terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Retomando o Édipo!

No finalzinho do ano passado, produzi uma série em abordei a base da técnica e teoria psicanalítica de Lacan onde se pode ter noção do desenvolvimento e formação do sujeito.
Contudo, creio que a linguagem tenha sido técnica demais e recebo cotidianamente perguntas que, apesar de terem suas respostas em tais escritos, ainda pairam como demandas. Minha culpa. 
A partir de hoje, vou abordar novamente as formações do sujeito, mas vou faze-lo de forma que pelo menos possibilite uma melhor compreensão.. Espero que me redima... risos.
Trataremos nas próximas semanas, das demandas que já me chagaram, como as síndromes e principalmente com as psicopatologias do campo das psicoses. Para isso, precisamos começar entendendo o Complexo de Édipo.    

O complexo de Édipo caracteriza-se por sentimentos contraditórios de amor e hostilidade. Metaforicamente, este conceito é visto como amor à mãe e ódio ao pai, mas esta ideia permanece, apenas, porque o mundo infantil resume-se a estas figuras parentais ou aos representantes delas. A ideia central do conceito de complexo de Édipo inicia-se na ilusão de que o bebê tem de possuir proteção e amor total, o que é reforçado pelos cuidados intensivos que o recém nascido recebe por sua condição frágil. Esta proteção é relacionada, de maneira mais significativa, à figura materna. Mais ou menos aos três anos, a criança começa a entrar em contato com algumas situações em que sofre interdições. Estas interdições são facilmente exemplificadas pelas proibições que começam a acontecer nesta idade. A criança não pode mais fazer certas coisas porque já está “grandinha”, não pode mais passar a noite inteira na cama dos pais, andar pelado pela casa ou na praia, é incentivada a sentar de forma correta e controlar o esfíncter, além de outras cobranças. Neste momento, a criança começa a perceber que não é o centro do mundo e precisa renunciar ao mundo organizado em que se encontra e também à sua ilusão de proteção e amor total. O complexo de Édipo é muito importante porque caracteriza a diferenciação do sujeito em relação aos pais. A criança começa a perceber que os pais pertencem a uma realidade cultural e que não podem se dedicar somente a ela porque possuem outros compromissos, como é o caso do trabalho, de amigos e de todas as outras atividades. A figura do pai representa a inserção da criança na cultura, é a ordem cultural. A criança também começa a perceber que o pai pertence à mãe e por isso dirige sentimentos hostis a ele. Estes sentimentos são contraditórios porque a criança também ama esta figura que hostiliza. A diferenciação do sujeito é permeada pela identificação da criança com um dos pais. Na identificação positiva, o menino identifica-se com o pai e a menina com a mãe. O menino tem o desejo de ser forte como o pai e ao mesmo tempo tem “ódio” pelo ciúme da mãe. A menina é hostil à mãe porque ela possui o pai e ao mesmo tempo quer se parecer com ela para competir e tem medo de perder o amor da mãe, que foi sempre tão acolhedora. Na identificação negativa, o medo de perder aquele a quem hostilizamos faz com que a identificação aconteça com a figura de sexo oposto e isto pode gerar comportamentos homossexuais. Nesta fase, a repressão ao ódio e à vontade de permanecer em “berço esplêndido” é muito forte e o sujeito desenvolve mecanismos mais racionais para sua inserção cultural. Com o aparecimento do complexo de Édipo, a criança sai do reinado dos impulsos, dos instintos e passa para um plano mais racional. A pessoa que não consegue fazer a passagem da ilusão de superproteção para a cultura, psicotiza.

Enquanto, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração.
A menina aceita a castração como um fato consumado, ao passo que o menino teme a possibilidade de sua ocorrência, ou seja, na menina, está excluído o temor da castração. 
A dissolução está mais relacionada à criação e intimidação oriunda do exterior, as quais a ameaçam com uma perda do amor . A renúncia ao pênis não é tolerada pela menina sem alguma tentativa de compensação . Por uma equação simbólica, desliza do pênis para um bebê, ou seja, seu complexo de Édipo culmina em um desejo de receber do pai um bebê como presente que é gradativamente abandonado porque esse desejo jamais se realiza. 
O complexo de Édipo mais completo é o chamado  dúplice- positivo e negativo devido a bissexualidade originalmente presente na criança. 
Assim, uma criança tem, ao mesmo tempo: 



· Uma atitude ambivalente para com o pai e uma escolha objetal afetuosa pela mãe; 
· Uma atitude afetuosa feminina para com o pai e um ciúme e hostilidade em relação à mãe .

A dissolução do complexo de édipo e a formação do superego produz-se através de  uma identificação paterna e uma materna. 
Forma-se um precipitado no ego, consistente dessas duas identificações unidas uma com a outra de alguma maneira. Esta modificação retém a sua posição especial: ela se confronta com os outros conteúdos do ego com um ideal do ego ou superego. 
O ideal do ego tem a missão de reprimir o complexo de Édipo. O superego retém o caráter do pai e será mais severo, quanto mais poderoso for o complexo de Édipo ou a repressão social. Um superego severo impõe uma dominação sobre o ego, sob a forma de consciência ou um sentimento inconsciente de culpa.


A diferenciação do superego a partir do ego não é questão de acaso; ela representa as características mais importantes do desenvolvimento tanto do indivíduo quanto da sociedade. 
O ideal do ego, ou superego, representa nossas relações com nossos pais.
Fraterno abraço
André


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