sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Pra Não Dizer Que Não Falo de Flores!

Por aquele dias, o Psicanalista já não estava tão, tão, tão triste. Mas estava triste.
Homem de amores, estava carente de amor. Ou pelo menos se sentia carente de amor. Porque psicanalistas também...enfim...
O copo de tinto pela metade, tinha o mesmo gosto de fel das ervas daninhas de um chá que recentemente havia bebido ...
Estava triste. Mas nem tanto. Não era nenhum temporal. Mas estava nublado. 
Foi quando ela chegou...
Das nuvens, ela desceu numa estrada de neon pintada em tecnicolor. 
Não lhe disse nada. Só lhe soprou com hálito de flores da manhã, e o rosto de psicanalista triste ensaiou um tímido riso...
Ele paralisou calado e lembrou da primeira vez que a vira. Era enquanto ele bebia aquele chá sem ainda sentir o gosto amargo da erva daninha. 
Seus olhos apenas se cruzaram e naquela hora ele viu apenas uma linda mulher. Esqueceu.
Voltou a vê-la no final do dia, quando ela acomodava carinhosamente duas florzinhas num cesta mágica que as levaria pro seu reino encantado no reino das fadas. Porque isso é que ela era. Uma fada assexuada na forma de uma linda mulher. 
Ao vê-la saindo cantou pensando: ...." és láctea estrela és mãe da realeza, és tudo enfim que tem de belo, todo resplendor da santa natureza..."
E se foram os dias... o chá de ervas fez mal, e só ficou o amargo gosto na boca ... e o coração nebuloso. 
E agora ela estava ali novamente...flutuando numa estrada de neon em tecnicolor que veio daquela nuvem cor de rosa lá de cima...
E ela soprou seu rosto com seu hálito de flores...
E ele paralisou calado procurando palavras, versos e quem sabe o mundo para lhe entregar... não achava...
Então... ela generosa, porque todas as fadas são generosas, do seu  seio nu assexuado, tira uma flor da manhã, beija a flor, e oferta ao psicanalista que já não sentia o fel na boca...
E como veio, se foi, naquela estrada celeste colorida à caminho de sua nuvem cor de rosa...
E o psicanalista acordou e pensou:
- Como pode ser lúdico e cheio de lirismo, o sonho de um psicanalista que bebe fel e tem o coração encoberto de nuvens..... 

Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista
  

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O Psicanalista no Mundo Encantado dos Orixás! O Suposto Saber!

Todos Sangram. Até o Super Man sangra como foi fantasiosamente demonstrado pela industria cinematográfica recentemente. 
O Psicanalista sangrou. 
Meus amigos leitores, devem ter estranhado, pois o último capítulo escrito desse projeto que hoje retomo, escrevi no distante 11 de maio. Mais de 5 meses portanto. 
Eu estava sangrando. Fui acometido pelos sintomas da mais terrível das doenças, a que mais mata no mundo moderno, A depressão.
Estou me recuperando pela força da paciência de minha amada irmã, pela dedicação abnegada de uma amigo que hoje vejo como filho, pela sobriedade sincera e responsável de meu sobrinho que sempre teve status de filho, e mais recentemente pela gloriosa minha primeira dama (como se refere à esposa um amigo jornalista que admiro desde sempre).
Minha primeira especialização clinica foi exatamente a Depressão, e desde então sempre tive contato com as terríveis dores que essa doença provoca.
Contudo.... nada se compara a sentir o corte profundo na própria carne.
O velho Freud já havia dito que a verdadeira cura vem da palavra e do amor.
Fui acariciado pela mão delicadamente forte da palavra.
Fui indelevelmente abraçado pelos bracos generosos do amor.
E.... Cá estamos pra seguir nesse baile ... afinal, tudo vai ser melhor...
Como diz o provérbio... " O melhor médico é aquele que já ficou doente!"
Ah.... agora sei que antes de cair no buraco da depressão, fui alertado e avisado.
Lembrando os amigos que sou irremediavelmente racional e ciente da ciência que sigo, o que relato aqui tem absoluto conho cartesiano, e é resultado da observação e da experimentação.
Como disse, fui alertado e avisado pelas entidades da umbanda e da quimbanda do que estava me avizinhando. Não me dei conta na hora. Mas hoje, lúcido e me recuperando, percebi que fui avisado e chego até a pensar que "eles" estiveram me amparando enquanto roía meu próprio fígado tentando matar minhas dores e desavisado, quase matei meu corpo.
" Quem tiver olhos que veja! Quem tiver ouvidos que ouça!"
Humildemente o psicanalista sabe que seu saber é aquilo que os psicanalistas chamam de "SUPOSTO SABER".
Mas... o Marabô soube. E disse:
" Nêgo. Isso que vem pela frente é pior do que o câncer!E Isso que vem pela frente pode te matar mais rápido que o câncer.
Mas eu vou te ajudar.
O psicanalista prestou atenção... mas não teve olhos de ver... e nem ouvidos de ouvir. E foi ver e ouvir enquanto o punhal da melancolia se recolhia depois de ter feito muito estrago.
 Mas isso vou explicar melhor no próximo capítulo.
Agradeço em meu nome e da minha família, ao meu amigo Wladimir, que é pai de muitos filhos, e à estes filhos,  que sei e sinto que pediram aos céus por minha felicidade. E minha felicidade estará plena quando nos reencontrarmos. 

