sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Caso Clínico: A abordagem inicial!

- Vamos deixar uma coisa bem clara: Estou aqui por que a família está insistindo e tudo isso está me enchendo o saco. E já te aviso que não preciso de psicanalista e se esperas que eu vá falar de mim pode tirar teu cavalinho da chuva. Entendido?
Foi assim que aquela paciente se apresentou na sua consulta inicial marcada com insistência pela família.
O psicanalista logo pensou em dispensá-la e recusar o atendimento... mas (até hoje não sabe porque) entrou no jogo. Queria ver onde aquilo ia dar e respondeu:
- Sem problemas. Temos 50 minutos. Podemos falar o que quiseres. Podemos começar com Física Quântica?
- Tu estás maluco? Nem sei o que é isso!!!!
- Certo. Podemos falar da reengenharia proposta por Maslow para reerguer o Japão pós guerra? Afinal esse teórico complementou todos os ensinamentos, de Taylor, Fayol e Ford!
- Ai meu deus!!! Minha mãe escolheu um psicanalista bêbado e louco????
- Oi? Preferes falar sobre a experiência europeia dos micro buracos negros? Penso que antes de afetar, isso pode confirmar e até dignificar a teoria da relatividade de Einstein. Que achas?
- Tu só pode estar "tirando com minha cara" né?
- Não entendi. Podes me explicar o que é "tirando com minha cara"?
- Ahhh Tá! Tu já estás me irritando ....
- Certo. Vou deixar ao teu critério. Sobre o que falaremos? Eu sugeri alguns temas, mas pelo jeito não gostaste de nenhum deles?!
O silêncio habitou o consultório e quase congelou  o psicanalista e sua nova paciente naquela tarde tórrida de 40 graus em Porto Alegre.
Ele esperou. Ela pensou. E ela por fim manifestou:
- Sinceramente? Nada pessoal tá? Mas quero a tua Física Quântica se dane junto com a tal reengenharia do mané Japão. Aproveita e pega a tal relatividade do Einsten e enfia no teu buraco negro tá? CACETE.... TU NÃO VÊS QUE ESTOU SOFRENDO E SE CONTINUAR ASSIM EU VOU PIRAR??????
O psicanalista a encarou com um olhar paternal e pensou que talvez fosse mais difícil despertar os primeiros demônios de sua nova paciente. E lhe sorriu enquanto observa uma lágrima que começava a cair... e disse:
- Não te preocupes. Estaremos juntos e vamos juntos desconstruir esse sofrimento. Estarei contigo e estaremos de mãos dadas enquanto atravessarmos o teu inferno.
A Psicanálise ajudou aquela jovem paciente na construção de sua vida. E até hoje ela frequenta o psicanalista com disciplina espartana.
 
Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista
P.S.: Lembro aos amigos que meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana,  na edição eletrônica  está à disposição de todos. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com
 
 
    

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