terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ARAGUA: O Resplendor da Vida Na Praia Mole!

Tudo começou quando pedi ao Cruel para que fosse olhar uma casa anunciada na internet, pois nos meus planos naquele início de 2003, estava incluida uma temporada na divina ilha de Florianópolis. O Cruel é meu sobrinho Luis, e as questões envolvendo o apelido que eu lhe dei carinhosamente(?!) quando ele ainda era criança, assim como as coisas que eu e ele passamos juntos (inclusive o aluguél da casa referida), por sua complexidade e dimensão, merecem uma publicação especial.
Hoje, quero falar daquela data quando fui apresentado ao Centro Desportivo e Cultural Aragua, paradisíacamente situado nas areias inimitáveis da Praia Mole. Na verdade, conhecer o Aragua foi a melhor coisa daquele verão.   
O Cruel, num dos muitos momentos de sabedoria da sua vida, resolveu trocar os retos desníveis do concreto e do asfalto, pelos voluptuosos e generosos desníveis das ondas da Mole, e foi indelevelmente inoculado pela ideia de vida e saúde à qual o Aragua mantém sua filosofia original.
Em tempos em que a mídia e a conjuntura expõe falcatruas envolvendo ongs fantasmas e políticos facínoras, recomendo aos meus amigos que conheçam o Aragua que aliás, deveria de servir de exemplo a todas as instituições que sonham em se tornar projetos de sucesso. 
Berço do Surf, não seria apenas licença poética dizer que do carinho, da força ideológica e do pioneirismo do Netão, nasceram as mais efetivas e dignas histórias do surf no Brasil, e diga-se de passagem, dali do Aragua da Praia Mole.
Depois daquele 2003, muitas vezes voltei ao Aragua.
Não lembro com exatidão se foi em 2005 ou 2006, mas lembro que cheguei em Floripa com os nervos à flor da pele numa madrugada de calor escaldante.
Problemas na clínica, trânsito de Porto Alegre, trânsito da 101 e todas as outras demandas que habitavam minha cabeça psicanalítica, me fizeram buscar socorro e energia na Praia Mole. Fui socorrido e ganhei vida nova. O ambiente fraternal do Aragua, emanava não só a simpatia e o acolhimento. Emanava vida no seu mais puro e complexo conceito.
Depois de uma competente sessão de acupuntura, tendo como guias o Netão (criador) e o Cruel (criatura), conheci os projetos do Aragua, e a ideia que eu tinha de que o Aragua era um lugar destinado exclusivamente aos surfistas, foi inundada com a certeza de que eu estava ante de um dos mais eficientes e dinâmicos trabalhos sociais que tive notícia.
Afirmo, que toda vez que frequento o Aragua, minha vida é renovada. Meu corpo sai purificado e minha alma se enche de entusiasmo com as lições de ecologia, função social e principalmente da lição de amor a natureza em benefício do ser humano.
Como cidadão brasileiro, sou agradecido aos idealizadores, direção e colaboradores por tudo que o CDC Aragua representa à comunidade e aos turistas da bela Floripa.
Como psicanalista, recomendo aos meus pacientes, amigos e leitores que neste verão que se inicia, incluam nos seus roteiros, uma tarde no Aragua da Praia Mole em Florianópolis.
Com sorte, serão brindados com a simpatia do Netão e quem sabe até sejam convidados à compartilhar um mate com a cuia de prata do Cruel.

Fraterno Abraço
André       

     
   

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cidades, Meretrizes, Cafetinas e Corsários!

Pois bem! Depois de 3 meses, retorno ao Criador e a Criatura.
Andei travado. Vivi a experiência da desilusão e da perda pois descobri que, apesar de seletivo, aqueles que deram a "ideia de uma nova consciência e juventude estão cada vez mais nas suas casas, guardados por deus e cuidando do vil metal." Valei meu são Belchior que anda recluso em alguma hacienda uruguaia provando tannats, carmeneres e cabernets...
Mas, o vida segue e os horizontes cada vez se aproximam mais... E são tantos horizontes e nascem todo dia, um depois do outro... e... valei-me são Elton Saldanha: "Que empece el bando de los locos!"   
Quem me conhece, sabe que tenho a ver com algumas cidades específicas, principalmente porque nelas estão os familiares, e não por acaso as pessoas que mais me relaciono e amo. Dentre elas cito Porto Alegre por ser a minha cidade e de tantos outros meus, Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul, Florianópolis, Rio de Janeiro e nos últimos 5 anos, a longuinqua (pero no mucho) Boston nos Estados Unidos. Neste círculo, vivem meus familiares.
Comunidades distintas, com culturas e histórias diferentes cuja única coisa em comum é o fato de serem habitadas por seres humanos. Dai, surge o questionamento: Valei-me meu são Caetano Veloso:  
"Tem que se esconder no escuro
quem na luz se banha
por debaixo do lençol
Nessa terra a dor é grande
e a ambição pequena
carnaval e futebol
quem não finge, quem não mente
quem mais goza e pena
é que serve de farol.
Toda noite é a mesma noite
a vida é tão estreita
nada de novo ao luar
todo mundo quer saber
com quem você se deita
nada pode prosperar..."

Penso que todos os lugares que conheço e os que não conheço, são reféns da experiência e da sabedoria da Tieta do Jorge Amado e que Caetano refere nos versos que citei acima.
Vejo ai uma metáfora que configura um lugar refém da vontade de uma meretriz aposentada cuja vida de puta não lhe trouxe sucesso financeiro, que agora vive o momento como próspera cafetina.
Penso que o pessoal da "gestapo" que me espreita, aliado ao pessoal do "doi-codi" que me policía, vai no mínimo dizer que estou sendo incoerente.
Tudo bem.... estou andando pra eles e informo aos que se deixam emprenhar pelas orelhas que as cidades citadas não passam de figuras simbólicas neste texto.
Daí... valei-me meu são João Bosco, pois:

" Meu coração tropical está coberto de neve mas,
ferve em seu cofre gelado, a voz vibra e a mão escreve: MAR...
Bendita lâmina grave, que fere a parede e traz
As febres loucas e breves
que mancham o silêncio e o cais."

Nos últimos três meses, me envolvi num projeto único, e que vai dar o que falar. Estaremos desenvolvendo um trabalho nunca realizado no Rio Grande do Sul, e que será divisor de águas no aspecto, social, institucional e de qualidade de vida de amplo segmento da sociedade gaúcha envolvendo mais de 100 municípios. Por isso, minhas publicações talvez, sejam mais espaçadas, mas vou informar par e passo ao amigos que me honram com a leitura do Criador e a Criatura.
Até porque, mesmo com "gestapos", "doi-codis"  e outras "granadas de Espanha", ainda tenho os santos que me protegem. E de novo valei-me meu são João Bosco, pois:

"...por você, eu, teu corsário preso
vou partir a geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar,
procurar o mar."  

Fraterno abraço
André




      

   

sábado, 30 de abril de 2011

Diana! A Mitológica Deusa da Caça.

