no estudo de indivíduos e a situação de toda a humanidade. O que vale para o indivíduo (ontogênese)  vale também para a espécie (filogênese). Tal gesto marca todo o ensaio de Freud e boa parte de seus estudos mais históricos e antropológicos. A outra característica deste ensaio a ser destacada é de certo modo derivada desse primeiro procedimento. A fim de traduzir descobertas referentes a indivíduos (que possuem uma história relativamente breve e são apenas um organismo) para sociedades (com bilhões de organismos e que se estende por uma temporalidade de centenas de milhares de anos), Freud precisa pensar um modelo de passagem de geração para geração de certos dados que são, por assim dizer, inconscientes.
Existe, portanto, uma teoria da temporalidade e da inscrição mnemônica transgeracional que ocupa um papel de destaque neste ensaio.  
Verifica Freud que o sentimento oceânico proposto pelas religiões é uma projeção posterior do sentimento do bebê de indistinção com o mundo e de ampara absoluto. O bebê é puro "behagen" (sentir-se protegido). Para ele, não existe o mundo. Esse ponto zero do desenvolvimento de certo modo é visto por Freud neste ensaio como o fim de toda a libido, que visaria a atingir novamente um estágio de completude, sem conflito com o mundo.
Mas todas as outras partes do ensaio mostram justamente a batalha titânica entre a humanidade e a natureza. Em algum momento, Freud nos dá a terrível notícia de que na verdade não estamos programados para a felicidade, como se observa:
 
" Toda permanência de uma situação anelada pelo princípio do prazer fornece apenas uma sensação tépica de bem-estar; somos feitos de tal modo que apenas podemos gozar intensamente o contraste e somente muito pouco o estado."
 
A toda satisfação segue imediatamente um renovado desejo e uma nova necessidade. Essa visão de mundo trágica Freud pôde encontrar largamente entre os tragediógrafos gregos, como em Eurípides, cuja Medeia afirma que "Viver é ter desgostos", ou ainda na tragédia Orestes, na qual Electra profere as palavras: "A mudança é entre todas as coisas a mais agradável." E na mesma peça o coro profere também a máxima: " A grande felicidade não é durável entre os mortais".
Por fim, observa-se que não deixa de ser desconcertante para nós - ao estudarmos este ensaio oito décadas depois de sua composição, ou seja, após não apenas a Segunda Guerra Mundial, Auschwitz, Hiroshima, centenas e milhares de massacres, genocídios e ditaduras sangrentas, mas também em meio a um processo vertiginoso de globalização e de construção de grandes blocos de nações que está transformando o mapa-mundi- pensar nessa concomitância detectada por Freud da tendência a se construírem unidades culturais sempre maiores, ao lado da tendência à destruição e ao aniquilamento.
 
Assim, encerro a série sobre o Mal-Estar na Cultura, sugerindo sempre que bebam na fonte... ou seja... a obra do Freud.
Espero que tenham gostado...
Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista
 
   

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O Mal -Estar na Cultura - Parte 2

Retomo conforme o combinado, publicação sobre O Mal - Estar na Cultura.
Reitero que esse ensaio do Freud, considerado uma obra difícil por muitos, é, ao meu juízo, uma das mais importantes obras literárias do século XX. Espero que todos aproveitem...
 
Como já disse na publicação anterior, Freud estava cético em 1930. Assim, é impotante ressaltar também a importância do outro termo do título original: Unbehagen (mal - estar). O significado do termo behagen (que é negado pelo prefixo un-) é algo como "sentir-se protegido".
Unbehagen remete a uma fragilidade, a uma falta de abrigo, a estar desprotegido. É interessante que esse termo também se aproxima de outro termo-chave para a psicanálise, a saber, Unheimlich (estranho, sinistro), que deu título a um famoso e fundamental ensaio de Freud de 1919: "O estranho".
Um dos sentidos de unheimlich, como o próprio Freud destacou, é justamente o de unbehaglich (o que provoca mal-estar). Se de certo modo podemos dizer que a psicanálise procedeu à revelação do Unheimlich da psique do indivíduo, ou seja, revelou "tudo aquilo que deveria ter permanecido em segredo e oculto e veio à luz" ( na definição do filósofo idealista Schelling, aprovada por Freud), no caso desde ensaio de 1930 Freud procura mostrar o oculto, o segredo, por detrás de toda cultura e da nossa humanidade, ou seja, seu mal-estar e suas origens mais profundas.
 
