segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Já vai Tarde Agosto!

Lá se vai o agosto, e estamos às vésperas da primavera, e nos encaminhando enfim, ao final do ano.
Nos países nórdicos, a primavera chega como uma esperança, pois no inverno deles, o número de suicídios aumenta numa temerária progressão geométrica. A maldita síndrome da depressão sazonal, que faz inúmeras vítimas em países como Rússia, Suécia, Dinamarca, etc...
Que venha esse setembro de nossas esperanças.
Que venha a primavera de mais luz, mesmo que estas venham acompanhadas com os demônios de nossas alergias.
Tive a grata satisfação de reencontrar hoje um amigo que não via a muito tempo.
Falamos de muitas coisas, de nossas vidas, das cidades que conhecemos e das batalhas que travamos nesse emaranhado de perdas e danos em que vivemos (todos nós), mas sobretudo da alegria de reencontrar amigos.
Fiquei feliz.
Enfim... que venha setembro das luzes verdes, e que nossas esperanças sejam reafirmadas. Contudo, sinto informar, que mesmo com o setembro, ainda teremos de conviver com as pragas que nos avassalaram em agosto.
Meu refiro mais aos Sarneys e suas relações obscuras e menos ao H1N1, que mais do que mostrar a existência de um vírus novo, nos mostrou o quanto, mesmo no século XXI, somos capazes de nos tarnsformar-mos em cavaleiros negros da idade média, encapacetados de muito preconceito, muita segregação e muita falta de solidariedade.
Mas tudo bem... apesar de tudo, nos auto abençoamos, agora não com água benta, e sim com alcool gel...

Fraterno abraço
André

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Humildade é o postulado dos vagabundos!

"Sim! Eu sei muito bem de onde venho!
Insaciável como a chama no lenho
Eu me inflamo e me consumo.
Tudo que eu toco vira luz,
Tudo que eu deixo, carvão e fumo.
Chama eu sou, sem dúvida."
( Da obra Ecce homo - de Nietzsche )

Nos versos desse poema, Nietzsche resume sua filosofia, mostrando que ousa e arrisca, mandando a humildade às favas. Na verdade em sua obra , ele faz um alerta contra a moral que sempre foi foco de seus ataques desde o início de sua vida filosófica, e arremata que "humildade é o postulado dos vagabundos", além de assegurar que a humildade é (boa) para os vermes.
Para Nietzsche o homem aspira à imortalidade, mas isso nada significa uma vez que a realidade se repete a si mesma num devir renitente, que constitui o eterno retorno.
O homem só se salva pela aceitação da finitude, pois assim se converte em dono de seu destino, se liberta do desespero para afirmar-se no gozo e na dor de existir.
De modo que o futuro da humanidade depende dos super-homens, capazes de se sobrepor à fraqueza, e não da integração destes ao rebanho comum dos fracos.
Espero que a publicação de hoje, os ajude a sobreviver ao final de semana, que aliás, eu desejo que seja bom para todos.
Fraterno Abraço
André

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mitomania Interiorana!

Tenho vivido bastante nos últimos meses a dita vida interiorana.
E já falei aqui, das pradarias, dos rios, da complexidade simples das pessoas que faz suas vidas parecerem poesia, e enfim, todas as coisas boas que são imperceptíveis nas metrópoles.
Mas... tem coisas que também observo, e além de trazer pro debate, adoraria saber dos porques.
Por exemplo:
Por que nas cidades interioranas, os motoristas escolhem as vias principais e centrais para seus passeios motorizados, e invariavelmente, andam na velocidade de 5 km por hora, trancando todo o trânsito?
Nas primeiras vezes, pensei que estivessem acompanhando um cortejo tipo, enterro, ou passeata, etc, mas depois reparei que isso é uma rotina.
Interessante, que todos não olham para os lados. Ficam tesos, olhando pra frente. Ou seja, fazem isso para serem vistos. Noto um desejo satisfeito de serem vistos e identificados específicamente naquela situação... ou seja, passeando de carro. Acho meio bizarro, mas tirando o fato de que atrasa o caminho de quem tem pressa ( e isso me deixa puto!), tudo bem...aliás, é até divertido observar isso...risos
Outra coisa que me intriga, é o volume dos aparelhos sonoros que estes carros e motoristas suportam. Alguém pode me explicar porque as pessoas escutam suas músicas em tão elevado volume?? Devo acreditar que isso é uma maneira freudiana de compensar alguma deficiência?? Podem me chamar de chato e preconceituoso, mas juro que redefino meu conceitos, se alguém me provar que é legal andar atrás de um carro a 5 km por hora, com um som infernal à todo volume com a seguinte poesia: " Você não vale nada mas eu gosto de você!!!!!"
Notei ainda, que as pessoas que usam destes artifícios, pelo menos à distância, me parecem que sofrem da mesma síndrome de mitomania.
Me explico:
Depois de rodar em círculos pela cidade, o herói estaciona ( normalmente em local proibido) no meio da praça central, abre todas as portas do carro, aumenta ainda mais o volume, e com seu óculos de sombra ( normalmente ray ban daqueles que os pilotos americanos usavam na década de 50), fica encostado no seu veículo com a cara de quem está escolhendo, pois ele tem a certeza que todas as mulheres que passam querem lhe dar.
Na verdade, acho muito engraçado, e toda vez que reparo isso, tenho que me controlar para que minhas risadas não sejam mais sonoras que o carro do magal...
Coisas da vida...risos
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

