Maldita e bendita seja a tal rede social que nos expõe aos maus e nos brinda com o carinho dos bons. Torço para que os maus e na verdade pífios (apesar de eles se acharem absurdamente definitivos) lancem sobre mim todo seu veneno. Sou reconhecido no meu meio e aos 50 anos já atingi praticamente todas as minhas pretensões pessoais e profissionais. Cada vez mais, me importo apenas com meus pacientes e mais recentemente (desde 2008 quando comecei a escrever pras grandes mídias) com meus leitores. O resto??? Me importo somente um pouquinho...risos... afinal, é sempre bom um pouco de adrenalina nesse coraçãozinho que já começa a me dar trabalho.
Quanto ao veneno dos pífios??? Que seja lançado sobre mim.Não me causará dano. Há muito que me vacinei da peçonha dos ofídios, prefiro admirar a beleza de suas cores e a graça de sua sinuosidade.
Dito isso... segue o baile.
Relato mais um caso clínico.
Paciente mulher, 19 anos, encaminhada a mim pelo seu médico Dr..... (pensando bem, vou omitir o nome do médico no sentido de preservá-lo. Afinal, ter confiado sua paciente à mim poderia depor contra seu currículo) com sintomas cujas origens não foram detectadas nem por exames clínicos, laboratoriais ou mesmo pelos exames de diagnóstico por imagens.
O principal sintoma, além da melancolia cotidiana e da incapacidade de relacionar-se, consistia num medo extremo de baratas.
Mas era medo mesmo. Pânico. Pavor. A menina inclusive fazia todas as necessidades fisiológicas na cama por absoluto medo de ir ao banheiro e encontrar uma barata.
Isso era rotina há dois anos. E assim que chegou na minha clínica da Rua dos Andradas.
Várias sessões. Muitos silêncios. De concreto só pude descobrir que os sintomas começaram logo após o falecimento de seu pai. E as baratas. O simples questionamento meu sobre as baratas era motivo dela entrar numa terrível crise de choro com gritos e murros no divã.
Eu estava começando a ficar triste com minha incompetência. Eram três... as vezes quatro sessões semanais e nada vinha a tona... e ela sofria cada vez mais. E eu só tinha a morte do pai... e as malditas baratas... e tinha um sonho... em que uma barata saía de dentro de uma garrafa. Mais baratas!
Até que numa sessão,no silêncio da paciente, resolvi escrever a palavra... e escrevi: BARATA!
E assim os deuses da psicanálise vieram ao meu socorro.
Comecei a conversa:
- Menina Y (obviamente que não vou citar o nome da paciente) tu tens um Iate ancorado no pier do Veleiros do Sul para passeares no fim de semana?
- Claro que não André!!
- Porque não??? Não gostas de iates?
- Adoro iates! Mas não posso ter um! Tu estás doido?
- Porque que não podes ter um Menina Y?
- Porque é CARO ué??? Bebeu??
Peguei no porta canetas de couro uma caneta Bic... e já estava na minha mão, a minha A.G. Spalding & Bros, manufaturada em ébano e ponta de platina, no famoso endereço do número 320 da 7ª Avenida em New York, presente de conclusão de curso que ainda me acompanha.
Falei:
- Menina Y... esta é minha caneta. É uma A.G. Spalding! Custa quase cinco mil dólares! Que achas?
- Bonita.
-Que mais?
- Estranha!
- Que mais?
- Cara né André???? Acho que realmente tu bebeu hoje!!!!
Então peguei a Bic comum e falei:
- Mas essa também escreve né??
- Sim.
- E qual é a diferença entre as duas?
- A tua é cara ué?
- E a outra Menina Y?
- A outra é... a outra é.... BARATA!
Pronto. Choro convulsivo e murros no divã!
Naquela sessão, consegui que ela falasse que tudo começou, quando recebeu a notícia da morte de seu pai numa terra distante. Chorando, deu a notícia à mãe que agressivamente falou:
- Engole esse choro. Não chore por esse vagabundo. Teu pai não valia nada. Até meio acobreado era (qual a cor da barata inseto??) ! E mais... nos abandonou porque deu mais valor para uma garrafa de cachaça BARATA! Engole o Choro!
Depois daquela sessão, ela chorou muito a morte do pai, e a mãe inclusive entendeu e o luto foi finalmente feito.
Melhorou.... e hoje só tem nojo das baratas, assim como todo mundo... risos ...
Fraterno Abraço
André
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