sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O Psicanalista no Tratamento Oncológico/Quimioterápico - Dai à Cesar O Que é de Cesar!

O psicanalista já andava com certa desenvoltura pelos corredores e salas da quimioterapia. Passaram-se três meses desde que pulou no abismo que representa o mundo do câncer. E pulou com a alegria do demente acróbata de Piazzolla. E estava cada vez mais positivamente enlouquecido pelo beijo da morte e da vida. Mas isso era poesia. E uma poesia triste do Piazzolla, mas que ele via igualmente numa ilusão em tecnicolor. E porque a Psicanálise sempre esteve ligada à poesia, por vezes gostava de tentar passar a delicadeza da poesia aos pacientes que sentia as dores do abismo e muitas vezes não sentiam o doce beijo da vida e só sentiam o beijo gelado da morte. 
Mas foi aquele paciente de cinquenta anos que o trouxe do devaneio poético e o ancorou no mundo da matéria ao lado da poltrona que servia de divã. 
E foi assim que começou aquela sessão....
- Não está sendo fácil André! Mesmo com o plano de saúde cobrindo todas as despesas, sempre tem a conta da luz, o aluguel, os filhos no colégio e a geladeira pra ser ocupada. Estou no segundo mês de tratamento que ainda vai levar mais tempo e não consigo trabalhar, pois tu sabes que nos dias de quimioterapia não é possível sequer levantar da cama. E as economias estão se esgotando. E eu sou ainda o provedor de minha família. Estou começando a desesperar também nesse quesito. Que devo fazer?
O psicanalista sentiu que um tijolo estava se formando no seu estômago e buscou inspiração em todas as teorias freudianas e até mesmo na álgebra lacaniana dos significantes e significados passando pelo objeto de desejo. Não encontrou a resposta. Pelo menos não encontrou a palavra de conforto que sentia que precisava ser dita. Apelou para o sentimento de seu próprio desejo. E deseja naquele momento consolar... e tentou:
- Não posso te mentir meu amigo. Não tenho palavras que te façam ter uma esperança no quesito que me expuseste agora. E sinto tua dor. E sou solidário com tua preocupação. 
O Freud, aquele senhor que começou com tudo isso que hoje chamamos de Psicanálise e que é o meu ofício, falou que o psicanalista deve entender e falar todas as linguagens. Então te digo que vou tentar entender a linguagem jurídica e tentar te trazer boas novas. Fique bem... e até amanhã meu amigo. 
E naquele dia o psicanalista dirigiu até sua casa com aquele tijolo já formado completamente dentro de seu estômago. E aquilo o estava perturbando. Precisava de respostas para aquele paciente. 
A aguá com gás gelada ajudou.... e foi bem mais fácil que o psicanalista pensava. 
E naquela noite, logo no primeira "googlada" achou:
OS DIREITOS SOCIAIS DA PESSOA COM CÂNCER!
São alguns os direitos sociais que o paciente com câncer tem. No caso em questão, o portador de câncer tem direito ao benefício de auxílio-doença do INSS, independente de estar ou não fazendo contribuições. O INSS não exige carência para conceder o auxílio doença para os pacientes de câncer. Basta ligar para o número 135 e marcar a perícia e levar os laudos e documentos necessários. 
O Psicanalista não esperou o outro dia pra dar a notícia ao paciente sem esperanças. Na mesma hora telefonou e recomendou.... e no outro dia o paciente já estava com a perícia agendada e em breve estará um pouco mais tranquilo na questão que o atormentava. 
Naquela noite o psicanalista sentiu que o cabernet sauvignon de sempre estava muito mais aromático e prazeroso. Sorriu... e pensou na frase do velho professor:
"PROCURE UM ADVOGADO POIS VOCÊ TEM DIREITOS! PROCURE UM PSICANALISTA POIS VOCÊ TEM AVESSOS!" 
Ao leitor amigo que me brinda com a leitura dessa crônica peço que informe isso à todos de suas relações que estão numa situação parecida. 

Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista


  
    

sábado, 10 de outubro de 2015

O Psicanalista no Tratamento Oncológico/Quimioterápico - Outubro Rosa!