Fraterno Abraço,

André Lacerda - Psicanalista




   

sexta-feira, 11 de maio de 2018

O Psicanalista no Mundo Encantado dos Orixás! O Encontro!

O psicanalista estava seco.
Não haviam mais lágrimas. Elas se esgotaram...
Inerte, estava empurrando seus dias sem apetite (qualquer apetite), numa forma nebulosa feita de sombra. Somente de sombra, e sem luz como disse o poeta.
Seus últimos 18 anos haviam sido voltado quase que exclusivamente pra clinica psicanalítica e acreditava ter ajudado muita gente e os resultados eram significativamente positivos. 
Os últimos 3 anos, exclusivamente voltados para os pacientes oncológicos e terminais. E achava que esteve nos lugares certos. Esteve em lugares que acreditava, ser os lugares onde o psicanalista deveria estar.
Isso era bom...mas....
Buscava em Freud, Lacan e mesmo na depressiva Melanie Klein, algum conforto psíquico. Mas nada surtia efeito amenizador em sua alma que mesmo serena, estava destroçada.
O último ano tinha sido devastador.
Fazia um ano, de forma precoce, sofrida e absurdamente cruel, tinha perdido seu primeiro amor numa batalha cruel e incombatível de 25 dias contra um câncer fatal.
No dia que ela foi cremada plantou uma roseira. 
Ainda não aceitava aquela perda. Mas a roseira cresceu e floriu....
Fazia um mês, tinha perdido seu maior e eterno amor. A mãe amada, sem avisar, e de forma não menos sofrida, já estava cantando tangos e encantando espíritos em outro plano.
No dia que foi enterrada, sentiu-se enterrado nas sombras das ausências.
E por aqueles dias, perdera seu segundo amor. Mas com o coração sereno, agradecia pelo fato dela estar viva e bem, e torcia pra que ela fosse feliz e sempre estivesse segura. 
Sabia que a vida era uma caminhada onde os seres viventes viviam entre Eros (vida) e Tânatos (morte).
Mas nele, Tânatos reinava...
E na verdade, já trazia no bolso da camisa Prada (sempre branca), as duas moedas para entregar à Caronte, o barqueiro de Hades que o levaria a navegar pelos rios Estige e Aqueronte, e assim transporia as águas que separam o mundo dos vivos para o mundo dos mortos. 
E foi assim, que naquela noite, sem nem saber porque, caminhou rumo aquela casa religiosa.
Já tinha tido contato com  os ritos afro-brasileiros, e achava legal o ritual. Pensou que seria uma noite divertida. Assim como seria divertido um bom filme na TV ou ainda um documentário do discovery civilization.
Ao chegar, portas abertas, foi entrando encabuladamente...
Alguém lhe observou e ele notou.
Foi se apresentar. Não precisou.
Homem educado e receptivo, com fidalguia e cavalheirismo o recepcionou:
"- Entre, sinta-se em paz. A casa é tua e seja bem vindo!"
O psicanalista admirou-se. Comentou com seus botões:
" Sequer precisei me apresentar..."
Procurou e achou um lugar discreto e acomodou-se e passou a observar o ambiente.
Olhou as imagens e os movimentos iniciais e estava aguardando iniciar os rituais quando algo inusitado aconteceu.
As pessoas iam chegando e todos, ao chegar buscavam uns aos outros e trocavam um beijo na mão e um beijo na face. 
O psicanalista viu e sua observação cartesiana concluiu:
Aquele gesto não era um ritual. Aquele gesto era um gesto de amor. Amor fraternal. 
E na sequência, alguém que nunca tinha visto, dirigiu-se à ele. E sem mais nem menos, repetiu com ele o gesto. 
Alguém que ele, nem mesmo hoje sabe quem é, lhe beijou a mão e a face.
E veio mas alguém, e outro alguém, e não era só com ele, pois à todos que estavam ali, era distribuído assim, naturalmente, o carinho e o afeto através de um gesto de puro amor fraternal. 
Ficou sem palavras. E meio que sem chão. E meio que sem graça. E meio que sem sua ambidestra lógica racional.
Os participantes se uniram em um grande círculo e de mãos dadas, e palavras acolhedoras foram proferidas indicando que iniciaria o trabalho. E então veio uma prece. E outra prece. E pra espanto do psicanalista, eram preces cristãs. O mesmo Pai Nosso e a mesma Ave Maria que eram rezadas na catedral metropolitana. Só então, os tambores africanos começaram tocar. 
O psicanalista estava numa sessão de Umbanda. E estava prestes a testemunhar uma sessão de entidades conhecidas como EXUS. 
Entusiasmou-se.
Admirou-se vendo os médiuns incorporarem suas entidades. Havia uma disciplina espartana naquilo tudo. E não identificou a teatralização que já havia visto em outras casas e mesmo em outras crenças e religiões. Estava tudo sendo sereno e equilibrado. 
Foi quando algo aconteceu, que marcaria indelevelmente a alma sequiosa do psicanalista ateu. 
Foi ai, que o psicanalista que tinha já percebido o amor fraterno daquele povo, deu o primeiro passo para entrar no Mundo Encantado dos Orixás.

Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista

P.S.: Esse projeto, além de publicado semanalmente aqui no blog, também estará disponível na página REFLEXÕES DA PSICANÁLISE do Facebook, a qual sou um dos 3 psicanalistas que publica, e no meu próprio perfil pessoal que é público.
  
      
      
   


sábado, 5 de maio de 2018

O Psicanalista No Mundo Encantado dos Orixás!

Por aqueles dias, o psicanalista não passava por seus melhores momentos. Provavelmente passava por uma das piores fases de sua já não tão curta vida, e já se considerava (desejava?) encaminhado para o começo da derradeira caminhada rumo ao cosmo desconhecido...aquele lugar que ele mesmo acreditava ser apenas o lugar do eterno dormir...
Há exatos treze meses amargava a dor de lutos e de perdas pessoais consecutivas e avassaladoras e nem mesmo sua atividade clínica (que sempre o fez ter fé) o animava.
Havia enfim, perdido a fé, a coragem e a vontade...
Tinha concluído (com láurea acadêmica) o trabalho onde colocou psicanalista no cenário do câncer e dos pacientes terminais, e achava por fim, que, chegava... Tinha combatido o bom combate. Mas perdido a fé...
Agora era esperar o beijo derradeiro daquela balzaquiana gostosona, bronzeada de sol e com marquinha de biquíni (como o próprio psicanalista havia definido a morte anos atrás) .... e torcia para que este lhe fosse breve e sem muita intensidade...
Já tinha percebido em si próprio os sintomas de uma depressão... ou talvez, um Transtorno Depressivo Recorrente, e depois de algumas tentativas sem sucesso, entregou-se. Estava entregue. Mas, com  a serenidade dos racionais, assimilou a finitude.
Que venha pois aquela que ninguém quer ver... pensou: 
- "Pelo menos, a minha virá em forma de balzaquiana gostosona, com cabelos negros, bronzeada de sol, e com marquinhas de biquíni..." 
E quase que ensaiou um riso debochado de si mesmo pensando na sua fantasia com a sua própria morte.
E segue o baile mesmo que sem música...
E então, numa manhã do abafado verão de Porto Alegre, na beira das águas do seu Guarujá, conversando com  amigo, recebe deste um convite:
-" Tchê... tu tens que ir conhecer a casa de religião que eu frequento. É bem pertinho daqui da tua casa... leva a tua irmã... tu vais gostar!"
O Psicanalista, delicadamente, mas sem nenhuma convicção, e acho até quer por mera formalidade social respondeu:
-" Tudo bem. Qualquer dia apareço..."
O psicanalista passou o resto da manhã pensando naquele convite e naquela questão.
Desde tenra idade era ateu. E tinha convicção do seu ateísmo e tinha até orgulho do seu racionalismo.
Já tinha visto muitas mortes pra entender a lógica natural da vida e da morte.
Já tinha visto muita vida pra entender que a busca humana pela eternidade, nada mais era do que um mecanismo de defesa do ego em busca de consolo para sua inexorável finitude. Por isso a humanidade buscava nas crenças, na metafísica, na metapsicologia e até na ufologia seus próprios desejos de jamais morrer.
Por força de ofício (afinal o psicanalista deve entender e saber ouvir todas as linguagens), e por curiosidade filosófica ou até por mera e simples curiosidade, desde sempre andou "passeando" pelos mais diversos ritos religiosos.