Não serei eu, mera criatura, quem vai dizer que Diana entrou na minha vida por acaso. Freud, o criador, já estabeleceu que o acaso não existe.
Portanto, vamos aos fatos, como dizem os advogados ao iniciarem suas lides de defesa ou de acusação. Prezados leitores, me julguem somente no final da exposição dos motivos...    
Era uma quinta feira nebulosa aquela. Ainda pela manhã um estado quase melancólico me sinalizava que o dia seria diferente e que provavelmente algumas angústias em mim encontrariam morada.
O café forte e preto fazia seu papel despertador e o jornal já me esperava repousando no ventre da caixa de metal emprenhada pontualmente pelo jornaleiro.
A segunda página já tornou mais nebulosa minha manhã de outono gaúcho. Penso que os barões famintos dos becos imundos estarão de olhos vidrados nas vitrines de TV, vibrando com o casamento dos pequenos burgueses de Londres como se aquilo fosse tão importante como o grenal que se aproxima.
Lembro do Chico e canto em silêncio: "... vão viver sob o mesmo teto até explodir o ninho..."!
Ao sair de casa, já percebo que minha tolerância ante aos mal educados motoristas da filas duplas está em fase de profundo esgotamento. Na primeira sinaleira, alguém de idade indefinida, para ao meu lado e previ que o verde do sinal levaria séculos para aparecer. O carro velho dele, carregava sob o chassi uma boate de última geração. Empanturrado de decibéis e da péssima mistura de pagode com sertanejo universitário (argh...), faço uma cara tão feia que o indivíduo  obrigou-se a diminuir o volume para que somente metade da cidade ouvisse.     
Minha agenda daquele dia abriu-se nas primeiras horas da tarde daquela quinta...
Resolvi dirirgir à esmo... e assim... me deparei com ela!
Quando a vi, lembrei do ótimo Antônio Carlos Resende, escritor gaúcho. Ele, num título seu descreveu a visão que eu estava tendo pela primeira vez: Magra mas não muito, as pernas fortes, morena.
Diana me fuzilou com seus olhos verdes e desse olho no olho, ficou evidente que ficarímos juntos naquela tarde que começava a ficar iluminada...
Pragmático, percebi que aquela que, não por acaso tinha o mesmo nome da mitológica deusa da caça, não vinha de berço explendido e que apesar de sua pouca idade, provavelmente já tinha passado por privações amargas.
Me encantei por ela. Seus cabelos negros... seus olhos claros... suas pernas fortes...o resplendor  de sua condição de ninfeta... Me encantei por ela...
Naquela tarde de quinta, o corpo de Diana respondeu aos meus carinhos. A cada toque que eu proferia em suas pernas e nas suas curvas, minha deusa da caça tornava-se mais e mais cativa...
Não tive coragem de deixá-la e resolvi assumir Diana levando-a para casa. A loura amada que divide comigo há mais de vinte anos a cama, centenas de alegrias e milhares de angústias, entenderia... afinal, que monstro seria eu se abandonasse Diana depois daquela tarde? A Loura Amada entendeu...
No final daquela tarde, nós três percorremos a cidade em busca das melhores iguarias, e Diana ganhou um banho de loja.
Linda por natureza, a sílfede transformou-se na mais nova alegria da minha vida...
Naquela noite, me dividi entre a cama da amada esposa, e o quarto de hóspedes de onde ao longe sentia o perfume doce da loção de Diana...
Hoje sábado, programei que confraternizaremos com salmão e cabernet sauvignon...afinal, Diana está conosco para ficar.
Diana, a nossa mitológica deusa da caça, uma linda gatinha de dois meses de idade, da raça Sagrado da Birmânia, integra-se aos sete canários belgas ( Sigmund Freud e seus filhos ) e transformam em verão cada dia de outono das nossas vidas.

Fraterno Abraço
André   
                  
   

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Pseudo Arauto da Desgraça!

Por fim (ou seria por começo??) inicia-se o ano da graça na terra brasilis.
Repostos em seus devidos pseudos lugares, os "pigmeus do boulevard" retornam aos canteiros de obras, aos passeios esquecidos das praças e jardins entre garrafas plásticas vazias de esperança, e continuaram se calando com a "boca de feijão" até que o próximo fevereiro chegue. 
Mas muita coisa já aconteceu nestes três primeiros meses do ano.
As ditaduras no Oriente Médio estão ruindo apesar de eu, contumaz desconfiado, pensar que no quintal do perverso Kadaffi exista muita podridão fascista cujo fedor espraia-se também pelos palácios e gabinetes das supostas democracias ocidentais.
As tragédias ambientais vieram bater o ponto nos quatro cantos do planeta como em todo começo de ano, e eu contumaz "arauto da desgraça", penso que a tendência é piorar a cada ano. E não é pessimismo. É puro exercício de visualização da realidade e a primeira verdade é de que somos analfabetos quando o tema é educação ambiental e consciência ecológica. 
Doce ou atroz, eu caçador de mim, como canta o Milton Nascimento, vou reviver os anos anteriores e neste 2011 vou continuar buscando entender e cada vez mais, não me conformando com a realidade que se estampa junto com o sol das bancas de revistas que trazem cada vez menos as Cardinales bonitas do Caetano. 
E por falar em música, valei-me todos os santos do paraíso do som e me levem convosco. Não... não posso ir, porque ... "Vou não...posso não... minha mulher não deixa não!"
Contudo, torço para que esteja perto o dia em que todos os meninos vão desembestar como sonhou o Chico Buraque, até porque penso que o desencadear de uma nova consciência é condição "sine qua non" para a sobrevivência da espécie.
E toamar que o mesmo Chico não esteja certo quando diz: "Se pensas que pensas, estás redondamente enganado..."!

Fraterno abraço
André   

  

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Admirável(??) Mundo Novo!

Escrevi em 2008, à pedido de uma turma de acadêmicos da faculdade de Direito de uma Universidade de Porto Alegre, minha análise do livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e vou reproduzir aqui para os leitores do blog. Espero que gostem.

