Primeiro fui técnico. Escrevi sobre a fundamentação teórica (Em Freud) relacionada ao complexo de Édipo. Depois, fui exageradamente técnico e escrevi sob a égide da teoria de Lacan, a série A Formação do Sujeito. E então, resolvi me fazer entender por um número maior de pessoas, e terminei escrevendo de uma maneira lúdica e bem humorada sobre as mesmas questões. Fui elogiado. Mas fui muito criticado sobretudo pelos iniciados que me acusaram de ter sido banal com temas tão complexos. Fiquei triste e feliz.
Mas segue o baile.... e encerro minhas publicações à cerca da trama edípica, reafirmando o que penso enquanto operário da saúde: A única coisa que eu, enquanto Psicanalista posso prometer, é andar de mãos dadas com meus pacientes pelos seus infernos. Sempre. Inclusive nas suas leituras. Inclusive nos meus escritos.
Para Lacan, o externo do indivíduo é a estrutura da linguagem e a estrutura social, considerada antropologicamente, como o conjunto de leis de intercâmbio entre os sujeitos. A linguagem desempenha um papel decisivo. Da fato, é ela que distingue a sociedade humana das naturais. A dotação biológica do recém-nascido se situa, em seu modelo, na ordem do real.
Lacan propõe que a criança se identifica com o desejo da mãe. O resultado é que o sujeito fica alienado no desejo do outro. Ela não é senão o que a mãe deseja que ela seja: o falo. Por meio do Édipo,produz-se outra identificação, o sujeito se identifica com a lei e adquire a noção de que não é o falo, embora possa possuí-lo. Nesta identificação, tem um papel capital, como significante, o nome-do-pai, que permite o ingresso do indivíduo na ordem simbólica.
Lacan é definitivo, quanto ao papel da linguagem no processo de identificação. O sujeito é, desde o nascimento, presa da linguagem; portanto, é definido em função da estrutura.
A origem fundamental da agressividade não é, em Lacan, como em outros, a frustração. Tampouco as pulsões constitucionais desempenham um papel importante. O ponto medular da agressividade estaria localizado na ruptura da identificação imaginária. Tudo o que a questiona, engendra agressividade. A própria identificação narcisista faz parte da agressividade; a alienação do sujeito no desejo do outro. No plano filosófico, a dialético do Senhor e o Escravo (Lacan , 1966), extraída da teoria hegeliana, sintetiza o fato de que a satisfação do desejo humano só é possível por meio do desejo e do trabalho do outro. O que está em jogo é o reconhecimento do homem pelo homem. Esta agressividade parece ser inerente à ordem humana e deixaria sua marca, não só no mal-estar da sociedade mas também na neurose. A cultura imprime sua profunda marca no sujeito. Na proposta lacaniana, o inconsciente é efeito e reflexo da estrutura significante. A dissolução do conflito edípico ocorre graças à representação do falo, como significante principal.Todos os demais significantes surgem de seu deslocamento metonímico e metafórico, tomando forma no inconsciente e guardando entre si as relações que apresentam na linguagem, respeitando suas regras e permitindo as operações que nela podem ser feitas (condensação e deslocamento). Diferentemente de outros autores, o inconsciente não é, para Lacan, a sede das pulsões. Ele está estruturado como linguagem.
Na conceptualização do conflito edípico, novamente ressalto o grande peso da estrutura e da cultura (entendida como linguagem e lei). Não incidem só em sua resolução, mas também em seu desencadeamento.
O que é externo ao indivíduo, na teoria lacaniana? De maneira diferente de outras teorias, nas quais o externo é representado pela mãe, em Lacan o que está fora do sujeito é o desejo (do outro), a linguagem e a lei.
Destaco por fim, o grande valor que Lacan atribui à cultura, na constituição do sujeito e, também, em sua psicopatologia. Os elementos inatos realmente têm pouca importância, enquanto que o modelamento imposto pelo mundo externo é de grande envergadura. Derradeiramente, é importante destacar que, na teoria lacaniana, a cultura é um conceito de alto nível de abstração, suprapessoal, diferente dos modelos anteriormente expostos, nos quais é entendida em um sentido mas natural e quotidiano.
E onde vemos tudo isso????
Valei-me São Ferreira Gullar:
"Nos quintais, entre plantas e galinhas, nos botecos, nos prostíbulos e nos namoros de esquina..."
E no mais?
Valei-me São Caetano Veloso desejando todo o leite bom e mau da vaca profana:
"Caretas de Paris e New York... sem mágoas estamos ai..."
Fraterno abraço
André
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