quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Cidade Morena de minhas fantasias!

Eu lembro que era muito menino. Mas menino mesmo... nao mais de seis anos. Sempre tive uma faísca adiantada e entrei pra escola com apenas cinco anos e já alfabetizado. Então foi aos seis anos que li meu primeiro livro. Não lembro o título nem o autor, mas lembro em detalhes daquela minha primeira viagem ao mundo da fantasia, da arte e dos sonhos. Meus (e de tantos) mestres Freud e Lacan eram uníssonos em dizer que a Psicanálise era filha mais nova da nobre arte que era a literatura. Vou morrer agradecendo a minha mãe leitora obssessiva e minha irmã competente professora, por ter amado a literatura desde tenra idade.
Mas foi naquele primeiro livro que tive o primeiro contato com a bela Cidade Morena! Mas na verdade a história do livro não passava nem perto da cidade, pois tratava-se de uma aventura vivida por um menino que em férias nas fazendas de seu avó, desbravava as matas do Mato Grosso do Sul. E ai fazia alusões à grande Campo Grande (a Cidade Morena) como referencial de cidade mais próxima de suas andanças...
E o tal menino narrava de como os índios da região lhe ensinavam os segredos e os mistérios da mata e como lidar com todas as nuances e adversidades do ambiente.
Mas o que mais marcou o André menino, foi uma narrativa do livro onde o protagonista  reproduzia a visão onde uma grande serpente engolia um indiozinho.
Por muito tempo, mesmo com os mais velhos falando das maravilhas dos pastos e da fertilidade das terras do Mato Grosso do Sul, meu imaginário correlacionava a região com a cultura indigena e com a monstruosa anaconda comendo um indiozinho.
Bem mais tarde fui conhecer a Cidade Morena de meus sonhos da infância promovidos pelo livro de aventura infantil.
E bebi da cristalina hospitalidade daquela terra que verte dos córregos Prosa e Segredo e que espraia-se pelas ruas e pelas almas de Campo Grande.
Bem mais tarde, psicanalista veterano já e calouro do curso de Direito minha verve libertária me aproximou de Campo Grande novamente.
Me explico: Entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000, muito por minha admiração à Filosofia do Direito e nada por pretensão de ser um jurista, estudei a nobre disciplina de Cícero.
E lembro que em todos os meus trabalhos e estudos eu buscava recursos e inspiração nas jurisprudências produzidas pela Justiça do Mato Grosso do Sul. Então um dia, um estimado professor e competente Juiz de Direito me questionou sobre o evento e eu respondi:
 
- Prezado Doutor! Apesar de estar encantado com a Filosofia do Direito, não é segredo que sou Psicanalista e jamais serei outra coisa. Também não é segredo que tenho tatuado no braço direito o Brasão do Rio Grande do Sul com as palavras LIBERDADE, IGUALDADE E HUMANIDADE... e que a mais me toca, por ser psicanalista que lida com a dor humana, e por acreditar nas outras duas, é a HUMANIDADE. E, meu prezado professor e meritíssimo juiz, ao meu juízo, são nas decisões do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, é que vejo mais intensidade no quesito Humanidade e faço daquelas minhas palavras em meus trabalhos.  
 
Tempos depois, a faculdade promoveu um seminário e um dos participantes era um Desembargador da Justiça do MS (pena que não guardei o nome)  que foi informado pelo meu amigo professor de minha preferência e de minha teoria. O velho jurista me encarou simpaticamente e depois de manifestar satisfação sentenciou:
 
- Prezado aluno: Na nossa atividade, devemos sempre escolher os caminhos do Direito e da Justiça. Mas se tivermos de escolher entre um dos dois, devemos escolher sempre o da JUSTIÇA. Só ela nos faz agir com HUMANIDADE.
 
O Freud já disse que o acaso não existe. E acho que não por acaso, a bela Campo Grande, a Cidade Morena de meus sonhos infantis, faz aniversário no dia 13 de junho que é Dia de Santo Antonio de Pádua.
Não é segredo que apesar de ver anjos nada sei de santos e seus dogmas. Mas sei que Fernando de Pádua ( Nome de batismo do Santo Antônio) foi considerado o Doutor da Igreja e referenciava-se em clássicos como Plínio, Sêneca, Cícero, Boécio, Aristóteles e Galeno. E sei que São Boaventura dizia que ele possuia a ciência dos anjos.
Em breve estarei em Campo Grande para o laçamento de meu próximo livro.
E quero voltar a beber a hospitalidade daquele povo.
E quero passear pela Praça Ary Coelho compartilhando um tereré amigo.
E quero me resfolegar com um nhoque de mandioca com molho de carne seca.
E quero sobretudo voltar de lá, banhado pela humanidade daquela gente.
 
Fraterno abraço!
André           

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