sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Pequeno Burguês No Inverno da Província!

Recentemente encontrei um velho amigo no Super Mercado. Médico célebre, intelectual com crônicas de sucesso, na minha opinião um dos ícones da cardiologia moderna, meu amigo é a imagem da simpatia em forma de gente.
Falamos do quanto (nós gaúchos) gostamos da "província" e o quanto ela nos aconchega e reconforta. Falamos do frio que de certa forma caracteriza a têmpera do homem do sul e dai eu acho que tive um rompante digno de pequeno burguês metido à besta, pois naturalmente (?!) eu falei que nestes dias de muito frio, me bastava a casa com lareira ascesa e um cálice generoso de cabernet sauvignon.  Nos despedimos, e já no carro, manobrando no estacionamento, eu pensei e eu mesmo me mandei ao raio que me partisse.
Como pode um cara que busca entender a frágil alma humana e que por consequência de seu ofício tenta ser consolador das dores das pessoas, falar que lhe basta uma lareira ascesa e vinho chileno para as noites do inverno provinciano???
Omito o nome do meu amigo por razões óbvias de preservação dele, e imaginei que se ele pensasse que eu me transfornei num babaca fútil, eu mesmo o avalizaria em sua tese.
Guiei até em casa pensando naquilo e martirizando a mim mesmo. Percebi que estava realmente frio pois as pessoas nas paradas de ônibus estavam encasacadas e batiam os pés para espantar a sensação gelada. O ar condicionado do carro me deixava numa situação agradável, mas eu percebi que estava frio.
Não saia da minha cabeça a babaquice burguesa na fila do caixa...
Em casa, o fogo da lareira já estava vivo e da porta do carro até a porta da casa, senti o gelo do agosto riograndense...
Ainda abalado com minha insensibilidade social, manipulando três controles remotos, já sentado no meu sofá predileto, liguei uma tela de tv que ocupa metade de uma parede, e pensei em selecionar entre meus arquivos de vídeo, algum que me resgatasse de meu rompante pequeno burguês. 
Escolhi o vídeo em que traz o Jair Rodrigues, defendendo no festival, a Disparada do Geraldo Vandré.
Ele começa:

"Prepare seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar..."

Pensei que eu não era digno da música do Vandré, pois eu não vinha do sertão e mesmo assim insistia em contar coisas que não agradam. Mas deixei rolar...
   
" Então não pude seguir, valente lugar tenente
De dono de gado e gente,
porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata
mas com gente é diferente..."

Cacete... pensei eu! Me enchi de culpa ao mesmo tempo em que enchia o copo com o cabernet sauvignon chileno. Eu precisava da calma que viria do vinho... e segue a música compassada com os maxilares de um burro...

"Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu, por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe que eu!"

Não sei ao certo, mas acho que lágrimas desoladas começaram a cair sob meu rosto que eu amanhã vou ter de polir com lustra móveis ou oléo de peroba...
Pensei nas pessoas com frio e com fome e me calei com a boca de filé grelhado com sete ervas e arroz selvagem cozido com cogumelos, enquanto o home teather reproduzia em qualidade quadrifônica pelos 6 cantos da sala:

"Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei." 

Pedindo perdão pela ironia, desejo um bom final de semana...
P.S.: Pode nevar no RS neste final de semana. Alguém sabe de algum hotel com vagas na serra?

Fraterno Abraço
André  




       

3 comentários:

  1. ... É MEU AMIGO PSICANALISTA EXISTE AINDA MUITO MAIS COISAS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE PODE SUPOR NOSSA FILOSOFIA...

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  2. Achei de extremo mau gosto este texto...Mas tudo bem, vivemos divergindo mesmo....

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  3. "Se você não concordar
    Não posso me desculpar
    Não canto pra enganar
    Vou pegar minha viola
    Vou deixar você de lado
    Vou cantar noutro lugar..."
    (trecho omitido da música Disparada de Geraldo Vandré)

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