Nessa metade de novembro já sinto que o verão está se prenunciando. E mesmo atacado pelos demônios de minhas alergias primaveris vivo um momento de absoluto preparo para o verão que se avizinha.
Por certo ficarei dividido entre o desejo de permanecer sentindo o quente da areia e o frescor das ondas, e a necessidade das responsabilidades que crescem numa progressão geométrica com o advento do próximo solstício.
Já evoquei aqui, e evoco novamente o "São Oswaldo Montenegro" que profetiza:
"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio..."
Porque toda a mudança é traumática e os ambientes podem muito bem ser acolhedores como podem ser redutos de sintomas que nunca senti e por isso não saberei identificá-los e...
"Que a morte de tudo que eu acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio..."
Porque o novo sempre vem (como disse o Belchior), não tenho certeza de ser capaz de domar os novos demônios que certamente surgirão e que minha tarefa mais difícil será identificá-los, e domados ou não terei que conviver com eles, porque vou desejar ...
" Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo..."
Porque por mais encantador que seja o brilho do sol, devo ter a convicção de que ele não é o deus dos Incas e Astecas mas pode sim produzir efeitos devastadores, e que se isso acontecer...
"Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão..."
E tomara que eu não tenha que decidir entre fazer o bem ou o mal, porque se tiver de escolher entre o caminho do Direito e o caminho da Justiça, certamente vou optar pela segunda, e assim terei que honrar minha decisão em nome de tudo aquilo que me fez ser o que sou e assim...
" Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é lembrança do que fui
A outra metade não sei..."
Penso que no verão, será exigido de mim bem mais do que tentar prever se a chuva vai atrapalhar ou abrilhantar o banho de mar. E de tudo, pelo meu ateísmo, acho que meus apelos não serão atendidos pelos deuses da terra e da água, mas mesmo assim, não serão poucas minhas oferendas a Iemanjá e Ogum, e certamente na beira da água do reveillon, vestindo todo o branco do mundo, vou desejar ...
"Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço..."
E, se no verão, entre uma e outra tempestade vespertina eu enlouquecer e decepcionar...
" Que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também!"
Fraterno abraço
André
P.S.: Juntei no texto acima, pedaços do poema METADE do Oswaldo Montenegro.