quarta-feira, 24 de março de 2010

O Grande Útero do Rio Grande do Sul!

Nesta semana, comemoramos o aniversário de Porto Alegre. Com saudade, passei a semana escutando Kleiton e Kledir e Isabella Fogaça...
Dia 26 de março, além do aniversário da capital dos gaúchos, é pessoalmente uma data de absoluta importância para mim, e como é pessoal, as explicações ficam para a próxima vez...
Reproduzo hoje, uma coluna que escrevi em 2008, e que foi publicada como um projeto piloto que eu mesmo abortei  por amar demais a cidade. Me senti incapaz de fazer uma análise cotidiana, pois neurótica e provincianamente, acredito que Porto Alegre é o melhor de todos os lugares...
Enfim...
" A saudade é demais... é lá que eu vivo em paz!"
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Porto Alegre No Divã (1)

Quando te vi ali, na entrada do consultório, sentadinha, cabeça baixa e olhos fixados no jornal de ontem, tremi ao pensar no que podias querer.

Tenho estado contigo nos últimos 40 anos, e jamais me passou pela cabeça que precisasses de meus ouvidos de psicanalista lacaniano.

Um rastro de luz me transportou num "flashback" delirante para o início de nosso amor, onde eu, ainda no colo do avô, velho portoalegrense, criei aquela que seria a primeira lembrança que levarei até o último pensamento consciente.

Era um final de tarde qualquer perdido num inverno dos meados da década de 60. Lembro com nitidez branquíssima, das luzes amarelas da Borges, por onde passava o nosso transporte - talvez um dos últimos bondes elétricos.

Lembro do gosto do diamante negro e da mancha que ele produziu na camisa volta ao mundo branca de meu avô.

Passei a te amar naquele dia, e acho que ali decidi que serias minha, uma vez que tu ali me encantaste.

Na infância, pouco te vi. Mas te amando ao longe, sabia meu inconsciente, que viveríamos juntos, meus sonhos, meus pesadelos e um pouco da tua e tudo da minha futura história.

Adolescente, te fiz minha enfim, e acho que sequer percebeste que eu te invadia com todo meu desejo recalcado e juvenil...

Me sinto ainda percorrendo teu centro, como se teu útero fosse. Eu entre milhões buscando o caminho de tua fecundação? ( Ainda hoje caminhando na Andradas gosto de fantasiar com isso...)

Naquele tempo, tudo me era esperança e fé. Lembro de me benzer ao passar na catedral da praça da matriz, pedindo bênçãos antes de chegar no Água na Boca da praça Conde.

E tinha a feirinha da Ladeira, com os hippies que faziam bolsas, cintos e chinelos que deixavam expostos nas vitrines de concreto, e pintavam à mão camisetas com o rosto do Che que deixavam ocultas dentro de sacolas, que naquele tempo, mesmo que moribunda, a “Dita” ainda era dura...

Nos 80, deu pra ti (no bom sentido!)... Lembro da fila do táxi na frente da OSPA, saindo da Papagayus, indo pra velha New Looking e seus ambientes.. ali... passando a Ipiranga.

E tinha teu cotidiano arrabalero, que mesmo sendo metropolitano vestia-se de interior nos domingos do Cristal, do Partenon, da Zona Norte, onde nos churrascos de passeio público, riam Maria que trabalhava na loja do centro, o Carlos mecânico da Azenha, o Paulinho do SulBrasileiro, etc, todos esperançosos mas com saudades de suas cidades de origem.

Mas.... espera ai! Isso tudo é até que bem recente! Não vejo razão pra demandas melancólicas.

Ainda temos o pôr do Sol (e o gasômetro está mais bonito!), temos os domingos da redenção, ainda temos GRENAL, e temos.... Ah! Um monte de coisas TRI ainda...

Ta certo... tens razão! Tem uma neurose te afetando.

