terça-feira, 25 de julho de 2017


Prezados Amigos.
Na publicação de hoje, abordo um tema delicado e, pra dizer o básico, algo bastante subjetivo e que ao meu juízo, pouco discutido no Brasil.
Saúdo e abraço meus amigos da bela capital do Estado do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, a linda cidade Morena de minhas fantasias infantis ( já escrevi crônica explicando isso) onde tenho grandes amigos e um número considerável de leitores.
Eis que sei, que a população de Campo Grande tem discutido bastante o tema em virtude de eventos ocorridos e as opiniões se dividem.
Os que me conhecem, e realmente sabem quem eu sou enquanto cidadão e profissional, sabem que mesmo antes de ser psicanalista, sempre fui alguém que lutou pela democracia e pelo Estado Democrático de Direito, que felizmente nós todos conquistamos a duras penas e temos (ou devemos ter) a convicção de que a liberdade democrática que temos não nos foi dada por João, e sim foi resultado da vontade do povo Brasileiro.
Dito isso, por crer no Estado Democrático de Direito, sigo o princípio que sentença judicial não se discute. Sentença judicial se cumpre, ou se recorre no foro devido.
Contudo, publico a seguir, estudo realizado em 2013 à pedido do blog Re-Tecendo a Vida, destinado à pacientes portadores do Transtorno e aos grupos de apoio e a familiares.
Espero que tal estudo, seja minha modesta colaboração aos amigos do Mato Grosso do Sul, na formulação de suas opiniões. 
   



BORDERLINE
Por: André Lacerda - Psicanalista
Clínica Psicanalítica Ltda-
P.Alegre-RS 
Membro SBPI Reg. nr 690

Ultimamente uma patologia que vem acometendo nossos jovens é o que tem sido chamado de Transtorno Borderline de Personalidade. 

Borderline vêm do inglês limítrofe e assim, significa algo que está no limite entre duas coisas que nesse caso é a neurose e a psicose. O termo já causou grande polêmica sendo que alguns teóricos e pesquisadores são contra o uso da denominação porque consideram-na ambígua.

Outros acham que tais pacientes deveriam ser classificados como psicóticos. Mas se partirmos das questões de ordem prática, não poderíamos deixar de dizer que qualquer dos transtornos mentais que surgem na clínica prática, são na verdade, um coquetel de traços encontrados em muitas patologias. Ás vezes você encontra sinais de quase todas as principais patologias presentes no quadro de um único paciente.

Curiosamente, como veremos mais à frente, o Transtorno de Personalidade Borderline é um Transtorno onde se consegue estabelecer um diagnóstico mais preciso justamente porque há uma característica determinante no diagnóstico: os micros surtos psicóticos. Mas de uma forma geral você vai perceber que muitos dos traços encontrados no borderline, são absolutamente semelhantes aos traços encontrados nos paciente com Transtorno Narcísico da Personalidade sendo que, a diferença se estabelece unicamente pela forma de obtenção das provisões narcísicas que no borderline é a atenção incondicional do outro.

Como resultado de inúmeras pesquisas feitas a partir dos trabalhos de colegas ao redor do mundo, reuni aqui um razoável número de informação sobre os pacientes Borderline, para que tanto os colegas como os leigos possam ter uma idéia do significado dessa patologia, e seus efeitos na vida daqueles que são por ela vitimados. Talvez algumas pessoas possam, através das informações, buscar a ajuda se não para livrarem-se completamente da patologia, pelo menos para atenuar aqueles traços mais ruins e que impedem um adequado relacionamento com a vida.

Farei a apresentação desses dados em duas etapas. Na primeira faremos uma descrição mais sucinta, com orientações sobre como reconhecer esse tipo de Transtorno e, numa segunda etapa, explicaremos mais detalhadamente os aspectos que consideramos importantes nos traços predominantes dessa patologia.

O PADRÃO COMPORTAMENTAL

Existem seis padrões comportamentais que identificam um paciente Borderline ou o TPB - Transtorno de Personalidade Borderline:

1. VULNERABILIDADE EMOCIONAL

Os indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline têm dificuldades severas de lidar com emoções negativas, incluindo-se ai uma exacerbada sensibilidade para estímulos emocionais negativos, grande angústia diante de situações emocionalmente intensas e uma séria dificuldade para retornar às condições emocionais normais.

2. AUTO ANULAÇÃO

Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline têm altos padrões de expectativas para si próprios e uma tendência a invalidar ou não reconhecer suas próprias respostas emocionais, pensamentos, convicções, e comportamentos.

