quarta-feira, 19 de julho de 2017

PSICANALISTA: Menestrel do amor? Ou Arauto da Desgraça?

Meus caros amigos leitores!
Antes de qualquer coisa penso que devo explicações aos que sempre me prestigiaram. Afinal não tenho feito nenhuma publicação desde de outubro do ano passado.
Os que me acompanham, por certo sabem que desde 2015 estou dedicado em projeto que insere o psicanalista no cenário de tratamento oncológico/quimioterápico de onde minha querida e atenta editora Laura já adiantou para breve o lançamento do livro que nasceu disto tudo.
Inobstante, ainda lambo feridas muito recentes de uma perda traumática, cruel e inesperada que ainda hoje sangram, mas tenho fé que a dor da ausência aos poucos vá se transformando apenas em saudade.
Dito isso...
Vivemos tempos sombrios. Tempos de medo. Tempos de dúvida. Tempos de incredulidade ante os pavores que surgem a cada dia nos jornais e mídias diversas.
O psicanalista que habita em mim, por vezes se cala para não ter de falar da realidade brutal das ruas e dos bastidores da nação, e depois de tudo ainda tentar ajudar no alívio de quem se deprime com a dor que já virou rotina.
Que alivio pode ter um pai que teve seu filho morto pela mão desamparada do ladrão de telefones, ou pela falta de mão dos responsáveis pelas  políticas públicas de saúde que nos atira cada vez mais no rol dos esquecidos???
Como ajudar a desconstruir o medo de parar no sinal vermelho, se em cada sinal vermelho existe a real possibilidade de se ter a cabeça explodida por uma bala nem sempre perdida??
Como incitar ao trabalho e ao desenvolvimento pessoal quando vemos o criminoso virar delator que vira amigo e que depois  vira inimigo e logo em seguida volta a ser criminoso mas com direito a virar multimilionário livre que navega ouvindo Barry Manilow em águas ianques??
Como incentivar a alma tranquila e o coração sereno para evitar o stress e assim, dar menos chances para que o câncer conquiste seu espaço, se a cada alvorecer só temos a certeza de que a nossa rotina é absurdamente estressante?
Assim... não resta dúvida, que enfrentando esses tão presentes demônios, o psicanalista só pode se sentir o arauto da desgraça...
Mas e o amor? Mas é a amizade? E o encontro com amigos queridos? e a família? E a liberdade???
...
Penso que no ofício de tratar da dor humana, inclusive no combate aos sintomas produzidos pelos demônios citados, os principais remédios são exatamente o amor, a amizade, a esperança e a liberdade. 
E isso, mesmo que seja só um pouquinho, transforma o arauto da desgraça em menestrel do amor. 
Eu pelo menos tento imaginar isso....

Fraterno Abraço
André Lacerda
Psicanalista

P.S. Dedico essa crônica aos meu leitores do Blog, aos amigos da página Reflexões da Psicanálise e aos seguidores da página André Lacerda - Psicanalista da minha querida editora Laura. 
Dedico em especial, à Ana Paula Dias, mãe esplêndida, professora dedicada, e sobretudo uma alma grandiosa, que depois de ter sido minha paciente reencontrei depois de muitos anos e que tive a maior felicidade de dizer: Fico feliz de te reencontrar e ver que de mulher guerreira sobrevivente, te tornaste uma mulher guerreira e VIVENTE.
         

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