quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O GAUDÉRIO SOCIALISTA CRENTE!

Tudo bem!! Me desculpem pelos dias em que não publiquei. Estou envolvido em projetos de cunho profissional e acadêmico, mas agora, tudo serenado, volto a publicar no mínimo semanalmente.
Então... segue o baile!
Tchê guris e gurias!!!! Acho que essa estrela gigante que descobriram recentemente está afetando a coerência humana. Ou, peremptoriamente, eu sou um retardado que está iludido desde sempre.
Me explico:
Desde criança minha simpatia e afetividade pelas esquerdas libertárias sempre estiveram explícitas. Nos filmes americanos da idolatrada 7ª cavalaria do Custer, eu sempre torcia para que os índios ganhassem, e sempre preferi Cavalo Doido e Touro Sentado ao famigerado general.
Mesmo no comum desejo armamentista de guri (todo menino quer ser soldado), quando me perguntavam o que eu queria ser, respondia: "Soldado e GAITEIRO DA ZONA"(saudades de meu velho pai que me ensinou esse bordão)!
Não podendo ser diferente, na segunda metade da década de 70, ainda adolescente (naquilo que chamavam de segundo grau escolar) , eu já militava a esquerda do Brasil.
Um velho médico de nome Luiz, que tinha um prédio no centro, perto da Praça da Alfândega, cedeu o espaço (que era embaixo da escada, numa sala de máquinas) para que os "subversivos comunistas" se reunissem. 
Lembro que eu era o mais novo e nas reuniões de quinta à noite, vinham os rapazes mais velhos (universitários) para doutrina esquerdista.
O pessoal do exílio estava voltando para o Brasil,  e o clima era de euforia pela aberturinha que a ditadura estava começando a produzir(!? não acredito nisso, pois democracia não é coisa pra qualquer João dar... democracia é desejo e vontade do povo, e só o povo conquista).
E naquelas noites de quinta, debatíamos a teoria de Marx, as teorias revolucionárias do Chê, a revolução francesa e até a constituição dos Estados Unidos. Queríamos viver num país livre e democrático, onde os direitos e as leis fossem para todos, assim como o pão e a cultura.
Lembro que na escola, essa coisa toda era nítidamente verificada. Tinha a turma dos subversivos e a turma dos alienados. Os primeiros eram identificados porque sempre estavam portando livros que haviam sido proibidos ou que eram censurados. Os segundos eram os queridinhos dos padres do colégio, e eram os bambambans nos esportes. 
Tinha um professor de geometria, que era militar aposentado e malvado ao extremo. Era perverso mesmo. Imagina um professor de geometria perverso??? O supra sumo da tortura!!!!!
Eu criei uma alcunha pro dito: Agente do Dops!
Um dia, resolvi irritar o cara. Na saída da sala, quando deveria mostrar ao agente do dops os exercícios feitos, premeditadamente (como um criminoso) tirei um livro antes do caderno e botei na mesa à pretexto de procurar o caderno dentro da pasta. Título do livro: SANDINO - O GENERAL DE HOMENS LIVRES. Era o relato da revolução sandinista. 
O professor ficou vermelho, e eu fiquei com medo. Pensei que o cara fosse me bater. Mas o cara engoliu seco e me deixou em paz ( eu acho que os padres do colégio freavam um pouco as explosões docentes, afinal era colégio pago, etc...).
Mas então, numa daquelas noite de quinta, quando falávamos que o pensamento socialista tinha que ser laico, materialista e etc, eis que surge uma figura que jamais esquecerei. O nome esqueci, mas o jeitão e a estampa jamais.
Era bem mais velho que todos e devia andar pela casa dos trinta anos. Apareceu vestido de bota, bombacha, lenço vermelho no pescoço e um chapéu de abas largas, e trazia consigo o mate pronto e uma garrafa térmica com água quente, e já foi diretamente ao ponto:
- É aqui que se junta o pessoal do MDB que não gosta dos milicos???? 
Gelamos todos. Pensei que a casa tinha caído e que aquilo só podia ser um agente do dops e que iria passar a madrugada no pau de arara da delegacia da  Rua Riachuelo.
O coordenador do grupo, um alemãozinho que fazia engenharia, tremendo, saiu na frente dizendo que éramos um grupo de estudos, e que alí debatiamos a abertura política no Brasil, e etc...
O personagem troveja entre um gole e outro de chimarrão:
- Pois então estou no lugar certo. Sou metalúrgico e dizem que um colega meu de São Paulo é do grupo de vocês, e eu quero participar. E tem mais. Minha mãe hoje, é a luta pela democracia!
Bah!!! Fizemos uma festa pro gaudério!!! 
Passadas  umas horinhas de fervoroso debate ateu/socialista/revolucionário/democrático, o gaudério levanta-se e pede a palavra.
- Olha gurizada... ( e sorveu um longo trago de seu mate) Eu até gostei do assunto de vocês e podem contar comigo se houver peleia. Até vou ler estes livros que me deram. E até me convenci de tudo que vocês falaram. Mas já vou avisando: SE ME PROIBIREM DE IR NA MISSA DA IGREJA SÃO JORGE COMO EU FAÇO TODOS OS DOMINGOS... EU JURO... ASSINO FICHA NA ARENA!!!!!   
Tá André, me pergunta o leitor amigo: Onde está a falta de coerência humana nisso???
Eu respondo meio zonzo por ser um retardado iludido:
Sabem o metalúrgico de São Paulo que o gaudério falou que lhe espelhou na luta pela democracia no final da década de 70?????
É o mesmo que nesta semana, no alto de seu cargo de Presidente da República do Brasil, se disse amigo, irmão e companheiro do sanguinário Ahmadinejad, o terrível tirano ditador do Irã.  
Fraterno abraço
André
       


       

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