Há poucos dias, vi meu filho, somando-se a muitos de teus filhos, naquele mesmo centro que eu fantasiei de útero materno, sangrado por uma faca impulsionada pela miséria e pelo crak por não querer voltar pra casa sem os Nike e o telefone (mas não exagera!! o atendimento no HPS foi rápido e o guri ficou bem).

Tens razão.... novamente! Minha mulher, como todas as tuas filhas, não pode mais olhar as vitrines da Rua da Praia tranqüila ( é... mas tens o Praia de Belas, Iguatemi, e os outros, e logo logo também o Barra Shoping ali do Cristal, acho que estás exagerando e se queixando de barriga cheia...).

Era só o que faltava! Estás te queixando porque o arrabalde mudou????É claro... isso é fruto de teu crescimento, é uma tendência mundial desde a revolução industrial. Ah??? Não é isso???

Mais uma vez tens razão...

As Marias, Carlos, e todos os outros não habitam mais os domingos festivos e milongueiros... O arrabalde é território... território da boca, do patrão, do gerente da boca, do aviãozinho, do mula, do tecasso e do menino morto esperando o DML e com sorte, uma lágrima da mãe.

Tentei evitar te aceitar como paciente. Acho que meu amor por ti desencadeou um impedimento inconsciente de te analisar...

Mas me entrego!

Vem cá ...ocupa meu divã freudiano. Me fala de tuas dores, de tuas faltas, de teus sonhos. Fica bem à vontade Porto Alegre! Vamos conversar um pouquinho????

09 de setembro 2008.

terça-feira, 16 de março de 2010

Me Caiu os Butiás do Bolso!

Confesso que estou assustado. Penso em parar com a rotina de ler os jornais, e dar um tempo numa doce alienação que me faça pensar somente nas maravilhas do verão que está acabando. Aliás, acho que o inverno será rigoroso aqui no Sul do sul do Brasil...
Notaram que escrevi Sul (com maiúscula) do sul (minúscula) do Brasil??? Acho que é uma manifestação inconsciente (?) de gaúcho que se vê diferenciado ante aos naturais de outros países... Ops!!! Quis dizer estados...risos (vou deixar isso como uma brincadeirinha e provocação aos críticos... mas é BRINCADEIRINHA).
Mas... vamos aos fatos que me fizeram dizer estar assustado:
Leio na Folha de São Paulo de ontem (15/03/2010) no caderno Cotidiano, página C1:
" Cadu estava afastado há cerca de 8 meses da igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista Glauco e baseada nos princípios do Santo Daime, quando disse eu seu amigo que precisava ir a um lugar para esclarecer que era Jesus Cristo reencarnado. Chegando ná chácara que Glauco morava, apontando uma pistola, tornou o cartunista e toda a sua família em reféns.... 
....Cadu dispara várias vezes, acertando Raoni (filho de Glauco) e o cartunista, cada um com quatro tiros.
A igreja fundada por Glauco, se baseia em princípios do Danto Daime, uma bebida alucinógena feita com plantas da Amazônia."
Prossegue a reportagem da Folha:
" Paoletti (um dos advogados de um dos suspeitos) não nega nem confirma que seu cliente seja usuário de drogas apenas diz que: " No meu tempo, bebia-se. Hoje, fuma-se maconha. Não me parece que ele pratique nada que exceda a conduta normal de um jovem hoje."
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Então... pego a Zero Hora... Hoje 16/03/2010... página 24/
" Nova Febre. A pulseira que tira o sono dos professores. 
Depois de causar controvérsia na Inglaterra, onde surgiu, e de se espalhar pelo Brasil, onde virou mania, uma brincadeira envolvendo sexo,  adolescentes e pulseiras coloridas invadiu as salas de aula do Rio Grande do Sul. 
Conhecido como Snap, o jogo chegou a ser proibido em Santa Catarina e agora preocupa pais e educadores gaúchos - embora muitos estudantes usem os adereços por modismo, sem saber o significado.
A brincadeira foi difundida na web por jovens ingleses. Segundo as regras, cada tira representa um ato afetivo, conforme a cor. Os atos vão de um singelo abraço até relações sexuais completas. O adolescente que tiver o adereço rompido pelo pretendente terá de cumprir o que determina a cor."

