quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Começou o Ano???? Quero voltar às águas!

Finalmente inicia-se de fato o nosso ano da graça de 2010. Coisas boas me aconteceram nestes primeiros dias onde quase tudo foi à beira da água, cercado de amigos e família.
Num exercício de esperança, procurei começar meu ano com otimismo e fé de que tudo será melhor.
Enfim, passaram-se as festas de final de ano, o veraneio já descamba pro fim, e até na Bahia o carnaval já terminou e todos os orixás de Salvador já deixaram a orla e voltaram para seus terreros da periferia soteropolitana.
Esperem.....leio num jornal local, que em XYZ do Centro, o carnaval ainda não acabou.
Lembram desta cidade?? Em setembro do ano passado publiquei algo sobre ela com o título de "Como Morre uma Cidade".
Leio que por discordância dos resultados, a comunidade carnavalesca de XYZ está em guerra, até porque entre outros idílios, um dos jurados deu nota 15 para certa agremiação. Eu disse nota 15!!!!!!!!
Fico imaginando a Globo transmitindo a apuração dos votos:
- Unidos da Tijuca - 15... NOTA 15...!
E tem mais...
Leio que na noite da quarta de cinzas, o Presidente da Liga das entidades carnavalescas de XYZ, maior autoridade carnavalesca local, provavelmente democraticamente eleito, cansado de tanto conflito pensou em "tomar uma decisão sumária" (sic) proclamando:
"EU JÁ TÔ A FIM DE CARCÁ O VERDITO!!!!"
Acredito que o carnavalesco tenha expressado que estava prestes a proferir um veredito mesmo sem a concordância dos demais... mas enfim...sabe-se lá...   
Está tudo lá... no jornal. Aos interessados, me solicitem que eu mando a referência de como conferir o que estou reproduzindo.
Com isso, repenso que o ano ainda não começou...
Tenho vontade mesmo é de ficar à beira da água, de molinete, esperando o peixe que não vem.
Reproduzo o texto que escrevi sobre XYZ do Centro para todos aqueles que como eu, desejam que a cidade não morra!   
..............................
Hoje recebi um email de um amigo. Esse amigo, na minha opinião uma das mais brilhantes mentes e vozes que o Direito e a Justiça gaúcha tem, cada vez mais me chama a atenção pela sua sensibilidade e sobretudo pela maneira de demonstra-la.

Eis que, trocando idéias a cerca de uma cidade a qual ambos temos afeto especial, o grande advogado me escreve:

"Pois é, amigo André. XYZ do Centro (obviamente esse nome eu inventei porque vou propositalmente omitir o nome da cidade),hoje, é um vasto cemitério de pessoas vivas. Dormem, acordam, vestem-se, vão ao trabalho, mas é uma cidade de seres perdidos. Nada cresce, nada progride, apenas vegeta. Esta manhã, na rádio Gaúcha, ouvi informes sobre o tempo de mais de 50 cidades. Nem falaram de XYZ do Centro. Ficamos ilhados, esquecidos, perdemos a auto-estima, a vontade de progredir. Pobre XYZ! Não encontrei em nenhum lugar algo como o nosso ......(aqui o advogado cita um lindo monumento artístico que existe na praça matriz da cidade).Mas nem isso festejamos mais. Tristeza."

Depois de ler o email de meu amigo, fiquei pensando como pode uma cidade morrer ou deixar de viver, e lembrei que tempos atrás, outros dois amigos me falaram que XYZ do Centro, deveria ir para o Divã.
Naqueles tempos, escrevi algumas crônicas, mas os editores locais me censuraram dizendo que meu texto era elitista, e que somente meia dúzia de pessoas entenderiam meus escritos.
Joguei fora as mais de 10 crônicas, mas, gostando da idéia, escrevi a série "Porto Alegre no Divã", que aliás andei publicando aqui no ano passado e que ainda está à disposição de quem quiser ler.
Entretando, vou reproduzir algumas coisas que escrevi na época e que foram classificadas de elitistas, para que meu amigo citado e os demais leitores possam saber do porque na minha opinião uma cidade morre ou deixa de viver.

Acho que tudo se origina da falta de estima popular, uma vez que a massa que deveria evoluir se escraviza ao não poder, e aos vícios culturais de uma burguesia falida e há muito ultrapassada em seus conceitos de sociedade.

Noto que em XYZ, o jovem que quiser estar dentro do contexto da dita "alta sociedade local", só será aceito pela dita, se dirigir carro zero (de preferência com placa de Porto Alegre), gostar de péssima música que em volumes estratosféricos poluem toda a cidade, especialmente onde tenha Postos de Gasolina, e invariavelmente tem que ser da tribo daqueles adeptos do famigerado "pó de reboco".

No passado, os jovens de XYZ sonhavam apenas em se tornarem sargentos do exército ou funcionários do Banco do Brasil.

Também vejo que o povo de XYZ, não se dá o devido respeito e acho que nem sabe da força que pode ter um povo que se forma a partir de sua cidadania.

Todos dão muita importância à questão de nomes. Por exemplo: Ouço dizer que XYZ, existem apenas 3 sobrenomes que são importantes, e o resto é pura vassalagem que segue a rotina conforme a vontade do senhor de cada um dos 3 feudos.

Corre a língua solta, que pela vontade dos senhores feudais locais, até bem pouco tempo atrás um ser extraordinário, mago, bruxo, sei lá, mandava em tudo. Ele detinha a chave do cofre do povo, mas só do cofre do povo, pois os cofres dos burgos dependiam de outras esferas, como o crédito rural do Banco do Brasil. Parece que até museu do além e aeroporto da ET o tal alcáide pretendia fazer.

Menos mal, que o mago se foi. Deixou o cofre do povo vazio. Mas se foi.

Em XYZ, existe uma forte aversão ao novo. Vejamos:

Nada funciona do meio dia até às 13.30. E depois das 20 horas, pouco se vê. E o que se vê não é legal, pois se vê andarilhos escravos do crack habitando as abandonadas praças, e alguns pedintes ambulantes que pensam num jeito de arrumar dinheiro pra também se tornarem escravos da pedra maldita.

Comércio aberto fim de semana???? Nem pensar!!! E se for decisão judicial, daremos um jeito de burla-la, afinal o domingo é sagrado pra se afogar na caña e sequer sonhar com um mundo melhor.

É verdade.... caríssimo Doutor. TRISTEZA.

Mas... ainda acredito que outros nomes vão aparecer ou se fazerem notar. Nomes que carreguem consigo os sobrenomes de LIBERDADE, IGUALDADE E HUMANIDADE, e que não sejam meros dizeres esquecidos numa sagrada bandeira que é desfraldada apenas nos 20 de setembro do alto de um cavalo cagão.

E que estes nomes germinem que nem erva daninha braba, e que depois de crescidos todos saibam que na verdade, são belas flores da campanha.

Fraterno abraço
André

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