Não esqueçam que comentários são livres.
Basta que escolham a opção anônimo depois de fazer o comentário!
Abraços!
"Uma pessoa que, como eu, evoca o que há de mais perverso dentre os demônios parcialmente domados que habitam a besta humana, e tenta enfrentá-los, não pode esperar sair incólume desta batalha." Sigmund Freud
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Os guris de hoje!
Na minha atividade clínica atendo adolescentes!
Fico atento e maravilhado com cada história, com cada aventura, e não raramente preocupado com o quanto as coisas mudam, e sobretudo na velocidade em que as coisas mudam.
Minha infância e adolescência parecem ser coisas pré históricas, e mesmo sendo do século passado, isso não faz tanto tempo...
Lembro da primeira professora, amor primeiro meu (???) ....
Omito o nome, pois nada mais sei dela, mas lembro que nutria uma paixão ambígua que se mesclava entre o medo e a admiração. Pura paixão....risos... medo e admiração...risos...
Lembro da segunda professora, meu amor inesquecível que omito o nome pelos mesmos motivos...
Há poucos dias, retornando à cidade de minha infância, depois de virado o século, passei em frente ao lugar onde ela morava e me lembro que tinha uma oficina de artes onde aprendi (?) a entalhar pedaços de cheiroso cedro...
Aos 9 anos ao jurava saber amar aquela mulher que me fazia entrar 3 ou 4 vezes na fila do beijo no final da aula...
E era tão bom exagerar nos perfumes do pai ou da mãe, pra agradar a professora...
Adolescente, minha forma de encantar as paixões docentes, era tentando saber. Aos 13 virei comunista, elegi o Chê como meu herói, usava chinelos de couro feitos pelos artesãos da rua da Ladeira, e juro: Comecei a ler Marx e Hegel para encantar a professora de história!
Ao ouvir meus guris de hoje, penso que posso ter sido duas coisas na minha infância e adolescência do século passado: Ou um precoce romântico com um édipo mal elaborado; ou um retardado reprimido pela ditadura e suas reformas famigeradas do ensino brasileiro!
Bem... pra mim são doces lembranças e penso que desejo que aquelas mulheres de minha vida, tenham sido tão amadas quanto eu pensava que mereciam...
Quanto aos guris de hoje, posso dizer que virei motivo de muita graça quando lhes confessei que um dia, lá no século passado, entrava 3 ou 4 vezes na fila do beijo no final da aula...
Fraterno abraço
André
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Amor pelas Estrelas!
Sempre amei as estrelas!
Menino, tal qual o personagem de Piazzola, sonhava em ser o primeiro astronauta à por os pés em Vênus!
Depois, me contentei em sonhar ser apenas astronauta!
Imerso na fantasia, e sem a realidade de uma espaçonave, gosto de ver as estrelas! E foi Descartes quem acabou com meu delírio primário de poder tocar uma estrela!
O sistema cartesiano foi cruel com a poesia humana, pois a criação do método pressupôs que nossos sentidos não eram confiáveis, exatamente por termos a sensação de poder tocar os astros celestes, e isso era uma mentira da nossa visão!
Que bom seria, ser pré cartesiano, e poder estabelecer como meta tocar uma estrela com a ponta dos dedos e trazer neles a marca de sua luz fosfuorescente e brilhante.
Resta a poesia...
Quem me dera sonhar ser poeta e diminuir com minha poesia minha distância das estrelas!
Resta a poesia de Piazzola, na falta da minha, onde anjos, astronautas e crianças bailam ao redor de uma estrela e a chamam para dançar.
Olhemos mais as estrelas.... risos
Fraterno abraço
André
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Um Nova Linguagem???
Faço parte de uma comunidade na internet, que discute a psicanálise lacaniana, e achei interessante uma das condições estabelecidas pelos mediadores para os participantes: Cumprir o artigo 13 da constituição do Brasil, que diz que a língua oficial é o português.
Obviamente, que o pessoal se referiu à essa novíssima linguagem escrita pelos internautas ( não só os adolescentes ) e por aqueles que usam o celular no modo de troca de mensagens de texto.
Num primeiro momento, eu mesmo, que considero-me livre de preconceitos, fiquei assustado ao receber uma mensagem em que a palavra cabeça era escrita somente com as consoantes K, B, e Ç acompanhada da vogal a.
Depois comecei a pensar que poderia estar presenciando o nascimento de um idioma, uma nova forma de manifestação cultural... sei lá!
Pensei como deve ter sido emocionante, quando o primeiro ancestral nosso ouviu a primeira palavra emitida por um de seus pares, ou ainda quando viu pela primeira vez um símbolo garratujado em alguma parede de caverna, que tivesse um significado.
Lacan ( psicanalista francês criador da corrente que sigo) nos ensina que o homem está inserido em um universo de linguagem, e portanto o ser humano é, graças à sua inclusão em um sistema de significantes, e é esta diferença essencial que distingue o homo sapiens das outras espécies do mundo animal.
O SUJEITO, só existe porque é FALADO pelo outro.
O incosciente se estrutura como linguagem e existe porque há linguagem ou convenção significante em um sentido muito amplo.
O desejo do ser humano desliza, incessantemente, de um objeto ao outro, seguindo um caminho que a linguagem lhe indica, com sua organização de deslocamento sintagmático ou metonímico.
Se estou certo na minha crença de que a linguagem determina o sentido que engendra as estrutura mentais, então acho que a antropologia de Levi-Strauss e a linguística de Saussure deverão ter seus conceitos reformulados....
Risos...entendem com bom humor...
Fraterno abraço
André
A destruição de Egos!
Meu ofício me proporciona ouvir histórias! Meu ofício aliás, me remete ao obstinado desejo de ajudar a entender a problemática subjetiva de cada um, e na maioria das vezes, me deparo com as dores e o conjunto do sofrimento!
Recentemente, me deparei com alguns ( isso mesmo, não foi um caso isolado) casos que em mim, foi causa de , no mínimo indignação e dor!
Vou falar de internações...
Internações feitas em instituições (??) que não passsam de depósitos onde egos e subjetividades são destruídos.
Internações onde as pessoas são ....enfim... Vou esperar mais uns dias pra falar disso!
Fraterno abraço
André
sábado, 25 de outubro de 2008
Sábado de Chuva!
Sábado! Chove em Porto Alegre!
Do meu lugar, vejo as grandes águas recebendo mais águas, e penso que tudo se renova e se recria a cada segundo que passa pelo meu tempo que é digital.
Independente de mim, as coisas acontecem e se desenvolvem numa progressão geométrica.
Gosto de pensar que faço parte do universo, mesmo que em forma de partícula, e que a minha falta ou a minha presença altera esse cenário infinito.
As águas do guaíba sentiriam minha falta se eu me fosse??? Acho que não...risos... Mas é bom saber que o todo universal são seria mais o mesmo sem mim!
Saturno ( ícone da melancolia ) habita a manhã de sábado primaveril e chuvoso nas margens do guaíba!
Será que o ambiente nos deprime??? Ou será que essa tristeza molhada nada mais é do que a certeza de que somos impotentes ante as coisas que se renovam e se recriam constantemente?
Me consolo em Freud, que preconizou que o acaso não existe e então não é por acaso que estou aqui. E se logicamente estou aqui, faço parte da renovação... e não só o Guaíba, mas todo o universo sentirá minha falta quando eu me recriar...
Sábado primaveril.... chove em Porto Alegre!
Fraterno abraço
André
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
A Origem de Afrodite, Eros e Psiqué!
As origens das duas deusas, Afrodite e Psiqué , são muito interessantes. Quando os genitais de Urano foram cortados por Crono, caíram no mar e o fertilizaram, dando nascimento a Afrodite ou Vênus. Faltando outro lado, Psiqué nascera quando uma gota de orvalho caíra do céu sobre a terra. A primeira é filha do conflito e da discórdia, mãe da inveja. Psiqué é fruto do céu, em si reúne desejo e vontade, através dela vê-se o ideal faltando trás do real.
Em “O Banquete”, Platão, o tema é o amor. Para Aristófanes, o amor nasceu quando Zeus castigou os andróginos, cortando-os em dois: desde então, cada parte cortada procura a outra metade perdida. Mas Sócrates narra uma outra versão : o Amor é o filho da pobre e ignorante Pobreza e do rico e sábio Recurso. Como a mãe, está sempre mendigando e procurando, mas como o pai busca o que é belo e sábio. Entre esses dois extremos, o Amor ama a beleza da sabedoria sem ser sábio: ele é filósofo!...
Sobre cada mito pode-se falar a vontade sem no entanto esgotar seu significado e sentido. Aqui não se tentou esgotar nada, este texto constitui apenas em aperitivo para aqueles que sem medo queiram mergulhar nas profundezas do seu inconsciente e descobrir-lhe as potencialidades e possibilidades sempre a atualizar na construção da consciência. Daqui podemos entender melhor os opostos Eros e Tânatos, amor e morte, pois a paixão não canalizada para o amor pode tornar-se em rancores, rejeição, ódio, isto é; em guerra. Entender a estrutura do amor e as nuanças da paixão é questão de sobrevivência do Ser de cada um de nós.
