quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Caso Cínico: Seremos nós Cometas?

Ela foi derramando suas demandas e o psicanalista nem teve tempo e oportunidade de expor as preliminares comuns em todo início de tratamento. 
- Sinto que estou cansada e que tenho carregado um peso que não estou suportando mais. Na verdade estou me sentindo como se eu fosse um cometa.
Silêncio...O psicanalista questiona:
- Como assim um cometa?
A mulher adota um semblante extremamente sério e o psicanalista percebe que aquela elaboração prometia revelar muito para uma primeira consulta. 
Ela responde:
- Sinto que sou um cometa e minha trajetória representa minha história e experiência de vida. 
- Mas isso é poético até. Gostei da metáfora.
- Mas não é pra gostar. E nada tem de poesia nisso. Todo cometa tem cauda. E na cauda do cometa está tudo o que é colhido pelo caminho. E a grande maioria das coisas é lixo espacial. Sei que passei por planetas incríveis, e muitos momentos fizeram dessa minha viagem  uma coisa maravilhosa. Contudo, sinto que nos últimos anos minha rota entrou num sistema da galáxia decadente e morto. Os planetas que tenho passado estão destruídos e capto deles somente  o lixo que sobrou. Não tenho visto sóis no meu caminho. Apenas estrelas anãs que há muito perderam a vida e a luz. E o lixo e as sombras do momento da morte são captados e se incorporam ao meu corpo vagante. Não tenho brincado pelas nebulosas como dizia a canção juvenil de minha adolescência. Acho na verdade, que o universo com toda a sua energia, me atribuiu a missão de ser um astro celeste lixeiro. Estou cansada. Estou com uma carga muito pesada de lixo e desgraça. 
O psicanalista pensou por alguns instantes e falou da desconstituição necessária de toda a experiência negativa e da igualmente necessária construção de uma nova história e das coisas do tratamento enfim. Contudo, já no aperto de mão final, na porta do consultório,  o psicanalista finaliza:
- Como te disse, continuo gostando da metáfora do cometa e mesmo com todo o teu sofrimento ainda vejo poesia nisso tudo. Não esqueças que existem várias teorias aceitas pela ciência que revelam que é no corpo do cometa, entre lixo cósmico e sombras, que existem também as partículas que dão origem à toda a VIDA conhecida. 

Fraterno abraço
André Lacerda - Psicanalista

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sábado, 22 de novembro de 2014

Caso Clínico: As Baratas que Habitam!

Antes de qualquer coisa vou manifestar:
TODOS os meus escritos, são elaborados a partir de minha formação e de minha experiência psicanalítica. Quando em algum texto faço menção à algum autor (normalmente Freud e Lacan) faço as devidas citações.
Todas as minhas publicações são feitas com origem no blog O Criador e a Criatura, que foi criado, registrado e devidamente classificado em 2008. E para fins de comercialização, todos os meus direitos autorais são de propriedade da Editora que me publica e administra os mesmo. 
Contudo, jamais tranquei ou proibi que as redes sociais compartilhassem ou publicassem alguma crônica minha. E continuo pensando que " só e justo cantar, quando nosso canto carrega consigo as coisas e as pessoas que não tem voz!" Isso quem disse foi o poeta Ferreira Goulart.
Dito isso... segue o baile...

Esse caso clínico é muito discutido e serve como aula inaugural em qualquer percurso de psicanálise. 
A paciente jovem de 20 anos, é encaminhada pela família em estado de depressão profunda. Mas depressão da braba mesmo. Não saia da cama sequer para realizar suas necessidades fisiológicas. Ou seja, fazia tudo na cama. E não tinha anti depressivo que resolvesse. Então... a familia procura o psicanalista. Eis o caso:
- Já é nosso segundo encontro. Venho na tua casa, quero te conhecer, saber de tuas dores, saber de teus sonhos e pesadelos, saber de ti, ser teu acompanhante nessa luta que se chama vida, mas não me falas uma única palavra? Já estou até me acostumando em te ver nessa cama com teus cobertores. Lá fora faz quase quarenta graus sabia? Não sentes nem vontade de tomar um mega banho?
Nada...
A paciente não se manifestava de jeito nenhum... ele esperou mais um tempo... repetindo a primeira visita... e pensou que mais uma vez iria embora sem nenhum resultado. Falou pra paciente e para as paredes:
- Vou embora mais uma vez me sentindo mal... não estás me ajudando mas creio que estou falhando contigo. Não estou conseguindo te ajudar... estou triste!
Levanta-se e vai devagar se dirigindo à porta do quarto da jovem paciente... e escuta por primeira vez uma voz fraca vindo da cama:
- Eu não posso tomar banho. Nem ir no banheiro. Nem andar por essa casa. Eu tenho medo!
- Do que tens medo?
- Medo das baratas. Essa casa toda está investada de baratas. A cidade é das baratas. O único lugar que elas não estão é na minha cama. 
O psicanalista escreveu em suas anotações a palavra BARATA. A paciente continuou:
- Sonho sempre com uma barata gigante que habita o banheiro. E ela sai de dentro de uma GARRAFA!
O psicanalista pega duas canetas. Uma Monblanc dourada com ponta de platina e custando alguns milhares de dólares. E uma Bic... comum... de dois reais.
Perguntou:
- Essa Monblanc custa  4 mil dólares. Que achas dela?
- Bonita! e CARA!
- Essa Bic custa dois reais. Que achas dela?
- BARATA!
.......
Vou encurtar os relatos e vou objetivar. 
Muitas vezes o inconsciente se manifesta de uma maneira que somente uma escuta bem atenta (puxando a brasa pro meu assado - o psicanalista!) pode decifrar. Neste caso, o medo de barata teve estruturas formadas a partir da morte do pai da paciente. Quando o pai morreu, a mãe já separada ha muito tempo ao vê-la chorando, a critica, dizendo que seu pai não merecia uma lágrima. Havia abandonado a família. Era um bêbado. Não valia nada. Ou seja: Uma coisa que não vale nada é uma coisa ??? BARATA. Uma barata saindo de dentro de uma garrafa, afinal  o pai tinha problemas com alcoolismo. Entenderam? 
Esse caso terminou bem. Depois de estruturada a dor inconsciente, a paciente foi melhorando, se entendeu com a mãe e acabou fazendo o luto da maneira devida. 
Este é apenas um jeito de se entender como funciona a Psicanálise nos tratamentos psiquicos. 
Fraterno abraço
André

P.S.: Não esqueçam...risos... Meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana está à disposição. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com



   

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Caso Clínico: Ressentimento!

A frase "guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra", é atribuída há dez autores distintos entre eles o Freud.
Confesso que jamais encontrei a expressão em qualquer obra freudiana, e penso que se o Freud citou isso em alguma entrevista etc, deve ter citado Buda ou Shaskespeare... não sei. Se alguém puder que me ilumine ...
Mas vou me deter brevemente na expressão e penso que ela deve ser pensada e discutida. 
Sabemos que a repetição do trauma é provável causa e origem de sofrimento psiquico ou psicopatologia.
A literatura técnica tem vários exemplos disso e eu vou citar suscintamente um caso que acompanhei.
Paciente de 19 anos em estado depressivo grave.
Sintomas iniciaram-se quando o menino foi traído (abandonado) pela namorada numa festa da faculdade. Ela simulou uma ida ao banheiro, e encontrou-se com outro menino atrás da capela da Universidade. O Namorado (paciente) por acaso (se o acaso existisse) flagra o evento e assim acusa o golpe. 
No tratatamento descortina-se o fato de que o menino havia sido abandonado pela mãe com poucos meses de vida... na porta de uma igreja. Ou seja... ele não foi só traído e abandonado pela namorada. O evento fez com que o inconsciente fizesse a leitura de repetição do trauma vivido. E com o tratamento ainda descobriu-se adotado, renegado, dispensado, etc..
Logicamente que com o tratamento também descobriu-se amado pelos pais adotivos, acolhido e na verdade com muita sorte pois a vida lhe dera muitas coisas boas. 
Contudo me ponho a pensar: 
Como evitar o ressentimento?
Será que ressentindo estaremos desejando a morte do outro?
Existe uma fórmula que nos dê o condão de não sentir aquelas agressões que nos são contumazes?
Não sei... acho que tudo é (como vida) muito subjetivo. 
Mas não creio que o Freud tenho dito essa frase. E muito menos escrito essa frase. 
Fraterno Abraço