3 Questões!

Quero comentar (e abrir debate) três coisas que estão de certa forma martelando minha consciência que entendo por cidadã. Afinal, desde adolescente me preocupo com as questões da polis, e por isso quero fazer minha parte.
Questão 1: A omissão dos intelectuais ante a crise moral que assola o país.
Se analisarmos momentos distintos de nossa história recente, verificamos que os intelectuais, ou a chamada elite pensante brasileira, sempre esteve à frente dos movimentos que desencadearam progresso e até mudanças pragmáticas no contexto geral.
Quando o Jânio de porre, renunciou e tudo de armava para um golpe direitista vilipendiador da democracia, movimentos intelectuais se inssurgiram e lá estava a legalidade, que com um discurso coerente e até populista ( prefiro populista ao arbitrário) , virou o jogo e a ordem democrática reestabeleceu-se.
Depois, foram duas décadas de luta combatendo a ditadura militar, muitas vezes pagando o preço da prisão, da tortura e do exílio. A intelectualidade brasileira contaminou o povo com sua sede de liberdade, e o povo pressionou pedindo diretas, e João teve que abrir as pernas.
Ainda bêbados de liberdade, fomos (o povo) iludidos e espezinhados pelo Collor e sua camarilha (que aliás ainda está atuante e cada vez mais forte). Lá foi a elite pensante pintar a cara com os estudantes que por sua vez pintaram a cara do povo, e o império collorido foi parado pela pressão popular.
E agora???? Diante desse mar de lama... dessa falta de vergonha ...destes tantos tapas na cara que levamos muitas vezes ao dia dos nossos próceres... Onde andam as vozes que, por seu saber e entendimento, deveríam formar opinião e inspirar o povo para que este se indiguine e com um lava jato de alta pressão, limpe a sujeira da república???
Questão 2: Belchior, um dos mais notáveis artistas brasileiros, membro efetivo e atuante da elite pensante, está desaparecido. Dizem as más línguas, que o pensador deprimiu e sumiu de desgosto.
Explicável. Ser um pensador num país onde padres galãs, alienígenas de chapéu texano e calças apertadas, e mais uma frota de meretrizes e michês que se dizem artistas, todos aliás agindo sob os auspícios de camelôs da (falta de) "cultura" e de gigolôs de mãos gordas e cobertas de ridículos anéis dourados refestelam-se contando o "vil metal", é realmente deprimente.
Questão 3: Adorei o texto teatral da Fernanda Montengro. A peça "Deus é Química" aborda um assunto importante: Como posso me queixar de violência, de corrupção e de desmando, quando eu mesmo patrocino tudo isso sendo cliente de uma boca de fumo? A questão reflete uma premissa: Cada "baseado" inocente que se ascende pra "relaxar", é uma bala que se bota na cabeça de um inocente.

Sei lá.... Acho que as três questões estão interligadas....
Fraterno Abraço
André

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Senado Federal e Calígula!

Na minha visão, tivemos ontem um triste dia para a história do Brasil.
O Senado Federal, casa mor dos interesses de todos os brasileiros, sob a minha ótica, conseguiu ontem o seu alvará para atividades como: Usurpação, nepotismo, falcatruas de toda ordem, etc, etc, etc...
Sinto muito pelo meu senador (aquele que votei), que mesmo tendo se manifestado veementemente contra toda essa falta de vergonha na cara, está incluído por menos que queira nesse contexto, como aliás, todos aqueles que lá estão e manifestam a indignação dos justos.
À propósito, publico hoje em homenagem ao senado do Brasil, uma sinopse da vida de um tenebroso personagem da história humana.
Tal publicação, não é mera coiscidência.

Calígula
Imperador romano (37-41), sucedeu a Tibério e foi um cruel tirano. Filho de Germanicus e de Agrippina I, Calígula nasceu em Anzio, no Lácio, em 31 de agosto do ano 12 d.C. Seu verdadeiro nome era Caius Julius Caesar Germanicus mas, porém, na sua infância, os soldados de seu pai o apelidaram de Calígula (botinha), como alusão às suas pequenas sandálias militares ou Caligae.
O imperador Tiberius, seu tio-avô, adoptou-o como herdeiro; assim, à morte deste no ano 37, Calígula foi aclamado novo imperador romano pelo povo e pelo Senado. Tornou-se a princípio hábil administrador; exercendo uma política de acentuado tom demagógico, com medidas como a redução de impostos e anistia geral, o que lhe granjeou alguma popularidade. Vítima de uma enfermidade que lhe afectou a mente, logo começou a cometer suas célebres extravagâncias elevando à dignidade de cônsul o seu cavalo «Incitatus» e resumiu numa só frase, todo o sentimento de crueldade: «desejaria que todo o império romano tivesse uma só cabeça para a decepar de um só golpe».
Com Calígula, os gastos públicos descontrolaram-se; quando o erário estava quase exaurido, ordenou a execução, por diferentes motivos, dos romanos mais ricos para confiscar-lhes os bens. Obcecado pelo poder e pela religião do Egito, considerou-se uma divindade, mandou colocar sua estátua em vários templos, entre eles o de Jerusalém, difundiu o culto egípcio da deusa Ísis e manteve relacionamento incestuoso com sua irmã Drusilla, no estilo da Dinastia dos Ptolomeus.
Por volta do ano 40, Calígula realizou uma expedição à Germânia para sufocar uma rebelião do general Cornelius Lentulus Getulicus e outra à Gália, com o fito de conquistar a Bretanha. Anexou o reino da Mauritânia e, na Judéia, nomeou rei seu amigo Herodes Agrippa.
Diversas conspirações, como a do senador Marcus Aemilius Lepidus, foram urdidas contra Calígula, que acabou por morrer assassinado em Roma a 24 de Janeiro do ano 41 pelo prefeito do pretório, Cássio Querea.
Sucedeu-lhe Cláudio, imperador nomeado pelos pretorianos.
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E por falar em cavalos, observando certos homens e cavalos, duvido muito que cavalos queiram a vaga de senador.
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Me Arrependo! Perdoem.