3. CRISES E MANIPULAÇÕES

Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline sempre estão envolvidos em comportamentos manipulatório suicida, ou seja, são comportamentos que normalmente simulam o suicídio mas não o levam a cabo. São movimento não fatais, auto agressões intencionais que resultam em algum tipo de ferimento corporal, auto-mutilação ou queimaduras que o indivíduo infringe a si mesmo. Geralmente o desejo de morrer é nulo ou se existe é frágil.

4. AFLIÇÃO INIBIDA

Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline geralmente são incapazes de chorar ou expressar uma grande tristeza de forma apropriada.

5. PASSIVIDADE ATIVA

Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline não conseguem solucionar os problemas de sua própria vida de maneira ativa e assim procuram fazer com que os problemas sejam solucionados por outras pessoas.

6. COMPETÊNCIA APARENTE

Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline sempre parecem mais competentes do que realmente são ou do que mostram seus comportamentos e realizações.

ENTREVISTA DIAGNÓSTICA COM PACIENTES BORDERLINES.

Geralmente numa entrevista com um paciente borderline devemos estar atentos aos seguintes aspectos:

1. Afetos (aspectos subjetivos)

Depressão crônica (que eles sempre negam*), desesperança, desamparo, sentimento de inutilidade, culpa, raiva (incluindo freqüentes expressões de raiva aberta ou velada), ansiedade, isolamento, tédio e sentimento de vazio.

2. Cognição (raciocínio/Intelectual)

Pensamentos estranhos, percepções não usuais, paranóia que não é passível de ser descrita e micro surtos psicóticos.

3. Impulsividade (comportamental)

Adição de drogas, desvios sexuais, suicídio manipulativo, gestos suicidas e outros comportamentos impulsivos como cleptomania e abuso alimentar. Muitos dos casos de Compulsão Sexual podem estar inseridos nesse tipo de Transtorno já que o sexo pode funcionar como uma adição importante na obtenção de contato com o outro.

4. Relações Interpessoais

Intolerância para solidão, abandono, engolfamento (no sentido de envolver o outro completamente), medos de aniquilação e fantasias de destruição, relacionamentos tempestuosos, manipulação, dependência, desvalorização, sadismo/masoquismo, demandas excessivas, auto intitulação (tentativa de parecer mais importante do que realmente é).

CRENÇAS CARACTERÍSTICAS DOS INDIVÍDUOS COM ESSE TRANSTORNO DE PERSONALIDADE.

Geralmente é importante que algumas perguntas fundamentais sejam respondidas na entrevista com o borderline. Muitos deles são hábeis no sentido de terem aprendido a dissimular alguns padrões comportamentais. Geralmente, nas entrevistas, observo tanto a linguagem corporal como também as linguagens, verbal e paraverbal. Abaixo eu fixo um tipo de roteiro que eu utilizo como referência e que foi acrescido de informações obtidas na experiência de outros colegas. Tais dados são fundamentais para definir com alguma clareza o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline. Muitas dessas declarações são observadas durante as entrevistas com esse tipo de paciente.

1. Eu sempre vou estar só. Nesse caso observa-se uma crença fortemente arraigada de que eles não tem meios de conseguir afetividade e nem mesmo um vínculo legitimo e duradouro com outras pessoas significativas. Mesmo quando esse vínculo ocorre, tal paciente não crêm que o outro possa vincular-se a ele;

2. Eu não acredito que alguém possa cuidar de mim com sinceridade ou que alguém esteja realmente disponível para ajudar-me.

3. Quando as pessoas me conhecerem de verdade, elas me rejeitarão e dessa forma, não poderão me amar e assim, vão me abandonar.

4. Tenho dificuldade de dar conta da vida por meus próprios meios. Eu sempre preciso de alguém por perto.

5. Geralmente eu tenho que adaptar minhas necessidades às necessidades de outras pessoas. Caso eu não faça isso elas poderão me abandonar ou atacar-me.

6. Não tenho controle sobre mim mesmo.

7. Não consigo ter disciplina comigo mesmo.

8. Se você me perguntar sobre minhas reais preferências, eu realmente não sei o que eu quero.

9. Prefiro que as demais pessoas tomem decisões, pois, nunca sei quando de fato estou certo. È muito confuso e eu estou sempre em dúvida quanto às minhas opiniões.