Fraterno Abraço
 
André Lacerda - Psicanalista
 
     

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Mal-Estar Na Cultura - Introdução

Não sou uma imagem criada pra marketing. Sou Psicanalista e vivo para minha atividade (leia-se meus pacientes) e sempre me defino como um pedreiro que ajuda a construir (as vezes demolir) paredes nessa obra que é a vida.
Nessas últimas semanas andei publicando alguns temas que muitas vezes foram criticados como sendo futebolísticos demais, festivos demais, subversivos demais, e etc...
Sem a mínima demagogia, retomo hoje temas mais ortodoxos e com uma abrangência mais técnica.
De quando em vez vou retomar meus rompantes guevarianos... afinal, já não vivo sem a pressão da gestapo que me vigia e sem o controle do dops que me quer cativo... risos!
Dito isso... segue o baile!
Começo hoje a tratar de uma obra Freudiana muito discutida e como já reproduzi aqui, tida por alguns (muitos) como "um dos mais perturbadores ensaios jamais escritos no que diz respeito ao desenvolvimento cultural da humanidade."
Falo do Mal- Estar na Cultura  escrito em 1929 e publicado em1930.
Desde já convido à todos que comentem... critiquem... façam sugestões. A série vai ser longa. Serão vários textos.
Vou me utilizar da edição da L&PM , vol. 850 de 2012 que teve a tradução do Renato Zwick com revisão técnica de Márcio Seligmann Silva.
Na verdade, aumentando o leque e mergulhando em oceanos insuspeitos, O Mal-Estar na Cultura dá continuidade ao ensaio  O Futuro de uma Ilusão (1927)e retoma também de modo evidente tanto o Além do Princípio do Prazer (1920) como o ensaio de 1913, Totem e Tabu. Contudo, se em 1927 Freud ainda apresentava um entusiasmo com relação à ciência e sua capacidade superior à da religião de descrever a realidade e de oferecer uma técnica de vida mais saudável, em 1930 - não por acaso já com 73 anos, após uma longa doença e em meio ao recrudescimento do nacionalismo nazista - ele retoma sua teoria do impulso de morte/destruição e mostra a ciência como sendo tão ilusória como a religião.
No que tange à diferenças na tradução do original entre cultura e civilização (confusão criada na primeira edição feita na Inglaterra, deixo o próprio Freud explicar:
 
" Como se sabe, a cultura humana - me refiro a tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condições animais e se distingue da vida dos bichos; e eu me recuso a separar cultura (kultur) e civilização (zivilisation) - mostra dois lados ao observador. Ela abrange, por um lado, todo o saber e toda a capacidade adquiridos pelo homem com o fim de dominar as forças da natureza e obter seus bens para a satisfação das necessidades humanas e, por outro, todas as instituições necessárias para regular as relações dos homens entre si e, em especial, a divisão dos bens acessíveis." ( Em O Futuro de Uma Ilusão, 1927)
 
Se Freud desprezava a distinção entre os termos, não é menos verdade que os dois estão dados em alemão, e ele muito sabiamente elegeu Kultur para seu ensaio que depois se tornaria muito conhecido: Das Unbehagen in der Kultur.
A crítica da civilização remonta na modernidade à Rousseu e seu culto do "bom selvagem"; já Freud recusa a tese da felicidade superior dos "selvagens" e localiza o mal-estar muito antes da construção das cidades. Na sua definição de cultura, já se encontra um ponto que será fundamental no texto de 1930: a ideia da distinção entre o homem e a natureza/animalidade que, por sua vez, se liga à conquista de uma séria de técnicas de extração e conquista de riquiezas, mas também de convívio social.
 
Amanhã, seguimos...
 
Fraterno abraço!
 
André Lacerda - Psicanalista
 
 
   


sábado, 12 de julho de 2014

O gozo no céu e no inferno!

