terça-feira, 6 de outubro de 2015

O Psicanalista no Tratamento Oncológico/Quimioterápico - A Reunião!

O psicanalista experimentava sempre um pouco de ansiedade sempre que tinha alguma reunião marcada com o oncologista. Porque ele era O oncologista.Super doutor e professor da matéria, reconhecido nos mais altos círculos médicos do planeta. Mas já eram conhecidos há muitos anos e se tornaram amigos. 
O médico com um sorriso acolhedor saúda e recepciona o psicanalista como fazem os patrícios das terras meridionais do Brasil:
- E daí Tchê!!! Como andam as coisas?
O psicanalista já sem ansiedade e sentindo-se acolhido pela simpatia contagiante do médico, respondeu aos costumes:
- Buenas Tchê. Eis o relato e vou tentar ser objetivo. Sei que és cidadão do mundo e hoje Viena, amanhã Boston, depois de amanha Londres, etc e temos falado mais pelo whatsapp do que pessoalmente. Então vamos lá:
Nesses três meses acompanhando os pacientes oncológicos, observei algumas coisas e tenho tentado trabalhar nelas. 
Veja que o paciente sofre de cara quatro traumas no mínimo:
1) Na HD (hipótese diagnóstica) já na primeira consulta. Ali é dado o primeiro soco na boca;
2) Na cirurgia de retirada do material pra biopsia. Ali é dado o primeiro chute na boca do estômago;
3) No resultado da biopsia (normalmente 10 dias depois). Ali é um soco e um chute e nem se escolhe onde bater;
4) No início do tratamento. Quando senta naquela cadeira da sala da quimioterapia e escuta a palestra inicial da enfermeira encarregada, se estabelece o início de todos os efeitos colaterais do medicamento. Ali, é uma pauleira digna de Anderson Silva em tempos áureos. 
Me inseri, caro doutor, nessa fase do tratamento. Acompanhei os pacientes nas horas da quimioterapia. Descobri que o momento é de extrema solidão. E descobri que o discurso psicanalítico ajuda.
O inconsciente se estrutura em linguagem tanto pra se expressar como para receber informação. E quando o paciente houve todas as informações farmacológicas e dos efeitos colaterais já se estabelece  inexoravelmente um estado depressivo recorrente independente da depressão física que também inexoravelmente o remédio vai causar.
Acho que ali naquela sala, com o remédio entrando e curando, é o lugar de um psicanalista!  
O Super médico concorda. 
O psicanalista enfatiza que em alguns centros quimioterápicos a figura do psicanalista é substituída por um religioso. 
O médico finaliza:
- Continue teu trabalho! Vamos ver os resultados! E te cuida!
O psicanalista deseja bom trabalho  e enfatiza:
- Meu cardiologista duplicou os remédios da pressão. E pela manhã estou tomando bupropiona. E as vezes... a noite um clonazepam...(brincadeirinha...mas aumentei minhas sessões com  minha psicanalista)....

Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista



   

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