quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Eu Quero!

Apagando as luzes do 2013...
Agradeço à todos os que me leram e de alguma forma interagiram comigo no decorrer do ano.
Em 2014 :
Eu quero paz e quero luta por dias melhores;
Eu quero saúde e quero que todos pensem que na doença ou na dor, é que se separam os homens dos meninos;
Eu quero dinheiro e quero que o meu seja uma energia positiva propulsora de felicidade e quero que meus olhos não se fechem pra miséria que não é apenas falta de dinheiro;
Eu quero muitos livros e quero também que boas leituras habitem os tablets, celulares e todas as modernas tecnologias;
Eu quero amor e quero também as paixões que habitam a alma humana porque são elas que movem o mundo;
Eu quero crer na vida e quero entender cada vez mais a morte;
Eu quero ter fé nas pessoas e no bem e quero que os vendilhões do templo se enforquem com as tripas dos tiranos como o Nietzsche desejou;
Eu quero ver a seleção em campo na copa e quero que os  times de médicos, psicanalistas, pedreiros, escritores, e de todos que constroem ganhem de goleada; 
Eu quero a realidade e quero que a minha me venha cada vez mais doce e fácil de engolir;
Eu quero que todos meus amigos tenham felicidade e segurança no ano que vai nascer. A minha felicidade e segurança, será revê-los em 2014 felizes e seguros!

Fraterno Abraço!!!
André


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Música Para Meus Ouvidos!

Pensei:
Não são somente as canções do Chico (Buarque) que me emocionam à ponto de ser catártico o ação de ouvir música.
Muitas outras coisas são músicas para meus ouvidos. E eles precisam muito de música.
Já que estamos nessa época de festas, lembro que o Contardo um dia me disse (e depois escreveu em em de seus livros), que o Psicanalista não recebe garrafas de vinho nas vésperas de natal como acontece com médicos, advogados e outros profissionais que de alguma forma contribuem para o desenvolvimento positivo da vida das pessoas.
O máximo que um Psicanalista deve desejar, é que ele seja comparado por seu paciente, como o vidrinho de remédio que o doente guarda no armário do banheiro. Depois de passada a dor, o paciente deixa o vidrinho ali, prevenindo uma provável recaída e se ela não vier, o destino do tal vidrinho deve ser o lixo.
Depois desses anos todos, quando um paciente meu me diz: 
"André... não preciso mais voltar... estou bem e posso viver minha vida!"
Bah... como fico feliz...
Isso significa que concluímos a reconstrução da parede que estava defeituosa e com vazamentos e o pedreiro aqui cumpriu sua empreitada. Com sorte, nunca mais nos veremos.
Isso é música para meus ouvidos.
Penso que nessa época, as aves estão em fase de reprodução de suas espécies. É lindo o canto dos pássaros machos prenunciando a vida que vem logo em seguida. Especialistas dizem que as fêmeas dos pássaros não cantam... mas eu (meio subversivo sempre) prefiro fantasiar que elas cantam sim e o canto dos pássaros nessa época do ano também são música para meus ouvidos.
E no verão... na beira do mar???  As mulheres lindas (e todas as mulheres são lindas na beira do mar... e longe do mar também..risos) passando o bronzeador nos maridos, filhos, netos e nelas mesmas??? Aquele "slep...slep...slep..." é música para meus ouvidos, pois é um som de festa, que misturado com a música que vem das ondas da deusa das águas, também é a música da vida.
E eu orgulhosamente gaúcho (provinciano?? risos) adoro aquele som que a gordura da picanha produz quando cai na brasa do carvão na churrasqueira domingueira... aquele "shhhhhhhhh" também é som de festa, e é igualmente música para meus ouvidos.
E tem o mais belo dos sons. A mais belas música que meus ouvidos que precisam ouvem.
Nesses tempos modernos, já não escuto mais com a mesma intensidade que gostaria, mas ainda escuto de vez em quando...
Sabem quando eu escuto ele???
Quando preocupado, pergunto para qualquer pessoa de minhas relações: 
"Está tudo bem?"
Quando o perguntado responde com um sorriso franco:
"Simmmm! Está tudo bem!!!!
Isso é música para meus ouvidos!
Fraterno Abraço
André
   
    

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Medo que eu tenho!