Esse livro foi escrito na década de 30 por um britânico preocupado com os valores da cultura americana, então em ascensão.
Portanto, ele construiu uma distopia futurista, localizando sua trama na sua Inglaterra americanizada que idolatra Henry Ford praticamente como um deus.
Eu me pergunto se esse livro não estaria mais atual hoje em dia do que quando ele foi escrito, há mais de 70 anos. Eis um caso raro de previsão bem sucedida do futuro.
Mas é claro que Huxley acerta bem mais nas questões culturais e sociais do que nas tecnológicas. Teria sido difícil para ele à época prever a revolução propiciada pela era digital.
De qualquer maneira, o admirável mundo nem tão novo assim de Huxley é uma ditadura da felicidade. É-se feliz, querendo ou não. Na verdade, não existe não querer ser feliz. Todos querem ser tão felizes quanto puderem e ponto.
Quando eu acabei de ler esse livro, uma das primeiras idéias que me ocorreram é que o autor havia utilizado pressupostos análogos aos expressos na obra O Mal-Estar na Civilização, de Sigmund Freud.
No capítulo II dessa obra, Freud enumera as vicissitudes de um indivíduo em busca da felicidade dentro de uma sociedade e os possíveis recursos disponíveis a esse indivíduo.
Entre os principais citados encontram-se a sublimação das pulsões insatisfeitas, a elaboração filosófica dessas pulsões – o que permitiria uma redução de sua força, ou a fuga através do uso de entorpecentes.
Aldous Huxley lida com os mesmos problemas, mas suas soluções não estavam restritas ao então contemporâneo. Pareceu-me, de fato, que ele tivesse optado por lidar com as condições inescapáveis delineadas pela psicanálise fazendo uso de métodos comportamentalistas.
Ele imaginou uma sociedade em que as pessoas não assimilassem através da cultura nenhuma necessidade que não pudessem satisfazer. Além disso, supôs uma engenharia social capaz de, juntamente com a engenharia genética, condicionamentos durante o sono e durante o desenvolvimento, fazer com que cada ente fosse predisposto a gostar do trabalho a que estivesse destinado a executar.
Os recursos materiais e de saúde eram providos amplamente para a população.
O sexo era explicitamente estimulado, sob uma forma promíscua e meramente física, de modo que todos encontravam facilidade na obtenção de parceiros.
O autor também reconheceu que algumas necessidades são primevas demais para que pudessem ser influenciadas culturalmente.
Para tanto ele dispôs sua sociedade fictícia de alguns recursos essencialmente químicos, como o “substituto para paixão violenta” e o “substituto para gravidez” (já que gestação natural havia sido inteiramente banida).
E para a eventualidade incontornável de alguma coisa sair errado e disso decorrer alguma frustração, existe o soma.
O soma é uma droga sem efeitos colaterais capaz de anestesiar qualquer sensação ruim e embarcar o usuário em uma viagem de tranqüilidade e imbecilidade por tempo suficiente para que o infortúnio se dissipe. Não querem mais nada.
Com isso, estavam dadas as condições individuais necessárias para que não se produza inquietude entre os membros da sociedade.
Como recursos coletivos, também foram suprimidas instituições como família, arte, filosofia, pensamento crítico, individualidade, privacidade, intimidade.
Na verdade, um dos axiomas centrais da distopia huxleiana é a idéia da dissipação dos sentimentos intensos.
Não há tempo, espaço ou pressuposto para o surgimento de elementos profundos na vida de alguém.
Sem família, sem laços muito próximos, sem ideologias, sem incentivo à criação de uma identidade, sem amor. Basicamente, relações que atualmente estabelecemos que concentrem nossas energias foram substituídas ou dispersadas.
É a analogia da represa: se for feito apenas um furo em uma represa, a água jorrará com enorme força por aquela fissura. Se, entretanto, forem feitos diversos furos, a pressão estará distribuída entre todos eles, amenizando significativamente a força do jorro. Não deixa de ser uma idéia psicodinâmica.
E é aqui que me parece que a previsão de Huxley se aproxima mais da realidade atual. Não há como negar que, do período entre - guerras para cá, a cultura americana se espalhou e consolidou tremendamente através do mundo globalizado.
O industrialismo hegemônico de hoje em dia estimula o consumismo, que por sua vez estimula o leviano descarte de todos os produtos em favor da compra de novos, exatamente como é descrito na novela.
E o mais interessante, parece-me que as relações sociais que estamos estabelecendo enquanto sujeito está também cada vez mais voltada para o descartável e o disperso.
