sábado, 22 de novembro de 2014

Caso Clínico: As Baratas que Habitam!

Antes de qualquer coisa vou manifestar:
TODOS os meus escritos, são elaborados a partir de minha formação e de minha experiência psicanalítica. Quando em algum texto faço menção à algum autor (normalmente Freud e Lacan) faço as devidas citações.
Todas as minhas publicações são feitas com origem no blog O Criador e a Criatura, que foi criado, registrado e devidamente classificado em 2008. E para fins de comercialização, todos os meus direitos autorais são de propriedade da Editora que me publica e administra os mesmo. 
Contudo, jamais tranquei ou proibi que as redes sociais compartilhassem ou publicassem alguma crônica minha. E continuo pensando que " só e justo cantar, quando nosso canto carrega consigo as coisas e as pessoas que não tem voz!" Isso quem disse foi o poeta Ferreira Goulart.
Dito isso... segue o baile...

Esse caso clínico é muito discutido e serve como aula inaugural em qualquer percurso de psicanálise. 
A paciente jovem de 20 anos, é encaminhada pela família em estado de depressão profunda. Mas depressão da braba mesmo. Não saia da cama sequer para realizar suas necessidades fisiológicas. Ou seja, fazia tudo na cama. E não tinha anti depressivo que resolvesse. Então... a familia procura o psicanalista. Eis o caso:
- Já é nosso segundo encontro. Venho na tua casa, quero te conhecer, saber de tuas dores, saber de teus sonhos e pesadelos, saber de ti, ser teu acompanhante nessa luta que se chama vida, mas não me falas uma única palavra? Já estou até me acostumando em te ver nessa cama com teus cobertores. Lá fora faz quase quarenta graus sabia? Não sentes nem vontade de tomar um mega banho?
Nada...
A paciente não se manifestava de jeito nenhum... ele esperou mais um tempo... repetindo a primeira visita... e pensou que mais uma vez iria embora sem nenhum resultado. Falou pra paciente e para as paredes:
- Vou embora mais uma vez me sentindo mal... não estás me ajudando mas creio que estou falhando contigo. Não estou conseguindo te ajudar... estou triste!
Levanta-se e vai devagar se dirigindo à porta do quarto da jovem paciente... e escuta por primeira vez uma voz fraca vindo da cama:
- Eu não posso tomar banho. Nem ir no banheiro. Nem andar por essa casa. Eu tenho medo!
- Do que tens medo?
- Medo das baratas. Essa casa toda está investada de baratas. A cidade é das baratas. O único lugar que elas não estão é na minha cama. 
O psicanalista escreveu em suas anotações a palavra BARATA. A paciente continuou:
- Sonho sempre com uma barata gigante que habita o banheiro. E ela sai de dentro de uma GARRAFA!
O psicanalista pega duas canetas. Uma Monblanc dourada com ponta de platina e custando alguns milhares de dólares. E uma Bic... comum... de dois reais.
Perguntou:
- Essa Monblanc custa  4 mil dólares. Que achas dela?
- Bonita! e CARA!
- Essa Bic custa dois reais. Que achas dela?
- BARATA!
.......
Vou encurtar os relatos e vou objetivar. 
Muitas vezes o inconsciente se manifesta de uma maneira que somente uma escuta bem atenta (puxando a brasa pro meu assado - o psicanalista!) pode decifrar. Neste caso, o medo de barata teve estruturas formadas a partir da morte do pai da paciente. Quando o pai morreu, a mãe já separada ha muito tempo ao vê-la chorando, a critica, dizendo que seu pai não merecia uma lágrima. Havia abandonado a família. Era um bêbado. Não valia nada. Ou seja: Uma coisa que não vale nada é uma coisa ??? BARATA. Uma barata saindo de dentro de uma garrafa, afinal  o pai tinha problemas com alcoolismo. Entenderam? 
Esse caso terminou bem. Depois de estruturada a dor inconsciente, a paciente foi melhorando, se entendeu com a mãe e acabou fazendo o luto da maneira devida. 
Este é apenas um jeito de se entender como funciona a Psicanálise nos tratamentos psiquicos. 
Fraterno abraço
André

P.S.: Não esqueçam...risos... Meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana está à disposição. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com



   

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