Não PARA! Não para o mundo que eu não quero mais descer do meu mundinho cercado de pradarias e paz. Aqui a harmonia só é quebrada (e mesmo assim porque eu próprio provoco) quando ligo a maquininha de fazer doidos nos telejornais ou quando, com requinte masoquista, insisto em folhar os periódicos locais, nacionais e internacionais.
A facilidade de acesso, me leva a ler diariamente o Le Monde para saber das coisas na França, e o The New York Times para acompanhar o desenvolvimento da ditadura mundial que é arquitetada nas coberturas da Times Square conforme a vontade do "Mr Dow Jones" .
Ao(s) crítico(s) de meus textos recentes explico:
1) Abri debate sobre o Huxley e seu "Admirável Mundo Novo", por crer que a maioria dos retardados que hoje se utilizam da tecnologia, jamais tiveram acesso à obra (e se tivessem NUNCA leriam e se lessem jamais entenderiam) e enfim, tentei instigar pensamento. Me arrependo. Perdoem!
2) Abordei o Transtorno do Estresse Pós Traumático por ser especialista no assunto, e por ter a absoluta certeza de que a imensa maioria dos fluoxetinados( portanto dependentes químicos) se identificaria com determinados aspectos e com isso, o texto ( que na verdade foi tema de vários seminários e congressos cujas taxas de inscrição eram altas) poderia auxiliar na busca de uma melhor qualidade de vida. Me arrependo. Perdoem.
3) Falei das psicopatogias, pelos mesmos motivos dos ítens 1 e 2, além de crer que estas, são responsáveis pela maioria das dores humanas uma vez que produzem efeitos psicossomáticos e blá, blá, blá... Me arrependo. Perdoem.
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Plebiscito no domingo em Porto Alegre.... VOTEM!
À minha amada Zona Sul portoalegrense, desejo que todos os deuses te protejam depois desse plebiscito independente do resultado!

Fraterno abraço
André

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Psicopatologias!

Aqui um estudo, uma análise ou apenas uma simples leitura.
Tal estudo, publiquei em 2004 depois de ler a matéria que inicia o texto, que não por estética, foi escrita em vermelho...
Fraterno abraço
André



H 16/10/2004 - 03h33 Folha de São Paulo
FDA alerta para riscos de suicídio entre jovens que usam antidepressivos
da France Presse, em Washington (EUA)O departamento americano de controle de alimentos e remédios (FDA, siglas em inglês) decidiu nesta sexta-feira reforçar alerta sobre o risco de suicídio entre jovens tratados com antidepressivos.A partir de agora, as embalagens de antidepressivos devem conter uma advertência em tarja preta, no que consiste uma das medidas mais radicais da FDA para prevenir médicos e pacientes contra os riscos potenciais de um tratamento com estes medicamentos."Esta decisão resulta das conclusões da FDA referentes ao risco crescente de pensamentos suicidas e da necessidade de informar os médicos que receitam estes antidepressivos, assim como as crianças e os adolescentes para os quais são prescritos", declarou o chefe interino da FDA, Lester Crawford.A FDA respondeu assim às recomendações de um comitê de especialistas independentes que se pronunciou a favor desta medida.As conclusões do comitê se basearam em uma série de testes clínicos com 4.000 jovens, realizados pelos fabricantes de cinco antidepressivos permitidos nos Estados Unidos.Os estudos mostraram que um jovem que toma antidepressivos têm duas vezes mais possibilidades de manifestar pensamentos suicidas que outro que recebeu placebos em seu tratamento.


Dependentes e compulsivos se disseminam na sociedade. Sexo, comida, exercício e compras, entre outras atividades tidas como normais e rotineiras, vêm se transformando na principal causa de preocupação de pessoas que se consideram "viciadas" em algumas delas.
Para psiquiatras, psicanalistas e antropólogos ouvidos pela Folha de São Paulo, mudanças sociais nas últimas décadas e o próprio avanço da medicina ajudam a explicar o fenômeno. Estaríamos vivendo uma nova era, na qual o que tradicionalmente se chama de "vício" ganhou maior amplitude, novos diagnósticos e passou a despertar crescente interesse de terapeutas, da indústria farmacêutica, da sociedade e também de governos.
"Vício" é uma palavra em geral evitada pelos especialistas, por sua conotação moral negativa. Eles preferem o termo "dependência", quando se trata de drogas, e "compulsão", para designar distúrbios como a irrefreada e repetida "vontade" de fazer compras ou de praticar sexo.
O problema não está em querer consumir ou ter relações sexuais, mas em viver quase exclusivamente para isso. Nesse caso, um impulso particular sobrepõe-se a todas as demais atividades que a pessoa possa --ou mesmo queira-- fazer.
Os tipos compulsivos, segundo o psiquiatra Marcos Ferraz, são caracterizados pela perda da liberdade. Com os progressos na explicação desse mecanismo, o viciado passou da condição de culpado para a de vítima, seja do meio social, seja da genética.
Mecanismos iguais De acordo com Rodrigo Bressan, professor de pós-graduação em psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os mecanismos cerebrais que determinam a dependência de drogas e as compulsões comportamentais são muito semelhantes --têm a ver com a perda de possibilidade de escolha.
Em ambos os casos, a pessoa não pode mais ficar sem determinada substância --seja ela o cigarro, o álcool ou uma droga ilícita-- ou sem repetir uma ação ou um comportamento.
O número de viciados, seja em drogas, seja em comportamentos, vem se acelerando desde o fim dos anos 70. Para o psiquiatra e psicanalista Joel Birman, professor titular do Instituto de Psicologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), esse aumento é uma conseqüência das novas exigências da sociedade dita pós-moderna.
Segundo o psicanalista, essa sociedade exige cada vez mais das pessoas em todas as áreas, mas elas nem sempre estão preparadas para responder a tal demanda.
Uma profusão de estímulos, geralmente na forma de imagens (TV, mídia, publicidade), bombardeia os indivíduos, que muitas vezes têm dificuldades de elaborá-los.
"Sentimo-nos possuídos por uma excitação da qual não conseguimos dar conta", diz Birman. O resultado desse processo é o que o psicanalista chama de "excesso de excitabilidade".
A sociedade também impõe uma competição acirrada entre personalidades exibicionistas e autocentradas. Cada indivíduo precisa buscar sempre o máximo desempenho. Quem não consegue lidar com o excesso de excitabilidade nem se adaptar a essa "cultura do narcisismo" pode sucumbir, diz Birman.Diante de tal ameaça, ocorrem reações: o excesso de excitabilidade se converte em perturbações psicossomáticas, síndrome do pânico ou depressão.
Para fugir de situações como essa ou lidar com elas, a pessoa começa a comer muito, jogar ou se drogar.
A compulsão por drogas possui uma característica peculiar. Algumas delas alteram a personalidade de tal forma que permitem melhorar o desempenho social de forma momentânea. O sujeito inadaptado, que normalmente não teria chance numa sociedade que exige performance, pode encontrar na droga um meio, à primeira vista, viável de integração.
O desejo
O psicanalista Contardo Calligaris, no entanto, faz uma ponderação no que se refere ao tratamento e à atenção dada hoje aos chamados "vícios modernos", as compulsões. Ele preocupa-se com o fato de que cada vez mais comportamentos venham sendo tratados como vícios. "Seguindo essa lógica, qualquer comportamento que a gente goste e repita assiduamente, apesar de riscos e contra-indicações, seria uma toxicodependência."
Calligaris considera que a utilização do modelo explicativo da dependência de drogas para descrever outros comportamentos pode ser apenas uma desculpa para evitar um fato incômodo: às vezes as pessoas desejam coisas de que se envergonham, que as prejudicam, que as perturbam. Em vez de assumirem que desejam algo considerado "errado", podem atribuir esse desejo a desequilíbrios químicos que alguma pílula supostamente poderia curar.
"Há uma diferença radical entre uma toxicomania e essas condutas", diz Calligaris. Tudo a mesma droga? Ao falar de "droga", especialistas não se referem apenas às substâncias ilegais, mas também às legais, como o álcool e até mesmo remédios psiquiátricos, conhecidos como psicofármacos.
De acordo com Birman, muitas vezes não existe diferença entre quem usa antidepressivo, ansiolítico ou cocaína: todos eles querem melhorar seu desempenho diante das exigências da sociedade pós-moderna.
O psiquiatra e psicanalista Durval Mazzei Nogueira Filho, especialista no tratamento de dependentes de drogas e autor do livro "Toxicomania", concorda e aponta um novo problema: o aumento do consumo de remédios psiquiátricos.
Isso significa que um número cada vez maior de pessoas deprimidas está recebendo tratamento e deixando de sofrer, mas, segundo Mazzei, é preciso lembrar que a diferença entre os remédios e as drogas ilícitas é bem menor do que muitos supõem.
Em geral, os medicamentos não instauram uma suposta normalidade na química cerebral, mas criam um estado psíquico novo. "Esses remédios agem na mesma região cerebral que recebe o impacto das drogas, o sistema de gratificação e recompensa. Mas o medicamento não atua nos mecanismos íntimos da doença, mesmo porque ninguém sabe quais são eles", afirma.
Mazzei não deixa de receitar remédios quando considera necessário, mas se irrita com o fato de esses remédios serem periodicamente anunciados pela mídia como solução para todos os males. Para Jair Mari, professor de psiquiatria da Unifesp, que atende dependentes químicos, a depressão muitas vezes leva algumas pessoas a buscar as drogas.
"Para esses casos, o auxílio de remédios e a psicoterapia podem solucionar o problema", diz. Antidepressivos podem, ainda, funcionar como um substituto para algumas drogas, como a cocaína.
No entanto o uso de remédios não é unanimidade entre os médicos. O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, diretor da Uniad (Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas), da Unifesp, afirma que, "se esse uso fosse simples, o problema da dependência de drogas já estaria resolvido".
Os caminhos da cura
Não há um caminho único para quem quer se livrar da dependência ou compulsão. A ajuda vinda dos grupos de anônimos, de psicoterapeutas e até dos bancos das igrejas, ao lado dos remédios recomendados por psiquiatras, podem ajudar uma pessoa a se recuperar do vício.
Formado em 1935 nos Estados Unidos, os Alcoólicos Anônimos, segundo a própria entidade, têm cerca de 2 milhões de membros no mundo. Só na cidade de São Paulo, existem mais de 200 grupos de ajuda --além dos alcoólicos, há grupos para narcóticos, comedores compulsivos e dependentes de sexo, entre outros.
Em suas reuniões periódicas, as pessoas trocam experiências e encontram apoio de outras com os mesmos problemas. "O grupo funciona como uma segunda família", diz o sociólogo Leonardo Mota, autor de um livro sobre os Alcóolicos Anônimos.
As técnicas dos anônimos, no entanto, são alvo de críticas. O psicanalista e psiquiatra Maurício Gadben, que defendeu tese de doutorado sobre dependentes na Unicamp, critica os anônimos por só atacarem os sintomas da dependência.
O psiquiatra Jairo Werner, coordenador do grupo de estudos sobre tratamento de alcoolismo da Universidade Federal Fluminense, diz que falta aos grupos diagnóstico médico. "Muitos dos que os procuram precisariam de auxílio especializado", afirma.
Ainda assim, profissionais de saúde não questionam a validade dos anônimos. Ao contrário, recomendam aos seus pacientes que os freqüentem. O psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, presidente do Grea (Grupo de Estudos de Álcool e Drogas, da USP), é um deles.
A psicóloga Maria Paula Oliveira, uma das fundadoras do Ambulatório do Jogo Patológico do Proad, da Unifesp, concorda. Ela diz que os anônimos tiram dos dependentes o sentimento de onipotência.
Nos grupos, eles precisam admitir que são incapazes de controlar seus impulsos e que um "poder superior" os orienta. Religião pode viciar Outro caminho para livrar-se da dependência é a religião.
Muitas delas oferecem tratamentos para diversos tipos de vício. A Igreja Católica, por exemplo, criou, em 1998, a Pastoral da Sobriedade. A entidade segue o modelo dos 12 passos dos anônimos.
O professor de sociologia da USP Flávio Pierucci afirma que as religiões usam o tratamento para conquistar fiéis. Dom Irineu Danelon, coordenador da Pastoral da Sobriedade em São Paulo, admite a catequese na pastoral e é taxativo: "Não há recuperação sem evangelização".Participante das reuniões da pastoral desde a fundação, Valmir, ex-dependente de cocaína, diz que só conseguiu abandonar as drogas com a religião. "Freqüentei reuniões do Narcóticos Anônimos, mas vi que ficaria dependente delas. Só com Deus consegui ser independente."
Algumas pessoas trocam uma compulsão por outra, tornando-se fanáticas por religião, segundo o psiquiatra Edmundo Maia. Dom Irineu Danelon admite que algumas pessoas exageram. "As pessoas devem agradar a Deus pelo estilo de vida que levam, e não apenas pela palavra."
A dependência no divã
Enquanto nos anônimos e nas igrejas os dependentes contam experiências sem ser questionados, nos tratamentos psicoterápicos eles falam de assuntos que nem sempre abordariam sem estímulo.
"Nas terapias de grupo, todo mundo conversa, se questiona. O terapeuta sempre aponta questões", afirma a psicóloga Maria Paula Oliveira.
Há duas diferentes abordagens para o tratamento psicoterápico, segundo a ONU: a behaviorista e a psicodinâmica.
Na primeira, o terapeuta acredita que o comportamento compulsivo decorre de falha no aprendizado. O paciente precisa aprender a se comportar de outra forma. Werner, da UFF, compara o aprendizado ao de línguas. "O dependente precisa aprender outra linguagem que não a das drogas."
A psicodinâmica aborda a questão do vício como reflexo de conflitos internos surgidos na infância e que precisam de solução.
Eliseu Labigalini, psiquiatra do Proad, afirma que a terapia é longa e, às vezes, difícil, por obrigar o paciente a se questionar.
Internações
Quando o dependente já tentou parar de várias formas e não conseguiu, a saída pode ser a internação, afirma José Galduróz, psiquiatra do Cebrid, da Unifesp.
Ela, no entanto, não significa o fundo do poço. Segundo José Antônio Zago, psicólogo do Instituto Bairral (clínica psiquiátrica que atende dependentes), boa parte dos internos tem emprego e apoio da família.
O jornalista Carlos, por exemplo, ainda trabalhava quando foi internado pela primeira vez, em 2001. Só em 2004, por causa de uma recaída, perdeu o emprego.
As clínicas combinam, em geral, o uso de remédios com psicoterapia e terapia ocupacional. Algumas usam também os 12 passos dos anônimos e o auxílio da religião.
De todos os tratamentos, dizem os especialistas ouvidos, o melhor é aquele ao qual o dependente se adapta, que pode ser a simples vontade de parar ou todos juntos.
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Espero que o texto tenha sido útil...
Fraterno Abraço
André

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Transtorno do Estresse Pós Traumático

Alguém me chamou a atenção, e com razão, que tenho escrito pouco ou quase nada sobre as psicopatologias.
Bem... acredito que teorizar sobre as dores da alma podem confundir, e creio sobretudo que questões tão pessoais como estas, devem ser aprofundadas nos devidos consultórios, com seus psiquiátras, psicanalistas , psicólogos etc...
Contudo, vou abordar de forma superficial a partir de hoje, algumas questões que julgo, podem ser de interesse de todos.
Hoje, falarei do Transtorno de Estresse Pós Traumático, que segundo pesquisas é uma síndrome muito mais comum do que se possa imaginar.
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O Transtorno de Estress pós Traumático ou TEPT é uma reação do organismo parecida com a Síndrome do Pânico, porém com uma característica importante:
É uma reação a acontecimento inesperado, ameaçador, imprevisível e traumático, por exemplo:
Combate, seqüestro, prisão, assalto, estupro, acidente, agressão física ou moral, etc.

Um diagnóstico preocupante, um resultado de exame de laboratório que indique doença grave, uma cirurgia difícil, um pós operatório complicado, uma perda financeira ou afetiva, incêndio, inundação, terremoto, combate.

Também pode desenvolver quando a pessoa testemunha ou fica sabendo de uma experiência semelhante que ocorreu com outra pessoa de sua família ou de seu relacionamento.