Em “O Banquete”, Platão, o tema é o amor. Para Aristófanes, o amor nasceu quando Zeus castigou os andróginos, cortando-os em dois: desde então, cada parte cortada procura a outra metade perdida. Mas Sócrates narra uma outra versão : o Amor é o filho da pobre e ignorante Pobreza e do rico e sábio Recurso. Como a mãe, está sempre mendigando e procurando, mas como o pai busca o que é belo e sábio. Entre esses dois extremos, o Amor ama a beleza da sabedoria sem ser sábio: ele é filósofo!...
Sobre cada mito pode-se falar a vontade sem no entanto esgotar seu significado e sentido. Aqui não se tentou esgotar nada, este texto constitui apenas em aperitivo para aqueles que sem medo queiram mergulhar nas profundezas do seu inconsciente e descobrir-lhe as potencialidades e possibilidades sempre a atualizar na construção da consciência. Daqui podemos entender melhor os opostos Eros e Tânatos, amor e morte, pois a paixão não canalizada para o amor pode tornar-se em rancores, rejeição, ódio, isto é; em guerra. Entender a estrutura do amor e as nuanças da paixão é questão de sobrevivência do Ser de cada um de nós.
Assim, encerramos a série Eros e Psiqué!
Próxima semana, vamos falar do mito de Narcíso!
Fraterno abraço
André
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Análise e Comentário do Mito Eros e Psiqué!
Os símbolos presente neste mito são, como dissemos muito significativos. O próprio amor aparece nele como símbolo, algo a ser desvendado. Assim também é com as duas deusas, uma representa o amor dos sentidos, Afrodite, enquanto a outra é o amor personificado na alma, manifestação metafísica. Psiqué é a inteligência, o amor em forma, idealidade. Isto é; a paixão.
O “estar apaixonado” é uma característica suprahumana, e a humanidade ainda não a sabe dominar, ou se quer conviver com este estado de espírito. É um estado da subjetividade de cada um que, muitas vezes , ao objetivar-se perde-se no objeto. É um estado de crise, em que algo deve nascer como projeção do inconsciente ao nível do consciente, não para se materializar, mas para constituir-se como força metafísica na constituição do si mesmo. Quando alguém se apaixona, seu ser é carregado para estados inebriantes, para níveis de consciência muito acima dos comuns, além dos que algumas pessoas têm capacidade para suportar.
É preciso saber diferenciar amar e estar apaixonado. Amar alguém é ver a pessoa como realmente ela é, e apreciá-la pelo ser que é, com suas falhas, com suas banalidades e sua infinitude.
Se pudermos desfazer-nos da cortina de nevoeiro das tantas projeções que fazemos na vida, a distinção entre amar e estar apaixonado tornar-se-á mais fácil.
Amar nada tem de ilusório; é ver o indivíduo, vê-lo, mas não através de um determinado papel ou imagem que tenhamos planejado para ele. Amar é dar valor à individualidade daquela pessoa, dentro do contexto do mundo comum
Estar apaixonado é outra história, é uma intrusão, para o melhor ou para o pior, é uma inundação de sentimentos e emoção, proveniente de um mundo divino. De repente, vê-se no ser amado um deus ou uma deusa, e através dele, ou dela, vislumbra-se um estado de ser além do pessoal, além da consciência. Sem limites.
O , ou A apaixonada, olha “através” um do outro. Cada um deles está apaixonado faltando uma idéia ou um ideal, ou ainda faltando uma emoção. Estão apaixonados pelo amor, pela idéia de amar no outro o amor de si, projetado na ânima ou no ânimus do outro. É ilusório, não dura, se desfaz com a revelação, torna-se comum e não raro, enfadonho, tedioso. O grande desafio dos apaixonados é manter-se em tal estado, sem objetivar suas emoções. A paixão não se traduz em amor automaticamente, é preciso um aprendizado para se passar do ideal para o real , da paixão para o amor, do finito para o infinito. Estar apaixonado é estar tocado pela deusa Psiqué, sempre pronta a revelar-se como ilusão. Já o amor tem mais a ver com Afrodite, enquanto Eros é a fonte da dúvida entre uma e outra.
A lâmpada e a faca são símbolos. A faca é aquela capacidade destruidora que a mulher tem para afogar o homem com um torrente de palavras. É o comentário arrasador, causador de confusão. A lâmpada, faltando seu lado, simboliza o discernimento, a capacidade de revelar o valor de seu homem com
a luz de sua consciência
O mito diz que Psiqué, ao acender a lâmpada, vê que realmente desposara um deus . Fere o dedo em uma de suas flechas e se apaixona pelo amor. Imediatamente após, perde-o. Como é comum essa experiência em pessoas que enxergam divindade no ser pelo qual se apaixona !
Amar é estar junto com o outro indivíduo, criar laços, somar-se a ele. Estar apaixonado é olhar através da pessoa e com isso perdê-la, inexoravelmente. Tragédia significa ver o ideal e não conseguir atingi-lo.
Entretanto, pode-se transformar a paixão em amor, e é o que os relacionamentos bem sucedidos conseguem.
Este mito oferece ainda outras chaves interpretativas, abrindo-se para a compreensão da personalidade feminina, ânima, que habita a essência do inconsciente masculino que busca sua outra metadade, saudoso da sua androginia.
O “estar apaixonado” é uma característica suprahumana, e a humanidade ainda não a sabe dominar, ou se quer conviver com este estado de espírito. É um estado da subjetividade de cada um que, muitas vezes , ao objetivar-se perde-se no objeto. É um estado de crise, em que algo deve nascer como projeção do inconsciente ao nível do consciente, não para se materializar, mas para constituir-se como força metafísica na constituição do si mesmo. Quando alguém se apaixona, seu ser é carregado para estados inebriantes, para níveis de consciência muito acima dos comuns, além dos que algumas pessoas têm capacidade para suportar.
É preciso saber diferenciar amar e estar apaixonado. Amar alguém é ver a pessoa como realmente ela é, e apreciá-la pelo ser que é, com suas falhas, com suas banalidades e sua infinitude.
Se pudermos desfazer-nos da cortina de nevoeiro das tantas projeções que fazemos na vida, a distinção entre amar e estar apaixonado tornar-se-á mais fácil.
Amar nada tem de ilusório; é ver o indivíduo, vê-lo, mas não através de um determinado papel ou imagem que tenhamos planejado para ele. Amar é dar valor à individualidade daquela pessoa, dentro do contexto do mundo comum
Estar apaixonado é outra história, é uma intrusão, para o melhor ou para o pior, é uma inundação de sentimentos e emoção, proveniente de um mundo divino. De repente, vê-se no ser amado um deus ou uma deusa, e através dele, ou dela, vislumbra-se um estado de ser além do pessoal, além da consciência. Sem limites.
O , ou A apaixonada, olha “através” um do outro. Cada um deles está apaixonado faltando uma idéia ou um ideal, ou ainda faltando uma emoção. Estão apaixonados pelo amor, pela idéia de amar no outro o amor de si, projetado na ânima ou no ânimus do outro. É ilusório, não dura, se desfaz com a revelação, torna-se comum e não raro, enfadonho, tedioso. O grande desafio dos apaixonados é manter-se em tal estado, sem objetivar suas emoções. A paixão não se traduz em amor automaticamente, é preciso um aprendizado para se passar do ideal para o real , da paixão para o amor, do finito para o infinito. Estar apaixonado é estar tocado pela deusa Psiqué, sempre pronta a revelar-se como ilusão. Já o amor tem mais a ver com Afrodite, enquanto Eros é a fonte da dúvida entre uma e outra.
A lâmpada e a faca são símbolos. A faca é aquela capacidade destruidora que a mulher tem para afogar o homem com um torrente de palavras. É o comentário arrasador, causador de confusão. A lâmpada, faltando seu lado, simboliza o discernimento, a capacidade de revelar o valor de seu homem com
a luz de sua consciência
O mito diz que Psiqué, ao acender a lâmpada, vê que realmente desposara um deus . Fere o dedo em uma de suas flechas e se apaixona pelo amor. Imediatamente após, perde-o. Como é comum essa experiência em pessoas que enxergam divindade no ser pelo qual se apaixona !
Amar é estar junto com o outro indivíduo, criar laços, somar-se a ele. Estar apaixonado é olhar através da pessoa e com isso perdê-la, inexoravelmente. Tragédia significa ver o ideal e não conseguir atingi-lo.
Entretanto, pode-se transformar a paixão em amor, e é o que os relacionamentos bem sucedidos conseguem.
Este mito oferece ainda outras chaves interpretativas, abrindo-se para a compreensão da personalidade feminina, ânima, que habita a essência do inconsciente masculino que busca sua outra metadade, saudoso da sua androginia.
Amanhã,veremos a origem das deusas Afrodite e Psiqué!
fraterno abraçoAndré
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Narrativa do Mito de Eros e Psiqué!
O MITO. “Uma história de amor e ódio”
EROS é o amor personificado; o desejo dos sentidos.
PSIQUÉ é igualmente a alma personificada.
“Em certa civilização havia um rei e uma rainha que tinham três filhas lindíssimas. As duas mais velhas, ainda que fossem também muito belas, podiam perfeitamente ser celebradas por louvores dos homens, mas não havia linguagem humana capaz de descrever ou pintar a formosura extraordinária da mais moça. Muitos a proclamam como a nova deusa do amor, ameaçando assim o trono da soberana Afrodite, mãe de Eros. Preterida e abandonada a deusa planeja e prepara a vingança contra a jovem Psiqué, formosa, bela e sedutora da alma e da inteligência humana. “Uma beleza metafísica”, assim é Psiqué.
Ao par do perigo que a cerca, a Grande Mãe, impulso físico do mundo, Afrodite, querendo evitar o confronto de beleza, a deusa chamou seu filho Eros, menino alado e de maus costumes, corruptor da moral pública e provocador de escândalos, o desejo dos sentidos, e deu-lhe uma incumbência urgente. Levou-o à região onde vivia a linda Psiqué, e pediu-lhe que a fizesse apaixonar-se pelo mais horrendo dos homens.
Sim, porque Eros simboliza o Cupido, Sagitário, o arqueiro do amor, que com suas flechas “envenenadas” espalha o amor em todos quantos consegue atingir, sem distinção, fazendo juntar e separar casais e “si mesmos”, que se gosta e desgosta de acordo com as correntezas ou maresias do amor e a necessidade constante de fugir ao ódio ou a morte de si. Beijou-o, muitas vezes, com os lábios entreabertos e retornou ao seu habitat preferido, o bojo macio do mar.
O rei, casadas as duas filhas mais velhas e temendo, como Liríope, a cólera dos deuses por causa da beleza da mais jovem, mandou consultar o Oráculo de Apolo em Mileto. A resposta do deus foi direta e aterradora: Psiqué, coberta com uma indumentária fúnebre, deveria ser conduzida ao alto de um rochedo, onde um monstro asqueroso com ela se uniria. Eros, entretanto, que em lugar de ferir com suas flechas a jovem donzela, havia sido ferido por ela, ordenou ao vento Zéfiro que a transportasse para um vale macio e florido, que se estendia na orla da montanha. Após descansar de tantas emoções e restaurada faltando um sonho vivificador, a jovem princesa se ergueu e viu logo, cercado por um bosque, à beira de uma fonte, um palácio de sonhos: as paredes eram recamadas de baixos-relevos de prata; o pavimento, confeccionado de mosaicos de pedras preciosas; os imensos salões tinham paredes de ouro maciço. Naquela mesma noite da chegada da princesa ao vale dos encantos, Eros, sem se deixar ver, fez de Psiqué sua mulher, mas, antes do nascer do sol, desapareceu rápida e misteriosamente.
Toda noite Eros voltava ao vale e desposava a princesa e partia incógnito e a jovem acabou por acostumar-se à sua nova existência: as Vozes, atentas e solícitas, apaziguavam-na da solidão.
A Fama, uma divindade que simboliza “a voz pública”, fofoqueira, porém, denunciou a aventura de Psiqué e as irmãs casadas, tristes e cobertas de luto, deixando seus lares, apresentaram-se em visitar e confortar os pais.
Eros pressentiu a ameaça que pesava sobre a felicidade do casal e avisou a esposa do perigo iminente: as irmãs, dentro em pouco, viriam até o rochedo para chorá-la. Psiqué deveria fazer ouvidos moucos ás suas lamentações e nem sequer “olhar para ela”, para não incidir no mesmo erro de Orfeu... A jovem esposa tudo prometeu, mas tão logo o amante retirou-se, incógnito com sempre, Psiqué se viu mais que nunca prisioneira da própria felicidade, impedida de consolar e até mesmo de ver suas irmãs (fofoca).
Usando de persuasão e muita astúcia e sedução, Psiqué consegui arrancar do esposo permissão não apenas para vê-las, mas ainda o consentimento para que Zéfiro as transportasse até seu palácio paradisíaco. Entorpecido, Eros concordou com tudo, mas recomendou-lhe e implorou que jamais tentasse ver-lhe o rosto, pormais que as irmãs insistissem nesse ponto.
O encontro, a princípio, foi uma festa, um êxtase. às Lágrimas de dor sucederam as manifestações de alegria e regozijo. Persuadida pelo o ambiente do encontro, a ingênua Psiqué ia-lhes abrindo os segredos de sua doce ventura, a abundância de suas riquezas, as sementes da inveja começaram a germinar-lhes no coração. Embaraçando-se cada vez mais com as perguntas de uma das irmãs, Psiqué tratou-se de inventar respostas e, cumuladas as irmãs de ouro e jóias, fez que Zéfiro as levasse de volta ao rochedo. Mas agora envenenadas pelo fel da inveja, começaram a questionar e confrontar a vida delas com o destino luminoso da irmã mais jovem.
Eros, naquela mesma noite, voltou a advertir a esposa: Não vês o perigo que de longe te ameaça ? Se não procederes com a máxima cautela, o destino se abaterá sobre ti. As bruxas traiçoeiras esforçam-se porte armar uma cilada e a pior armadilha é persuadir-te a contemplar meu rosto. Já te adverti muitas vezes de que nunca mais o verás, se o contemplares uma única vez (...) Dentro em breve teremos um filho.
Ainda uma menina, dará à luz uma criança. Se guardares nosso segredo, ela será um deus; se o propalares, será tão-somente um ser mortal.Os dias se passaram rápidos e o esposo noturno voltou, desta feita, mais incisivo em admoestá-la de que chegara o momento decisivo: as bruxas já se aproximavam, prontas para destruir-lhe a paz e a felicidade. “Deixa-as uivar do cume do rochedo, como as Sereias, com sua voz fúnebre”.
Novas lágrimas de Psiqué, novas promessas, novas juras de amor e o deus apaixonado novamente se curvou aos caprichos da esposa. As conspiradoras, entretanto, tal era a presa em executar seu plano sórdido, tão logo chegaram ao alto do rochedo, nem mesmo esperaram faltando Zéfiro, lançando-se temerariamente no abismo.
A contragosto, o Vento as acolheu e depositou no solo. Com fingida alegria congratularam-se com a irmã pela gravidez, conseguindo, desse modo, desfazer qualquer suspeita. Em seguida, vieram as perguntas, sempre as mesmas: queriam saber quem era o marido de Psiqué. Esta, em sua ingenuidade, se contradisse: na primeira visita dissera-lhes que o esposo era um jovem lindíssimo e agora o descreveu como um homem de meia-idade, um riquíssimo comerciante. Era o que lhes bastava: ou a irmã estava mentindo, e o marido era um deus, ou ela simplesmente ignorava seu aspecto.
De qualquer forma, era preciso destruir a prosperidade de Psiqué. Passaram uma noite em claro em casa dos pais, matraqueando o plano que deveria ser colocado em prática, já pela manhã, estavam novamente no palácio de Eros. Com fingida e cínica preocupação, mostraram à irmã o perigo que a ameaçava. Quem à noite se deitava a seu lado não era um homem, mas uma serpente enroscada em mil anéis, com as faces túrgidas de peçonha, a boca larga como um abismo.
Lembraram-lhe o Oráculo de Apolo que a predestinava a unir-se a um mostro, reforçando seu intento diabólico com a mentira: a medonha serpente, segundo camponeses e caçadores da região, têm sido vista à noitinha, atravessando o rio vizinho em direção ao palácio. O mostro aguardava apenas o momento oportuno para devorá-la, bem como à criança que ela trazia no ventre. Elas, porém, as irmãs, ali estavam prontas para ajudá-la! Transtornada, Psiqué confessou-lhes a verdade: jamais contemplara o rosto do marido e pediu-lhes súplice que a protegessem e assistissem. Vendo que tudo estava aparelhado para o plano sinistro, há muito arquitetado, uma das bruxas o transmitiu à insegura e desditosa esposa de Eros: deveria ela preparar um punhal bem afiado e um candeeiro de luz bem forte.
Quando a “serpente imunda” mergulhasse em sono profundo, seria o instante propício: iluminar-lhe cuidadosamente o rosto e de um só golpe cortar-lhe a cabeça. Embora tivessem prometido que permaneceriam a seu lado, até a “execução do mostro”, tão logo perceberam que o veneno fizera seu efeito, apressaram-se em deixá-la. Sozinha, com o espírito transtornado, Psiqué se agita e parece decidida a perpetrar o crime, mas eis que subitamente hesita, depois resolve; vacila outra vez, desconfia das irmãs, se enfurece, lembra-se dos ternos abraços do esposo... Seria ele, realmente, uma serpente imunda ? Psiqué num mesmo corpo odeia o monstro e ama o marido. Eis a ambigüidade do amor ; mosntro ou fada, medo e curiosidade.