Outubro. Estamos nele. Mês de combate ao câncer de mama. Vou falar de câncer.
Tenho uma reflexão. Peço calma ao amigo leitor. Pode ser meio chato. Mas é importante... creia!
A ciência nos oferece dados muito interessantes que me fazem refletir. 
O universo nasceu a mais ou menos 13,82 bilhões de anos. A Terra, nosso planeta azulzinho que tanto emporcalhamos, tem 4,56 bilhões de anos. Veja bem: 4,56 BILHÕES de anos.
Se levarmos em conta esse número, é correto afirmar que até bem pouco tempo atrás, coisa de 13 milhões de anos, o planeta era habitado apenas por seres microscópicos que viviam ou solitários ou em colônias segundo a biologia. Basicamente (pra não encher muito o saco) só viviam células por aqui....
Depois vieram os peixes. Dai começou a complicar. Mas nem tanto. Me explico. 
Alguém já viu peixe transando? Não. Porque peixem não tem relação sexual. Não como nós humanos entendemos a relação sexual. A fêmea do peixe vai lá no fundo da água, e deposita os ovos. O macho, passa por cima dos ovos e lança à distância seu sêmen que com sorte vão cair em cima dos ovos e pronto. Virão os bebês peixes. 
Depois dos peixes vieram os anfíbios.... e depois os répteis. Dai ferrou geral. Me explico.
Somente com os répteis é que iniciou-se a relação sexual tal qual conhecemos hoje com intercurso carnal (que coisa triste chamar uma boa transa de intercurso carnal). Ou seja, os répteis inventaram aquela coisa que tanto gostamos e que geralmente é antecedida por um belo cabernet sauvignon e termina em assaltos à geladeira. Então penses bem quando cruzares com uma cobra e sentires uma vontade imbecil de matá-la. Foram os tatatatataravós dela que inventaram essa coisa que habita teu ser desejoso desde o tempo que tu nem te lembras. 
O Homem (sapiens sapiens) tem sua origem estimada em mais ou menos 2 milhões de anos. Ou seja, o ser mais inexperiente do planeta. Daí a Terra começou a tremer. Mas nem tanto. Me explico.
Até surgir a dita civilização há mais ou menos 12 mil anos (praticamente ontem isso...) o Homem vivia tranquilo e não muito diferente dos mais antigos seres vivos do planeta. Ops... dos mais antigos não... não vivia muito diferente dos répteis. Ou seja... comia, bebia, dormia e fazia sexo. 
Dai surgiu a civilização. Notem há meros 12 mil anos. Ou seja, nada. Dai ferrou mesmo. Peremptoriamente. Inexoravelmente destinada ao fim. Isso é certo. Me explico.
Somente a civilização, nesses 4,56 bilhões de anos da Terra, num curtíssimo espaço de tempo criou o tabu e o preconceito. Ou seja.... em apenas 1 segundo, NÓS estragamos tudo!
E onde entra o câncer nisso???
Entra lá no começo! O câncer é uma das mais antigas formas biológicas do planeta. Ou seja, o câncer está na Terra desde o começo. Afinal, penso eu que o câncer fazia parte daqueles micro-organismos que habitavam a tal "sopa nutritiva"!
Observe que :

 As células que constituem os animais são formadas por três partes: a membrana celular, que é a parte mais externa; o citoplasma (o corpo da célula); e o núcleo, que contêm os cromossomas, que, por sua vez, são compostos de genes. Os genes são arquivos que guardam e fornecem instruções para a organização das estruturas, formas e atividades das células no organismo. Toda a informação genética encontra-se inscrita nos genes, numa "memória química" - o ácido desoxirribonucleico (DNA). É através do DNA que os cromossomas passam as informações para o funcionamento da célula.
Uma célula normal pode sofrer alterações no DNA dos genes. É o que chamamos mutação genética. As células cujo material genético foi alterado passam a receber instruções erradas para as suas atividades. As alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados protooncogenes, que a princípio são inativos em células normais. Quando ativados, os protooncogenes transformam-se em oncogenes, responsáveis pela malignização (cancerização) das células normais. Essas células diferentes são denominadas cancerosas.  

