Vou retomar um assunto recorrente: Os amores "virtuais"!
E faço isso por absoluta contingência informativa, uma vez que casos como os que citarei hoje tem sido muito frequentes não somente na minha atividade clínica, como na de muitos colegas psicanalistas, psiquiatras e psicólogos.
O Caso:
Paciente adulto, formação acadêmica superior, sentindo-se à beira do abismo do suicídio (metafórico ou não), em virtude daquilo que o psicanalista num primeiro momento pensou na Hipótese Diagnóstica de Transtorno Depressivo Recorrente.
Razão do desencadeamento do sintoma: Descobriu que seu amor de quase um ano, era na verdade um personagem inexistente da internet.
Clássico: Inibição = sintoma = angústia.
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Vou começar abordando algumas questões da anamnese:
- Como pode Doutor? Eu tenho formação superior, tenho mundo, tenho experiência de vida, sou inteligente... Como posso ter caído nesse conto tão primário?
- Como pude ter sido alvo de uma psicopata que se divertiu comigo durante quase um ano?
- Como pode existir uma pessoa que tenha coragem de fazer isso com outras pessoas sem a menor compaixão e misericórdia?
- O que faço com essa coisa que foi criada dentro de mim e que até agora me fazia um ser melhor e mais feliz?
- E agora Doutor??? Eu não vou aguentar!!!!!
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Ainda não sei como vou ajudar meu paciente na construção ou na destruição dessa estrutura. Só sei e ele sabe que estaremos de mãos dadas atravessando o inferno ou o paraíso. Não sei.
Mas penso que é muito cedo e prematuro tentar identificar que por trás da tela do computador exista ou existam seres psicopatas e de tal maneira perversos que vivem seus dias em busca de vítimas. Deve existir sim. Mas cada caso é um caso.
Penso que os idealizadores de falsos perfis e os ditos "fakes" de um modo geral, são pessoas solitárias que criam imagos baseadas nas suas próprias ausências.
A tecnologia proporcionou ao humano, ser o que ele bem entender nesse dito mundo virtual. Criam-se alter egos suplementadores de carências com a facilidade que se toma um copo de água.
Mas isso é não é fruto de um programa de computador. Isso é fruto da psique humana . E tudo que é semeado nessas relações também é humano. Não é virtual.
Criam-se afetos, amores,paixões, ódios, prazeres, amizades... tudo que é humano.
E surgem os sofrimentos. Mas os sofrimentos também surgem quando o encontro se inicia num barzinho ou numa reunião da faculdade.
Se eu tivesse que fazer um alerta, faria dois:
1) Confie no seu desejo!
2) Confie no seu inconsciente!
Terminei a primeira consulta com meu paciente lhe orientando a aproveitar o que de bom surgiu dentro dele nesses últimos meses...
Fraterno abraço!
André Lacerda - Psicanalista
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