Vou reproduzir alguns trechos da entrevista que a Zero Hora publicou dia 21 passado, para depois escrever sobre os mitos, que serão meu assunto de hoje.
" Caim é um livro escrito contra toda e qualquer religião. Ao longo da história, as religiões, todas elas, sem exceção, fizeram à humanidade mais mal que bem. Todos sabemos, mas não extraímos daí a conclusão óbvia: acabar com elas. Não será possível, mas ao menos tentemo-lo. Pela análise, pela crítica implacável. A liberdade do ser humano assim o exige."
Prossegue o escritor de 87 anos:
" Deus não existe fora da cabeça das pessoas que nele creem. Pessoalmente, não tenho nenhuma conta a ajustar com uma entidade que, durante a eternidade anterior, ao aparecimento do universo nada tinha feito (pelo menos não consta) e que depois decidiu sumir-se não se sabe onde. O cérebro humano é um grande criador de absurdos. Deus é o maior deles."
Então falemos hoje de mitos.
Para os estudiosos de mitos e folcloristas, entre os quais eu destaco o Nico Fagundes, os mitos são cósmicos, ou seja universais e atemporais. Não se localizam no tempo e no espaço. Referem-se normalmente a fatores fenomenológicos como a natureza e suas forças, a criação do mundo, do homem e da mulher, o bem e o mal e etc.
Os mitos nada mais são do que histórias de um certo lugar contadas pelo seu próprio povo. O povo conta seus mitos para fazer a sua autobiografia e para eternizar suas memórias. Os mitos são depoimentos feitos sobre si e para si mesmo, portanto, a rigor, trata-se de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que o Freud criasse a psicanálise que inventou o divã do analista.
Ou seja, depor sobre nós mesmos é catártico.
Não sendo folclorista, acredito que desde que descemos daquela primeira árvore primitiva, começamos a criar mitos na medida em que cresciam nossas perdas e ficavam cada vez mais evidenciadas nossas fraquezas e nossos limites.
Precisávamos de um pai super poderoso, que ilimitado nos impusesse limites e nos oferecesse a metáfora da eternidade, uma vez que não conseguíamos combater a morte.
Criamos Deus. Com ele surge sua antítese, quase seu alter-ego, ou seja o Diabo.
E depois a coisa continuou. Querem ver??
A Inglaterra é campeã de mitos que surgiram em decorrência da opressão que assolou a história do bretãos. A Bretanha ocupada por Roma precisava de um mito. Criou-se Arthur e seus cavaleiros da távola redonda. Arthur, ou Artourius, guerreiro bretão romanizado, haveria de surgir para libertar o povo do invasor e para evitar invasões futuras, principalmente dos povos do norte (germânicos, etc...) .
Depois, com a Inglaterra orfanizada pelas aventuras do Rei Ricardo na terra santa, criou-se o mito de Robin Hood. O pai do pobres, justiceiro e paternalista, pois aos filhos dava o pão.
Pessoalmente, acho que Arthur encantou-se mais com as curvas da bretã Guenevere do que com as colunas de Roma e por isso ficou por lá. E Robin, deve ter sido um dos tantos ladrõezinhos populistas que aparecem sempre que o povo fica orfão de pai e mãe. Até hoje existe né??? ou não??
Bem...tem um outro mito que surgiu igualmente no seio de um povo invadido e dominado por Roma.Mas este, não tinha armas nem era douto nas artimanhas da guerrilha. Contudo, era um enviado por obra e glória do senhor de todos os mitos, tendo inclusive nascido de uma virgem, vivido como milagreiro e com poderes de cura sobre todos os males, e morrido para que todos vivessem, ressucitando no terceiro dia.
Enfim... ainda precisamos muito de mitos. Somos cada vez mais órfãos que desacreditam na própria evolução.
Esse Saramago é doido...risos
Fraterno abraço
André
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