quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Narcisismo. O Papel do outro na Constituição do Sujeito!

O Estágio do Espelho na formação da função do sujeito começou a ser abardado por Lacan no Congresso Psicanalítico Internacional em 1936 (onde não foi muito aceito) e foi se converter em clássico em 1949 quando assumiu sua versão definitiva. Foi incluído nos "Ecrits" de 1966 com o título original de "Le stade du mirroir comme formateur de la fonction du Je telle qu´elle nous est revélée dans l´expérience psychanalytique".
Lacan parte de um fato observado na psicologia comparada: o bebê, ao redor dos seis meses, reage jubilosamente diante da percepção de sua própria imagem refletida no espelho. Esta reação contrasta com a indiferença que outros mamíferos demonstram ante seu reflexo especular.
A que se deve esta resposta? Que consequências tem no desenvolvimento psíquico do ser humano? Em torno destas perguntas, Lacan desenvolve uma teoria sobre o narcisismo e a identificação primordial.
Na minha opinião, este tema constitui uma das contribuições mais destacadas da teoria lacaniana, pois encara o estudo do fenômeno narcisista de uma perspectiva original. Em sua formulação se conjugam, de maneira ajustada, fatos de observação clínica, conceptualizações de nível teórico e de um modo muito profundo de entender as relações do homem, não somente com a mãe, mas também com o contexto cultural em que vive.
Lacan ensina que o ser humano tem uma representação fantasmática do corpo, na qual este aparece fragmentado. A imago de seu esquema corporal fragmentado continua a se expressar durante a vida adulta nos sonhos, delírios e processos alucinatórios. Concebe seu corpo como quebrado ou sujeito a se partir em pedaços. Sinal de imaturidade? De prematuridade? resultado das vivências relacionadas à incoordenação motora, própria dos primeiros meses de vida?Imago arcaica compartilhada por todos os homens, em todas as culturas? Mito? Lacan recorre a todas estas explicações, em diferentes momentos, para explicar um fato de inquestionável verificação clínica.
A imagem de seu próprio corpo, refletida no espelho, surpreende o lactente, pois se vê esculpido em uma gestalt que nada mais é do que uma imagem antecipatória da coordenação e integridade que não possui naquele momento.
Nesta identificação com uma imago que não é mais do que a promessa daquilo que virá a ser, há uma falácia: o sujeito se identifica com algo que não é. Na verdade, acredita ser o que o espelho ou, digo logo, o olhar da mãe lhe reflete. Identifica-se com um fantasma; usando o termo lacaniano, com um imaginário. Desde muito cedo, o homem fica preso a uma ilusão, da qual procurará se aproximar pelo resto de sua vida. Ser um herói, ser Super Man ou o Spider Man, ser um gênio, não são mais do que versões do processo imaginário. Portanto, vemos que o estágio do espelho não é apenas um momento do desenvolvimento do ser humano. É uma estrutura, um modelo de vínculo que operará durante toda a vida. No seio da teoria lacaniana, é conceptualizado como um dos três registros que definem o sujeito: O registro imaginário.
Fraterno Abraço!
André

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