Paradoxalmente, por mais que estejamos fortemente voltados para uma formação individualista de modo de ser, o indivíduo moderno possui pouco de sujeito. Existe uma queda de envolvimento efetivamente pessoal nas relações que ele estabelece.
Vemos que entre as diretrizes de como ser uma pessoa, o paradigma sócio-cultural dos nossos tempos enfatiza aquelas ações voltadas para si.
A preocupação é com a sua carreira, seu prazer, seu divertimento, seu currículo, sua saúde, seu dinheiro. Até aí não há nada de tão alarmante nem tão absurdo, pelo menos vendo a situação assim superficialmente.
Mas é relevante observar que tipos de vínculos existem nessas dimensões de nossas vidas. É difícil encontrar o espaço da subjetividade, onde a associação sólida e duradoura com um elemento essencialmente pessoal se manifeste.
Não é verdade que hoje em dia um empresário qualquer faria melhor em trocar de empresa dentro de não mais do que 5 anos? Não é verdade que firmar uma identidade consiste em grande parte em referir-se a uma tribo cultural, ou seja, a um modelo idealizado prévio e a um grupo? Não é verdade que hoje em dia o nosso apego aos objetos é essencialmente muito pequeno, uma vez que são facilmente copiáveis e substituíveis? Quem é que ainda usa guardanapos de pano, por exemplo? Até mesmo o conceito de amigo está sendo massificado e pulverizado, quando atribuído a centenas de conhecidos aleatórios por aí através das redes sociais como o Orkut.
Mas o que mais me fez pensar foram as relações afetivas. Um amplo espaço é dedicado a elas no Admirável Mundo Novo – ou à falta delas. Na obra, “cada um pertence a todos”.
Qualquer relacionamento duradouro é visto com maus olhos, comportamento inadequado e repreensível. Esse talvez tenha sido o aspecto da cultura vigente que mais afetou o Selvagem – personagem não condicionado, não nascido na civilização, inserido na trama para contrastar as diferentes realidades.
É estranho, pois na cultura em que eu vivo, creio ver coisas similares. Não é que hoje em dia o lógico, o razoável, é “ficar”? Eis algo tão desprovido de significado que não possuiu mesmo um substantivo para designá-lo.
É meramente uma ação, quase que inteiramente vazia. Tão fugaz quanto humanamente possível, pois se chega ao ponto de reduzir a experiência a cifras: o melhor é ficar com o maior número de pessoas possíveis, especialmente no que diz respeito aos homens. Poderoso é aquele que pega três, quatro em uma mesma noite. E a essa altura já não importa mais quem eram. O que importa é que foram quatro.
Eventualmente, de fato, uma ficada produz um “ficante”. E quem sabe esse ficante acabe por chegar a um estágio em que se torne interessante estabelecer algum tipo de contrato de exclusividade e se constituir o que ainda se chama de namoro.
O namoro de hoje em dia já é alguma coisa muito mais instável do que foi, digamos, há meio século atrás. Sem contar que desconfio que esteja germinando já uma desconfiança para com o namoro.
“Bom mesmo é o relacionamento aberto”, eis um pressuposto que já se vê pelo ar, tênue, mas presente. O problema é que as pessoas na nossa sociedade ainda não estão tão condicionadas.
Ninguém escuta ao dormir um gravador repetindo “cada um pertence a todos”. Portanto, as pessoas são possessivas. Mas nada disso está fixo na carne – não duvido que uma manifestação midiática em filmes, novelas televisivas e demais veículos de massa não produza um efeito quase tão bom quanto os da hipnopedia sugerida por Huxley.
E eu não estou dizendo que tudo isso está errado. É um reflexo da época e da cultura. No Admirável Mundo Novo, tais pautas eram dadas por um estado totalitário que se auto-perpetuava através da sujeição, massificação e controle dos indivíduos. Na nossa realidade, temos as resultantes de uma série de influências, políticas, interesses, subjetivações que obedecem a determinados interesses, ora mais, ora menos hegemônicos.
Não quer dizer que esse comportamento seja uma infantilização das emoções humanas, uma entrega ao imediatismo gratuito e impessoal. Mas eu não posso deixar de pensar que é bem possível que seja esse o caso, ainda assim.
Ou é bem possível que ele venha a se tornar o caso, ou que já o seja em alguns estratos da população.
É sem dúvida uma forma de sofrer pouco, se frustrar pouco, já que não há investimento intenso em quase (?) nada.
Não se reconhece mais nada de si no mundo externo, então não se perde nada com a quebra das relações. É um agitado desapego.
Pois é aí então que eu me pergunto: seria eu um Selvagem?.....(Muitos risos)......

