segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O Psicanalista no Tratamento Oncológico Quimioterápico! A dor do cuidador!

O psicanalista já tinha observado aquele jovem médico circulando pelos centros oncológicos onde ambos circulavam (e se cruzavam) e lhe chamava a atenção a jovialidade e entrega do oncologista que certamente estava no início de carreira. 
O Psicanalista pensou (porque psicanalistas pensam as vezes) que ali estava um homem com a entrega e altruísmo indispensáveis ao ofício de cuidar de pessoas. 
Mas...
Mas um dia o psicanalista viu que num dos consultórios do centro oncológico, o jovem médico estava sendo socorrido pela equipe de enfermagem e por um dos outros oncologistas.
Sim.... o jovem oncologista estava com câncer e além de cuidador, era também um paciente oncológico. Estava portanto inserido no combate ao câncer, por todos os prismas e circunstâncias que se pudesse imaginar do front de batalha.
O psicanalista não conseguiu esconder o choque que sofreu quando soube do caso. Não pela doença em si, mas talvez pela juventude e entusiasmo do médico que mesmo estando sendo atendido não parava de manifestar preocupação e cuidados relativos aos seus pacientes que estavam em atendimento, 
Não pelo câncer. Porque alguns oncologistas sofrem de câncer. Porque alguns cardiologistas são cardiopatas. Porque alguns traumatologistas as vezes quebram o pé. E... TODOS os psicanalistas tem avessos!!!!
Mas o choque se deu porque o psicanalista sabia dos efeitos da quimioterapia, e o quanto estava sendo difícil para aquele oncologista desenvolver seu trabalho, mesmo ele mesmo estando em tratamento quimioterápico.
Mas... vida que segue...
Passados alguns dias o psicanalista e o jovem médico compartilharam a mesma mesa do café num dos anexos do hospital. 
O assunto não poderia ser outro. Ou poderia sei lá... mas o fato é que o jovem oncologista foi (como de regra) cordial e generoso:

- Parabéns André pelo teu trabalho junto aos pacientes oncológicos. Quero te encaminhar alguns dos meus pacientes caso tua disponibilidade permita. Tudo bem?
- Claro que sim meu amigo (obviamente que não vou citar o nome do médico, apesar de ele não tem nenhum problema com isso), teus pacientes serão bem vindos e sempre acolhidos. Na verdade não vejo a hora de ser eu mesmo acolhido por eles. 
- Que bom André. Amanha mesmo já te encaminho os primeiros cinco. Agora preciso ir que o dia será longo e ainda não comecei a atender. 
- Como assim?  Estavas em reunião? Te vi chegar logo cedo no hospital? 
- Não André! Não era reunião! Hoje vim cedo porque é dia da minha própria quimioterapia. Acabou agora mesmo uma sessão que me deixou com uma vontade doida de ir pra casa dormir e esperar passar os efeitos da droga. 
- E porque não vai então meu amigo? Queres que eu te leve?
- Não... obrigado psicanalista... volto ao centro oncológico e vou atender 15 pacientes que estão me esperando. A quimioterapia é a minha arma contra meu câncer. Os meus pacientes me dão a vida que preciso para continuar os vendo vivos!

Naquele dia o psicanalista pensou que talvez houvesse alguma coerência no dito popular que "O melhor médico é aquele que já sofreu a dor!".

Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista



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