quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Dando Pérolas à Porcos!

Bem... pra todos aqueles que falam que eu sou propagador da cultura alienígena, escrevo o texto de hoje.
Acho que a mais pura manifestação cultural, está no Rio grande do Sul.
Freud disse que se quisessemos conhecer o Homem, deveríamos conhecer o Mito! O mito é a origem da informação que nos leva a entender a evolução e todo o processo cultural.
Através de um amigo, conheci a poesia de Mauro Moraes. Esse amigo, milongueiro, roqueiro, e umgrande parceiro, é Bebeto Alves, nos últimos anos conhecido como o pai da Mel Lisboa ( sacagem Bebeto...risos).
Ouvi o Bebeto cantando a poesia do Mauro, e cheguei a conclusão que era uma das mais belas manifestações poéticas em todos os idiomas...
Estou vivendo a letra dessa música...
Fraterno Abraço!

FULANOS E SICRANOS
Mauro Moraes

Pensei que fosse um galope, um sonho de-à-trote,
acariciando de toda esta milonga sem rima,
que enrudilhada nas clinas, rejeita tudo que sobra...
Podia ser de-à-cavalo, este entono de galo,
este manejo de freio, este olhar de posseiro,
que amadrinhado nos tentos, estima o suor que lhe sobra.
Pensei que fossemos cúmplices, múltiplos, meigos,
mansos, soltos, vagos, cabeça de gado,
potro e rodeio, na leva dos arremates...
Pensei que fossemos caça, várzea, rio cheio,
campo, quebranto, blanco, chimango,
peão e chibeiro, no aparte do buenas-tarde.
Ai! milonga... milonga "buena".
Podia haver mais um catre, uma rodada de mate,
uma noitada, um afeto, um bem-me-que descoberto,
uma qualquer novidade, alheia a nossa vontade...
Podia haver mais que terra, pouca miséria,
junta, carreta, soga e soiteira,
canga e arado,benfeitoria e machado.
Pensei que fossemos fruto, suco, bagaço,
lenha, coivara, verde, queimada,
na alienação das porteiras do mata-burro a estrada!
Pensei que fossemos bando, nômades, músicos,
mouros e manos, fulanos, sicranos,
sábios paisanos, no despertar da manada!
Ai! milonga.... milonga "buena".
Talvez me faça costado outra milonga ou gateado,
outra figueira, outra sombra, outra paixão sem delongas,
outra carícia antiga, mimosa como a saudade!
Talvez nem seja preciso usar o mesmo alarido,
do quero-quero teatino, do boi-tá-tá de mangueira,
pra afugentar as ovelhas arrebanhadas pro gasto!
Preciso acostumar meu dom, aperfeiçoar a voz,
fortalecer o rebanho...
ah! que tolice a minha,
fazendo minha vidinha, ensimesmado de abraços!
Preciso amamentar a fome toda dos guachos,
regar a sede dos pastos, dar "pérolas aos porcos",
fazer tudo que gosto, pra dar porfia ao pasto!
Ai!milonga.... milonga "buena".

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