E ele estava ali! De frente ou de costas para o gol. Naquele momento não sabia se erguia os braços e vibrava como o goleador ou se chorava como o goleiro vazado.
Lembrou Belchior:
 
"Estava mais angustiado
Que o goleiro na hora do gol
Quando você entrou em mim
Como o sol num quintal....."
 
E ela estava ali! De frente ou de costas para o gol... E naquele momento ela era fria como as brancas traves da goleira. E não vibrava e nem chorava.
E lembrou do Belchior:
 
"Dai um analista amigo meu
Disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda
Que uma transa sensual...!
 
E os dois não se encontravam nunca.  O gol dele era exatamente a angústia dela. E o gol dela transformava ele num triste goleiro.
E ambos lembravam do Belchior:
 
"Eu quero gozar no seu céu
Pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana
Onde nada é eterno!"

E depois ficaram pelos salões, pelas casas, pelas avenidas... formas nebulosas carregadas de sombras.. parecidos com eles mesmos...
E ambos lembraram o Belchior que citou Bilac:

"Ora direis
Ouvir estrelas... certo
perdeste o senso
e eu vos direi no entanto:
Enquanto houver espaço, corpo, tempo
e algum medo de dizer não
Eu canto!"

Fraterno abraço!

André

Curtam a música. recomendo muito!!!!!!

https://www.youtube.com/watch?v=9_n3Rd4bPy4

 
 
 
 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Essa crônica não tem nada a ver com a Copa!(???)

Aquele brasileiro encerrou a semana passada no mais profundo sentimento do capitão Nascimento de Tropa de Elite: Com o fiofó (pra não citar o personagem ipsis verbis) na mão!
Seu médico lhe anuncia:
 
- Temos problemas com teu coração e precisamos fazer um procedimento sério e urgente. Será no início da semana que vem. Te prepara!
 
Ele sai pensando que era só o que faltava. Já estava com o fiofó na mão porque no outro dia a seleção canarinho ia disputar uma vaga nas oitavas da copa, num terrível mata-mata contra o perigoso Chile do Aranguiz...
Seguiu em frente afinal era sexta feira, e na sexta feira não existem problemas. Segunda feira é dia de problemas. Se não fosse o jogo do sábado dava até pra relaxar...
E veio o sábado. E veio o jogo. E foi aquilo. O fiofó na mão do brasileiro até o último chute, no último segundo, e enfim explodiu de entusiasmo ufanista e gritava: O campeão voltooouuuu!!!!!!
Relaxou....
No fim da noite ao deitar lembrou-se da expressão séria do médico:
 
- "Te prepara!"
E até sorriu cantando em silêncio a canção do seu amigo de anos:
"Qualquer dia te dou cabo caborteiro coração.
Porque insistes em bater cascos até quando eu digo não!"
 
Ficou novamente com o fiofó na mão... mas tudo bem..pensou:
- O brabo vai ser pegar a Colombia na sexta feira com aquele guri que quer ser igual ao Cristiano Ronaldo... o tal James... aiaiaiai!!!!
 
No domingo se calou com a boca de feijão e pensou que seria uma boa ter uma TV na sala de recuperação do hospital onde estaria depois do procedimento que seria o divisor de águas entre sua vida e sua morte.
E era fim de mês. E as contas batendo e o salário não dando. E ele pensando:
 
- Mas a Colombia é a única seleção que ainda não perdeu nessa copa. Cacete!!!!!
 
E veio o procedimento... e ele viu pelo visor em preto e branco a invasão do instrumento que fazia o conserto no seu coração (logicamente com o fiofó na mão), e por fim viu o sorriso do médico dizendo que foi tudo bem. E na recuperação ouviu atentamente as recomendações do médico:
 
- Não te incomoda com nada. Esqueça trabalho, contas, problemas, e tudo que pode te causar algum estresse. Serenidade e calma são importantíssimas pra tua recuperação. Cuida da alimentação e procure te recuperar em paz.
- Tudo bem Doutor... Te agradeço. Vou cumprir tuas orientações!
 
E na alta hospitalar, o médico faz uma brincadeira:
 
- Não te emociona muito no jogo de sexta contra a Colombia viu???
 
