Comecei a ler a obra de Freud ainda muito cedo. O primeiro livro "As Psicopatologias da Vida Cotidiana" de certa forma definiu meu caminho que era a Psicanálise.
Desde então nunca paro de ler Freud. Sempre estou lendo Freud. Não tem dia que não leio Freud. E acho que demora muito ainda pra descobrir tudo. E acho que não terei tempo hábil. Mas vou tentando... risos.
Estou agora encerrando pela enésima vez a leitura de Totem e Tabu. Repasso aos amigos leitores algumas anotações, e a lembrança, que à todos aqueles que de uma ou outra maneira se acham envolvidos com as ditas "humanidades", é uma leitura muito importante. Espero que gostem.
Até Totem e Tabu (1912/1913), Sigmund Freud sempre se limitara a obras dedicadas estritamente à Psicanálise, campo de estudos recém aberto. Porém, a indagação quanto às origens e ao modo de transmissão de uma culturas (no caso, na sociedade moderna) conduziu sua atenção para a antropologia e para a etnopsicologia; Freud via, nos homens primitivos, mecanismos semelhantes aos operantes no homem moderno.
Detectou dois fenômenos recorrentes nas tribos primitivas: a representação do pai primordial na forma de totem e o tabu do incesto. Por meio de uma "dedução histórica", Freud propõe a hipótese do "pai tirano", cujo assassinato pelos filhos estaria na base do sentimento de culpa, da exogamia e da religião.
Considerada pelo próprio Freud uma de suas obras mais importantes, Totem e Tabu sinaliza a aproximação da psicanálise às ciências humanas.
O ponto de partida de Freud para Totem e Tabu foi a origem das proibições (os tabus). Os tabus são definidos como obediência transmitida diante de certas proibições mantidas pela tribo, clã, grupo ou sociedade. Porém Freud montava seu problema a partir da investigação sobre a suposição de sua origem: o totem.
Para Freud, a fonte visível, dotada de força e autoridade sagrada e sobrenatural inquestionável, à qual todos os membros do mesmo clã deviam temor, obediência e respeito é o totem. O totem constitui a forma figurada, em geral representada por um animal, que condensa essas fantasias no seio de cada um dos clãs. Nesse mesmo sistema operam os tabus, prescrições e proibições dotadas de imensa força que determinam comportamentos sociais entre os que pertencem ao mesmo clã , acima deles, pelo totem que os rege. Os tabus são proibições sem genealogia, isto é, eles determinam a obediência a seus preceitos sem que seja necessário, de modo algum, uma explicação sobre sua origem e força (sobrenatural).
Freud viu nesses dois fenômenos, presentes, atuantes e interdependentes na cultura dos povos primitivos, dois elementos discutidos e trabalhados em profundidade na teoria e na clínica psicanalítica: a representação psíquica ambivalente do pai (totem) e o tabu do incesto como obediência e dívida inustrapassáveis a esse mesmo pai primevo.
O sujeito da psicanálise, o sujeito do inconsciente está nas antípodas do indivíduo atomizado e autossuficiente e, segundo a psicanálise, o psiquismo jamais pode ser compreendido como estrutura interiorizada e autorregulada, independente dos laços e ligações que mantém com o mundo e com os objetos. Foi o que Géza Róheim, antropólogo e psicanalista discípulo de Freud, e um dos responsáveis por manter via uma antropologia psicanalítica a partir dos preceitos de Freud, sugeriu ao dizer, em 1936: " o que nós chamamos de "neurose", no sentido clínico, também pode ser chamada de "civilização individual", assim como a civilização é uma " neurose grupal"".
Leitura obrigatória para todos aqueles trabalham na área. Leitura fácil para os leigos. Recomendo sempre Totem e Tabu.
Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista