sexta-feira, 10 de julho de 2015

O Beijo da Mulher Aranha!

Alguém já disse que a força mais avassaladora do mundo são as paixões. Os mais românticos dizem que é o amor.... mas ainda acho que realmente são as paixões.
As paixões é que movem o mundo. Elas provocam guerras, assaltos à geladeiras pelas madrugadas, o surgimento de filhos, e quem sabe até altas resoluções no campo da política e da diplomacia.
Já o amor é aquela força sublime que.... bem... isso é assunto pra outra crônica....rs
Mas nesta crônica quero falar de uma avassaladora paixão platônica.
O psicanalista devia ter uns 9 ou 10 anos de idade e isso foi bem antes de quase todas as descobertas...
A primeira paixão platônica surgiu quando ele viu pela primeira vez a primeira professora. Sônia o nome dela. Porque meninos se apaixonam pela primeira professora. E porque ela era a mulher mais linda que ele já havia visto. Porque todas as primeiras professoras são. E aquela paixão durou um ano. Um ano letivo.
A segunda paixão platônica veio na terceira série. A professora. A mais linda de todas as mulheres. Ele entrava na fila do beijo no final da aula, três vezes.  As vezes quatro vezes. Mas o ano letivo acabou e vieram as férias.
Ele passava as férias com os avós, e tudo era muito bom. Até que tudo ficou ótimo. Explico:
O vô o levou para ver um daqueles espetáculos das bucólicas praças de antigamente.
No meio da praça, um ônibus todo colorido... e o anúncio luminoso:
"Conheça a incrível MULHER ARANHA".
Ele entrou agarrado na mão do avô.
E quando viu o que viu, a flecha de Eros atravessou-lhe o coraçãozinho infantil.
Era a criatura mais linda de toda a face da terra.
Olhos amendoados, o cabelo negro como a mais escura das noites, e um pingente brilhante sobre a testa que estava envolta numa fita vermelha. Os lábios vermelhos e a pele branca. Era uma mistura de Branca de Neve e Cleópatra. Porque para ele Cleópatra sempre foi e sempre será a Elizabeth Taylor, como hoje diz o seu amigo David Coimbra.
Mas...era só um rosto. Ela tinha o corpo de aranha. Sim.... ela era a mulher mais linda de todos os tempos com um corpo de aranha.
Ele de cara percebeu que aquilo era um truque de espelho dos mais vulgares. E podia ver que aquele corpo de aranha era do mesmo tecido de uma jaqueta de veludo que ele tinha e que achava feia demais e se recusa a vestir.
Mas qual o que... nem se abalou... se apaixonou pela mulher aranha.
Ela falava e interagia com os espectadores. Olhou fixo nos olhos dele e perguntou:
- Olá! Qual o seu nome?
Ele paralisou. Porque ela falava e a voz dela era tão linda quanto seu lindo rosto. Respondeu:
- An.... An.... An....dré.....
- Eu sou Tamara. Sou a princesa de um país distante e uma bruxa do mal me enfeitiçou e estou condenada a viver nesse corpo de aranha por muitos e muitos anos....
Certamente que ele não acreditou naquela história, mas ficou atento e sem piscar ouvindo daquela boca, os detalhes de seu  castigo produzido num tal país distante, por uma tal bruxa malvada.
Pensou naquela boca. Pensou em beijar aquela boca, como o menino fez com a linda Jennifer Oneal no filme Houve uma vez um verão. E pensou .... e pensou... e pensou naquilo. Porque meninos pensam naquilo também sabiam? Disso o Freud já sabia.
Passados os 15 minutos que o ingresso de 2 cruzeiros (era essa a moeda nacional à época dos fatos) permitia, ele teve que sair da cápsula que sua amada habitava que na verdade era um ônibus velho todo colorido.
Foi pra casa pela mão do avô, mas seu coração e sua mente ficaram com a linda mulher aranha.
Nos 15 ou 20 dias posteriores, pontualmente às duas horas da tarde estava lá na bucólica praça, esperando que o tal ônibus abrisse as portas.
Vendeu as garrafas do avô, chorou, pediu, implorou e sempre de alguma forma arranjava os dois cruzeiros que o maldito dono do ônibus cobrava.
Ele odiava aquele barbudo que era o dono do ônibus. Porque ele sabia que o barbudo também era o dona da mulher aranha ... sua amada Tamara, princesa enfeitiçada num país bem longe.
Até que um dia, ele foi e o barbudo disse que estavam partindo. Tinha que mostrar a Tamara para outros meninos de outras cidades.
Enquanto o barbudo ligava o motor, o rosto do menino encharcou-se e a tristeza tomou conta. Porque meninos que pensam coisas sofrem com a perda. Disso o Freud também já sabia.
E ele correu atrás daquele maldito ônibus colorido até não aguentar mais e quando não aguentou mais correr, ficou acenando e mandando beijos de adeus para sua Tamara que deveria estar dentro daquele maldito ônibus dando seus beijos de mulher aranha no maldito barbudo que estava lhe levando para outras cidades, e para outros meninos...
 
Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista
 
        
 


Um comentário:

  1. Caraca DRrrrrrrrrrr... molhei a calcinha ....delicia de texto. parabéns...Dolores Rio de Janeiro Brasil

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