Eros a seu lado dormia tranqüilamente. Como fora de si, a jovem esposa reuniu todas as suas forças: numa das mãos o candeeiro, na outra o punhal. Muito de leve aproximou a luz do rosto do marido. Estava revelado o grande segredo: viu a mais delicada, a mais bela de todas as feras. Eros, o deus do amor, ali estava diante de seus olhos. Tomada de pânico, a jovem quis matar-se, mas o punhal se lhe escorregou da mão. Percebendo ao lado do leito a aljava e as flechas do deus, ao tocá-las, acabou ainda por ferir-se com uma delas. Agora, mais do que nunca, sua paixão seria eterna. Inflamada de amor, inclina-se sobre ele e começa a beijá-lo como louca. Esquecida do candeeiro, deixa-o curvar-se em demasia e uma gota de azeite fervente cai no ombro do deus adormecido. Eros desperta num sobressalto e, ao ver desvendado seu segredo, levantou vôo no mesmo instante; sem dizer uma só palavra, afastou -se rapidamente da esposa. Esta ainda tentou segui-lo através das nuvens, segurando-lhe a perna direita, mas, exausta, caiu ao solo.
Foi então que, descendo das alturas celestiais e pousando num “cipreste”, Eros falou à sua amada: Quantas vezes não te admoestei acerca do perigo iminente, quantas vezes não te repreendi delicadamente. Tuas ilustres conselheiras serão castigadas em breve, faltando suas pérfidas lições; quanto a ti, teu castigo será minha ausência.
Estava decretado o início do itinerário doloroso de outra Psiqué.
Fora de si, a princesa, desejando morrer, lançou-se às correntezas de um rio próximo, mas as próprias águas, numa corcova, repuseram-na em terra.
Para nosso propósito a narração do Mito em si encerra-se aqui .
EROS é o amor personificado; o desejo dos sentidos.
PSIQUÉ é igualmente a alma personificada.
“Em certa civilização havia um rei e uma rainha que tinham três filhas lindíssimas. As duas mais velhas, ainda que fossem também muito belas, podiam perfeitamente ser celebradas por louvores dos homens, mas não havia linguagem humana capaz de descrever ou pintar a formosura extraordinária da mais moça. Muitos a proclamam como a nova deusa do amor, ameaçando assim o trono da soberana Afrodite, mãe de Eros. Preterida e abandonada a deusa planeja e prepara a vingança contra a jovem Psiqué, formosa, bela e sedutora da alma e da inteligência humana. “Uma beleza metafísica”, assim é Psiqué.
Ao par do perigo que a cerca, a Grande Mãe, impulso físico do mundo, Afrodite, querendo evitar o confronto de beleza, a deusa chamou seu filho Eros, menino alado e de maus costumes, corruptor da moral pública e provocador de escândalos, o desejo dos sentidos, e deu-lhe uma incumbência urgente. Levou-o à região onde vivia a linda Psiqué, e pediu-lhe que a fizesse apaixonar-se pelo mais horrendo dos homens.
Sim, porque Eros simboliza o Cupido, Sagitário, o arqueiro do amor, que com suas flechas “envenenadas” espalha o amor em todos quantos consegue atingir, sem distinção, fazendo juntar e separar casais e “si mesmos”, que se gosta e desgosta de acordo com as correntezas ou maresias do amor e a necessidade constante de fugir ao ódio ou a morte de si. Beijou-o, muitas vezes, com os lábios entreabertos e retornou ao seu habitat preferido, o bojo macio do mar.
O rei, casadas as duas filhas mais velhas e temendo, como Liríope, a cólera dos deuses por causa da beleza da mais jovem, mandou consultar o Oráculo de Apolo em Mileto. A resposta do deus foi direta e aterradora: Psiqué, coberta com uma indumentária fúnebre, deveria ser conduzida ao alto de um rochedo, onde um monstro asqueroso com ela se uniria. Eros, entretanto, que em lugar de ferir com suas flechas a jovem donzela, havia sido ferido por ela, ordenou ao vento Zéfiro que a transportasse para um vale macio e florido, que se estendia na orla da montanha. Após descansar de tantas emoções e restaurada faltando um sonho vivificador, a jovem princesa se ergueu e viu logo, cercado por um bosque, à beira de uma fonte, um palácio de sonhos: as paredes eram recamadas de baixos-relevos de prata; o pavimento, confeccionado de mosaicos de pedras preciosas; os imensos salões tinham paredes de ouro maciço. Naquela mesma noite da chegada da princesa ao vale dos encantos, Eros, sem se deixar ver, fez de Psiqué sua mulher, mas, antes do nascer do sol, desapareceu rápida e misteriosamente.
Toda noite Eros voltava ao vale e desposava a princesa e partia incógnito e a jovem acabou por acostumar-se à sua nova existência: as Vozes, atentas e solícitas, apaziguavam-na da solidão.
A Fama, uma divindade que simboliza “a voz pública”, fofoqueira, porém, denunciou a aventura de Psiqué e as irmãs casadas, tristes e cobertas de luto, deixando seus lares, apresentaram-se em visitar e confortar os pais.
Eros pressentiu a ameaça que pesava sobre a felicidade do casal e avisou a esposa do perigo iminente: as irmãs, dentro em pouco, viriam até o rochedo para chorá-la. Psiqué deveria fazer ouvidos moucos ás suas lamentações e nem sequer “olhar para ela”, para não incidir no mesmo erro de Orfeu... A jovem esposa tudo prometeu, mas tão logo o amante retirou-se, incógnito com sempre, Psiqué se viu mais que nunca prisioneira da própria felicidade, impedida de consolar e até mesmo de ver suas irmãs (fofoca).
Usando de persuasão e muita astúcia e sedução, Psiqué consegui arrancar do esposo permissão não apenas para vê-las, mas ainda o consentimento para que Zéfiro as transportasse até seu palácio paradisíaco. Entorpecido, Eros concordou com tudo, mas recomendou-lhe e implorou que jamais tentasse ver-lhe o rosto, pormais que as irmãs insistissem nesse ponto.
O encontro, a princípio, foi uma festa, um êxtase. às Lágrimas de dor sucederam as manifestações de alegria e regozijo. Persuadida pelo o ambiente do encontro, a ingênua Psiqué ia-lhes abrindo os segredos de sua doce ventura, a abundância de suas riquezas, as sementes da inveja começaram a germinar-lhes no coração. Embaraçando-se cada vez mais com as perguntas de uma das irmãs, Psiqué tratou-se de inventar respostas e, cumuladas as irmãs de ouro e jóias, fez que Zéfiro as levasse de volta ao rochedo. Mas agora envenenadas pelo fel da inveja, começaram a questionar e confrontar a vida delas com o destino luminoso da irmã mais jovem.
Eros, naquela mesma noite, voltou a advertir a esposa: Não vês o perigo que de longe te ameaça ? Se não procederes com a máxima cautela, o destino se abaterá sobre ti. As bruxas traiçoeiras esforçam-se porte armar uma cilada e a pior armadilha é persuadir-te a contemplar meu rosto. Já te adverti muitas vezes de que nunca mais o verás, se o contemplares uma única vez (...) Dentro em breve teremos um filho.
Ainda uma menina, dará à luz uma criança. Se guardares nosso segredo, ela será um deus; se o propalares, será tão-somente um ser mortal.Os dias se passaram rápidos e o esposo noturno voltou, desta feita, mais incisivo em admoestá-la de que chegara o momento decisivo: as bruxas já se aproximavam, prontas para destruir-lhe a paz e a felicidade. “Deixa-as uivar do cume do rochedo, como as Sereias, com sua voz fúnebre”.
Novas lágrimas de Psiqué, novas promessas, novas juras de amor e o deus apaixonado novamente se curvou aos caprichos da esposa. As conspiradoras, entretanto, tal era a presa em executar seu plano sórdido, tão logo chegaram ao alto do rochedo, nem mesmo esperaram faltando Zéfiro, lançando-se temerariamente no abismo.
A contragosto, o Vento as acolheu e depositou no solo. Com fingida alegria congratularam-se com a irmã pela gravidez, conseguindo, desse modo, desfazer qualquer suspeita. Em seguida, vieram as perguntas, sempre as mesmas: queriam saber quem era o marido de Psiqué. Esta, em sua ingenuidade, se contradisse: na primeira visita dissera-lhes que o esposo era um jovem lindíssimo e agora o descreveu como um homem de meia-idade, um riquíssimo comerciante. Era o que lhes bastava: ou a irmã estava mentindo, e o marido era um deus, ou ela simplesmente ignorava seu aspecto.
De qualquer forma, era preciso destruir a prosperidade de Psiqué. Passaram uma noite em claro em casa dos pais, matraqueando o plano que deveria ser colocado em prática, já pela manhã, estavam novamente no palácio de Eros. Com fingida e cínica preocupação, mostraram à irmã o perigo que a ameaçava. Quem à noite se deitava a seu lado não era um homem, mas uma serpente enroscada em mil anéis, com as faces túrgidas de peçonha, a boca larga como um abismo.
Lembraram-lhe o Oráculo de Apolo que a predestinava a unir-se a um mostro, reforçando seu intento diabólico com a mentira: a medonha serpente, segundo camponeses e caçadores da região, têm sido vista à noitinha, atravessando o rio vizinho em direção ao palácio. O mostro aguardava apenas o momento oportuno para devorá-la, bem como à criança que ela trazia no ventre. Elas, porém, as irmãs, ali estavam prontas para ajudá-la! Transtornada, Psiqué confessou-lhes a verdade: jamais contemplara o rosto do marido e pediu-lhes súplice que a protegessem e assistissem. Vendo que tudo estava aparelhado para o plano sinistro, há muito arquitetado, uma das bruxas o transmitiu à insegura e desditosa esposa de Eros: deveria ela preparar um punhal bem afiado e um candeeiro de luz bem forte.
Quando a “serpente imunda” mergulhasse em sono profundo, seria o instante propício: iluminar-lhe cuidadosamente o rosto e de um só golpe cortar-lhe a cabeça. Embora tivessem prometido que permaneceriam a seu lado, até a “execução do mostro”, tão logo perceberam que o veneno fizera seu efeito, apressaram-se em deixá-la. Sozinha, com o espírito transtornado, Psiqué se agita e parece decidida a perpetrar o crime, mas eis que subitamente hesita, depois resolve; vacila outra vez, desconfia das irmãs, se enfurece, lembra-se dos ternos abraços do esposo... Seria ele, realmente, uma serpente imunda ? Psiqué num mesmo corpo odeia o monstro e ama o marido. Eis a ambigüidade do amor ; mosntro ou fada, medo e curiosidade.
Eros a seu lado dormia tranqüilamente. Como fora de si, a jovem esposa reuniu todas as suas forças: numa das mãos o candeeiro, na outra o punhal. Muito de leve aproximou a luz do rosto do marido. Estava revelado o grande segredo: viu a mais delicada, a mais bela de todas as feras. Eros, o deus do amor, ali estava diante de seus olhos. Tomada de pânico, a jovem quis matar-se, mas o punhal se lhe escorregou da mão. Percebendo ao lado do leito a aljava e as flechas do deus, ao tocá-las, acabou ainda por ferir-se com uma delas. Agora, mais do que nunca, sua paixão seria eterna. Inflamada de amor, inclina-se sobre ele e começa a beijá-lo como louca. Esquecida do candeeiro, deixa-o curvar-se em demasia e uma gota de azeite fervente cai no ombro do deus adormecido. Eros desperta num sobressalto e, ao ver desvendado seu segredo, levantou vôo no mesmo instante; sem dizer uma só palavra, afastou -se rapidamente da esposa. Esta ainda tentou segui-lo através das nuvens, segurando-lhe a perna direita, mas, exausta, caiu ao solo.
Foi então que, descendo das alturas celestiais e pousando num “cipreste”, Eros falou à sua amada: Quantas vezes não te admoestei acerca do perigo iminente, quantas vezes não te repreendi delicadamente. Tuas ilustres conselheiras serão castigadas em breve, faltando suas pérfidas lições; quanto a ti, teu castigo será minha ausência.
Estava decretado o início do itinerário doloroso de outra Psiqué.
Fora de si, a princesa, desejando morrer, lançou-se às correntezas de um rio próximo, mas as próprias águas, numa corcova, repuseram-na em terra.
Para nosso propósito a narração do Mito em si encerra-se aqui .
Amanhã, postarei comentários e análise do mito.
Fraterno abraço;
André
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Eros e Psiqué!
Freqüentemente, quando uma nova era desponta na história, um MITO brota ao mesmo tempo, como se fosse uma pré-estréia do que vai acontecer, trazendo em si, sábios conselhos para lidar com os elementos psicológicos desse período.
Estamos no limiar de uma era e o mito que se nos desponta é o de Eros e Psiqué visto que o AMOR e a individuação são os principais pontos de busca do ser humano desse novo período da história.
Algo bonito à respeito do inconsciente na personalidade humana é quando chega o tempo de crescer, quando as velhas formas, os velhos hábitos, pavimentam o caminho e dão as boas-vindas aos novos. As velhas formas de agir parecem perseguir as novas que desabrocham, mas, quem sabe, talvez seja a maneira correta de dar à luz uma nova consciência.
É importante lembrar que um mito é algo vivo que existe dentro de cada um de nós. Seremos capazes de captar-lhe a forma viva e verdadeira se o imaginarmos como uma espiral girando sem cessar dentro de nós; poderemos sentir como o mito está vivo dentro da nossa própria estrutura psicológica. Todo “grande”mito é o registro simbólico de um estágio de crescimento na vida de um Ser na busca da sua individuação; é um de-vir, isto é, um vir-a-ser que pulsa latente do inconsciente e se traduz em linguagem a ser decifrada pelo consciente.
O Mito nos mostra os conflitos e as ilusões potenciais da existência autêntica, mas também as possibilidades contidas na situação existencial presente. E, em certo sentido, nada é mais causador de conflito quanto a distinção do que seja o amor. Muitos o colocam em lugar onde certamente ele não se encontra, outros o confundem com outros sentimentos ou lhe atribui sentido equívoco, uma miscelânea de carência, desejo, poder..., O fato é que por amor, o ser humano vem provocando guerras e, ao mesmo tempo, por confundi-lo com procriação, vem povoando a terra com entes mal amados porque de certa forma não desejados, não programados, um acidente de percurso no itinerário do amor. Afinal, o que buscamos quando dizemos que estamos “a amar” ?
A história de Eros e Psiqué é um mito pré-cristão e ainda hoje nos diz muito. Isto porque a química do corpo humano não mudou muito de lá para cá, assim como também a dinâmica do inconsciente psicológico continua a mesma. As necessidades básicas do ser humano, tanto físicas quanto psicológicas, permaneceram fixas, embora a forma de serem satisfeitas tenham variado no decorrer do tempo e dependendo do lugar.
Por essa razão é que, quando queremos estudar os padrões humanos, tanto de comportamento quanto de personalidade, é muito elucidativo irmos às fontes primeiras; o Mito.
Estamos no limiar de uma era e o mito que se nos desponta é o de Eros e Psiqué visto que o AMOR e a individuação são os principais pontos de busca do ser humano desse novo período da história.
Algo bonito à respeito do inconsciente na personalidade humana é quando chega o tempo de crescer, quando as velhas formas, os velhos hábitos, pavimentam o caminho e dão as boas-vindas aos novos. As velhas formas de agir parecem perseguir as novas que desabrocham, mas, quem sabe, talvez seja a maneira correta de dar à luz uma nova consciência.
É importante lembrar que um mito é algo vivo que existe dentro de cada um de nós. Seremos capazes de captar-lhe a forma viva e verdadeira se o imaginarmos como uma espiral girando sem cessar dentro de nós; poderemos sentir como o mito está vivo dentro da nossa própria estrutura psicológica. Todo “grande”mito é o registro simbólico de um estágio de crescimento na vida de um Ser na busca da sua individuação; é um de-vir, isto é, um vir-a-ser que pulsa latente do inconsciente e se traduz em linguagem a ser decifrada pelo consciente.
O Mito nos mostra os conflitos e as ilusões potenciais da existência autêntica, mas também as possibilidades contidas na situação existencial presente. E, em certo sentido, nada é mais causador de conflito quanto a distinção do que seja o amor. Muitos o colocam em lugar onde certamente ele não se encontra, outros o confundem com outros sentimentos ou lhe atribui sentido equívoco, uma miscelânea de carência, desejo, poder..., O fato é que por amor, o ser humano vem provocando guerras e, ao mesmo tempo, por confundi-lo com procriação, vem povoando a terra com entes mal amados porque de certa forma não desejados, não programados, um acidente de percurso no itinerário do amor. Afinal, o que buscamos quando dizemos que estamos “a amar” ?
A história de Eros e Psiqué é um mito pré-cristão e ainda hoje nos diz muito. Isto porque a química do corpo humano não mudou muito de lá para cá, assim como também a dinâmica do inconsciente psicológico continua a mesma. As necessidades básicas do ser humano, tanto físicas quanto psicológicas, permaneceram fixas, embora a forma de serem satisfeitas tenham variado no decorrer do tempo e dependendo do lugar.
Por essa razão é que, quando queremos estudar os padrões humanos, tanto de comportamento quanto de personalidade, é muito elucidativo irmos às fontes primeiras; o Mito.
Amanhã, vou postar a narrativa completa do Mito de Eros e Psiqué.
Fraterno Abraço!
P.S,. Os comentários são livres!
Paixão e Morte!
Tentei não falar sobre o sequestro e morte em Santo André. Acho a mídia e as pessoas já estão pensando demais nisso!
Contudo, vou abordar a capacidade que temos de confundir, mudar e alterar tragicamente situações originárias da paixão!
Costumo dizer que a paixão é a mais avassaladora força na terra. É dela que originam-se guerras, desastres sociais, e até a super população.
Num momento, Eloá era a razão do viver, e logo no outro, vira um corpo inerte onde se depositaram os tiros e a fúria da falta de razão.
Num momento, Lindemberger era a vítima do desprezo e da falta de amor, e momento seguinte faz vítimas de sua ( in) capacidade (?) de traduzir a paixão.
Devemos nos próximos dias, abordadar as questões que nos apontam para caminhos entre Eros e Tánatos, e assim, enfocaremos melhor as pulsões de vida (Eros ) e de morte ( Tánatos).
Fraterno Abraço
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Prometeu.
À propósito do texto abaixo, para quem não lembra, Prometeu é o deus mitológico que ensinou aos homens o segredo do Fogo, e por isso foi condenado a ter seu fígado comido pelos abutres.
Os Rótulos que nos Decifram???
Comentando um crônica do L.F. Veríssimo, um dos mais brilhantes advogados do RS, meu amigo, me induz com o seguinte questionamento: "E mesmo sem rótulos André, quem somos nós afinal? Como viemos parar aqui? De onde saímos e para onde vamos?"
É lógico meu caríssimo Doutor, que não posso responder cartesianamente nenhuma das questões, e acho que ninguém pode.
O próprio Descartes nos mostrou que não podemos confiar plenamente em nada imperfeito, nem mesmo nos nossos sentimentos que tantas vezes acreditamos perfeitos.
Contudo, com a licença poética que a psicanálise permite, acho que posso dar seguimento às demandas oriundas de seu questionamento, num verbo conjugado num modo imaginário, onde o significado fica submetido à entendimentos próprios e individuais.
Supondo que conseguissemos nascer sem rótulos, creio que seríamos o somatório de nossos desejos, inclusive aqueles escondidos nos mais profundos porões de nosso inconsciente. Desta forma, seríamos vistos na essência. Sem as máscaras que muitas vezes nos protegem dos nossos próprios demônios (?), e seríamos vistos como Prometeus híbridos que não precisariam de abutres para comer os fígados expostos.
Teríamos vindo numa nave abastecida pelo desejo de outros, propulsionada pela fusão de combustíveis poderosos cujos princípios ativos foram tirados da paixão, do encontro, da convivência, do amor e até do ódio.
Teríamos saído, prezado amigo, de um lugar indizível, e por isso inexistente, constituído de todos os elementos originais: Água, Terra, Fogo e Ar. E mais alguns elementos que habitam nosso imaginário como: Fé, esperança, crença, inteligência, afetos, vaidades, orgulhos, etc...
E teríamos saído, exatamente pelo desejo absoluto e inexorável de todos os elementos constituintes de nosso lugar original e inexistente.
E para onde vamos enfim?? Nem a poesia me permite elucubrar sobre isso. Talvez, do pó ao pó, das cinzas às cinzas... quem sabe...????
Contudo, um questionamento que o senhor não fez, e que eu incluo nessa demanda:
Onde estamos??
Acho que estamos num lugar iluminado pelo fogo trazido por aquele mesmo Prometeu híbrido, e andamos pelos salões, pelas casas e pelas cidades, mascarados por uma forma nebulosa que inebria peremptoriamente, a imagem do que somos, como viemos, de onde saímos e para onde vamos.
Assim.... resta-nos os rótulos...
Abraço Doutor
Do seu amigo André
Fraterno abraço à todos e até a próxima.
É lógico meu caríssimo Doutor, que não posso responder cartesianamente nenhuma das questões, e acho que ninguém pode.
O próprio Descartes nos mostrou que não podemos confiar plenamente em nada imperfeito, nem mesmo nos nossos sentimentos que tantas vezes acreditamos perfeitos.
Contudo, com a licença poética que a psicanálise permite, acho que posso dar seguimento às demandas oriundas de seu questionamento, num verbo conjugado num modo imaginário, onde o significado fica submetido à entendimentos próprios e individuais.
Supondo que conseguissemos nascer sem rótulos, creio que seríamos o somatório de nossos desejos, inclusive aqueles escondidos nos mais profundos porões de nosso inconsciente. Desta forma, seríamos vistos na essência. Sem as máscaras que muitas vezes nos protegem dos nossos próprios demônios (?), e seríamos vistos como Prometeus híbridos que não precisariam de abutres para comer os fígados expostos.
Teríamos vindo numa nave abastecida pelo desejo de outros, propulsionada pela fusão de combustíveis poderosos cujos princípios ativos foram tirados da paixão, do encontro, da convivência, do amor e até do ódio.
Teríamos saído, prezado amigo, de um lugar indizível, e por isso inexistente, constituído de todos os elementos originais: Água, Terra, Fogo e Ar. E mais alguns elementos que habitam nosso imaginário como: Fé, esperança, crença, inteligência, afetos, vaidades, orgulhos, etc...
E teríamos saído, exatamente pelo desejo absoluto e inexorável de todos os elementos constituintes de nosso lugar original e inexistente.
E para onde vamos enfim?? Nem a poesia me permite elucubrar sobre isso. Talvez, do pó ao pó, das cinzas às cinzas... quem sabe...????
Contudo, um questionamento que o senhor não fez, e que eu incluo nessa demanda:
Onde estamos??
Acho que estamos num lugar iluminado pelo fogo trazido por aquele mesmo Prometeu híbrido, e andamos pelos salões, pelas casas e pelas cidades, mascarados por uma forma nebulosa que inebria peremptoriamente, a imagem do que somos, como viemos, de onde saímos e para onde vamos.
Assim.... resta-nos os rótulos...
Abraço Doutor
Do seu amigo André
Fraterno abraço à todos e até a próxima.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
A Mulher Não Existe!
Hoje quero falar das mulheres!
Musas, ninfas, valquírias, as de Atenas e as Troianas... e as espartanas com suas armas de guerra!
Lacan estebeleceu que a mulher não existe, e isso chocou alguns jovens psicanalistas no seminário de Roma...
É que Lacan, na verdade, não estava se referindo a inexistência da mulher. Estava se referindo à incapacidade do homem em alcançar A mulher! Ou seja, o homem, tentando alcançar a mulher, alcança apenas o objeto "a" que é o seu objeto de desejo.
E é disso que quero falar. Porque, a história do desenvolvimento humano não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidencias. Ela se desenrola fundamentalmente, nas casas, nas ruas, nas cozinhas entre feijões e molhos, nos quintais entre plantas e galinhas, nos prostíbulos e nas escolas, e sobretudo nos namoros de esquina e em todos os lugares onde a mulher, mesmo sendo a protagonista, é tratada como coadjuvante que se transforma num rastro de luz e sombra!
A mulher, é a conexão mais efetiva com o divino!
A mulher é em todas as circunstâncias a atriz principal desse teatro bizarro que os homens tentam protagonizar ao invés de ensinarem seus filhos à serem coadjuvantes em papéis igualmente importantes!
A mulher é afônica.
E é disso que eu quiz fazer a minha fala de hoje, que na verdade é um canto. E só é justo cantar, quando nosso canto carrega consigo as pessoas e coisas que, afônicas, não tem voz!
Fraterno abraço
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Subjetividade e Diferença Humanas!
Estava pensando na minha subjetividade. Vivo da atividade clínica como todos sabem, e portanto a subjetividade humana é meu principal objeto de estudos e de minhas elaborações enfim!
Amar e entender a diferença, e saber que dela surge a experiência e que da experiência surgem as questões que enriquecem a subjetividade, é estabelecer para si e para o Grande Outro, que a partir de nosso amor e entendimento é que nasce a esperança.
Não se tem esperança quando nossos olhos etnocêntricos visualizam apenas verdades nascidas de nossos próprios conceitos;
Não é possível viver integralmente a riqueza da experiência, quando vestimos o manto negro do preconceito;
Quantos de nós vivem de ressentimentos?
Quantos de nós não suportam a diferença, ou ainda só a aceitam quando conseguem dela extrair o gozo(?) do exercício do poder?
Quantos de nós desfraldam bandeiras de liberdade e de igualdade, e na verdade acham mais fácil dar e receber um tapa do que um abraço?
Será que num contexto paranóico não estamos deixando a vida passar inexoravelmente, deixando de lado um detalhe que pode fazer a diferença???
Quem sabe não deveríamos pensar melhor na subjetividade e na diferença humanas?
Quem sabe....
Até a próxima, e fraterno abraço!
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
A Linguagem do Inconsciente! Um pouquinho de Lacan!