Sintomas do Estresse pós Traumático:

(Taquicardia, sudorese, falta de ar, tremor, fraqueza nas pernas, ondas de frio ou de calor, tontura, sensação de que o ambiente esta estranho, de que vai desmaiar, de que vai ter um infarto, de uma pressão na cabeça, de que vai "ficar louco", de que vai engasgar com alimentos, assim como crises noturnas de acordar sobressaltado com o coração disparando e com sudorese intensa, diarréias, sintomas de uma Labirintite, pensamentos que não saem da cabeça de que poderiam ter doenças graves mesmo que todos os exames sejam normais ou de que poderiam fazer mal a si mesmo ou a outras pessoas)
mais:
Pesadelos e terrores noturnos relacionados com o evento traumático.
Flash Backs (a pessoa tem a sensação de estar vendo ou vivenciando a mesma situação, como uma cena de filme).
Com o passar do tempo, o paciente de Stress pós Traumático ou TEPT desenvolve um estado depressivo crônico com apatia, irritabilidade, desinteresse, diminuição de memória e culpa.
Algo que lembra a situação desencadeante pode causar ataques de ansiedade.
A pessoa passa a evitar situações que possam lembrar o evento que provocou o Stress pós Traumático.
Diminuição de rendimento escolar e profissional
Isolamento social.
Desesperança com relação a planos de vida de antes do evento traumático.

O que é?
O transtorno de estresse pós-traumático pode ser entendido como a perturbação psíquica decorrente e relacionada a um evento fortemente ameaçador ao próprio paciente ou sendo este apenas testemunha da tragédia.

O transtorno consiste num tipo de recordação que é melhor definido como revivescência pois é muito mais forte que uma simples recordação. Na revivescência além de recordar as imagens o paciente sente como se estivesse vivendo novamente a tragédia com todo o sofrimento que ela causou originalmente. O transtorno então é a recorrência do sofrimento original de um trauma, que além do próprio sofrimento é desencadeante também de alterações neurofisiológicas e mentais.

DiagnósticoO primeiro aspecto a ser definido é a existência de um evento traumatizante. Aquele suficientemente marcante, não há dúvidas quanto a ser ameaçador à vida ou à integridade individual, como os seqüestros, assaltos violentos, estupros.

Há, contudo certos eventos que podem não ser considerados graves como um acidente de carro sem vítimas. Mesmo assim caso uma pessoa venha a apresentar o quadro de estresse pós-traumático perante uma situação que poderia não ser considerada forte o suficiente para causar danos à maioria das pessoas, pode causar danos para outras.

Com certeza, um evento marcante, fora da rotina, que de alguma forma represente uma ameaça, tem que ter acontecido: sem isso não será possível fazer o diagnóstico, pois a definição dele envolve o evento externo.

Os sintomas têm que estar diretamente relacionados ao evento estressante, as imagens, as recordações e as revivescência têm que ser a respeito do ocorrido e não sobre outros fatos quaisquer ainda que ameaçadores.

Para o diagnóstico é essencial que a pessoa tenha experimentado ou testemunhado um evento traumatizante ou gravemente ameaçador.

Quando esse evento ocorre é necessário também que a pessoa tenha apresentado uma resposta marcante de medo, desesperança ou horror imediatamente após o evento traumático. Depois isso o indivíduo deve passar a ter recordações vivas, intrusivas (involuntárias e abruptas) do evento, incluindo a recordação do que pensou, sentiu ou percebeu enquanto vivia o evento traumático.

Podem ocorrer pesadelos baseados no tema. Sentir como se o evento fosse acontecer de novo, chegando a comportar-se como se estivesse de fato vivendo de novo o evento traumático. Nesses eventos é possível que o paciente tenha flashbacks ou alucinações com as imagens do evento traumático.

As situações que lembram o evento causam intenso sofrimento e são evitadas. Ter de expor-se novamente ao local pode ser insuportável para o paciente. Por isso o paciente passa a evitar os assuntos que lembrem o evento, como também as conversas, pessoas, objetos e sensações, tudo que se relacione ao trauma.

A recordação dos aspectos essenciais do trauma pode também ser apagada da memória. A pessoa pode afastar-se do convívio social e outras atividades mesmo que não relacionadas ao evento. Pode passar a sentir-se diferente das outras pessoas.

Pode passar a ter dificuldade de sentir determinadas emoções, como se houvesse um embotamento geral dos afetos. Pode passar a encarar as coisas com uma perspectiva de futuro mais restrita, passando a viver como se fosse morrer dentro de poucos anos, sem que exista nenhum motivo para isso.
Outros sintomas podem ser também insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, respostas exageradas a estímulos normais ou banais.Para se fazer o diagnóstico é preciso que esses sintomas estejam presentes por no mínimo um mês. Caso o tempo seja inferior a isso não significa que a pessoa não teve nada, só não se pode dar esse diagnóstico.Certos sintomas não compõem o diagnóstico, mas podem ser encontrados nos paciente com estresse pós-traumático como dor de cabeça, problemas gastrintestinais, problemas imunológicos, tonteiras, dores no peito, desconfortos.

Aqueles que tiverem interesse em aprofundar o assunto, deixem um comentário com o email, e terei o maior prazer em enviar material e orientações...
Fraterno abraço
André

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Admirável Mundo Novo!

Meses se passaram em que uma paciente me perguntou o que eu acha do livro do Huxley, e resolvi responder por aqui... espero que gostem.

O livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley foi escrito na década de 30 por um britânico preocupado com os valores da cultura americana, então em ascensão.
Portanto, ele construiu uma distopia futurista, localizando sua trama na sua Inglaterra americanizada que idolatra Henry Ford praticamente como um deus.
Eu me pergunto se esse livro não estaria mais atual hoje em dia do que quando ele foi escrito, há mais de 70 anos. Eis um caso raro de previsão bem sucedida do futuro.
Mas é claro que Huxley acerta bem mais nas questões culturais e sociais do que nas tecnológicas. Teria sido difícil para ele à época prever a revolução propiciada pela era digital.
De qualquer maneira, o admirável mundo nem tão novo assim de Huxley é uma ditadura da felicidade. É-se feliz, querendo ou não. Na verdade, não existe não querer ser feliz. Todos querem ser tão felizes quanto puderem e ponto.
Quando eu acabei de ler esse livro, uma das primeiras idéias que me ocorreram é que o autor havia utilizado pressupostos análogos aos expressos na obra O Mal-Estar na Civilização, de Sigmund Freud.
No capítulo II dessa obra, Freud enumera as vicissitudes de um indivíduo em busca da felicidade dentro de uma sociedade e os possíveis recursos disponíveis a esse indivíduo.
Entre os principais citados encontram-se a sublimação das pulsões insatisfeitas, a elaboração filosófica dessas pulsões – o que permitiria uma redução de sua força, ou a fuga através do uso de entorpecentes.
Aldous Huxley lida com os mesmos problemas, mas suas soluções não estavam restritas ao então contemporâneo. Pareceu-me, de fato, que ele tivesse optado por lidar com as condições inescapáveis delineadas pela psicanálise fazendo uso de métodos comportamentalistas.
Ele imaginou uma sociedade em que as pessoas não assimilassem através da cultura nenhuma necessidade que não pudessem satisfazer. Além disso, supôs uma engenharia social capaz de, juntamente com a engenharia genética, condicionamentos durante o sono e durante o desenvolvimento, fazer com que cada ente fosse predisposto a gostar do trabalho a que estivesse destinado a executar.
Os recursos materiais e de saúde eram providos amplamente para a população.
O sexo era explicitamente estimulado, sob uma forma promíscua e meramente física, de modo que todos encontravam facilidade na obtenção de parceiros.
O autor também reconheceu que algumas necessidades são primevas demais para que pudessem ser influenciadas culturalmente.
Para tanto ele dispôs sua sociedade fictícia de alguns recursos essencialmente químicos, como o “substituto para paixão violenta” e o “substituto para gravidez” (já que gestação natural havia sido inteiramente banida).
E para a eventualidade incontornável de alguma coisa sair errado e disso decorrer alguma frustração, existe o soma.
O soma é uma droga sem efeitos colaterais capaz de anestesiar qualquer sensação ruim e embarcar o usuário em uma viagem de tranqüilidade e imbecilidade por tempo suficiente para que o infortúnio se dissipe. Não querem mais nada.
Com isso, estavam dadas as condições individuais necessárias para que não se produza inquietude entre os membros da sociedade.
Como recursos coletivos, também foram suprimidas instituições como família, arte, filosofia, pensamento crítico, individualidade, privacidade, intimidade.
Na verdade, um dos axiomas centrais da distopia huxleiana é a idéia da dissipação dos sentimentos intensos.
Não há tempo, espaço ou pressuposto para o surgimento de elementos profundos na vida de alguém.
Sem família, sem laços muito próximos, sem ideologias, sem incentivo à criação de uma identidade, sem amor. Basicamente, relações que atualmente estabelecemos que concentrem nossas energias foram substituídas ou dispersadas.
É a analogia da represa: se for feito apenas um furo em uma represa, a água jorrará com enorme força por aquela fissura. Se, entretanto, forem feitos diversos furos, a pressão estará distribuída entre todos eles, amenizando significativamente a força do jorro. Não deixa de ser uma idéia psicodinâmica.
E é aqui que me parece que a previsão de Huxley se aproxima mais da realidade atual. Não há como negar que, do período entre - guerras para cá, a cultura americana se espalhou e consolidou tremendamente através do mundo globalizado.
O industrialismo hegemônico de hoje em dia estimula o consumismo, que por sua vez estimula o leviano descarte de todos os produtos em favor da compra de novos, exatamente como é descrito na novela.
E o mais interessante, parece-me que as relações sociais que estamos estabelecendo enquanto sujeito está também cada vez mais voltada para o descartável e o disperso.
Paradoxalmente, por mais que estejamos fortemente voltados para uma formação individualista de modo de ser, o indivíduo moderno possui pouco de sujeito. Existe uma queda de envolvimento efetivamente pessoal nas relações que ele estabelece.
Vemos que entre as diretrizes de como ser uma pessoa, o paradigma sócio-cultural dos nossos tempos enfatiza aquelas ações voltadas para si.
A preocupação é com a sua carreira, seu prazer, seu divertimento, seu currículo, sua saúde, seu dinheiro. Até aí não há nada de tão alarmante nem tão absurdo, pelo menos vendo a situação assim superficialmente.
Mas é relevante observar que tipos de vínculos existem nessas dimensões de nossas vidas. É difícil encontrar o espaço da subjetividade, onde a associação sólida e duradoura com um elemento essencialmente pessoal se manifeste.
Não é verdade que hoje em dia um empresário qualquer faria melhor em trocar de empresa dentro de não mais do que 5 anos? Não é verdade que firmar uma identidade consiste em grande parte em referir-se a uma tribo cultural, ou seja, a um modelo idealizado prévio e a um grupo? Não é verdade que hoje em dia o nosso apego aos objetos é essencialmente muito pequeno, uma vez que são facilmente copiáveis e substituíveis? Quem é que ainda usa guardanapos de pano, por exemplo? Até mesmo o conceito de amigo está sendo massificado e pulverizado, quando atribuído a centenas de conhecidos aleatórios por aí através das redes sociais como o Orkut.
Mas o que mais me fez pensar foram as relações afetivas. Um amplo espaço é dedicado a elas no Admirável Mundo Novo – ou à falta delas. Na obra, “cada um pertence a todos”.
Qualquer relacionamento duradouro é visto com maus olhos, comportamento inadequado e repreensível. Esse talvez tenha sido o aspecto da cultura vigente que mais afetou o Selvagem – personagem não condicionado, não nascido na civilização, inserido na trama para contrastar as diferentes realidades.
É estranho, pois na cultura em que eu vivo, creio ver coisas similares. Não é que hoje em dia o lógico, o razoável, é “ficar”? Eis algo tão desprovido de significado que não possuiu mesmo um substantivo para designá-lo.
É meramente uma ação, quase que inteiramente vazia. Tão fugaz quanto humanamente possível, pois se chega ao ponto de reduzir a experiência a cifras: o melhor é ficar com o maior número de pessoas possíveis, especialmente no que diz respeito aos homens. Poderoso é aquele que pega três, quatro em uma mesma noite. E a essa altura já não importa mais quem eram. O que importa é que foram quatro.
Eventualmente, de fato, uma ficada produz um “ficante”. E quem sabe esse ficante acabe por chegar a um estágio em que se torne interessante estabelecer algum tipo de contrato de exclusividade e se constituir o que ainda se chama de namoro.
O namoro de hoje em dia já é alguma coisa muito mais instável do que foi, digamos, há meio século atrás. Sem contar que desconfio que esteja germinando já uma desconfiança para com o namoro.
“Bom mesmo é o relacionamento aberto”, eis um pressuposto que já se vê pelo ar, tênue, mas presente. O problema é que as pessoas na nossa sociedade ainda não estão tão condicionadas.
Ninguém escuta ao dormir um gravador repetindo “cada um pertence a todos”. Portanto, as pessoas são possessivas. Mas nada disso está fixo na carne – não duvido que uma manifestação midiática em filmes, novelas televisivas e demais veículos de massa não produza um efeito quase tão bom quanto os da hipnopedia sugerida por Huxley.
E eu não estou dizendo que tudo isso está errado. É um reflexo da época e da cultura. No Admirável Mundo Novo, tais pautas eram dadas por um estado totalitário que se auto-perpetuava através da sujeição, massificação e controle dos indivíduos. Na nossa realidade, temos as resultantes de uma série de influências, políticas, interesses, subjetivações que obedecem a determinados interesses, ora mais, ora menos hegemônicos.
Não quer dizer que esse comportamento seja uma infantilização das emoções humanas, uma entrega ao imediatismo gratuito e impessoal. Mas eu não posso deixar de pensar que é bem possível que seja esse o caso, ainda assim.
Ou é bem possível que ele venha a se tornar o caso, ou que já o seja em alguns estratos da população.
É sem dúvida uma forma de sofrer pouco, se frustrar pouco, já que não há investimento intenso em quase (?) nada.
Não se reconhece mais nada de si no mundo externo, então não se perde nada com a quebra das relações. É um agitado desapego.
Pois é aí então que eu me pergunto: seria eu um Selvagem?.....(Muitos risos)......
Fraterno abraço
André

