sábado, 12 de setembro de 2015

Só um Pôr de Sol!

Ele estava na beira do cais do porto. 
Um barco vinha e outro ia. 
Três mulheres negras vestidas de branco ofertavam flores amarelas pra deusa das águas.
O vento frio daquele fim de inverno cortava o calor do Sol e revoltava as ondas que batiam no pier.
Um desvalido da sorte (??) aconchega-se na grama e dorme sem a menor cerimônia e sem a menor culpa.
Os biguás pescadores se refocilam na água e se fartam de peixes de um cardume passageiro.
Os namorados passeiam de mãos dadas e buscam algum canto afastado ou para o exercício do amor ou para o exercício de inalar uma fumaça suspeita. Não deu pra saber e nem ver. 
A moça tira uma foto de si mesma pensando em ostentar o início do pôr do Sol, mas na verdade o destaque é para uma placa velha e suja que avisava: Cuidado! Águas profundas e poluídas.
Dois turistas se abraçavam e bebiam talvez a primeira das muitas cervejas. Ou a última. Não deu pra saber e nem ver. 
Aquela hora do dia era uma hora triste para o psicanalista. O entardecer era o ocaso do dia.
Mas pensou que amanhã outros barcos viriam e iriam.
E outras mulheres jogariam flores na água para a deusa, e os biguás se fartariam de um outro cardume passageiro.
As águas continuariam profundas e poluídas e as pessoas ainda retratariam o pôr do Sol.
Estava encerrado o dia enfim!
Ao ver o sol se pondo pensou no comentário que Freud fez referindo-se ao exílio em Londres:
"O sentimento de triunfo ao me ver libertado acha-se tão fortemente vinculado à dor, já que sempre amei profundamente a prisão da qual fui libertado."

Fraterno Abraço!
André Lacerda - Psicanalista
P.S.: Esse é o Pôr do Sol em Porto Alegre.



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