Aquele brasileiro deu um sorriso amarelo e pensou:
 
- Como pude deixar esse cara mexer no meu coração??? Esse cara é doido! Como ousa brincar com uma coisa dessas? Como vou ficar sereno nesse jogo de sexta feira? Só pode estar bêbado!!!!
 
E na frente da TV na sexta sofreu até os 50 do segundo tempo. Por fim gritou de alegria e todos os problemas estavam resolvidos. Segunda Feira teria as contas, os problemas, o trabalho, o feijão da  fria marmita, o tratamento longo e caro e tudo mais. Mas enfim... Que venha a Alemanha!!!! UHUUUU!!!
E não desgruda os olhos da TV que mostrava a festa em todo o País. Ate que vem a notícia:
 
"Neymar está fora da copa. Não teremos o craque e esperança do time nos dois últimos jogos!"
 
Aquele brasileiro se cala novamente com a boca de feijão e engole duas lágrimas de desesperança.
Será mais um  final de semana com o fiofó na mão!
 
Fraterno Abraço!
André
 
  
 
 
 
 
   

terça-feira, 24 de junho de 2014

A Divina Tarefa de Recomeçar!

Alguém já precisou recomeçar alguma coisa? Ou melhor... será que alguém nunca precisou recomeçar? A cada novo dia, a cada hora, e eu diria até que a cada segundo estamos recomeçando.
O que será mais difícil? Começar ou recomeçar? Ou melhor... o que é mais fácil? Começar ou recomeçar?
Valei-me meu São Luiz Gonzaga Jr. que profetizou:
 
"Começaria tudo outra vez
Se preciso fosse meu amor...
A chama em meu peito ainda queima
Nada foi em vão..."
 
Eu até que poderia analisar com base na lógica. Afinal, se preciso recomeçar é porque interrompi algum processo já começado e interrompido. Logo, premissa maior e premissa menor, me levariam logicamente a concluir que se preciso recomeçar é porque em algum momento fui vencido naquilo que já tinha começado. Em tese perdi. Em tese sofri. E recomeçar seria então levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Mas não sei se gosto de ser lógico as vezes... risos...
As vezes (muitas vezes) prefiro a esperança da poesia e a lúdica luz da esperança...
Gosto de saber que recomeçar é muito mais fácil pois no recomeço carrego comigo toda a experiência do antigo começo e assim, já posso identificar o rengo sentado e o cego dormindo...
Quando decido recomeçar é porque me sinto capacitado para romper barreiras que antes me bloquearam...
Ao recomeçar, busco todas as ferramentas do meu consciente e mesmo as do meu inconsciente...
Quando recomeço me dispo da veste de derrotado, e me visto como um infante equipado inclusive com as armas de Jorge (aquele que enfrenta dragões)...
E me vem de novo a música do Gonzaguinha:
 
" A fé no que virá
E alegria de poder voltar atrás
E ver que voltaria com você
De novo viver nesse imenso salão!
Ao som desse bolero
Vida vamos nós
Que não estamos sós
Veja meu bem
A orquestra nos espera
Ontem, hoje e sempre
Recomeçar...
Todo dia... Recomeçar..."
 
Amanhã meus amigos, todos nós vamos acordar e inexoravelmente vamos ter de recomeçar. E depois, e depois, e depois, e depois de amanhã também. 
Então... sempre... RECOMEÇAR.
Fraterno abraço
André
 
P.S.: Aos interessados sugiro o clip do Gonzaguinha...é só seguir o link: 
 
 
 
  

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Dor Ensina a Gemer e a Curar!

Não tenho certeza se é um provérbio popular ou se foi uma frase ouvida de algum paciente ou amigo. Mas o fato é que a expressão "o melhor médico é aquele que já sentiu a dor que trata", tem habitado meus pensamentos cotidianos.
Não quero dizer com isso que a dor e o sofrimento próprios devam ser pré requisitos para o exercício de qualquer atividade da área de saúde. Nem quero fazer qualquer apologia romântica ou mesmo odes enaltecedoras de uma ou outra atividade.
Mas meu propósito é contar histórias da vida cotidiana e por vezes penso que algumas experiências por mim vividas possam de alguma forma, ajudar na construção (ou desconstrução) de outras histórias vividas por quem acompanha meus artigos.
Então... segue o baile!
Há algum tempo atrás, estando longe de meus médicos habituais, procurei um médico (o primeiro que me indicou a lista telefônica do lugar onde eu estava) pois "el diablo sabe por diablo pero más sabe por viejo" e mesmo não crendo em bruxas... "pero que las hay las hay...", e afinal, gosto de andar no mundo mesmo sabendo que não vou ficar pra semente, e já fui abrindo o verbo:

- Pois é Doutor. Estou me sentindo meio cansado, com algumas dores de cabeça recorrentes, vez por outra alguma falta de ar, alguns desconfortos no peito e resumindo a ópera, quero que me requisite alguns exames pra ver meu estado geral. Afinal, já são quase cinco décadas percorrendo essa vidinha madrasta! Que o senhor acha?

O médico me olhou...  baixou a cabeça sobre a mesa, e em silêncio começou a escrever a requisição em um receituário simples e (inacreditavelmente) com uma letra que parecia de normalista.
Me entregou o papel... e eu vi que pedia os exames laboratoriais e mais os radiológicos e em silêncio ficou.
Peguei o papel... e fuzilei:

- Era isso Doutor??? Sem anamnese??? Sem uma conversa amigável e tranquilizadora?

O médico pigarreou... ajeitou-se na cadeira... cruzou as pernas, descansou os braços na mesa e serenamente declamou:

- Tenho sessenta e cinco anos. Há dois descobri um câncer. Há 3 meses tenho lutado contra a metástase. Sou médico há quase quarenta anos. Minha mulher me deixou. Não tenho filhos e cuido de minha mãe muito idosa que também tem câncer. Nesse consultório aqui, nesse interior esquecido, é onde realizo a única atividade que faço que não me causa dor e sofrimento. Li tua ficha de acolhimento antes de te atender. És psicanalista. Deves saber os motivos que te trouxeram aqui e deves saber também que mesmo essa requisição que te dei é inútil pra ti.

Fiquei embasbacado com as palavras do médico e por muito pouco o coitado não foi cremado com o fogo dos meus olhos.
Agradeci, apertei e mão e me despedi pensando que a mãe dele só podia trabalhar na zona...
Quando estou prestes a abrir a porta e sair explodindo dali, o médico mais uma vez se manifesta:

- André!!! Sei que vais sair pensando mal de mim, falando mal da minha cidade, me achando um grande FDP... mas atenta pra o que eu te digo: Volta pra tua casa. Procura teus médicos. Vive teu mundo por mais estressante que ele possa ser. E cuida do teu coração. Acho que deves atentar pra teu coração... e não me queira mal.

Sai daquele consultório achando que uma consulta no inferno com o morador principal seria melhor do que aquela com aquele médico doido que os pariu.
Segui minha vida e esqueci daquela consulta. Passaram muitos meses e recentemente, por vias diversas, estive com meus médicos habituais, na minha cidade e (que coisa... risos) descobri que faço parte do clube dos que precisam estar atentos para os problemas do coração.
Hoje penso que aquele médico doido, naquela cidade que odiei e naquele momento que resolvi deletar, viu em mim as dores dele.
Meu inconsciente (que tudo sabe mesmo sem eu saber) deve ter assimilado o conselho do médico pois estou em tratamento e certamente, muito em breve estarei naquela cidade churrasqueando (agora sem as maravilhosas gordurinhas... snifff) com todas as pessoas que me acolheram quando lá estive. Quem dera eu pudesse  encontrar aquele médico. Ele sabia das coisas!

Fraterno abraço!

André
P.S.: Na texto de hoje, me exponho de alma serena e coração bem tratado pelo Dr. André (com esse nome só pode ser bom... risos) e  toda a equipe de Hospital Moinhos de Vento aos quais sou tão grato quanto sou ao médico citado no texto.            



  
 
      

sábado, 14 de junho de 2014

Os Sapatos do Matador!

