sexta-feira, 28 de março de 2014

Tudo Normal!

João ama Maria que ama João e ama também Pedro que ama Ana que ama João e Maria.
Mas Maria também ama Pedro que ainda pensa se ama apenas Ana e sente que isso pode dar problema porque sabe que Ana pode também amar Maria.
Mas isso não é tão complicado como parece. Afinal, João, maria, Pedro e Ana vão fazer uma festa e vão se entender....
Mas na festa aparece Sofia... 
E Sofia passa amar Maria, mas em breve vai admitir que ama Pedro e que acha que vai amar João e talvez amanhã acorde amando também Ana. 
E eis que surge também Juliano... e ele entra na festa...e vai amar Pedro, Maria, Ana,... etc...
Quem está lendo pode pensar que isso vai virar uma grande sacanagem né???
Não...
A grande sacanagem acontece sempre... e cada dia mais e mais... 
Sabem qual é??
João, Maria, Pedro, Ana, Sofia e Juliano estão na festa. 
Então...
João da um soco em Maria...
Juliano da um tiro em Sofia....
Pedro se assusta e tem um infarto e morre...
Ana esfaqueia João  por pura raiva...
E nos jornais do outro dia a manchete:

" Episódio comum no fim de semana do Brasil: 
João quebra Maria que vê Juliano matar Sofia que era namorada de Pedro que morre de susto ao ver Ana matando João degolado!" 

Fraterno Abraço!
André


quinta-feira, 20 de março de 2014

As palavras por dizer!