Não me contive e fui à campo pesquisar. Entrevistei informalmente um guri de 15 anos sobre a tal "moda", e como ele mesmo diria - "Me caiu os butiás do bolso!!!"
Diz o guri:
" É o seguinte: cada pulseira significa uma coisa conforme a cor, por exemplo: a branca é um beijo de língua, a rosa é um boquete, a amarela é um arreto até o fim (sic), e assim por diante. Ninguém pede abraço. O mínimo é um beijo de língua. E tem a vermelha... A vermelha é uma descabaçada!!"
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Senhor diretores de assinaturas dos jornais Folha de São Paulo e Zero Hora... por favor cancelem minhas assinaturas.... 

Fraterno abraço
André   
      
       

quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma Batalha para Combater o Bom Combate!

O guerreiro se aproxima do campo de batalha pensativo e munido de todas as suas armas. O caminho é silencioso e pelo seu pensamento milhares de coisas vão passando como se estivesse recapitulando cada momento de sua existência.
Em breve chegaria ao local da batalha, onde certamente seu adversário já estava. Na verdade sabia que o adversário conhecia bem o terreno, afinal era nativo dali. Ali estava desde o seu nascimento e conhecia cada acidente geográfico, cada curva e cada detalhe enfim.
A calmaria que antecede o combate é algo que tranquiliza e excita.
Na verdade não sabe muito sobre o seu adversário naquela que promete ser uma batalha de vida e morte. Sabe que está sozinho, mas nada sabe de seu adversário. Será apenas um??? Serão dezenas?? Centenas?? De qualquer forma, o guerreiro sente-se preparado. Uma batalha de vida e morte.
Programou-se durante meses para aquele momento. Ná véspera, reuniu suas armas, lubrificou-as e testou-as. Preparou-se física e espiritualmente.
Chegando no front, depara-se com a mansidão da natureza e escolhe criteriosamente sua trincheira. 
Uma larga margem coberta de vegetação e terra úmida, e uma vasta quantidade de água calma limitam os dois espaços do campo de batalha.
O guerreiro atento e em silêncio prepara-se para o confronto.
Uma fina linha verde fosfuorescente separa o guerreiro de seu adversário. A linha é tecnologicamente testada. De procedência japonesa, foi elaborada para começar a vibrar assim que o combate se inicia-se.
Silêncio no front... a linha verde permanece imóvel... o guerreiro aguarda quase em transe. Medita em plano nirvânico...
Naqueles momentos que antecedem o combate pensa nas outras questões de sua vida. Será que todos os outros conflitos foram assim como este? Neste, sabe-se, combaterá o bom combate. Existe um respeito mútuo entre os antagônicos. Será que sempre foi assim? 
A noite cai, e somente a linha verde brilha sob as águas separando os guerreiros...
O momento seria de oração se o guerreiro não fosse ateu. Os animais da mata proferem uma sinfonia selvagem por vezes assustadora, por vezes mágica e iluminada.
A linha verde começa a tremer sutilmente. O guerreiro prepara-se, pois sabe que em breve começará a luta. Aguarda imóvel.... 
A linha verde treme frenéticamente. O guerreiro salta de seu abrigo, e de arma em punho começa a guerra. Destrava sua Cougart fabricada em fibra de carbono, libera o gatilho e parte para o ataque.
Passam-se dois.. três minutos naquele combate de guerreiros...Quem vencerá??
Perto da margem, por força do combate, ambos se encaram num duelo mortal. Olho no olho. Em breve vida ou morte...
Eis que então....
O peixe esperto livra-se do anzol levando consigo a isca...a linha se solta deixando o pescador rindo de si mesmo, feliz pela aventura, e maldizendo desportivamente a traíra que nada livre pelos aguapés...
Como é doce a aventura de poder pescar...risos

Fraterno abraço
André