Eu nunca tive medo do escuro... e sempre tive medo da escuridão da cegueira. E não da cegueira dos olhos, mas da cegueira da alma que além dos olhos, escurece todos os sentidos...
Eu nunca tive medo do bicho papão... e sempre tive medo de ser devorado pelos demônios que eu mesmo criei... e os que os outros criaram também...
Eu nunca tive do câncer... e sempre tive medo do preconceito que corrói os princípios da humanidade, da fraternidade e da igualdade....
Eu nuca tive medo dos homens.... e sempre (e cada vez mais)  tive medo do produto nefasto produzido pelos equivocados instintos humanos...
Eu nunca tive medo da traição... e sempre tive medo de que minhas fraquezas e desatinos, ou mesmo minha incompetência de expressão, me dessa a pecha de traidor....
Eu nunca tive medo de fracassar... e sempre tive medo de que a covardia me transformasse num repolho que depois de colhido, apodrece na prateleira sem ser aproveitado...
Eu nunca tive medo de ir pro inverno... e sempre tive medo de que eu, por minhas ações, me transformasse no inverno de alguém...
Eu nunca tive medo da mentira... e sempre tive medo que a verdade que eu diga seja tão desprezível a ponto de ser preterida pela inverdade de alguém...
Eu nunca tive medo do ódio... e sempre tive medo de que meu amor pudesse ser odiado e se transformasse em grilhões diabólicos...
Eu nunca tive medo da dor... e sempre tive medo de que minha dor me incapacitasse os sentidos e me transformasse num lírio que depois de colhido, enfeita túmulos por mais um ou dois dias...
Eu nunca tive medo da morte... e sempre (e cada vez mais) tenho medo de que depois de morto, o fato que mais signifique na minha vida, seja o fato de deu ter morrido e que morto, eu me transforme em vil matéria inerte, que por inerte, nada signifique...
Então... valei-me São Oswaldo Montenegro: "Que a força do medo que eu tenho não me impeça de ver o que anseio..."

Fraterno Abraço
André
   
    

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sempre Contardo!

Se algum dia eu tivesse que apontar os responsáveis ou "culpados" pelo fato de eu ser quem sou, certamente o Psicanalista Contardo Calligaris encabeçaria um rol de uma meia dúzia de três ou quatro...(risos)
Pois eis que o Contardo está hoje na minha cidade e por convergências pessoais e profissionais não estarei lá para pedir a bênção do mestre e prestigiar o lançamento de seu livro Todos os Reis Estão Nus que aliás, recomendo.
Leio que Contardo, depois de lançar o livro vai estar na minha amada Associação Psicanalítica de Porto Alegre, onde vai conversar sobre "As Psicoses 20 anos depois. O que sobra? O que mudou?", comentando a reedição do seu livro Introdução a uma Clínica Diferencial das Psicoses.
O mestre e amigo, concedeu entrevista à jornalista Luiza Piffero do jornal Zero Hora e literalmente "babei" ao ler hoje cedo. Na publicação de hoje, transcrevo um trecho da entrevista que achei muito interessante...;

ZH: Você comenta sobre a importância de encontrar os pressupostos que moldam nossas experiências e opiniões. Como você chega a esses pressupostos?  
Calligaris: Sou psicanalista e clínico há 39 anos, meio que mundo afora. Não tenho muito como evitar que a psicanálise constitua meu ponto de vista privilegiado sobre o mundo. Isso não quer dizer que ela seja, para mim, ou para quem quer que seja, uma visão do mundo. Tampouco ela é um método para mim; eu diria que é uma maneira quase involuntária de ser, nesta altura. Uma parte relevante da escuta psicanalítica consiste em apontar os conflitos atrás das certezas, até porque as certezas, em geral, são soluções falsas e muito caras. Um exemplo? A grandíssima maioria das certezas morais são apenas tentativas de reprimir em nós a vontade de cometer os "pecados" dos quais acusamos os outros. Nunca encontrei um homofóbico que não estivesse sobretudo lutando contra sua própria homossexualidade.

ZH: Você pode citar alguns pressupostos que estão por trás da proposta da "cura gay"?
Calligaris: Sei que vai parecer curto e grosso, mas a verdade, às vezes, é curta e grossa. O único pressuposto atrás da proposta da "cura gay" é o desespero de seus proponentes, no esforço para reprimir sua homossexualidade inconsciente.

Com essa, desejo a todos uma ótima sexta feira 13 de dezembro de nossas esperanças....
Fraterno abraço
André



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Conhecendo os Mitos - NARCISO


 Neste texto, me valho dos ensinamentos dos professores Sérgio Lasta e Eustásio de Oliveira Ferraz, a quem agradeço pela bela contribuição.

  Narciso era um belo rapaz indiferente ao amor, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope. Por ocasião de seu nascimento os pais perguntaram ao adivinho Tirésias qual seria o destino do menino, pois ficaram muito assustados com a sua beleza rara e jamais vista. A resposta foi que ele teria vida longa se não visse a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso quando ele chegou à fase adulta, mas o belo jovem não se interessou por nenhuma delas.

 A ninfa Eco, uma das apaixonadas, não se conformando com a indiferença de Narciso, afastou-se amargurada para um lugar deserto onde definhou até a morte e restaram somente seus gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses que a vingasse. Nêmesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a se debruçar na fonte de Téspias para beber água. Nessa posição ele viu seu rosto refletido na água e se apaixonou pela própria imagem. Descuidando-se de tudo o mais, ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. No local de sua morte apareceu uma flor que recebeu seu nome, dotada também de uma beleza singular, porém narcótica e estéril.