Pelos labirintos de minhas lembranças (inconsciente??!!!) em cada quebrada de cada pedaço de caminho me deparo com experiências vividas, e no meu caso, na maior parte das vezes com casos clínicos desses muitos anos de atividade psicanalítica. 
Hoje faço uma narrativa de caso clínico muito comum. Caso semelhante foi mostrado no filme de produção francesa de 1983 com o título de "LES MOTS POUR LE DIRE" ou AS PALAVRAVAS POR DIZER, mas que no Brasil (não sei porque) o título ficou como Voltar a Viver. No filme, a competente Nicole Garcia interpreta Marie (uma histérica contemporânea) e o não menos competente Daniel Mesguish vive o psicanalista (lacaniano é claro...risos).
Relato o caso para mostrar (principalmente aos leitores leigos) o quanto uma perturbação emocional (psíquica) pode comprometer a qualidade de vida de um pessoa e até mesmo a integridade dos profissionais de saúde que se envolvem na tentativa de ajudar o paciente.
O Caso Clínico:
Paciente mulher, 35 anos, divorciada, produtora executiva de televisão (na época do caso havia abandonado o emprego), com dois filhos (menino de 9 anos e menina de 12), em crise profissional e financeira, morando com a mãe. E sangrando. Literalmente sangrando. 
Desde antes da separação ela sangrava. Bastava precisar sair de casa e começa um hemorragia. E mancha as roupas e os bancos dos coletivos, dos táxis, dos bancos da praça... deixava em todos os lugares as marcas de seu sangramento. 
O ginecologista solicitara e conferira todos os exames cabíveis. Nada à constatar que explicasse tal situação. Encaminhara à outros especialistas das mais diversas áreas da medicina. Dezenas de exames. Dezenas de testes. Nada... nenhuma explicação... 
Passam-se meses... investigações, etc... e nada... bastava sair de casa, e o sangue começava a fluir já na saída do prédio. Por fim o médico lhe convoca:
- Não vejo outra saída. Vamos operar. Deveremos achar alguma coisa num procedimento cirúrgico. Mas antes quero que tenhas uma conversa com um amigo meu. Ele é psicanalista e provavelmente vai te tranquilizar para que possas enfrentar essa cirurgia com mais calma.
A paciente sai resignada (sangrando é claro) com um cartão do psicanalista.
De imediato o médico telefona ao seu amigo psicanalista
- Te peço que atendas uma paciente minha. Vamos operar (e relata todo o caso). Acho que deve ser coisa grave. Ela está com os nervos em frangalhos. Te peço que converses com ela e que a acalme. Pode ser?
- Tens certeza que nada foi diagnosticado nos exames clínicos e laboratoriais? Nem nos diagnósticos por imagem?
- Não! Nada! Não achamos nada! Estamos em junta médica há 30 dias e não achamos nada!
- Certo. Atendo ela hoje mesmo.
- Ela já deve estar chegando no teu consultório. Mandei agora direto pra ai. Sabia que tu atenderias.
- Tudo bem. Obrigado pela confiança. 
- Te agradeço. Abraço!
O interfone toca. A secretária avisa ao psicanalista:
- A paciente do Dr Fulano acaba de chegar. 
- Pode mandar passar.
Ela chega e permanece de pé. Olha pra todos os lados do consultório. Se fixa por minutos no quadro do narcíso. Olha nos olhos do psicanalista com olhos de poucos amigos e metralha de cara:
- Sou paciente do Dr Fulano. Ele me mandou aqui. Aliás, acho que ele está mais perdido do que eu. Não preciso de um psicanalista. 
- Boa tarde pra senhora também. Sente-se por favor, vamos conversar. 
- Não vou sentar... e pode perder as esperanças de me ver deitada naquele divã ali.
- Porque não sentar? Nossa conversa será demorada... fique mais a vontade!
- Não vou sentar. E se eu sentasse teu prejuízo seria maior, pois esse veludo branco da poltrona ficaria mais vermelho que uma bandeira do PT... afinal, eu sangro... tu sabes né?
O psicanalista pede à secretária um forro de plástico. Aquela não era a primeira paciente propensa a deixar marcas de substâncias orgânicas nas poltronas e divã do consultório. 
Cadeira forrada, a paciente senta. Mas não se acomoda. Não relaxa. Encara o psicanalista tesa. Agressiva até. Um tanque de guerra prestes a disparar. O Psicanalista pergunta:
- Em que posso te ajudar?
- Não pode. Eu sangro. Querem me operar. Vão me abrir sem saber o que eu tenho. 
- Me fale de tua vida, de teus desejos, de tuas dores... me conte tua história!
- Já te disse: EU SANGRO. Esse sangue é meu problema. O resto não tem problema nenhum comigo!
- Bem... me fale de tudo... quero saber de tudo... menos do teu sangue. Fales o que quiseres... tudo de ti será ouvido e acolhido. Mas não quero ouvir falar de teu sangue. 
- Então vai à merda! Tchau!
Levanta-se... olha pro forro da cadeira manchado de sangue... olha pro analista e sai a passos largos e batidos e bate a porta com força...
A secretária entra com olhos arregalados e assustada pergunta:
- Posso mandar retirar o forro da cadeira??? está tudo bem???
- Não retire o forro! A paciente vai voltar em breve. Está tudo bem. Não se assuste. Tu trabalhas numa clínica onde os sofrimentos se manifestam de todas as formas.... fique tranquila e quando a paciente voltar, encaminhe sem anunciar. Mande passar direto. 
Passados vinte minutos a paciente volta... ainda com rompantes agressivos e querendo demonstrar indiferença:
- Minha cirurgia será daqui há 20 dias... até lá, vou conversar contigo. Mas já te aviso: Não preciso de psicanalista. 
- Tudo bem... vamos conversar! Vou mandar limpar o forro da poltrona... espere um minuto apenas.
- Não... deixa o forro ai. Esse sangue é meu. Vou sentar assim mesmo. Manda tirar depois!
E seguiu-se uma longa conversa. Ela falou de sua vida e de seus amores e desamores, de sua relação com os pais e com os filhos, e de seus problemas no emprego. Falou das vezes em que traiu e das vezes em que foi traída. No fim da conversa se surpreendeu, pois incrivelmente não sangrou uma gota sequer enquanto falava. Quando manifestou isso o psicanalista verbaliza:
- Não quero ouvir falar de teu sangue. Te espero amanhã no mesmo horário. Tenha uma boa tarde. 
Ela levanta-se e recolhe o forro de plástico da poltrona e envia com raiva dentro da bolsa e diz:
- Vai pro inferno!!! Nunca mais volto aqui!
No outro dia, ela voltou... trouxe o forro de plástico limpo e de imediato arrumou-o sobre a poltrona... e mostrou ao psicanalista um forro de plástico maior... e diz ao psicanalista:
- Esse forro maior é pro divã... quando quiseres, eu vou pro divã. 
E falou... falou... e falou... Na terceira semana já não tinha tantas hemorragias e o cirurgião optou por esperar mais um tempo antes de opera-la. 
Passadas algumas semanas não sangrava mais. Não precisou operar. Em seis meses retomou o emprego e os cuidados da casa e dos filhos. Achou um namorado que a amava e não tinha vontade de traí-lo. 
Passados três anos, com a vida retomada lhe é sugerida a alta pelo analista, ao que explode ( mas sem a agressividade da primeira vez... e até com um sorriso verdadeiro):
- Bem capaz!!! Tu estás maluco??? Só de pensar em não vir aqui duas vezes na semana, fico morrendo de saudades do meu sangue!!!! Até quinta feira Doutor!!!!!
E saiu caminhando leve pela Rua da Praia... e levou frutas e flores que comprou no velho Mercado Público. 

Fraterno abraço!
André 
P.S.: Recomendo o filme citado.
 

         
    
      
       

sábado, 15 de março de 2014

Houve uma vez um Verão!