André Lacerda - Psicanalista

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Caso Clínico: Só mais um sobrevivente!

Era uma tarde daquelas no prenúncio de verão. Calor de trinta e muitos graus...
Ele chegou com humildade... melhor dizendo... ele chegou com sinais de extrema humilhação... 
E ele já entrou se explicando:
- Antes de começar-mos gostaria de dizer que essa vai ser minha primeira e última consulta, e na verdade estou aqui na espera que tu faças um milagre em apenas essa sessão. Estou acabado e preciso somente de orientação.
O psicanalista imaginou que o estigma de milagreiro não iria lhe cair bem e pensou em interromper de imediato a conversa... mas... ficou atento... afinal não ia negar aqueles cinquenta minutos de estruturação. Perguntou:
- Que te trazes aqui?
- Minha vida acabou. Meu último grande problema foi ter perdido o emprego. Tenho mais de quarenta anos... sabes como é né?
Ao longo de minha vida fiz escolhas erradas e muitas vezes fui injusto com os outros e até comigo mesmo. Iludi, menti, traí e fiquei devendo favores e dinheiro. Nunca fiz maldades voluntariamente, mas hoje sei que algumas ou muitas vezes fiz o mal a quem não merecia. Exerci o poder quando me foi permitido e muitas vezes como um tirano e não como um líder. E usei do poder que tinha, e que mesmo sendo efêmero e limitado muitas vezes mexia com a vida das pessoas que me cercavam e que em mim confiavam. E nem sempre minhas ações foram benéficas. Me arrependo de todo o mal que causei e acho até que já paguei por tudo. 
O psicanalista interrompeu e perguntou:
- Estás aqui pela culpa que sentes de tudo isso?
- Não. Como te disse eu acho que por esses erros eu já paguei.  Estou aqui por que estou sem norte. Falta emprego e dinheiro. Sobram dívidas. Sobra decadência e me sinto indigno de encarar meus filhos. Sinto vontade de me matar. Aliás penso que morrer seria bom, já que morrer é inexorável.  
O psicanalista conseguiu ver que definitivamente não iria conseguir fazer fazer o milagre e depois de alguns minutos verbalizou:
- Não sou juiz e por isso não vou julgar tuas atitudes como certas ou erradas. Também não sou advogado e por isso não posso dizer o que deves fazer para saldares tuas dívidas. Não sou policial e não vou ver em ti crimes ou más atitudes. Penso que devemos juntos identificar os materiais que foram usados na tua construção e escolher aqueles que precisam ser substituídos e quais ainda podemos aproveitar. E penso que tua morte não te perdoará de nada. Penso sim, que tu és um sobrevivente. Um sobrevivente. Não um morrente! 
- E o que tu me recomenda então?
- Te recomendo um tratamento. Começaremos com três sessões semanais.
- Não tenho como te pagar. Sequer tenho dinheiro pra pagar a consulta de hoje. Entrei aqui no desespero. O calote que vou te dar hoje foi premeditado. 
- Te acolho. Me pagas quando puderes. Quero te ajudar. E se eu tiver sucesso, tu me ajudarás. 
Ali estava se iniciando um forte vínculo clínico. 
O psicanalista ainda pensa:
- Seremos dois sobreviventes??

Fraterno Abraço 
André Lacerda - Psicanalista

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Caso Clínico: A Suposta Ninfomaníaca.

