terça-feira, 28 de julho de 2015

O Psicanalista no Tratamento quimioterápico!

O Psicanalista se preparou para acompanhar os pacientes em tratamento oncológico, nas salas de diferentes cores. Era a sala verde, a sala azul, a sala lilás... Sem nenhum outro propósito que não fosse tornar um pouco lúdica a sessão quimioterápica.
Estudou sobre os efeitos do medicamento, e os protocolos médicos internacionais relativos à esses procedimentos.
Pensou:
- Estou preparado para acolher todas as demandas de meus pacientes que estão em situação de câncer. Penso que à mim, resta ofertar um pouco de conforto, muito consolo, e quem sabe falar mais do que ouvir. Somente desta vez.... falar mais do que ouvir!
Passados os primeiros quinze minutos do início da sessão de quimioterapia de sua paciente, o psicanalista percebeu que estava redondamente enganado.
Nada do que tinha programado seria suficiente.
Logo na entrevista inicial da paciente com a enfermeira encarregada, descobriu que as coisas não seriam como o programado.
Já sabia pelas informações do oncologista, que o remédio além de todos os efeitos colaterais físicos, tinha um forte efeito depressivo, por diminuir consideravelmente os níveis de substâncias reguladoras . Ou seja, não seria uma depressão psíquica. Seria uma depressão física mesmo. Mas isso o oncologista já havia previsto e já prescrito remédios devidos.
Mas tudo isso não era quase nada se comparado ao que viu naquele início de tratamento.
Descobriu que naquele momento, mesmo sendo atendida por muitos profissionais competentes, e mesmo ele estando ali, sua paciente sentiu-se a pessoa mais solitária, na mais solitária ilha do planeta.Quando a primeira gota do remédio pingou do frasco em direção à cânula.
Mesmo antes de o remédio entrar na sua veia fina, a paciente provou o gosto da solidão.
Deparou-se com todos os momentos de sua vida naquele filme que todos dizem que passa quando sentimos o perigo eminente.
Foi naquele momento que o psicanalista sentiu que era ali mesmo, naquela sala branca com nome de cor berrante, que ele deveria estar mesmo.
Descobriu naquele momento que era uma boa hora  (ou duas, ou três ou oito horas) para começar a ajudar na reconstrução das paredes derrubadas pelo câncer e, porque não dizer, pela própria cura.
Pegou na mão de sua paciente .... falou:
-Vai ser aqui que o tratamento oncológico e a quimioterapia vão te curar. E vai ser aqui, que eu e tu vamos começar a navegar por mares revoltos. E vai ser aqui, que eu e tu vamos iniciar a caminhada do resto de tua vida. Estarei contigo todos os dias.
A paciente apertou a mão do psicanalista e já esboçando uma reação perguntou:
- Por onde começamos André???
   
Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista
 
 

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