Era pra ser uma crônica colorida e cheia das alegrias que minha filha me proporciona todo dia, toda hora, a cada segundo, e que certamente mostra QUE O MEU LUGAR É ONDE A MINHA FILHA ESTEJA.
Ela passou pela semana de adaptação, e é uma feliz aluna da Rede Marista de escolas, onde alias, o papai aqui teve o início ( no século passado chamávamos de primeiro e segundo graus) de uma vida acadêmica, social e cultural, e que faz ser agradecido sempre aos meus pais que me proporcionaram.
A Escola Marista, me fez (através de atividades muito além das extra classes) quem eu sou...conheci o Estado...o país é até quase toda a América Latina, sempre esplendorosamente guiado pelos professores e irmãos da congregação.
Passaram-se milhares de anos, e já com carreira definida e sólida, por essas coisas da vida, reencontrei o meu primeiro Diretor, Irmão José Ewaldo Neys, que por ser informado de minhas atividades da época, me chamou pra palestrar para as mais diversas escolas da Rede. Foi no ano 2000. Eu fui muito feliz com isso. O Irmão Ewaldo, morreu em 2018, e certamente sempre será um baluarte dos Maristas.
Pensei até em postar uma foto de Isabelle com uniforme da escola e em plena atividade...mas depois me lembrei do Umberto Ecco:
" A Internet deu voz à legiões de imbecis!"
À propósito disso, tudo que publico aqui no blog, compartilho das redes sociais. E são algumas centenas de milhares de seguidores considerando as minhas páginas pessoais e aquelas que sou criador de conteúdos. Então peço o que nunca foi pedido:
Se alguem nao ler o texto até o fim, nao curta.
se gostou apenas pela foto, curta mas deixe comentário dizendo que é somente pela foto.
Me explico:
Essa crônica, provavelmente será parte do projeto pro doutorado que pretendo apresentar ao meu sempre amado Conselho Brasileiro de Psicanálise Clinica, e a estatística vai ajudar. Desde que verdadeira.
A crônica estava pronta..e seria apenas um textinho pra marcar a Isabelle na escola e tal...
Mas...
Ela chega:
"Papai...porque Fulano chamou sicrano de IDIOTA??." "O que é IDIOTA papai?"
Me assustei. Afinal nao uso essa palavra desde a adolescência quando li "Ninguem é uma Ilha" do JM Simmel, que alias penso que todo pai, toda mãe, e todo mundo enfim deveria de ler...
Expliquei (querendo mudar de assunto) que isso significa aquele que é incapaz de se comunicar com outras pessoas, mas que isso era pra ela esquecer e nunca chamar ninguém de idiota.
Ela fez um muxoxo, e seguiu a vida feliz dela...espero que tenho esquecido ter visto alguem chamar outro alguém de idiota.
Então...pra não perder o costume, evolui no tema...espero que gostem...
“O pior analfabeto
É o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Não sabe que o custo de vida,
O preço do feijão, do peixe,
De farinha, do aluguel, do calçado
E dos medicamentos
Dependem de decisões políticas”.
Esse analfabeto político do poema atribuído ao dramaturgo alemão Bertolt Brecht é, por outras palavras, um idiota, em seu sentido quase original.
A palavra ‘idiota’ vem do grego ἰδιώτης idiṓtēs e
originalmente não era um adjetivo desrespeitoso, depreciativo ou um insulto.
Mas como os gregos valorizavam muito a participação cívica,
reconhecendo que sem ela a democracia entraria em colapso, era esperado que
todos os cidadãos estivessem interessados e familiarizados com os assuntos
públicos. Ou seja, eles não deveriam ser idiotas
É nesse contexto que, com o passar do tempo, idiṓtēs começou a adquirir uma conotação negativa, e se transformou um termo de reprovação e desdém.
Viver apenas uma vida privada não era ser plenamente humano.
“Se o comportamento e o discurso de um homem deixavam de ser políticos, ele se tornava idiota: egocêntrico, indiferente às necessidades do próximo, inconsequente em si mesmo”, explica Christopher Berry em seu livro A Ideia de uma Comunidade Democrática.
E esse tipo de idiotice talvez fosse mais grave do que aquela que resultou da metamorfose que teve início e que levaria a palavra a se tornar o que hoje, conforme a definição em português, por exemplo, do dicionário Michaelis:
Adj m+f sm+f
1 Diz-se de ou o que demonstra falta de inteligência, de discernimento ou de bom senso; estúpido, imbecil, tanso, tantã, tolo, zote.
