quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Casos Clínicos!

Alguém de quem gosto e considero muito, e que sabe de todas as minhas atividades, vive me alertando pra duas coisas com muita ênfase: A primeira é que trabalho demais, e a segunda é que nos meus escritos me exponho demais. 
Sinto decepcionar à quem me quer bem... mas não abro mão de duas coisas: 1) Exercer com dignidade meu ofício (e isso inclui trabalhar muito) e 2) Se me exponho falando a verdade, então que eu seja o sapo dissecado na feira de ciências do colégio.
Dito isso me explico:
Hoje, depois de realizar alguns exames clínicos (aliás agradeço à dedicação de meus médicos que insistem e me dar qualidade de vida útil...risos) recebi a notícia que sou um dos novos membros do clube dos cardiopatas (era só o que me faltava!!!risos ... mas não se alegre muito turma da gestapo e do doi codi, pois Danilo e equipe são guerrilheiros fanáticos na minha defesa...risos).
Exposto me explico: 
Inexoravelmente preciso puxar o freio de mão, e dar uma relaxada... e por isso não serei tão intenso inclusive nas publicações. Aproveito e agradeço o carinho e compreensão dos meus contratantes responsáveis pelas mídias as quais escrevo.
Enfim... segue o baile!!!
Em se tratando de casos clínicos, quero falar hoje de dois casos que pode dar uma ideia de como pode ser intensa a relação entre o psicanalista e seus pacientes e inclusive de pessoas do convívio do paciente.
Não vou ser técnico ( e vai chover paulada da turma da gestapo) mas lembro que no último semestre de 2013, publiquei ampla série de textos extremamente técnicos falando da Transferência e da Contra Transferência que certamente estão nos arquivos do blog, do Reflexões, dos jornais, etc.

Caso Clínico 1:
Paciente homem, 28 anos, casado, heterossexual, depois de alguns meses de tratamento, numa tarde de sábado telefone pra casa do psicanalista:
- É da casa do Dr André?
- Sim. Mas ele não está. O senhor quer deixar recado?
- Não há necessidade eu tenho o celular dele. Mas a senhora é parente?
- Sim... posso lhe ajudar?
- Bem... a senhora pode achar estranho, mas a senhora poderia me informar a marca do perfume que o André usa?
-....... ( silencio na rede... )  Acho que ele não se importaria, mas o senhor pode me dizer porque o senhor quer saber? Lhe aviso que o André fica constrangido recebendo presentes...
- Não senhora...Deixa eu lhe explicar: Tenho sessões com ele nas segundas, nas quartas e na sextas feiras...Terças e quintas fico esperando a hora da sessão do dia seguinte, mas no fim de semana adoraria sentir o cheiro dele...a senhora pode me dizer a marca do perfume???
  
Caso Clínico 2:
Paciente mulher, 42 anos, separada, bissexual, depois de dois anos de tratamento, livra-se da dependência química (cocaína e álcool), retoma atividades profissionais na área do jornalismo, reconquista a guarda dos filhos e mantém tratamento psicanalítico com duas sessões semanais. Volta a viver enfim.
Certo dia, terminada a sessão, paciente já a caminho de casa, o interfone do psicanalista chama:
- Dr André, recepção! 
- Mas senhora recepcionista, não tenho mais ninguém pra hoje. Algum encaixe de última hora?
- Não ... não é paciente...a senhora que está aqui disse que é a esposa da paciente que o senhor acaba de atender!
- Avise que só falo com parentes de paciente na presença do próprio paciente e com autorização do mesmo. 
- Assim ela não quer. Disse que numa outra ocasião então. Obrigado!
O psicanalista veste o casaco... repensa o caminho da volta pra casa... tudo guardado na pasta e dirigi-se ao estacionamento. 
Ao acionar o alarme do carro, um trovão o assusta sob a forma e sonido de uma voz raivosa:
- Seu grande FDP... Vou te quebrar a cara desgraçado!!!
- Mas senhora, porque a senhora quer quebrar minha cara??? Nem lhe conheço??!!!
- Mas conhece muito bem a minha mulher seu corno! Tu acabaste de atender ela! E por tua causa ela me deixou sozinha!
- Mas senhora, não sou dono das decisões de meus pacientes. Apenas ajudo a construir suas vidas da maneira que eles se sintam melhor!
- Vai te foder seu fresco! E Agora???  Como eu fico??? Não tenho mais companheira! Ela não cheira mais, não bebe mais e resolveu voltar para os filhos! Quem vai cheirar comigo? Quem vai beber comigo? E quem vai pagar meu aluguel??? Desgraçado nojento!
Aparece um providencial segurança e o psicanalista entra no carro e segue pra casa. Tranquilo... mas lembra-se da frase do Freud: 

"Uma pessoa que, como eu, evoca o que há de mais perverso dentre os demônios parcialmente domados que habitam a besta humana, e tenta enfrentá-los, não pode esperar sair incólume desta batalha!"

Fraterno abraço
André


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Os Amores Virtuais (Ideais???)

Conheci Martha Medeiros nos meados da década passada. Ela estava na platéia de um seminário onde eu discorri sobre as questões do Transtorno do Estresse Pós Traumático. Ao final, fomos apresentados e eu babei pois já era fã dela há muito tempo. 
Manifestei minha admiração, e inclusive disse que compartilhava muitos de seus textos na rede social da época (orkut) e que sempre faziam sucesso entre os meus "amigos". Ela sorriu e me disse que a maioria dos textos que lhe davam créditos nunca foram escritos por ela. 
Desde então, não compartilho nada que não seja de minha lavra, mas no caso de Martha, hoje vou citá-la. 
Em sua coluna no jornal Zero Hora de hoje, Martha comenta o filme Ela que encontra-se em cartaz nos cinemas com o bom Joaquin Phoenix que vive um recém-divorciado que se apaixona pela voz de um sistema operacional.
Escreve Martha:

" Não há um corpo, mas há uma voz feminina que pergunta, responde, conversa, faz declarações de amor, discute a relação, faz sexo por telefone, dá toda a pinta de que é humana, só que não existe....
Parece ficção científica, mas o relacionamento entre pessoas reais e virtuais, que já acontece, não demora será convencional. Esse futuro está logo ali,dobrando a esquina. O artificial e o verdadeiro estão cada vez mais próximos e parecidos. Enquanto isso, o melhor é continuarmos nos virando nos amores onde há cheiro, toque, pele, e que brotam e murcham, dois processos naturais da vida orgânica. Ao menos, podemos guardar deles a lembrança das mãos que acariciam nossos cabelos e dos beijos de boa noite. 
O dia que um smartphone também fizer isso, eu caso."     

E eu... que já chamei as redes sociais de "grandes cafetinas" (vide textos dos arquivos) fiquei pensando que devo refazer meus conceitos. 
Insisto: Penso que tudo que (ainda) vivemos no dito mundo "virtual" , ainda é produzido por seres humanos animados. Não somos seres virtuais e existimos. Nossos sentimentos, desejos e manifestações, devem ter a nossa assinatura e a nossa cara. Fora disso, ou é uma inteligência artificial (que ainda não existe como ser que sente) ou é psicopatologia.
Martha... sei que me lês... estou com saudades... muitos abraços!
Fraterno Abraço à todos!
André 


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Símbolo e a Cultura!

Primeiro fui técnico. Escrevi sobre a fundamentação teórica (Em Freud) relacionada ao complexo de Édipo. Depois, fui exageradamente técnico e escrevi sob a égide da teoria de Lacan, a série A Formação do Sujeito. E então, resolvi me fazer entender por um número maior de pessoas, e terminei escrevendo de uma maneira lúdica e bem humorada sobre as mesmas questões. Fui elogiado. Mas fui muito criticado sobretudo pelos iniciados que me acusaram de ter sido banal com temas tão complexos. Fiquei triste e feliz. 
Mas segue o baile.... e encerro minhas publicações à cerca da trama edípica, reafirmando o que penso enquanto operário da saúde: A única coisa que eu, enquanto Psicanalista posso prometer, é andar de mãos dadas com meus pacientes pelos seus infernos. Sempre. Inclusive nas suas leituras. Inclusive nos meus escritos.

Para Lacan, o externo do indivíduo é a estrutura da linguagem e a estrutura social, considerada antropologicamente, como o conjunto de leis de intercâmbio entre os sujeitos. A linguagem desempenha um papel decisivo. Da fato, é ela que distingue a sociedade humana das naturais. A dotação biológica do recém-nascido se situa, em seu modelo, na ordem do real.
Lacan propõe que a criança se identifica com o desejo da mãe. O resultado é que o sujeito fica alienado no desejo do outro. Ela não é senão o que a mãe deseja que ela seja: o falo. Por meio do Édipo,produz-se outra identificação, o sujeito se identifica com a lei e adquire a noção de que não é o falo, embora possa possuí-lo. Nesta identificação, tem um papel capital, como significante, o nome-do-pai, que permite o ingresso do indivíduo na ordem simbólica.
Lacan é definitivo, quanto ao papel da linguagem no processo de identificação. O sujeito é, desde o nascimento, presa da linguagem; portanto, é definido em função da estrutura.
A origem fundamental da agressividade não é, em Lacan, como em outros, a frustração. Tampouco as pulsões constitucionais desempenham um papel importante. O ponto medular da agressividade estaria localizado na ruptura da identificação imaginária. Tudo o que a questiona, engendra agressividade. A própria identificação narcisista faz parte da agressividade; a alienação do sujeito no desejo do outro.  No plano filosófico, a dialético do Senhor e o Escravo (Lacan , 1966), extraída da teoria hegeliana, sintetiza o fato de que a satisfação do desejo humano só é possível por meio do desejo e do trabalho do outro.  O que está em jogo é o reconhecimento do homem pelo homem. Esta agressividade parece ser inerente à ordem humana e deixaria sua marca, não só no mal-estar da sociedade mas também na neurose. A cultura imprime sua profunda marca no sujeito. Na proposta lacaniana, o inconsciente é efeito e reflexo da estrutura significante. A dissolução do conflito edípico ocorre graças à representação do falo, como significante principal.Todos os demais significantes surgem de seu deslocamento metonímico e metafórico, tomando forma no inconsciente e guardando entre si as relações que apresentam na linguagem, respeitando suas regras e permitindo as operações  que nela podem ser feitas (condensação e deslocamento). Diferentemente de outros autores, o inconsciente não é, para Lacan, a sede das pulsões. Ele está estruturado como linguagem.
Na conceptualização do conflito edípico, novamente ressalto o grande peso da estrutura e da cultura (entendida como linguagem e lei). Não incidem só em sua resolução, mas também em seu desencadeamento.
O que é externo ao indivíduo, na teoria lacaniana? De maneira diferente de outras teorias, nas quais o externo é representado pela mãe, em Lacan o que está fora do sujeito é o desejo (do outro), a linguagem e a lei. 
Destaco por fim, o grande valor que Lacan atribui à cultura, na constituição do sujeito e, também, em sua psicopatologia. Os elementos inatos realmente têm pouca importância, enquanto que o modelamento imposto pelo mundo externo é de grande envergadura. Derradeiramente, é importante destacar que, na teoria lacaniana, a cultura é um conceito de alto nível de abstração, suprapessoal, diferente dos modelos anteriormente expostos, nos quais é entendida em um sentido mas natural e quotidiano. 
E onde vemos tudo isso????
Valei-me São Ferreira Gullar: 
"Nos quintais, entre plantas e galinhas, nos botecos, nos prostíbulos e nos namoros de esquina..."
E no mais?
Valei-me São Caetano Veloso desejando todo o leite bom e mau da vaca profana:
"Caretas de Paris e New York... sem mágoas estamos ai..."
Fraterno abraço 
André
    
     

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Síndrome de Prometeu!

Abordo um mito. Os leitores entenderão o porque da abordagem. Me valho de várias publicações de fácil acesso pelo google e só deixo de dar créditos, pois estes não são detalhados. Contudo, cito como fonte de orientação, a palestra do Professor Luis Carlos Marques - O mito de Prometeu e o Despertar da humanidade, que encontra-se disponível  no you tube. 
Cada cultura tem sua gênese para o Homem civilizado. Os judeus têm a tomada de consciência de Adão e Eva quando da mordida da maçã (tirada da árvore do bem e do mal). Os hindus têm nos Vedas a "explicação" para a segregação em castas da humanidade: o Homem surgiu de partes do corpo do Deus primordial, e da cabeça saíram os Brâmanes (casta social dominante, de religiosos), dos braços saíram os guerreiros (Kshatryas), das pernas os produtores/comerciantes e dos pés os servos (não-árias, ou "não-homens").
A lenda grega é bem mais interessante do ponto de vista psiquico, e por isso mesmo muito usada na psicanálise. Ela começa com Zeus, o "nosso" Deus, que cuida e zela por nós, em troca de adoração. Os homens naquele tempo não eram mais do que macacos, e Zeus nos fornecia animais, o fogo, cavernas. Éramos totalmente dependentes Dele e do seu humor. Então era bom deixá-lo sempre feliz, por meio de adoração e sacrifícios.
Prometheus (ou Prometeu) era um Titã, uma raça de gigantes que convivia com os deuses. Seu nome, no idioma grego, significa "antevisão", e ele tinha a habilidade de prever o futuro. Foi Prometeu que cuidou da evolução da nossa espécie, nos ensinando a raciocinar e trabalhar; Foi o patrono das artes, da construção de casas e navios, da domesticação de animais; Prometeu nos ensinou a escrita, os números e os remédios. Essa aproximação de um Imortal emancipando seres inferiores (nós, os humanos) enciumou Zeus, que tinha os homens como seus bichinhos ignorantes de estimação.
Zeus exigia cada vez mais dos humanos. Queria para si, de oferenda, a melhor parte do boi (através da imolação, algo que também é encontrado no Velho Testamento). Os humanos tinham de se contentar com as vísceras e as partes menos nobres. Prometeu fez então um truque: dividiu as partes do boi em dois montes, e perguntou a Zeus qual dos dois ele queria que fosse destinado a oferenda dos homens. Um monte era coberto por uma bela e brilhante camada de gordura. O outro era coberto pela pele e estômago do boi. Zeus, iludido pela beleza, escolheu o primeiro monte. Acontece que Prometeu escondeu as carnes do boi embaixo da pele e dentro do estômago, deixando os ossos embaixo da vistosa gordura. Quando Zeus descobriu ficou furioso, retirando o fogo dos humanos como forma de punição. Prometeu, então, roubou o fogo dos deuses, escondendo-o dentro de um gigantesco caule de funcho, e não só o devolveu à humanidade como nos ensinou a fazê-lo.
Não é muito inteligente irritar um Deus, mas Prometeu sabia que um filho gerado por Zeus em um casamento próximo o destronaria, e que somente ele sabia como impedir que isso acontecesse. Ele achava que Zeus não faria nada com ele por causa disso. Bem, ele errou.
A mando de Zeus, Prometeu foi amarrado em correntes, no alto do monte Cáucaso, durante 30 mil anos, durante os quais ele seria diariamente bicado por uma ave de rapina que lhe destruiria o fígado. Como Prometeu era imortal, seu órgão se regenerava constantemente, e o ciclo destrutivo se reiniciava a cada dia. Isto durou até que o herói Hércules o libertou, substituindo-o no cativeiro pelo centauro Quíron, igualmente imortal.
Ainda irritado com os homens, Zeus envia a pior de suas vinganças: Pandora.  Mas isso é outra história.
O mito de Prometeu foi transformado peça teatral pelo poeta grego Èsquilo, no século V a.C, intitulada "Prometeu Acorrentado". É um mito brilhante e rico, pois Prometeu não "prometeu" aos humanos um mundo de delícias, o "paraíso" onde tudo nos era dado. Não. Ao contrário, o que ele ofereceu foi dignidade, autonomia, sustentabilidade e trabalho. Muito trabalho. Se antes o fogo brotava das árvores e já cozia as carnes, enquanto o trigo crescia sozinho, agora os humanos tinham de cuidar de manter o fogo, cozer seus alimentos e lavrar os campos, pra ter o que comer. Prometeu ensinou as artes, a matemática, os ofícios, enfim, as bases de nossa civilização. Podemos estender a sabedoria desse mito para nossas vidas, desde a criação de nossos filhos até a condução de nosso país. Até quando dependeremos do humor de Zeus?
Há alguns anos atrás defendi, tese que foi aceita pelos meus pares e mestres, a hipótese de surgir entre nós o que chamei de Síndrome de Prometeu. 
Afinal... Irritamos os deuses... damos o que não temos a quem não o quer (Lacan disse isso) e mais: Não precisamos de aves de rapina a nos roerem o fígado. Nós mesmo o fizemos.
Fraterno Abraço
André 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A que chora!

Eu ainda estava sob o efeito de minhas "viagens" pela complexa trama edípica onde tento sensibilizar mais minha pobre alma (ainda) herdeira de uma famigerada cultura machista que assola a razão há mais de 10 mil anos. E  eu estava distraído. E eu estava meio triste pensando que quem eu queria que se fartasse com o "banquete" que preparei, nem reparou na delicadeza com a qual preparei a mesa. E se reparou, nem notou os diferentes aromas dos temperos e das ervas. Engoliu tudo sem mastigar, como se aquilo fosse o obrigatório café com pão entre um tijolo e outro da faina de mais uma parede.
Quase nem te vi... mas estavas ali... paradinha... esperando na entrada do consultório...e quando te vi, soube que não te conhecia... ou não lembrava de ti... e esperei.
Me acomodei e projetei mais um dia... respirei fundo... me livrei de todos os pensamentos... e ajustei o nós da gravata, escolhi os óculos e busquei no bolso a velha Mont Blanc tinteiro que me acompanha há milênios. Pedi que o primeiro paciente fosse trazido à mim. E a primeira do meu dia eras tu!
Notei já no aperto de mão teus olhos vermelhos.
Ocupaste meu divã freudiano e logo me pediu um tempo. Precisavas pensar no que me falarias. Perguntei teu nome. Calaste. Esperei...Passaram-se alguns minutos... sentaste e me fitaste e eu vi três lágrimas caídas e muitas por cair. Recruzei as pernas e esperei.
Enquanto te esperava pensei em personagens.
Pensei em Anita. Anita da verde Laguna, do Rio Grande e da Itália. Um filho num braço e no outro um fuzil. Mulher libertária e da causa dos povos.
Pensei na "louca de Espanha" com seus arroubos e aversão à banhos que não fossem os de mar.
Pensei em Olga, grávida no pau de arara no Brasil e parindo num campo de concentração da Europa.
Pensei em Desirèè, amada e conquistadora do conquistador exilado em Elba.
Pensei em Tarsila, que perturbou o poeta, doida amada e suas telas de pernas roliças, bundas redondas e seios fartos.
Pensei na Clarice e na dor que senti menino ainda no dia de sua morte. Nunca mais aqueles olhinhos puxados e suas palavras. me deu vontade de chorar.
Te olhei. As lágrimas brotarão e me pediste apenas um abraço. Ainda pensava na morte de Clarice e dai foi covardia tua...
Te abracei... e juntos choramos ... e nossas lágrimas se misturaram e eu jamais soube quais eram as tuas e quais eram as minhas. Mandaste às favas meu velho e bom rompante cartesiano.
Não te prometi nada além do que procurar te entender e, te entendendo, te consolar.
Penso em perguntar:
- Alguém já te perguntou sobre os teus desejos?? 
Mas calei... 
Espero estar contigo sempre. 
Teu nome??? Não tens. És a MULHER que Lacan falou que não existia.
A imagem de hoje é obra de Tarsila do Amaral.
Fraterno abraço
André



   

   

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Trama Edípica nas nossas vidas!

Então...depois de voltarmos a falar do Complexo de Édipo, quero evoluir nessa questão.
Contudo... alguns comunicados e avisos:
1) Ao pessoal da gestapo que insiste em me policiar: Minhas publicações são responsabilidade exclusivamente minha, e apesar de terem fundamentação técnica e clínica, não são destinadas exclusivamente para profissionais, então são fundamentalmente publicações de cunho literário. 
2) Aos amigos leitores  (e à todos agradeço sinceramente ao prestígio que dão aos meus textos) insisto que são textos literários e que se em algum caso houver alguma associação, sugiro que procurem seus psicanalistas e debatam o assunto... certo??? Entendidos???  Então ... segue o baile!

Num primeiro momento, pedindo todas a vênias às posições em contrário, não vou tratar da trama edípica com as sub titulações que aparecem em outras correntes como, complexo de Elektra, ou complexo de Jocasta. Penso que a trama edípica se refere ao ser humano e não gosto dessa conceituação a partir da diferenciação de gêneros. Então pra todos os efeitos, Complexo de Édipo é Complexo de Édipo.

Proponho supormos um caso clínico para que abordemos aquilo que penso ser uma grande sacanagem da formação do sujeito no que se refere às mulheres:
A sujeitinho nasce e já tem ali na sua frente o grande amor de sua vida: - Ela! A mãe!
Amor correspondido ao extremo, dedica a ela tudo que possui e pode lhe oferecer inclusive. Seu choro, seu sono, sua fome e sua caca... tudo (imaginei a cena: eu te amo mãe... e vem aquela caca de leite no babador... risos)!
Tempos de amor intenso... de gozo intenso... até que surge alguém. Alguém mais forte, mais viril, o pai interditor que diz:
- Olha sujeitinho... esse amor não pode continuar por dois motivos: Primeiro que esse amor é lésbico e segundo porque essa mulher é minha. Se tu fosses homem, eu te passaria a minha metáfora e mais tarde surgiria outra mulher que tomarias para ti, e dai poderias repassar a tua própria metáfora pra teu filho. Mas és mulher. Mas fica tranquila, que um dia alguém como eu, vai te tomar como mulher, e esse alguém vai te dar o teu falinho tá?? Mas não te ilude... aquele falinho será teu por pouco tempo, pois o teu homem, num determinado momento vai chegar e interditar o teu amor por ele. 
Se tudo der certo, a sujeitinho aceita aquilo como parte de sua formação e passa a amar à quem???? O interditor. O idealiza como seu maior sonho de consumo, e nem sabe ela, mas mais tarde vai começar a procurar alguém que seja a cópia daquele.
Isso... se tudo der certo. E se der errado? As hipóteses são várias. 
E se ela não aceitar o interdito??? E se ela não aceitar que seu grande amor (a mãe) tenha aquele maldito como seu amor sendo assim preterida? E se ela não aceitar que sua sina seja jamais ter o falo?
O fato é que se der errado, existem grandes chances de que essa não dissolução da trama edípica seja origem de psicopatologias e as mais comuns são as do campo das psicoses ( e hoje os nomes são tão legais né??? Ah.. eu sou border!!! eu sou bipolar!!! que legal!!!).
E mais... e se tudo der certo e a sujeitinho aceitar tudo e lá na sua puberdade, adolescência e até já adulta o grande herói interditor mostrar que não é todo esse gás da Coca Cola??? E se ela perceber lá pelos 10, 12 ou 20 anos que perdeu seu grande amor não pra um herói, mas pra um grande babaca??? Como fica???? Odeia ela que topou isso? Odeia ele? Odeia os dois safados que a sacanearam???
E tome neurose... e tome busca por vingança... e tome reprovações escolares... e tome drogas.. e tome problemas!
Que grande sacanagem com as mulheres né??? Que acham?
Fraterno abraço
André 
     


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Retomando o Édipo!

No finalzinho do ano passado, produzi uma série em abordei a base da técnica e teoria psicanalítica de Lacan onde se pode ter noção do desenvolvimento e formação do sujeito.
Contudo, creio que a linguagem tenha sido técnica demais e recebo cotidianamente perguntas que, apesar de terem suas respostas em tais escritos, ainda pairam como demandas. Minha culpa. 
A partir de hoje, vou abordar novamente as formações do sujeito, mas vou faze-lo de forma que pelo menos possibilite uma melhor compreensão.. Espero que me redima... risos.
Trataremos nas próximas semanas, das demandas que já me chagaram, como as síndromes e principalmente com as psicopatologias do campo das psicoses. Para isso, precisamos começar entendendo o Complexo de Édipo.    

O complexo de Édipo caracteriza-se por sentimentos contraditórios de amor e hostilidade. Metaforicamente, este conceito é visto como amor à mãe e ódio ao pai, mas esta ideia permanece, apenas, porque o mundo infantil resume-se a estas figuras parentais ou aos representantes delas. A ideia central do conceito de complexo de Édipo inicia-se na ilusão de que o bebê tem de possuir proteção e amor total, o que é reforçado pelos cuidados intensivos que o recém nascido recebe por sua condição frágil. Esta proteção é relacionada, de maneira mais significativa, à figura materna. Mais ou menos aos três anos, a criança começa a entrar em contato com algumas situações em que sofre interdições. Estas interdições são facilmente exemplificadas pelas proibições que começam a acontecer nesta idade. A criança não pode mais fazer certas coisas porque já está “grandinha”, não pode mais passar a noite inteira na cama dos pais, andar pelado pela casa ou na praia, é incentivada a sentar de forma correta e controlar o esfíncter, além de outras cobranças. Neste momento, a criança começa a perceber que não é o centro do mundo e precisa renunciar ao mundo organizado em que se encontra e também à sua ilusão de proteção e amor total. O complexo de Édipo é muito importante porque caracteriza a diferenciação do sujeito em relação aos pais. A criança começa a perceber que os pais pertencem a uma realidade cultural e que não podem se dedicar somente a ela porque possuem outros compromissos, como é o caso do trabalho, de amigos e de todas as outras atividades. A figura do pai representa a inserção da criança na cultura, é a ordem cultural. A criança também começa a perceber que o pai pertence à mãe e por isso dirige sentimentos hostis a ele. Estes sentimentos são contraditórios porque a criança também ama esta figura que hostiliza. A diferenciação do sujeito é permeada pela identificação da criança com um dos pais. Na identificação positiva, o menino identifica-se com o pai e a menina com a mãe. O menino tem o desejo de ser forte como o pai e ao mesmo tempo tem “ódio” pelo ciúme da mãe. A menina é hostil à mãe porque ela possui o pai e ao mesmo tempo quer se parecer com ela para competir e tem medo de perder o amor da mãe, que foi sempre tão acolhedora. Na identificação negativa, o medo de perder aquele a quem hostilizamos faz com que a identificação aconteça com a figura de sexo oposto e isto pode gerar comportamentos homossexuais. Nesta fase, a repressão ao ódio e à vontade de permanecer em “berço esplêndido” é muito forte e o sujeito desenvolve mecanismos mais racionais para sua inserção cultural. Com o aparecimento do complexo de Édipo, a criança sai do reinado dos impulsos, dos instintos e passa para um plano mais racional. A pessoa que não consegue fazer a passagem da ilusão de superproteção para a cultura, psicotiza.

Enquanto, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração.
A menina aceita a castração como um fato consumado, ao passo que o menino teme a possibilidade de sua ocorrência, ou seja, na menina, está excluído o temor da castração. 
A dissolução está mais relacionada à criação e intimidação oriunda do exterior, as quais a ameaçam com uma perda do amor . A renúncia ao pênis não é tolerada pela menina sem alguma tentativa de compensação . Por uma equação simbólica, desliza do pênis para um bebê, ou seja, seu complexo de Édipo culmina em um desejo de receber do pai um bebê como presente que é gradativamente abandonado porque esse desejo jamais se realiza. 
O complexo de Édipo mais completo é o chamado  dúplice- positivo e negativo devido a bissexualidade originalmente presente na criança. 
Assim, uma criança tem, ao mesmo tempo: 



· Uma atitude ambivalente para com o pai e uma escolha objetal afetuosa pela mãe; 
· Uma atitude afetuosa feminina para com o pai e um ciúme e hostilidade em relação à mãe .

A dissolução do complexo de édipo e a formação do superego produz-se através de  uma identificação paterna e uma materna. 
Forma-se um precipitado no ego, consistente dessas duas identificações unidas uma com a outra de alguma maneira. Esta modificação retém a sua posição especial: ela se confronta com os outros conteúdos do ego com um ideal do ego ou superego. 
O ideal do ego tem a missão de reprimir o complexo de Édipo. O superego retém o caráter do pai e será mais severo, quanto mais poderoso for o complexo de Édipo ou a repressão social. Um superego severo impõe uma dominação sobre o ego, sob a forma de consciência ou um sentimento inconsciente de culpa.


A diferenciação do superego a partir do ego não é questão de acaso; ela representa as características mais importantes do desenvolvimento tanto do indivíduo quanto da sociedade. 
O ideal do ego, ou superego, representa nossas relações com nossos pais.
Fraterno abraço
André


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Distância que nos Une!

O Freud disse que a distância gera saudades. Jamais o esquecimento. E ele falou isso nos tempos idos, quando as comunicações não eram instantâneas como hoje são.
A distância nos dói. E por mais que a tecnologia nos una, ainda necessitamos estar juntos. E essa necessidade que temos de estar perto de quem amamos dói mais que a saudade.
E a distância é a soma de nossos maiores medos.
Gosto da ideia de que enquanto não esquecermos não estaremos distantes. E enquanto não formos esquecidos não estaremos sozinhos.  
E tem casos que a distância surge como remédio. Cada vez mais casais em crise optam pelo distanciamento para salvar casamentos. Em muitos casos  isso funciona.
Entretanto, nossas tendências são viscerais. Precisamos do toque na pele, do cheiro, do gosto e sobretudo das emoções e prazeres que essas sensações nos proporcionam.
É por isso que a tecnologia que nos une instantaneamente, por vezes supre mesmo as necessidades mais viscerais.
O lado ruim disso, é que muitas vezes as redes sociais e outros aplicativos se transformam em verdadeiros prostíbulos ou açougues virtual como já manifestei em outros escritos publicados nas mídias que escrevo.
Mas não acredito em relações virtuais. Penso que se elas existem devem ser tratadas como patologia. 
Me explico:
Se existem relações que são iniciadas pela internet ou pelo telefone, elas são relações humanas. Não relações virtuais.
E como são relações humanas, elas produzem todos os efeitos da interação entre pessoas. A começar pela amizade passando inclusive pelas relações sexuais.
E penso que isso não pode ser classificado como virtual.
Entretanto, se a relação humana, dita virtual é baseada na mentira e na ilusão, então penso que é no mínimo patológica, podendo ser inclusive criminosa. 
Mas isso não é exclusividade do mundo virtual que alias eu não creio que exista. Isso são coisas do mundo real e das relações humanas cuja dinâmica, está repleta de verdades, mentiras, ilusões, crimes e patologias.
Então ... que todas as nossas distâncias sejam suprimidas cada vez mais, e que cada vez mais o mundo e as relações humanas avancem com mais verdade e com cada vez menos mentira, crimes e patologias.
Fraterno abraço
André