Porto Alegre, na Assunção, nublado, num raro entardecer ( 20 horas é entardecer???) de relativa folga, 29 de outubro 2008.

Fraterno Abraço
André



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Minha Versão de Baixo Clero!

Confesso que nunca tinha me detido na etimologia do termo "baixo clero" amplamente utilizado no cenário político nacional.
Meu senso dizia que o termo se referia à políticos sem muita representatividade ou com representatividade questionada. 
Vou aqui, hoje,  relatar o que tenho entendido sobre o tema, e de antemão aviso aos mais sensíveis que posso, por não ser um repolho, ser agressivo e quem sabe até cruel.
Nos últimos meses, passadas as eleições e designados pela vontade do povo os novos governantes, tenho observado corriqueiro desfile dos membros do "baixo clero" que deixa um rastro nojento de baba peçonhenta nas vielas paralelas às perimetrais que levam aos palácios.
Alguns, mesmo que legitimamente eleitos, os classifico como caudilhos contemporâneos cujos seguidores são os desesperançados e esquecidos pelo sistema, e que por não terem referência, atiram-se às garras daqueles como se fossem pedaços apodrecidos de carne disputados pelos corvos.  
Eles se vestem de branco, mas o que os caracteriza é o preto de seus olhos com os quais hipnotizam seus exércitos de pigmeus que sonham emergir  dos pântanos fétidos e escuros que fazem moradas.
Ágeis como as perigosas mambas negras africanas, percorrem  sorrateiramente os caminhos que os justos acreditam ser apenas de flores e de raios de sol. Os justos não percebem que entre as flores e os raios de sol, tem o perigo fatal que emana da boca preta da cobra verde africana.
Junto com o caudilho vem o caudatário. Este é aquele que segura e carrega a cauda do manto da autoridade nas solenidades oficiais e mesmo nas "não oficiais", se é que meu suposto leitor entende.
O caudatário é um servil sem originalidade, que infecta as botas já enlameadas, com sua baba gosmenta e que acaricia com suas mãos gordas e gordurosas a genitália de qualquer Napoleão que não tenha sido ainda exilado nas ilhas do sul.
Triste estou por observar que nossos palácios recém reformados, continuam infectados por bactérias criadas no fígado inchado do "baixo clero"...

Fraterno Abraço
André           

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Nada de Novo no Céu!

Sejamos pois, bem vindos ao ano de 2011.
Acho que vou abrir as publicações do ano que se inicia, fazendo questionamentos que talvez passem uma impressão pessimista e que meus críticos somem ao monte de adjetivos atribuidos à mim, o de arautro da desgraça...
Na verdade, não vejo nada de novo sob os céus desse pequeno grão de terra universal, que aliás os megalomaníacos acreditam ser o centro do mundo  que esse mundo gira em torno de seus umbigos.
Exemplo disso, é que nos primeiros dias do ano a mídia divulgou a notícia de que artístas e celebridades foram confraternizar com o povo do Complexo do Alemão no Rio de onde saiu a seguinte pérola:
"- Sempre gostamos de estar junto das pessoas normais para que elas não se sintam sozinhas nas suas lutas e dificuldades!" 
Isso foi dito por um casal com mais de 50 anos de telenovelas ....
Me perguntei:
Será que eles não se consideram pessoas normais? Será que eles acreditam mesmo que são o supra sumo da natureza humana e que são deuses entre primatas?
Me respondi:
Sim! E fiquei repetitivamente chocado....

Menino dando tiro à rodo e matando gente inocente ou não, nos Estados Unidos requer um minuto de silêncio nos jardins da Casa Branca...
Menino cracolento que mata pais e irmãos na periferia do Brasil, já não é novidade e não cobre o custo de 2 linhas na crônica policial.

Tragédias naturais(???) já deixam um número de mais de 500 mortos na região serrana do Rio. Isso merece a plena cobertura da mídia, afinal, é novidade pois no ano passado o número de vítimas foi bem menor...( perdoem a ironia, mas assim é dose né??)

Ronaldinho Gaúcho, às vésperas da festa de boas vindas bota um chifre no Grêmio de fazer inveja ao mais chifrudo personagem de Jorge Amado. Isso é novidade???

E vamos falar das férias da família irreal no forte militar do litoral paulista com direito a panela de seis mil reais??? Não né?!

Enfim... não vejo nada de novo no céu desse ínfimo torrão...

Fraterno abraço
André