Ela chegou numa manhã de inverno e eu não vi, mas todos que estavam presentes disseram que sua chegada causou frisson e que o própio sol matutino ficou babando pela sua beleza.
Era linda. Loura. Olhos azuis e corpo de sílfide que baila ao caminhar. Uma menina... 20 anos...
O psicanalista não se admirou muito quando ela antes mesmo de se apresentar deitou no divã freudiano e acidentalmente(???) deixou à amostra um belíssimo par de pernas. Essas coisas acontecem com frequência na atividade clínica. São nesses momentos que o psicanalista deve realmente saber qual é o seu lugar no processo, e sobretudo saber que na clínica tudo deve ser entendido como demanda clínica.
Pensou:
- Valei-me meu São Lacan!! Prevejo tempestade na minha calma manhã de inverno. Valei-me!!
Estabeleceu (ou procurou estabelecer) o vículo inicial:
- Fico feliz em te receber. Sinta-se a vontade nas nossas sessões. Mas te peço que sentes aqui na poltrona. Vamos conversar um pouco. Terás tempo para o divã! Agora é tempo de eu te conhecer. Preciso saber de tuas dores, do que te falta, de tua vida enfim. Porque me procuraste?
Ela levantou-se do divã... olhou-se no espelho de uma das paredes... ajeitou a saia e o cabelo. Sentou solenemente na poltrona cruzando quase 15 metros de pernas e pigarreou:
- Sou ninfomaníaca. Sou bipolar. Sou hiperativa. Sou depressiva. Acho que sou border. Sou inteligente pra vida mas sou burra pra faculdade. Exijo fidelidade mas não consigo ser fiel. Enfim, quero que tu me internes naquela clínica lá da zona sul. Aquela com área verde, quadra de tênis, sauna, piscina, etc. Já olhei no site. Mas lá não deixam levar o celular né??? Mas isso tu podes autorizar né?
O psicanalista pensou, e ficou novamente com vontade de chamar São Lacan e que viesse com o reforço do São Freud... e que deixasse a Santa Melanie Klein na reserva pro segundo tempo...
- De tudo que falaste quero que me expliques porque te achas inteligente pra vida e burra para as coisas da faculdade. Podes fazer isso?
- Claro! Mas isso é meio óbvio né? Vivo bem e tenho amigos que me querem bem. Leio bons livros e os entendo. Acho que a cultura é nosso maior bem. Consigo conversar com todos e todos me acham interessante. Meu problema é com os teoremas, conceitos matemáticos, geometria analítica, algebra, cálculo e essas coisas que são tratadas na faculdade de arquitetura.
- Entendi. Fazes arquitetura. Que legal. Mas essas coisas todas não são curriculares do próprio curso?
- São. Mas eu nã gosto!
- Não gostas de arquitetura?
- Gosto! Mas só da obra pronta. Quero ser arquiteta porque acho bonito ser arquiteta. Desde menina minha mãe disse que eu levava jeito pra arquitetura. Tu não acha que tenho cara de arquiteta?
- Acho que tens cara de Sofia (obviamente que não é esse o nome da paciente). Mas me diga: Porque dizes que és bipolar, borderline, hiperativa e ninfomaníaca? E de onde vem essa ideia de internação?
- Bem...
Ela deu uma pausa... e pensou... e pensou... e pensou...
- Quando sinto vontade eu faço sexo. As vezes fico triste quando algo não está  de meu agrado. E as vezes fico a milímetros de explodir quando minhas vontades não são atendidas.
- Mas quem diagnosticou em ti essas psicopatologias?
- Tu não tá entendendo??? Se eu tenho vontade eu trepo mesmo! E nem tenho namorado! Isso é coisa de tarada... tá na cara que sou ninfomaníaca...
- E????
- Será que tu não tá vendo que preciso ser internada????
Naquela manhã de inverno os santos da Psicanálise não vieram ao socorro do psicanalista. Mas naquela hora que se seguiu, o psicanalista conseguiu entender perfeitamente todas as demandas da jovem mulher.
Foi um tratamento breve... em alguns meses Sofia trocou a arquitetura pela comunicação e hoje milita no campo da  publicidade, além do cinema e do teatro.
Dia desses o psicanalista encontrou-se com ela num restaurante da cidade. Conheceu seu marido e seus dois filhos. E viu que era uma família feliz.
Naquele dia voltou pra casa com a tranquilidade de ter exercido seu ofício do lugar que lhe era devido.  E lembrou-se da máxima entre os psicanalistas:
" Nós somos como aquele vidrinho de remédio que nosso paciente guarda no armário do banheiro. Quando a dor passa, aquele vidrinho ainda fica ali para o caso de uma recaída. Quando não existe mais dor, o lugar do vidrinho de remédio é no lixo."
Me sinto muito feliz por ter escolhido esse ofício... rs
 
Fraterno abraço
André 
 
P.S.: Recordo à todos que meu Livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana está à disposição dos amigos e amigas. A edição que está disponível é em formato de EBOOK... pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com
 
 
   
 


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Caso Clínico: A abordagem inicial!

- Vamos deixar uma coisa bem clara: Estou aqui por que a família está insistindo e tudo isso está me enchendo o saco. E já te aviso que não preciso de psicanalista e se esperas que eu vá falar de mim pode tirar teu cavalinho da chuva. Entendido?
Foi assim que aquela paciente se apresentou na sua consulta inicial marcada com insistência pela família.
O psicanalista logo pensou em dispensá-la e recusar o atendimento... mas (até hoje não sabe porque) entrou no jogo. Queria ver onde aquilo ia dar e respondeu:
- Sem problemas. Temos 50 minutos. Podemos falar o que quiseres. Podemos começar com Física Quântica?
- Tu estás maluco? Nem sei o que é isso!!!!
- Certo. Podemos falar da reengenharia proposta por Maslow para reerguer o Japão pós guerra? Afinal esse teórico complementou todos os ensinamentos, de Taylor, Fayol e Ford!
- Ai meu deus!!! Minha mãe escolheu um psicanalista bêbado e louco????
- Oi? Preferes falar sobre a experiência europeia dos micro buracos negros? Penso que antes de afetar, isso pode confirmar e até dignificar a teoria da relatividade de Einstein. Que achas?
- Tu só pode estar "tirando com minha cara" né?
- Não entendi. Podes me explicar o que é "tirando com minha cara"?
- Ahhh Tá! Tu já estás me irritando ....
- Certo. Vou deixar ao teu critério. Sobre o que falaremos? Eu sugeri alguns temas, mas pelo jeito não gostaste de nenhum deles?!
O silêncio habitou o consultório e quase congelou  o psicanalista e sua nova paciente naquela tarde tórrida de 40 graus em Porto Alegre.
Ele esperou. Ela pensou. E ela por fim manifestou:
- Sinceramente? Nada pessoal tá? Mas quero a tua Física Quântica se dane junto com a tal reengenharia do mané Japão. Aproveita e pega a tal relatividade do Einsten e enfia no teu buraco negro tá? CACETE.... TU NÃO VÊS QUE ESTOU SOFRENDO E SE CONTINUAR ASSIM EU VOU PIRAR??????
O psicanalista a encarou com um olhar paternal e pensou que talvez fosse mais difícil despertar os primeiros demônios de sua nova paciente. E lhe sorriu enquanto observa uma lágrima que começava a cair... e disse:
- Não te preocupes. Estaremos juntos e vamos juntos desconstruir esse sofrimento. Estarei contigo e estaremos de mãos dadas enquanto atravessarmos o teu inferno.
A Psicanálise ajudou aquela jovem paciente na construção de sua vida. E até hoje ela frequenta o psicanalista com disciplina espartana.
 
Fraterno Abraço
André Lacerda - Psicanalista
P.S.: Lembro aos amigos que meu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana,  na edição eletrônica  está à disposição de todos. Pedidos pelo email andrelacerda15@gmail.com