segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Semeando a Paz no Balanço das Ondas!

Faltavam alguns minutos para que chegasse ao fim o ano da graça(??) de 2009. Eu estava entre todos aqueles que me são caros. Compartilhávamos irmanados a expectativa da chegada de 2010 e a areia do litoral mais reto que o google earth mostra.
O cheiro da maresia, a brisa marinha e a multidão de pré grenal me deixavam eufórico. Eu fui encarregado de estourar o espumante no exato momento da virada, e na minha cabeça matemática eu queria que isso estivesse sincronizado com o primeiro brilho do primeiro fogo de artifício que aparecesse no céu.
Naqueles minutos, mesmo preocupado com a possibilidade de algum dos meus rolarem pela duna, me entreguei à poesia dos últimos momentos do ano velho e à magia do parto de um ano novo.
Meu povo já estava em festa faziam alguns dias. Minha família é festeira. Festeira e musical. Então, lá pelas 23:35 horas, os Lacerda ocuparam seu espaço naquela duna praiana cantando:

"... que tudo se realize no ano que vai nascer...".
  
O mar nos contagiando, e meu guri ao violão me chama :
- André!!!! canta aquela!
Ele acorda um ré menor no seu eagle preto e eu emendo:

"Ela mora no mar, ela brinca na areia. No balanço das ondas, a paz ela semeia..."

Me peguei cantando a música da Marisa Monte, e a multidão veio junto...
Pensei no meu ateísmo, e na frase do Freud em sua carta ao seu amigo Oscar Pfister :

" Descrente inveterado, não tenho ninguém a quem acusar pelas minha perdas, e compreendo que não há lugar  onde eu pudesse  apresentar queixa por elas."

Pensei em parar de cantar aquela música que falava de mitos religiosos, e lembrei de outra máxima do próprio Freud:

" Mesmo descrente, sem religião ou fé dogmática, acho que é saudável o respeito pelas exigências éticas da cultura humana."( Carta enviada à AJLBB , 1926).

Assim... continuei cantando:

"Oguntê, Marabô, Caiala e Sobá,
Oloxum, Ynaê, Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar."

E assim, alguém me avisa que soou o alarme do celular ligado ao satélite e era exatamente meia noite.
Explodimos todos de alegria, esperança e votos de saúde pra dar e vender.
Acho que beijei e fui beijado por quase toda a multidão de pré grenal.
A música da Marisa não saia da minha cabeça...

" Olha o canto da sereia,
lalaô, oquê, ialoá    
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantar..."

Nos vinte minutos seguintes, acho que ninguém ficou olhando pro mar. O show de fogos estava lindo.
Minha loura camaleoa sentiu minha inquietação, pois eu não conseguia desviar os olhos do mar. De mãos dadas fomos em direção à água, e ela pergunta:
-Tens certeza de que queres? A água está gelada!
E ela viu. Só ela viu.
Entrei no mar gaúcho, pedindo licença à Ogum Beira Mar e a Yemanjá implorando que no balanço das ondas eles semeassem a paz.
Pulei as sete ondas e lavei minha alma.
A Loura me esperava na praia, segurando um casaco, prevendo que eu sairia da água batendo queixo de frio.
Tremendo de frio, abracei a loura e disse:
- Que venha 2010! Estou pronto!
Naquele momento decidi que não quero mais sair de perto do mar...
Fraterno abraço
André