Conheceu o cristianismo e seus dogmas nas mais variadas religiões, que mesmo ante evidências de pedofilia, lavagem de dinheiro (pastores com dólares em cuecas), orgias sexuais e financeiras, enriquecimento ilícito ( podia citar vários artigos do Código Penal), autointituladas cristãs.
Procurou entender o Islamismo e mesmo em meio à Jihads, terrorismo, talibã e degolas transmitidas ao vivo pela Al Jazira, percebeu uma mensagem de amor nos ensinamentos do profeta Maomé.
Estudou a doutrina de Kardec. Gostou da decodificação do espiritismo feita pelo francês. Achou coerência na mensagem de amor de Chico Xavier. 
Freudiano até a medula, estudou o judaísmo pela obra de Freud. Não simpatizou muito com aquele deus colérico e vingativo. E se perguntava:
-" Que maldito deus é esse que manda um pai sacrificar seu próprio filho em holocausto, apenas pra testar a fé???"
Conviveu com as religiões afro e seus cultos. Achava lindo o ritual. A vó materna, batuqueira umbandista levava o menino que um dia habitou em mim nas matas, praias, cachoeiras e rios, e aquele movimento todo fascinava a criança ( certamente hiperativa) pelas cores, cantos e mistérios.
Respeitava todas as religiões. 
Mas não se emocionou ao pé da cruz do Cristo morto. 
Não se emocionou na mesquita e nem ouvindo os cânticos voltados pra Meca.
Também não se emocionou quando visitou a casa de Chico Xavier em Uberaba e comparou o livro e o filme Nosso Lar, com a obra utópica de Aldous Huxley ( Admirável Mundo Novo).
Não pediu nada nem se emocionou ante o dito sagrado Muro das Lamentações.
Dançou, bebeu e comeu e ficou muito feliz no terreiro da Mãe Menininha do Gantois em Salvador (a Roma Negra como Caetano citou). Vibrou ao som dos atabaques africanos. Mas também não se emocionou.
Continuava ateu. E afirmava isso numa pedância intelectual tão obtusa e cartesiana que faria o próprio rei da pedância intelectual Jaques Lacan (sim...lacaniano. Freudiano/lacaniano) corar de vergonha.
Em diálogos com a mãe morta recentemente, se superava :
Dizia a amada mãe quase que pedindo:
-" Meu filho, tu tens que acreditar em algo.... o próprio Shakespeare que tu gostas já escreveu que "entre o céu e a terra existem mais coisas do que pode imaginar tua vã filosofia". "
E ainda a mãe saudosa perguntava:
-" Tu não acreditas no Grande Arquiteto do Universo?" ( Fazendo uma alusão ao principal dogma da Maçonaria).
Ele sempre respondia com um riso incontido:
-" Acredito Norma (como chamava a mãe). Esse projetou Brasília. E projetou o nosso lindo museu Iberê Camargo às margens do nosso Guaíba. O grande arquiteto do Universo. Oscar Niemeyer!!" 
Enfim.... o psicanalista passou o resto daquela manhã de verão pensando nessas coisas todas.
Mas aquilo não ia parar por ai... 
O convite do amigo não lhe saia da cabeça.
Algo aconteceria naquele dia.... 

Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista

P.S.: Inicio assim, o Projeto  " O PSICANALISTA NO MUNDO ENCANTADO DOS ORIXÁS" que vai virar livro. E desde já informo que toda e qualquer renda obtida em torno desse projeto, será destinada à comunidade necessitada da Zona Sul de Porto Alegre.