quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Jacques Lacan e a Teoria do Sujeito!

Concordo! A obra de Lacan é erudita, difícil de compreender, obscura em suas formulações, com linguagem alusiva, cheia de jogos de palavras, gongorismo estilístico, pedantismo intelectual, desprezo a toda formulação próxima da sua, exceto algumas exceções momentâneas. É tudo isso ao mesmo tempo e em graus diferentes, segundo o texto que considerarmos. Quem lê, se encontra diante de um verdadeiro desafio para compreender e assimilar os enfoques lacanianos.
Contudo, identificado que sou como psicanalista lacaniano, sempre que escrevo sobre teorias psicanalíticas, e penso que uma das funções do psicanalista é também difundir e informar sua base formadora. Portanto, penso que  ainda precisamos conversar muito sobre Jacques Lacan.
Viveu de 1901 a 1984 e formulou uma teoria profunda e complexa que, sob a égide do retorno a Freud ( Lacan dizia: Quem quiser que seja lacaniano. Eu, sempre fui e sempre serei freudiano), redefiniu, sob a perspectiva do estruturalismo e da linguística, todas as categorias psicanalíticas conhecidas, ao mesmo tempo que criou outras.
Lacan, é um dos grandes pós- freudianos. Procedeu a uma reformulação das próprias bases da teoria, da metapsicologia e da clínica.
Em princípio, a modificação conceptual proposta por Lacan deve ser entendida no contexto criado pela influência estruturalista na França, principalmente com a linguística de Saussure e com a antropologia de Lévi-Strauss.
Nos textos que aqui publico, não procuro dar uma visão completa das ideias de Lacan, mas procuro descrever os vetores principais em que sua teoria se desenvolve.
Para isso, começo destacando que estamos em presença de um discurso resultante de uma interação entre dois enfoques diferentes: O filosófico e o psicanalítico. Neste sentido, Lacan é completamente original. Devemos recordar que, na França, diferentemente do resto do mundo, é comum que os psicanalistas também tenham formação filosófica e médica. Lacan escreve em termos psicanalíticos, filosóficos, antropológicos e linguísticos; sua reflexão sobre o sujeito, quiçá uma das temáticas principais, orienta-se em todas estas direções. É oportuno recordar que Freud contribui em problemas vinculados à cultura, de uma forma um tanto colateral. Apesar disso, esses estudos tiveram grandes implicações.
Mesmo que a discussão de problemas filosóficos e antropológicos interesse a um grande número de psicanalistas, não constituem temas que tenham preocupado, centralmente, a totalidade do movimento psicanalítico. O psicanalista de formação tradicional, que em geral provém da medicina e da psiquiatria, tem, portanto, uma dificuldade inicial para se confrontar com a obra de Lacan. O tipo de linguagem que emprega o surpreende, propõe-lhe obstáculos e até pode lhe causar desagrado.
Freud usou, para suas teorias, modelos biológicos como o do neurônio e o da evolução de Darwin. Lacan, por seu turno, valeu-se da linguística de Saussure, da antropologia de Lévi-Strauss e da dialética de Hegel (relação com o semelhante, dialético do desejo e do olhar).
Todavia, a linguística, em Lacan, é muito mais do que um modelo aplicado à resolução de certos problemas ou à exemplificação de uma ideia. Está incorporada de maneira constitutiva à teoria lacaniana. O inconsciente se estrutura como linguagem e existe porque há linguagem ou convenção significante, como Lacan gosta de chamá-la, em um sentido muito amplo. O desejo do ser humano desliza, incessantemente, de um objeto para outro, seguindo o caminho que a linguagem lhe indica, com sua organização de deslocamento  sintagmático ou metonímico. A reformulação que Lacan obtém, ao introduzir a linguística na psicanálise como elemento fundamental, é muito radical; a linguagem determina o sentido, engendrando as estruturas da mente.

Fraterno abraço
André

         


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