10. Preciso ter um completo domínio sobre meus sentimentos senão as coisas não sairão bem como deveriam sair.

11. Sinto-me uma pessoa má e eu devo ser punido por isso.

12. Se alguém falhar em manter uma promessa que feita para mim, essas pessoa já não terá mais a minha confiança.

13. Eu nunca vou ter o que eu quero ou desejo. Nem alimento ilusões quanto a isto.

14. Meus sentimentos ou opiniões são sem pé nem cabeça, não acho que possa fundamentá-las de forma coerente.

15. Se eu concordar com as coisas que algumas pessoas falam, Corro o risco de perder minha própria autonomia.

16. Se eu me recuso a atender um pedido de outra pessoa , corro o risco de perder a amizade dela.

17. Se disser o que eu quero, as pessoas vão ficar aborrecidas comigo.

18. As pessoas são más e tendem a abusar de você.

19. Eu sou impotente e vulnerável e dessa forma, não posso proteger a mim mesmo.

20. Se as pessoas realmente me conhecerem, quero dizer, conhecer a fundo, elas vão ver que sou um fracasso, um embuste e assim, vão me abandonar.

21. As outras pessoas não estão dispostas a ajudar ninguém sinceramente.

22. Há sempre uma sensação de que se você se deixa levar, acreditar em alguém e, nesses casos, você vai acabar ferido, decepcionado.

Espero ter somado no entendimento da doença, e sobretudo no compreendimento das circunstâncias que envolvam indivíduos que acreditem, sofrem muito com esse mal.
Fraterno Abraço.

André Lacerda
Psicanalista

quarta-feira, 19 de julho de 2017

PSICANALISTA: Menestrel do amor? Ou Arauto da Desgraça?

Meus caros amigos leitores!
Antes de qualquer coisa penso que devo explicações aos que sempre me prestigiaram. Afinal não tenho feito nenhuma publicação desde de outubro do ano passado.
Os que me acompanham, por certo sabem que desde 2015 estou dedicado em projeto que insere o psicanalista no cenário de tratamento oncológico/quimioterápico de onde minha querida e atenta editora Laura já adiantou para breve o lançamento do livro que nasceu disto tudo.
Inobstante, ainda lambo feridas muito recentes de uma perda traumática, cruel e inesperada que ainda hoje sangram, mas tenho fé que a dor da ausência aos poucos vá se transformando apenas em saudade.
Dito isso...
Vivemos tempos sombrios. Tempos de medo. Tempos de dúvida. Tempos de incredulidade ante os pavores que surgem a cada dia nos jornais e mídias diversas.
O psicanalista que habita em mim, por vezes se cala para não ter de falar da realidade brutal das ruas e dos bastidores da nação, e depois de tudo ainda tentar ajudar no alívio de quem se deprime com a dor que já virou rotina.
Que alivio pode ter um pai que teve seu filho morto pela mão desamparada do ladrão de telefones, ou pela falta de mão dos responsáveis pelas  políticas públicas de saúde que nos atira cada vez mais no rol dos esquecidos???
Como ajudar a desconstruir o medo de parar no sinal vermelho, se em cada sinal vermelho existe a real possibilidade de se ter a cabeça explodida por uma bala nem sempre perdida??
Como incitar ao trabalho e ao desenvolvimento pessoal quando vemos o criminoso virar delator que vira amigo e que depois  vira inimigo e logo em seguida volta a ser criminoso mas com direito a virar multimilionário livre que navega ouvindo Barry Manilow em águas ianques??
Como incentivar a alma tranquila e o coração sereno para evitar o stress e assim, dar menos chances para que o câncer conquiste seu espaço, se a cada alvorecer só temos a certeza de que a nossa rotina é absurdamente estressante?
Assim... não resta dúvida, que enfrentando esses tão presentes demônios, o psicanalista só pode se sentir o arauto da desgraça...
Mas e o amor? Mas é a amizade? E o encontro com amigos queridos? e a família? E a liberdade???
...
Penso que no ofício de tratar da dor humana, inclusive no combate aos sintomas produzidos pelos demônios citados, os principais remédios são exatamente o amor, a amizade, a esperança e a liberdade. 
E isso, mesmo que seja só um pouquinho, transforma o arauto da desgraça em menestrel do amor. 
Eu pelo menos tento imaginar isso....

Fraterno Abraço
André Lacerda
Psicanalista

P.S. Dedico essa crônica aos meu leitores do Blog, aos amigos da página Reflexões da Psicanálise e aos seguidores da página André Lacerda - Psicanalista da minha querida editora Laura. 
Dedico em especial, à Ana Paula Dias, mãe esplêndida, professora dedicada, e sobretudo uma alma grandiosa, que depois de ter sido minha paciente reencontrei depois de muitos anos e que tive a maior felicidade de dizer: Fico feliz de te reencontrar e ver que de mulher guerreira sobrevivente, te tornaste uma mulher guerreira e VIVENTE.