2 Diz-se de ou pessoa que se considera superior aos outros; arrogante, presunçoso.
3 Diz-se de ou o que é tolo ou ingênuo
Depois de se tornar um termo pejorativo para quem se recusava a participar da política, passou a definir alguém como ignorante, grosseiro e sem instrução.
Com essa interpretação, chegou ao latim no século 3°, e daí para outras línguas.
Embora o significado político tenha sobrevivido por algum tempo, à medida que a cultura e as tradições da Grécia antiga ficaram para trás, o novo significado o substituiu.
Logo, outro fato reforçou ainda mais o significado atual.
No início do século 20, os psicólogos franceses Alfred Binet e Theodore Simon criaram o primeiro teste de inteligência moderno, que calculava o QI com base na capacidade das crianças de realizar tarefas como apontar para o nariz e contar moedas.
Os psicólogos ficaram tão apaixonados pela natureza científica dos testes que criaram sistemas de classificação.
Qualquer pessoa com QI acima de 70 era considerada “normal” e qualquer pessoa acima de 130 era considerada “superdotada”.
Para lidar com pessoas com QI inferior a 70, inventaram uma nomenclatura.
Um adulto com idade mental inferior a 3 anos foi rotulado de “idiota”; entre 3 e 7, para “imbecil”; e entre 7 e 10, “débil mental”.
“Idiota” então se tornou um termo técnico usado em contextos
jurídicos e psiquiátricos.
Usar essa palavra, como aconteceu com o latim ‘imbecil’ para descrever graus de deficiência psíquica, fez com que ela também acabasse sendo um insulto que se refere aos dons mentais do insultado.
Em algumas culturas, “idiota”, assim como “imbecil”, caiu em
desuso na medicina algumas décadas depois porque foi considerado ofensivo.
Desde o século 19, há pensadores que defendem que a palavra seja usada de forma mais ampla, mas recuperando o seu significado original.
Um deles é Walter C. Parker, professor emérito da
Universidade de Washington, para quem essa antiga etimologia pode ser uma
ferramenta valiosa para uma compreensão contemporânea da democracia e da
cidadania.
“Nesse sentido, podemos voltar a Aristóteles, há 2 mil anos, que costumo citar quando escrevo sobre idiotice. Para ele, idiota é alguém cuja vida privada é sua única preocupação, alguém que não toma iniciativa na política.”
“São pessoas imaturas, com desenvolvimento truncado, que podem ter vida social, mas não vida pública.”
“Portanto, existe uma vida privada, uma vida social e uma
vida pública, e para ser um indivíduo com objetivos e prosperar você precisa de
todos os três.”
Tudo começa na escola, opina Parker.
“No ensino, devemos promover o debate de questões públicas polêmicas com outras pessoas, cujas opiniões sejam semelhantes ou não. Isso não importa.”
“Se você gosta ou não da opinião de alguém é importante na
vida social, mas não na vida pública, onde temos que nos conectar, nos
relacionar, conversar e ouvir outras pessoas, independentemente de elas
concordarem com você.”
“Há sempre o perigo de o idiota levar a sua idiotice para a esfera pública, para usar os termos que usamos no contexto de que estamos a falar”, explica Parker.
Mas algo também “terrível”, lamenta o acadêmico, é a indiferença.
Está documentado que as novas (e não tão novas) gerações não estão interessadas nos acontecimentos atuais.
Apesar de viverem num mundo onde mais do que nunca as
pessoas têm meios de acesso à informação, elas optam por não prestar atenção.
Elas simplesmente não se importam.
“Na verdade, estamos recebendo cada vez mais pesquisas que mostram que os jovens têm uma vida privada e social ativa, mas não uma vida pública.”
“E esse é um terreno fértil muito perigoso para a demagogia”, explica.
Agora: a exaltação da vida pública não ocorre em detrimento das outras duas esferas, esclarece Parker.
“O objetivo de reivindicar o termo idiotice não é de forma alguma negar ou descartar a importância da vida privada ou social, que são tão cruciais para o nosso florescimento como seres humanos.”
“É lá que existe a nossa família, os nossos amigos e o nosso trabalho.”
“Mas a personalidade pública é o elo que falta, por assim dizer, para tornar possível vivermos juntos em sociedade com as nossas diferenças intactas.”
É nessa vida pública, salienta, que aprendemos a lidar com estranhos com ideologias diferentes em culturas diferentes.
“O objetivo é desenvolver um modus vivendi, do latim, um modo de vida que nos permita prosperar juntos sem nos matarmos.”
“Temos que cultivar o eu público e, para isso, não podemos
ser idiotas”.