   Narciso é um personagem enigmático e fascinante que traz em si um grande dilema: ver-se ou viver; ver-se e não viver ou não se ver e viver. Não podia conhecer-se, caso contrário não veria a velhice ou a vida eterna, como previra o oráculo. Por isso, era admirado por si mesmo, imobilizado e aprisionado em seu próprio mundo. Não podia se ver para continuar vivendo. Amava e não podia amar, amado, não podia deixar-se amar. Era solitário vagando pela floresta.

  O belo Narciso é independente, porém vive na solidão; evita qualquer aproximação, não respeita a sociabilidade. É imerso em si, anula a alteridade (o outro). Tem tudo, basta-se a si mesmo. É prisioneiro de sua própria aparência que lhe é irresistível e isso o faz sofrer. Sofre porque não consegue ter aquela imagem para si. Está tão próximo e ao mesmo tempo tão distante. Representa o eterno dilema da auto-sedução que não se realiza. Tem e ao mesmo tempo não a tem, porque essa é intocável, pode ser somente contemplada. É um amor platônico por si mesmo. Tocar a fonte de Téspias seria deformar aquela imagem tão bela e perfeita.


         Seu desejo é devorar-se a si mesmo. Tem a beleza desejada, idealizada, que todos querem possuir. Às vezes isso provoca a ruína, o que significa ver somente o ideal de si, um rosto bonito e não uma pessoa em sua inteireza. É uma imagem com muitos rostos onde o próprio EU não entra e esses rostos se confundem. Há o desejo de se tornar sedutor(a), de despertar desejos. E o sedutor(a) adquire uma imagem que não é sua, tem outra identidade, pois seu ego é frágil, nada sedutor.


         Ao contemplar-se nas águas da fonte, sua unidade rompe-se: o que era um parte-se em dois. É arrastado para fora de si. O que Narciso viu? O ideal de si e lutou para não perder essa imagem. Sua posição reclinada para baixo não permite ver a vastidão do horizonte, deixa-o envolto em si mesmo. Por isso a visão que tem do mundo é ínfima. Mas a imagem ideal refletida é inalcançável, isso o leva à morte como punição por não conseguir trazer para si a imagem desejada.


         Esse mito, ou lenda simboliza a imobilidade, a solidão e a infelicidade, porque Narciso não conseguiu vencer a sedução da própria imagem. Se isso acontecesse, teria que assumir responsabilidades sociais, enfrentar desafios, a realidade, as desilusões. Não há risco zero na vida. Exemplos? Basta prestar atenção na vida dos animais. Se ficar na toca certamente morrerá de fome e sede. É preciso enfrentar a realidade, mesmo sob o perigo de perder a vida. É também a busca da eterna beleza. Morrendo jovem e belo, seria lembrado assim, com sua juventude perpetuada. É a busca do aplauso, do reconhecimento. Esse ideal do belo provoca desejos irrealizados, prazer em seduzir e despertar desejos. Porém não permite que sejam satisfeitos. Isso leva à melancolia, o mundo perde o valor, a consciência aflige-se com fragilidade.


         O grande engano de Narciso foi errar na escolha de amor. Ao invés de dirigi-lo a outro, volta-se para si mesmo e comete um incesto intrapsíquico. Toda sua energia não se liga ao mundo externo e isso é patológico. O que ele ama é a sua sombra, o próprio reflexo, por isso não abandonou as águas da fonte. Somente ali essa ação é possível. Seu desejo era manter-se eterno, perpetuar aquela imagem que o seduziu e a sedução pelo eterno levou-o à morte.


         A fonte é o espelho que atrai e arruína. A imagem refletida não é o que aparenta. Mostra o que é e o que não é. Estimula na alma o desejo por uma imagem inatingível. Narciso achou que era a própria imagem, não se individualizou, não separou realidade e fantasia.


         Esse personagem também pode ser visto por outro ângulo, pois até aqui parece ser doentio. Todos têm um Narciso em si e isso leva a que cada um procure cuidar do próprio corpo; arrumar-se, enfeitar-se para agradar a si e aos outros demais. Isso não significa que esteja voltando sua capacidade de amar e ser amado só para si mesmo, mas tem a finalidade de encontrar alguém, ir em busca do outro e do mundo.

         Logicamente o mito presta-se para muitas outras interpretações. Porém Narciso perambula pela sociedade e está na personalidade de todos.


         O mito de Narciso nos mostra que vivemos na superficialidade, nas aparências. Somos seres sem profundidade.


         O mito de Narciso sempre quer falar algo do ser humano. De uma forma ou de outra sempre trazemos um Narciso dentro de nós. Narciso diz que cada ser humano tem que descobrir que ele é, e qual o caminho que o conduz à felicidade.


Fraterno abraço
André