Insisto: O melhor estudo de Freud, está em Freud. Ou seja: O ideal, é ler a Obra completa do mestre, e sobre sua vida, tudo se vê nas famosas cartas de Freud. Eu pessoalmente, tenho a obra completa com capa de couro na minha estante, mas nos últimos anos, tenho lido Freud no notebook e nos últimos meses, no tablet. A coleção eletrônica é completa e fácil de ter, portanto recomendo.
Então, como dizem no meu amado Rio Grande do Sul... segue o baile e abre a gaita gaiteiro!
Reitero que na série em curso, me utilizo da maestria da psicanalista Amina Maggi Piccini através de seus estudos publicados em 1986.
Em abril de 1923 Freud informava, numa carta a Jones:
"Detectei, há dois meses, um crescimento leucoplásico em meu maxilar e no meu palato, na parte direita, que removi no dia 20. Não voltei ainda ao meu trabalho e não posso engolir. Fui assegurado quanto à benignidade desse crescimento...Meu próprio diagnóstico foi de epitelioma, mas não foi aceito. O ato de fumar é estigmatizado como fator da etiologia dessa rebelião do tecido."
Poucos dias antes de ser operado, Freud, no fim de uma conversa com seu colega médico Felix Deutsch, que fora encontrar-se com ele para discutir outras questões, pedira-lhe para dar uma olhada em sua boca, e foi prevenindo de que lá veria "uma coisa desagradável". Deutsch, logo à primeira vista, percebeu tratar-se de um câncer em estado avançado, mas nada comentou a respeito, limitando-se a confirmar os conselhos dados pelo dermatologista Steiner de realizar uma ablação (oque foi feito) e de suspender definitivamente o fumo (o que foi seguido só esporadicamente). Conforme se pode deduzir das cartas a Jones, o Freud logo suspeitou da verdade que lhe foi ocultada. Sem avisar a família, Freud submeteu-se a essa cirurgia, não numa clínica bem equipada, mas num setor para pacientes externos dirigido por um tal Hajek, não havendo naquele momento nenhum quarto ou mesmo cama à disposição dentro do hospital e parecendo tratar-se, pela orientação do médico, de um problema fácil de ser resolvido. Só após a operação é que a família foi informada. A esposa Martha e a filha Anna, correndo ao hospital, encontraram Freud sentado numa cadeira de cozinha, banhado em sangue. Nenhum médico ou enfermeira estava de plantão naquele momento, mas somente uma freira. Na ocasião, ele foi salvo por um paciente internado, um anão débil mental mas amável e solícito que se precipitara para pedir socorro ao conseguir entender o perigo pelo qual estava passando o recém operado, impossibilitado de falar ou de pedir ajuda por intermédio de uma campainha desativada, mas enquanto isso esvaindo-se em sangue. Foi nesse clima que ocorreu a primeira das 33 operações que o martirizaram na tentativa de lutar contra o câncer. O laudo patológico revelou tratar-se de um epitelioma maligno, mas nada foi dito a Freud, que em seguida foi submetido a um tratamento doloroso de radiações.
Infelizmente, a operação não somente reduzira a abertura da boca, pela retração do tecido devido à cicatriz, mas tinha sido incompleta. Deutsch, percebendo pouco tempo depois a recorrência do tumor, comunicou aos discípulos mais próximos, reunidos em grupo (chamado de "Comitê"), Abraham, Eitington, Ferenczi, Jones, Rank e Sachs, a necessidade de uma cirurgia mais profunda, mas estes decidiram informar Freud somente depois da viagem que o mestre e sua filha Anna haviam programado meses antes a qual esperavam ansiosos ( viagem à Roma). Em seu último ano de vida, Freud sobre por Jones, dessa antiga e secreta decisão do "comitê" e com os olhos em brasa perguntou:
"Com que direito?".
Retornando de Roma, foi escolhido, por sugestão de Deutsch, o maior especialista em cirurgia bucal, Pichler, pessoa extremamente humana que não somente tratou de Freud com grande dedicação durante quinze anos, mas usou de sua autoridade e influência para protegê-lo quando da invasão da Áustria por Hitler.
Num plano operatório, feito em duas etapas (em 4 e em 12 de outubro de 1923), removeu-se todo o maxilar superior e palatar do lado direito. Essa operação mutiladora, que deixou a cavidade nasal e bucal unidas, foi realizada sob anestesia local porque a técnica de anestesia geral não estava ainda desenvolvida na Áustria. Poucos dias depois, percebendo não ter retirado tecido suficiente, Pichler efetuou uma terceira intervenção, desta vez completa. Freud não morreu de metástase desse tumor, mas de outro que apareceu posteriormente.
Sei e todos podem ter acesso as informações que mostram o quando Freud sofreu de 1923 até sua morte em 1939. Pensei em escrever os detalhes. Não me autorizo. Me recuso na verdade. Freud jamais deixou de analisar seus pacientes e nunca parou de escrever. Mesmo sem falar, compareceu à todos os seminários, e sua filha Anna lia suas palavras nas palestras que proferia. E me lembro que alguns anos atrás depois de extrair um dente que estava sobrando, fiquei 3 dias sem atender...
Em 1938, em Londres, Pichler realiza a 33ª cirurgia em Freud. Mas em fevereiro de 1939 reaparecia um novo epitelioma maligno, não muito longe da base da órbita, num local que não permitia acesso para nova intervenção. Freud estava então definitivamente condenado.
"Sinto dores paralisadoras" escrevia à Arnold Zweig. E, a Marie Bonaparte:
"Meu mundo é uma pequena ilha de dores flutuando num oceano de indiferença".
Na região da última lesão havia agora tecido pútrido e um osso necrosado, o que dava origem a um desagradável odor que obrigou Freud à dolorosa decisão de não mais atender pacientes. Max Schur comenta a respeito:
"Seu estúdio transformou-se também no seu refúgio de doente, e do seu leito podia ver o jardim com as flores que amava. Contudo, o cãozinho chow a que Freud era tão ligado não podia suportar o mau cheiro...Quando levado até a sala do estúdio, o chow corria para o canto mais recuado. Freud sabia o que significava aquilo, e olhava para o seu cãozinho com uma tristeza trágica e consciente."
A doença continuou a avançar, causando-lhe terríveis sofrimentos, até que finalmente (dizem alguns que com a ajuda da filha Anna que ministrou altíssimas doses de morfina procedendo a eutanásia à pedido do pai) o pai da psicanálise, morreu em 23 de setembro de 1939.
Uau!!!!!!! Sofri para escrever isso...chorei escrevendo isso!
Na imagem abaixo, um vaso grego de 4 A.C., presente da princesa Marie Bonaparte à Freud. Esta peça, ostenta uma cena da lenda de Édipo e a Esfinge. Hoje, é a urna mortuária onde repousam as cinzas de Freud e sua amada Martha.
Fraterno abraço
André
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