Dia de sábado! Houve um tempo em que o psicanalista dedicava seus sábados aos pacientes internos numa ala de um hospital de Porto Alegre. Essa ala, era conhecida pelos profissionais como sendo a dos pacientes terminais.
Eram pacientes em estado gravíssimo, sem esperanças médicas, sem chances de sobrevida, enfim, sem mais nada a fazer. Então... no decorrer da semana os médicos mantinham com seus pacientes o seguinte diálogo:
- As coisas estão evoluindo. Vamos manter a medicação e vamos esperar alguma reação. Mas tenho uma novidade: No sábado, pedi pra um amigo psicanalista te visitar e conversar contigo e com certeza ele vai te ajudar na tua recuperação.
Então o médico falava com o psicanalista amigo, explicava a situação e de maneira informal essa relação se estabelecia... e o psicanalista topou... e provavelmente naqueles 10 meses viveu experiências inesquecíveis.
Antes do primeiro sábado preparou-se. Estudou e reestudou Freud e suas abordagens sobre a morte. Orientou-se mais do que o normal e sua orientadora foi acolhedora e generosa. Resolveu deixar um pouco de lado o pragmatismo de Lacan. E... pela primeira vez pensou que se não fosse ateu as coisas seriam mais fáceis. Afinal, quando não se tem mais nada à oferecer, sempre se pode oferecer uma prece. Mas ele não rezava. Mas acreditava na verdade de seu ofício, na serenidade de sua alma e na pureza de seu coração. Mas mesmo assim ensaiava uma prece pedindo que São Freud o iluminasse, pois estava inexoravelmente meio perturbado com a ideia de ser para aqueles pacientes, o anjo negro da morte... ou o barqueiro Caronte que lhes conduziria pelo Aqueronte, rio do infortúnio, no caminho que terminaria nas portas de Hades, onde Cérbero os aguardaria.    
Na Sexta da véspera não dormiu! O copo de cabernet ficou cheio. Nem água descia... e a boca estava seca...
Sábado primaveril. O trânsito fluía com anormal rapidez e ele torcia por um engarrafamento. Chegou.
O corredor de acesso era de um branco sombrio e gelado. Na porta da ala um aviso: Acesso restrito à pessoas autorizadas. Olhou seu crachá e pensou: Cacete!!!!  Sou autorizado!!! O porteiro não vai me barrar! Cacete!!
Entrou.
Pensou que não podia citar Freud naquele primeiro encontro. Como falar dos demônios que todos nós temos e que o psicanalista quase sempre desperta??? Não... não era hora de Freud.
Pensou que seria melhor citar Hipócrates e partes de seu célebre juramento:
 
"Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com homens livres ou escravizados.  Curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre!"
 
Todos os pacientes mateavam o verde de suas esperanças e a cena que o psicanalista viu não tinha a nada a ver com a cena que esperava.
E o mais espirituoso dos pacientes da ala dos "terminais" iniciou o diálogo:
- O senhor é o médico de loucos que o Dr.Fulano mandou nos ver nos sábados?
- Não... risos... o Freud disse que os psicanalistas eram médicos de almas.... risos ( tímidos risos)
- O senhor viu que nós todos aqui usamos uniformes né?? Não temos cabelo e fazemos a mesma dieta pra emagracer... kkkkkkkk ( ele gargalhava... )
E outro paciente vai chegando... e outros chegando... e todos formaram um roda em torno do psicanalista...
- Aceita um mate Doutor???
- Claro... mas não quero incomodar... Só vim conversar com vocês... não quero aborrecê-los!
- Então toma esse mate tchê!!!!kkkkkk ( e todos gargalhavam.... )
E aquele sábado foi um sábado de conversas sobre futebol, política, filmes e até da boca da Angelina Jolie falaram.
Já pelo meio da tarde aquele paciente mais espirituoso mais uma vez manifestou-se diretamente pro psicanalista:
- Doutor... relaxa! Todos nós sabemos porque os outros especialistas te mandaram aqui. E todos aqui gostaram de ti, pois esperavamos um chato que viesse falar de doença e de morte etc. Tu veio e falou de futebol, de mulher, de tv... e até mateou e almoçou com a gente... tu é o único estranho que não vem aqui falar de remédios e exames...Relaxa tchê!!!! E volta sempre... na próxima vamos fazer uma pipoca pra ver o futebol na TV.
O psicanalista de acolhedor sentiu-se acolhido... e quase (eu disse QUASE...risos) foi às lágrimas.
- Está bem! No próximo sábado estarei aqui. Mas eu trago a pipoca e a erva pro mate!
- Te esperamos... mas ó! Não precisa vir com esse sapato da próxima vez tá???? kkkkkkkkk (TODOS os pacientes cairam numa gargalhada geral).
Só então o psicanalista percebeu que naquele sábado tinha trocado o terno e gravata habituais e vestido um jeans com um tênis branco. O tal tênis tinha nas laterais a marca em letras garrafais: KILLER ( que em inglês significada MATADOR)!!!
Foram dez meses  até que a vida os separou naquele último mês do ano de 2008.
A morte separou o psicanalista de muitos.
Mas a vida que separou as vezes ainda reaproxima quem ainda está vivo.
E sempre, ainda hoje, quando algum dos pacientes sobreviventes encontra o psicanalista ainda o abraça com um sorriso largo e pergunta:
- Como estás matador!!!!!!
Todos, vivos e mortos, ainda tocam fundo no coração e na alma do psicanalista. E Não tem dia que ele lembre de cada um... e agradeça pelos 40 sábados vividos... Aquelas sábados purificaram de verdade seu coração cartesiano... e deixaram sua alma mais serena!
 