Eis que chegamos no fim do verão tropical. 
Eis que chega o outono e as folhas caem. 
E com as folhas caídas, as árvores parecem mortas. Nuas e mortas. 
Assim somos nós quando nosso nome é retirado dos poemas e das odes românticas.
Nossas verdades são como folhas secas que se desintegram quando alguém pisa em cima.
Nossa forma que brilhava pelos salões e palcos, agora é forma nebulosa feita de restos de luz e de sombras. Um caule... desfolhado... nu e morto.
Mas.... a raiz ainda vive. E nela está toda a esperança. E toda a verdade que é a seiva da vida. E toda a luz!
E a força viva da raiz vai nos sustentar no outono e nos manter no inverno de nossas cruzes, para enfim, florescer novamente na primavera que inexoravelmente virá. E ela virá! Podem (todos) acreditar. A primavera virá!
Fraterno abraço
André


   

quarta-feira, 5 de março de 2014

O Caso clínico das Baratas!

Maldita e bendita seja a tal rede social que nos expõe aos maus e nos brinda com o carinho dos bons. Torço para que os maus e na verdade pífios (apesar de eles se acharem absurdamente definitivos) lancem sobre mim todo seu veneno. Sou reconhecido no meu meio e aos 50 anos já atingi praticamente todas as minhas pretensões pessoais e profissionais. Cada vez mais, me importo apenas com meus pacientes e mais recentemente (desde 2008 quando comecei a escrever pras grandes mídias)  com meus leitores. O resto??? Me importo somente um pouquinho...risos... afinal, é sempre bom um pouco de adrenalina nesse coraçãozinho que já começa a me dar trabalho. 
Quanto ao veneno dos pífios??? Que seja lançado sobre mim.Não me causará dano. Há muito que me vacinei da peçonha  dos ofídios, prefiro admirar a beleza de suas cores e a graça de sua sinuosidade.
Dito isso... segue o baile.
Relato mais um caso clínico. 
Paciente mulher, 19 anos, encaminhada a mim pelo seu médico Dr..... (pensando bem, vou omitir o nome do médico no sentido de preservá-lo. Afinal, ter confiado sua paciente à mim poderia depor contra seu currículo) com sintomas cujas origens não foram detectadas nem por exames clínicos, laboratoriais ou mesmo pelos exames de diagnóstico por imagens.
O principal sintoma, além da melancolia cotidiana e da incapacidade de relacionar-se, consistia num medo extremo de baratas. 
Mas era medo mesmo. Pânico. Pavor. A menina inclusive fazia todas as necessidades fisiológicas na cama por absoluto medo de ir ao banheiro e encontrar uma barata.
Isso era rotina há dois anos. E assim que chegou na minha clínica da Rua dos Andradas. 
Várias sessões. Muitos silêncios. De concreto só pude descobrir que os sintomas começaram logo após o falecimento de seu pai. E as baratas. O simples questionamento meu sobre as baratas era motivo dela entrar numa terrível crise de choro com gritos e murros no divã. 
Eu estava começando a ficar triste com minha incompetência. Eram três... as vezes quatro sessões semanais e nada vinha a tona... e ela sofria cada vez mais. E eu só tinha a morte do pai... e as malditas baratas... e tinha um sonho... em que uma barata saía de dentro de uma garrafa. Mais baratas!
Até que numa sessão,no silêncio da paciente, resolvi escrever a palavra... e escrevi: BARATA!
E assim os deuses da psicanálise vieram ao meu socorro. 
Comecei a conversa:
- Menina Y (obviamente que não vou citar o nome da paciente) tu tens um Iate ancorado no pier do Veleiros do Sul para passeares no fim de semana?
- Claro que não André!!
- Porque não??? Não gostas de iates?
- Adoro iates! Mas não posso ter um! Tu estás doido?
- Porque que não podes ter um Menina Y?
- Porque é CARO ué??? Bebeu??
Peguei no porta canetas de couro uma caneta Bic... e já estava na minha mão, a minha A.G. Spalding & Bros, manufaturada em ébano e ponta de platina, no famoso endereço do número 320 da 7ª Avenida em New York, presente de conclusão de curso que ainda me acompanha.  
Falei:
- Menina Y... esta é minha caneta. É uma A.G. Spalding! Custa quase cinco mil dólares! Que achas?
- Bonita. 
-Que mais?
- Estranha!
- Que mais?
- Cara né André???? Acho que realmente tu bebeu hoje!!!! 
Então peguei a Bic comum e falei:
- Mas essa também escreve né??
- Sim. 
- E qual é a diferença entre as duas? 
- A tua é cara ué?
- E a outra Menina Y?
- A outra é... a outra é.... BARATA! 
Pronto. Choro convulsivo e murros no divã!
Naquela sessão, consegui que ela falasse que tudo começou, quando recebeu a notícia da morte de seu pai numa terra distante. Chorando, deu a notícia à mãe que agressivamente falou:
- Engole esse choro. Não chore por esse vagabundo. Teu pai não valia nada. Até meio acobreado era (qual a cor da barata inseto??) ! E mais... nos abandonou porque deu mais valor para uma garrafa de cachaça BARATA! Engole o Choro! 
Depois daquela sessão, ela chorou muito a morte do pai, e a mãe inclusive entendeu e o luto foi finalmente feito.
Melhorou.... e hoje só tem nojo das baratas, assim como todo mundo... risos ...
Fraterno Abraço
André