No dia 13 de abril de 1901 nascia Jacques Lacan, um ano depois do lançamento da obra fundadora da psicanálise: a Interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Apesar de não terem se freqüentado, é Lacan quem promoverá nos anos 50 o famoso movimento de retorno a Freud, trazendo os textos freudianos para o foco de interesse não só de psicanalistas (dispersos em outras referências) como também de médicos, filósofos, lingüistas, antropólogos, literatos, matemáticos e do público em geral que vinha assistir aos seus seminários. Esse movimento continua até hoje: a conexão da psicanálise com outras disciplinas chegou para ficar.
Lacan procurou dar um status científico à psicanálise, utilizando recursos da matemática e da lógica (da teoria dos conjuntos à topologia). Seguindo o ideal de transmissão próprio à ciência, ele propôs ''matemas'' (''o que se ensina'', em grego) tanto para os conceitos freudianos quanto para os que ele foi produzindo ao longo de seu ensino (grande Outro, sujeito barrado, objeto ''a'' etc), compondo, assim, uma ''álgebra lacaniana''. Por outro lado, sempre acentuou a especificidade e a independência do saber psicanalítico em relação à magia, à religião e à ciência (na medida em que esta rejeita a verdade do sujeito do inconsciente). E nunca deixou de enfatizar a singularidade da relação analista/analisante, vínculo inventado por Freud em contraposição a todos os outros já existentes.
Lógico por um lado, literário por outro, o psicanalista, dizia Lacan, deve ser letrado, pois ele lida com a instância da letra no inconsciente e com o sintoma do sujeito que nada mais é do que uma letra que fixa um gozo. Situa, assim, a psicanálise entre matema e poema.
Encontramos também em Lacan, evidenciado na última parte de sua obra - uma teoria da cultura e de seu mal-estar dentro da perspectiva inaugurada por Freud. O analista, dizia, deve ''alcançar a subjetividade de sua época'' e não ''abaixar sua armas diante dos impasses crescentes da civilização''
Mais conhecido por seu aforismo o ''inconsciente é estruturado como uma linguagem'', indício de sua contribuição dos anos 50 ao inserir a psicanálise no campo da linguagem e fazer sobressair assim a função da fala, Lacan também inovou a psicanálise nos anos 70, incluindo-a no ''campo do gozo'', denominado por ele de ''campo lacaniano''.
O gozo e seu campo é o conceito lacaniano que abrange o prazer e o desprazer, apontando como estes estão em continuidade - ele expressa a conjunção de Eros e Tánatos. O gozo não se deixa apreender totalmente; ele está sempre extravasando, transbordando, escapando como o tonel das Danaides, que contém um furo que faz com que elas estejam sempre o enchendo sem jamais o completarem. Ele se encontra no ato de se coçar e até mesmo no de se incendiar com gasolina, como os bonzos. Não há limite para o gozo. Entretanto, ele não pode ser reduzido ao sexo, pois não se deixa aprisionar pelo significante fálico. O que não quer dizer que seu campo não seja estruturado.
Lacan procurou dar um status científico à psicanálise, utilizando recursos da matemática e da lógica (da teoria dos conjuntos à topologia). Seguindo o ideal de transmissão próprio à ciência, ele propôs ''matemas'' (''o que se ensina'', em grego) tanto para os conceitos freudianos quanto para os que ele foi produzindo ao longo de seu ensino (grande Outro, sujeito barrado, objeto ''a'' etc), compondo, assim, uma ''álgebra lacaniana''. Por outro lado, sempre acentuou a especificidade e a independência do saber psicanalítico em relação à magia, à religião e à ciência (na medida em que esta rejeita a verdade do sujeito do inconsciente). E nunca deixou de enfatizar a singularidade da relação analista/analisante, vínculo inventado por Freud em contraposição a todos os outros já existentes.
Lógico por um lado, literário por outro, o psicanalista, dizia Lacan, deve ser letrado, pois ele lida com a instância da letra no inconsciente e com o sintoma do sujeito que nada mais é do que uma letra que fixa um gozo. Situa, assim, a psicanálise entre matema e poema.
Encontramos também em Lacan, evidenciado na última parte de sua obra - uma teoria da cultura e de seu mal-estar dentro da perspectiva inaugurada por Freud. O analista, dizia, deve ''alcançar a subjetividade de sua época'' e não ''abaixar sua armas diante dos impasses crescentes da civilização''
Mais conhecido por seu aforismo o ''inconsciente é estruturado como uma linguagem'', indício de sua contribuição dos anos 50 ao inserir a psicanálise no campo da linguagem e fazer sobressair assim a função da fala, Lacan também inovou a psicanálise nos anos 70, incluindo-a no ''campo do gozo'', denominado por ele de ''campo lacaniano''.
O gozo e seu campo é o conceito lacaniano que abrange o prazer e o desprazer, apontando como estes estão em continuidade - ele expressa a conjunção de Eros e Tánatos. O gozo não se deixa apreender totalmente; ele está sempre extravasando, transbordando, escapando como o tonel das Danaides, que contém um furo que faz com que elas estejam sempre o enchendo sem jamais o completarem. Ele se encontra no ato de se coçar e até mesmo no de se incendiar com gasolina, como os bonzos. Não há limite para o gozo. Entretanto, ele não pode ser reduzido ao sexo, pois não se deixa aprisionar pelo significante fálico. O que não quer dizer que seu campo não seja estruturado.
sábado, 11 de outubro de 2008
Um pouco da filosofia de Nietzsche
Quanta é a verdade que um espírito suporta, quanta é a verdade que ele ousa? Essa foi,para mim, e cada vez mais, a tábua para medir valores. Engano (-a crença no ideal -) não é cegueira, engano é covardia...Tod conquista, todo o passo adiante no conhecimento é consequência da coragem, da natureza em relação a si esmo, da decência consigo mesmo... Eu não refuto os ideais, eu apenas visto luvas diante deles... Nitimur in vetitum (Nós buscamos o proibido): é sob esse signo que a minha filosofia sai vitoriosa, pois até agora sempre foi proibida fundamentalmente apenas a verdade...
Friedrich Nietzsche, em ECCE HOMO , De como a gente se torna o que a gente é.
postei um pequeno trecho da obra deste que é meu filósofo predileto.
Indico à todos os que pensam.
Fraterno Abraço, e até a próxima.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Criador e Criatura!
à propósito do título, devo explicar:
Minha linha psicanalítica é Lacaniana, de Jaques Lacan, Psicanalista francês que releu Freud, e na minha opinião, conduziu a psicanálise depois da morte de Freud, tal qual o Freud faria!
Na gravura, uma colagem partindo da obra famosa, aparece o Freud como Deus Criador e sua criatura, no caso , o Lacan.
Contudo, como o próprio Lacan disse: " Vocês que sejam lacanianos! Eu sempre serei Freudiano!"
Na verdade, se não for freudiano, acho temeroso o psicanalista se conceituar como tal!
Minha linha psicanalítica é Lacaniana, de Jaques Lacan, Psicanalista francês que releu Freud, e na minha opinião, conduziu a psicanálise depois da morte de Freud, tal qual o Freud faria!
Na gravura, uma colagem partindo da obra famosa, aparece o Freud como Deus Criador e sua criatura, no caso , o Lacan.
Contudo, como o próprio Lacan disse: " Vocês que sejam lacanianos! Eu sempre serei Freudiano!"
Na verdade, se não for freudiano, acho temeroso o psicanalista se conceituar como tal!
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Porto Alegre No Divã (1)
Quando te vi ali, na entrada do consultório, sentadinha, cabeça baixa e olhos fixados no jornal de ontem, tremi ao pensar no que podias querer.
Tenho estado contigo nos últimos 40 anos, e jamais me passou pela cabeça que precisasses de meus ouvidos de psicanalista lacaniano.
Um rastro de luz me transportou num "flashback" delirante para o início de nosso amor, onde eu, ainda no colo do avô, velho portoalegrense, criei aquela que seria a primeira lembrança que levarei até o último pensamento consciente.
Era um final de tarde qualquer perdido num inverno dos meados da década de 60. Lembro com nitidez branquíssima das luzes amarelas da Borges, por onde passava o nosso transporte - talvez um dos últimos bondes elétricos.
Lembro do gosto do diamante negro e da mancha que ele produziu na camisa volta ao mundo branca de meu avô.
Passei a te amar naquele dia, e acho que ali decidi que serias minha, uma vez que tu ali me encantaste.
Na infância, pouco te vi. Mas te amando ao longe, sabia meu inconsciente, que viveríamos juntos, meus sonhos, meus pesadelos e um pouco da tua e tudo da minha futura história.
Adolescente, te fiz minha enfim, e acho que sequer percebeste que eu te invadia com todo meu desejo recalcado e juvenil...
Me sinto ainda percorrendo teu centro, como se teu útero fosse. Eu entre milhões buscando o caminho de tua fecundação? ( Ainda hoje caminhando na Andradas gosto de fantasiar com isso...)
Naquele tempo, tudo me era esperança e fé. Lembro de me benzer ao passar na catedral da praça da matriz, pedindo bênçãos antes de chegar no Água na Boca da praça Conde.