Fraterno abraço!
André   
 
    
    

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O Subterrâneo de minha Ignorância!

Eita coisa mais chata ter de ler e escutar toda a gama de bobagens depreciativas. Leio e escuto por ser um libertário e doido de doer pela democracia. Nem sempre respondo. Mas quando julgo que uma resposta pode ser produtiva, alimento o debate.
Me explico:
Dia desses em um de meus artigos, escrevi que a Psicanálise era parente próxima das artes e principalmente da literatura, e que o Freud era o principal defensor dessa ideia.
Então alguém usando de anonimato, desceu o cacete na minha "ignorância", dizendo que o Freud era um egocêntrico que odiava toda manifestação cultural e humana  que não fosse de sua própria lavra.
Então tá!!!
Não sei se devo citar o Freud referindo-se à Gestapo ou se cito o técnico da seleção da Croácia referindo-se ao árbrito japonês.
Deixamos o momento futebolísco de lado né??? Vou citar o Freud... risos.
Então senhor ou senhora anônimo(a) faço as seguintes ponderações às suas considerações ao meu artigo:
Há uma notícia que Freud não suportava ouvir música nos seus momentos de crises de dor produzidas pelo câncer.
Eu não sei se eu iria querer escutar música depois de sofrer dores terríveis por dezesseis anos e ainda suportar o desconforto permanente de uma prótese (que ele chamava de O monstro) que separava a boca da cavidade nasal. Na mesma época que Freud supostamente fez essa declaração sobre a música ele escreve a Lou Andreas-Salomé:
 
"Aqui está uma pessoa que, em vez de trabalhar duro até a velhice e então morrer sem preliminares, contrai uma doença horrível na idade madura, tem de ser tratada eoperada, dissipa seu dinheirinho ganho com sacrifício, gera e desfruta descontentamento e, em seguida, arrasta-se por aí indefinidamente como um inválido." ( Carta de 1924)
 
Freud sabia que a extraordinária perscrutação da alma humana realizada pela literatura não tinha par e sorveu tudo o que pôde das obras e autores que admirava. A ciência psicanalítica nascia SIM como irmã mais nova da literatura e com ela conversava intimamente, diante dos grandes impasses e dilemas com os quais se deparava enquanto crescia.
Valei-me meus santos professores Edson Sousa e Paulo Endo em seu Sigmund Freud - Ciência, arte e política (coleção L&PM de 2009) que citam o que Freud disse sobre o tema:
 
"Os autores literários são valiosos colegas, e seu testemunho deve ser levado em alta conta, porque têm como conhecer muitas das coisas entre o céu e a terra que não são sonhadas em nossa filosofia. No conhecimento do coração humano estão muito adiante de nós, pessoas comuns, porque se valem de fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência."
 
Então, dito isso senhor(a) anônimo(a), me recolho ao subterrâneo de minha "ignorância" desejando também à ti um...
 
Fraterno abraço
André
 
P.S.: Vai torcer pra Argentina chato(a)!!!!! risos....