Claro que a civilização nos trouxe a medicina. A tecnologia. A cultura. E a cura do câncer. 
Sabes porque falei sobre tudo isso pra falar do câncer, meu caro e paciencioso leitor?
Porque a natureza e sua evolução criou todas as formas biológicas do planeta. Inclusive o câncer. Inclusive eu e tu. 
Nós criamos o TABU e o PRECONCEITO! E a burrice. Porque tabu e preconceito levam à desinformação. 
É claro que tu sabes que as duas coisas que mais sofrem as consequências do preconceito são exatamente o câncer e o sexo. E elas (câncer e sexo)  existem muito antes de nós.
Nós criamos a cura do câncer! A oncologia está operando essa cura. 
Mas... nós alimentamos o câncer com o tabu e o preconceito!
O câncer de ovário mata em 3 meses. Mas com o tratamento iniciado ele é curado antes do óbito. Para o tratamento começar é preciso informação. Com tabu e preconceito não existe informação. 
A maior arma contra o câncer é a informação!
Entendeste minha reflexão???? 
Principalmente tu que viste alguém de fitinha cor de rosa no peito e pensaste com teus botões civilizados: 
" Mais um veado na cidade!!!!"

Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista   

            

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O Psicanalista no Tratamento Oncológico/Quimioterápico - A Reunião!

O psicanalista experimentava sempre um pouco de ansiedade sempre que tinha alguma reunião marcada com o oncologista. Porque ele era O oncologista.Super doutor e professor da matéria, reconhecido nos mais altos círculos médicos do planeta. Mas já eram conhecidos há muitos anos e se tornaram amigos. 
O médico com um sorriso acolhedor saúda e recepciona o psicanalista como fazem os patrícios das terras meridionais do Brasil:
- E daí Tchê!!! Como andam as coisas?
O psicanalista já sem ansiedade e sentindo-se acolhido pela simpatia contagiante do médico, respondeu aos costumes:
- Buenas Tchê. Eis o relato e vou tentar ser objetivo. Sei que és cidadão do mundo e hoje Viena, amanhã Boston, depois de amanha Londres, etc e temos falado mais pelo whatsapp do que pessoalmente. Então vamos lá:
Nesses três meses acompanhando os pacientes oncológicos, observei algumas coisas e tenho tentado trabalhar nelas. 
Veja que o paciente sofre de cara quatro traumas no mínimo:
1) Na HD (hipótese diagnóstica) já na primeira consulta. Ali é dado o primeiro soco na boca;
2) Na cirurgia de retirada do material pra biopsia. Ali é dado o primeiro chute na boca do estômago;
3) No resultado da biopsia (normalmente 10 dias depois). Ali é um soco e um chute e nem se escolhe onde bater;
4) No início do tratamento. Quando senta naquela cadeira da sala da quimioterapia e escuta a palestra inicial da enfermeira encarregada, se estabelece o início de todos os efeitos colaterais do medicamento. Ali, é uma pauleira digna de Anderson Silva em tempos áureos. 
Me inseri, caro doutor, nessa fase do tratamento. Acompanhei os pacientes nas horas da quimioterapia. Descobri que o momento é de extrema solidão. E descobri que o discurso psicanalítico ajuda.
O inconsciente se estrutura em linguagem tanto pra se expressar como para receber informação. E quando o paciente houve todas as informações farmacológicas e dos efeitos colaterais já se estabelece  inexoravelmente um estado depressivo recorrente independente da depressão física que também inexoravelmente o remédio vai causar.
Acho que ali naquela sala, com o remédio entrando e curando, é o lugar de um psicanalista!  
O Super médico concorda. 
O psicanalista enfatiza que em alguns centros quimioterápicos a figura do psicanalista é substituída por um religioso. 
O médico finaliza:
- Continue teu trabalho! Vamos ver os resultados! E te cuida!
O psicanalista deseja bom trabalho  e enfatiza:
- Meu cardiologista duplicou os remédios da pressão. E pela manhã estou tomando bupropiona. E as vezes... a noite um clonazepam...(brincadeirinha...mas aumentei minhas sessões com  minha psicanalista)....

Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista