No dia 13 de abril de 1901 nascia Jacques Lacan, um ano depois do lançamento da obra fundadora da psicanálise: a Interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Apesar de não terem se freqüentado, é Lacan quem promoverá nos anos 50 o famoso movimento de retorno a Freud, trazendo os textos freudianos para o foco de interesse não só de psicanalistas (dispersos em outras referências) como também de médicos, filósofos, lingüistas, antropólogos, literatos, matemáticos e do público em geral que vinha assistir aos seus seminários. Esse movimento continua até hoje: a conexão da psicanálise com outras disciplinas chegou para ficar.
Lacan procurou dar um status científico à psicanálise, utilizando recursos da matemática e da lógica (da teoria dos conjuntos à topologia). Seguindo o ideal de transmissão próprio à ciência, ele propôs ''matemas'' (''o que se ensina'', em grego) tanto para os conceitos freudianos quanto para os que ele foi produzindo ao longo de seu ensino (grande Outro, sujeito barrado, objeto ''a'' etc), compondo, assim, uma ''álgebra lacaniana''. Por outro lado, sempre acentuou a especificidade e a independência do saber psicanalítico em relação à magia, à religião e à ciência (na medida em que esta rejeita a verdade do sujeito do inconsciente). E nunca deixou de enfatizar a singularidade da relação analista/analisante, vínculo inventado por Freud em contraposição a todos os outros já existentes.
Lógico por um lado, literário por outro, o psicanalista, dizia Lacan, deve ser letrado, pois ele lida com a instância da letra no inconsciente e com o sintoma do sujeito que nada mais é do que uma letra que fixa um gozo. Situa, assim, a psicanálise entre matema e poema.
Encontramos também em Lacan, evidenciado na última parte de sua obra - uma teoria da cultura e de seu mal-estar dentro da perspectiva inaugurada por Freud. O analista, dizia, deve ''alcançar a subjetividade de sua época'' e não ''abaixar sua armas diante dos impasses crescentes da civilização''
Mais conhecido por seu aforismo o ''inconsciente é estruturado como uma linguagem'', indício de sua contribuição dos anos 50 ao inserir a psicanálise no campo da linguagem e fazer sobressair assim a função da fala, Lacan também inovou a psicanálise nos anos 70, incluindo-a no ''campo do gozo'', denominado por ele de ''campo lacaniano''.
O gozo e seu campo é o conceito lacaniano que abrange o prazer e o desprazer, apontando como estes estão em continuidade - ele expressa a conjunção de Eros e Tánatos. O gozo não se deixa apreender totalmente; ele está sempre extravasando, transbordando, escapando como o tonel das Danaides, que contém um furo que faz com que elas estejam sempre o enchendo sem jamais o completarem. Ele se encontra no ato de se coçar e até mesmo no de se incendiar com gasolina, como os bonzos. Não há limite para o gozo. Entretanto, ele não pode ser reduzido ao sexo, pois não se deixa aprisionar pelo significante fálico. O que não quer dizer que seu campo não seja estruturado.
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