E tinha a feirinha da Ladeira, com os hippies que faziam bolsas, cintos e chinelos que deixavam expostos nas vitrines de concreto, e pintavam à mão camisetas com o rosto do Che que deixavam ocultas dentro de sacolas, que naquele tempo, mesmo que moribunda, a “Dita” ainda era dura...
Nos 80, deu pra ti (no bom sentido!)... Lembro da fila do táxi na frente da OSPA, saindo da Papagayus, indo pra velha New Looking e seus ambientes, ali, passando a Ipiranga.
E tinha teu cotidiano arrabalero, que mesmo sendo metropolitano vestia-se de interior nos domingos do Cristal, do Partenon, da Zona Norte, onde nos churrascos de passeio público, riam Maria que trabalhava na loja do centro, o Carlos mecânico da Azenha, o Paulinho do SulBrasileiro, etc, todos esperançosos mas com saudades de suas cidades de origem.
Mas.... espera ai! Isso tudo é até que bem recente! Não vejo razão pra demandas melancólicas.
Ainda temos o pôr do Sol (e o gasômetro está mais bonito!), temos os domingos da redenção, ainda temos GRENAL, e temos.... Ah! Um monte de coisas TRI ainda...
Ta certo... tens razão! Tem uma neurose te afetando.
Há dias, vi meu filho, somando-se a muitos de teus filhos, naquele mesmo centro que eu fantasiei de útero materno, sangrado por uma faca impulsionada pela miséria e pelo crak por não querer voltar pra casa sem os Nike e o telefone (mas não exagera!! o atendimento no HPS foi rápido e o guri ficou bem).
Tens razão.... novamente! Minha mulher, como todas as tuas filhas, não pode mais olhar as vitrines da Rua da Praia tranqüila ( é... mas tens o Praia de Belas, Iguatemi, e os outros, e logo logo também o Barra Shoping ali do Cristal, acho que estás exagerando e se queixando de barriga cheia...).
Era só o que faltava! Estás te queixando porque o arrabalde mudou????É claro... isso é fruto de teu crescimento, é uma tendência mundial desde a revolução industrial. Ah??? Não é isso???
Mais uma vez tens razão...
As Marias, Carlos, e todos os outros não habitam mais os domingos festivos e milongueiros... O arrabalde é território... território da boca, do patrão, do gerente da boca, do aviãozinho, do mula, do tecasso e do menino morto esperando o DML e com sorte, uma lágrima da mãe.
Tentei evitar te aceitar como paciente. Acho que meu amor por ti desencadeou um impedimento inconsciente de te analisar...
Mas me entrego!
Vem cá ...ocupa meu divã freudiano. Me fala de tuas dores, de tuas faltas, de teus sonhos. Fica bem à vontade Porto Alegre! Vamos conversar um pouquinho????
09 de setembro 2008.
Tenho estado contigo nos últimos 40 anos, e jamais me passou pela cabeça que precisasses de meus ouvidos de psicanalista lacaniano.
Um rastro de luz me transportou num "flashback" delirante para o início de nosso amor, onde eu, ainda no colo do avô, velho portoalegrense, criei aquela que seria a primeira lembrança que levarei até o último pensamento consciente.
Era um final de tarde qualquer perdido num inverno dos meados da década de 60. Lembro com nitidez branquíssima das luzes amarelas da Borges, por onde passava o nosso transporte - talvez um dos últimos bondes elétricos.
Lembro do gosto do diamante negro e da mancha que ele produziu na camisa volta ao mundo branca de meu avô.
Passei a te amar naquele dia, e acho que ali decidi que serias minha, uma vez que tu ali me encantaste.
Na infância, pouco te vi. Mas te amando ao longe, sabia meu inconsciente, que viveríamos juntos, meus sonhos, meus pesadelos e um pouco da tua e tudo da minha futura história.
Adolescente, te fiz minha enfim, e acho que sequer percebeste que eu te invadia com todo meu desejo recalcado e juvenil...
Me sinto ainda percorrendo teu centro, como se teu útero fosse. Eu entre milhões buscando o caminho de tua fecundação? ( Ainda hoje caminhando na Andradas gosto de fantasiar com isso...)
Naquele tempo, tudo me era esperança e fé. Lembro de me benzer ao passar na catedral da praça da matriz, pedindo bênçãos antes de chegar no Água na Boca da praça Conde.
E tinha a feirinha da Ladeira, com os hippies que faziam bolsas, cintos e chinelos que deixavam expostos nas vitrines de concreto, e pintavam à mão camisetas com o rosto do Che que deixavam ocultas dentro de sacolas, que naquele tempo, mesmo que moribunda, a “Dita” ainda era dura...
Nos 80, deu pra ti (no bom sentido!)... Lembro da fila do táxi na frente da OSPA, saindo da Papagayus, indo pra velha New Looking e seus ambientes, ali, passando a Ipiranga.
E tinha teu cotidiano arrabalero, que mesmo sendo metropolitano vestia-se de interior nos domingos do Cristal, do Partenon, da Zona Norte, onde nos churrascos de passeio público, riam Maria que trabalhava na loja do centro, o Carlos mecânico da Azenha, o Paulinho do SulBrasileiro, etc, todos esperançosos mas com saudades de suas cidades de origem.
Mas.... espera ai! Isso tudo é até que bem recente! Não vejo razão pra demandas melancólicas.
Ainda temos o pôr do Sol (e o gasômetro está mais bonito!), temos os domingos da redenção, ainda temos GRENAL, e temos.... Ah! Um monte de coisas TRI ainda...
Ta certo... tens razão! Tem uma neurose te afetando.
Há dias, vi meu filho, somando-se a muitos de teus filhos, naquele mesmo centro que eu fantasiei de útero materno, sangrado por uma faca impulsionada pela miséria e pelo crak por não querer voltar pra casa sem os Nike e o telefone (mas não exagera!! o atendimento no HPS foi rápido e o guri ficou bem).
Tens razão.... novamente! Minha mulher, como todas as tuas filhas, não pode mais olhar as vitrines da Rua da Praia tranqüila ( é... mas tens o Praia de Belas, Iguatemi, e os outros, e logo logo também o Barra Shoping ali do Cristal, acho que estás exagerando e se queixando de barriga cheia...).
Era só o que faltava! Estás te queixando porque o arrabalde mudou????É claro... isso é fruto de teu crescimento, é uma tendência mundial desde a revolução industrial. Ah??? Não é isso???
Mais uma vez tens razão...
As Marias, Carlos, e todos os outros não habitam mais os domingos festivos e milongueiros... O arrabalde é território... território da boca, do patrão, do gerente da boca, do aviãozinho, do mula, do tecasso e do menino morto esperando o DML e com sorte, uma lágrima da mãe.
Tentei evitar te aceitar como paciente. Acho que meu amor por ti desencadeou um impedimento inconsciente de te analisar...
Mas me entrego!
Vem cá ...ocupa meu divã freudiano. Me fala de tuas dores, de tuas faltas, de teus sonhos. Fica bem à vontade Porto Alegre! Vamos conversar um pouquinho????
09 de setembro 2008.
Interagindo na vida cotidiana!
Na verdade, a idéia surgiu de uma conversa familiar.
Todos que me conhecem, sabem que minha vida é plena e vivo a intensidade de uma fusão indescritível produzida pela psicanálise.
Esse espaço, nasce agora para ser um forum de discussão e aprendizado!
Quero interagir com meus amigos e principalmente com meus amigos pacientes, aprendendo e ensinando e até quem sabe, tentando mudar o mundo!
Quem passou ou passa pela experiência psicanalítica, sabe que o cotidiano nada mais é que uma construção incessante!
Quem passou ou passa pela experiência psicanalítica comigo, sabe que procuro ser o pedreiro de tal construção, que mesmo tendo que muitas vezes destruir paredes, ajudo a carregar e a unir tijolos.
Tijolo por tijolo, construiremos cotidianamente nossas moradas harmoniosas e calmas, e sob o conforto do calor da lareira, teremos o alívio que precisamos!
Sejam bem vindos, e aproveitem! Eu, certamente aproveitarei!
Todos que me conhecem, sabem que minha vida é plena e vivo a intensidade de uma fusão indescritível produzida pela psicanálise.
Esse espaço, nasce agora para ser um forum de discussão e aprendizado!
Quero interagir com meus amigos e principalmente com meus amigos pacientes, aprendendo e ensinando e até quem sabe, tentando mudar o mundo!
Quem passou ou passa pela experiência psicanalítica, sabe que o cotidiano nada mais é que uma construção incessante!
Quem passou ou passa pela experiência psicanalítica comigo, sabe que procuro ser o pedreiro de tal construção, que mesmo tendo que muitas vezes destruir paredes, ajudo a carregar e a unir tijolos.
Tijolo por tijolo, construiremos cotidianamente nossas moradas harmoniosas e calmas, e sob o conforto do calor da lareira, teremos o alívio que precisamos!
Sejam bem vindos, e aproveitem! Eu, certamente aproveitarei!
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