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Pecado Original!

Aqueles que acompanham meus escritos e aqueles que de alguma maneira ou de outra me conhecem um pouco, sabem de duas heranças freudianas que eu até tenho um certo orgulho de ter.
Me refiro às duas as quais o velho Freud tinha aversão: A tudo o que tinha a ver com os Estados Unidos e com qualquer espécie de hierarquia religiosa.
Com relação aos Estados Unidos, não vou tecer demasiados comentários, e até acho que nos últimos 20 anos, os dois Bush ( George pai e George filho) mostraram à quem ainda duvidava que os americanos são egocêntricos, autoritários, arrogantes e insensíveis à tudo e a todos que não estejam abaixo das margens sul do Hudson e acima das margens norte dos banhados da Flórida. Além do que todos terem cara de mamão.
Agora.... no que se refere à questões religiosas....bem.... não sei se devo falar...
Vou falar! De novo!
Fazendo uma análise cronológica ampla, deve ter sido dose pra mamute para os livre pensadores de todos os tempos, suportarem certas coisas.
Imaginem os pobres Adão e Eva, tendo um paraíso inteiro à seu dispor, vestidos apenas com uma folha de parreira. Certamente foram orientados (cruelmente obrigados!) à serem retardados, reprimidos e insatisfeitos independente da interpretação do termo "pecado original".
Vejam bem: Se o tal "pecado original" se relacionasse ao sexo, imaginem aquele paraíso todo, os dois ali praticamente nus, solitários, etc, não podendo sequer pensar no quanto seria bom? Isso, pelo menos à mim, cheira a tortura... e tortura da braba!
De outra forma, se o "pecado original" se referisse a obtenção de conhecimento, ou de dicernimento entre o bem e o mal, e isso não fosse permitido, seria impossível aos "donos" do paraíso viver. Só poderiam vegetar... ou estou errado???
Imagem viver num lugar onde só o patriarca ( Abraão, Moisés, etc..) pode tudo. Come todas as mulheres, dita todas as leis, estabelece todos os direitos dele e deveres dos outros, e mais, a quem não o obedecer restaria a morte e o fogo eterno do inferno.
E na idade média, que eu prefiro chamar pelo apelido de IDADE DAS TREVAS, onde o simples fato de questionar o calor do Sol, o brilho da Lua e até mesmo o fluxo e refluxo das marés, previa a execução na fogueira num ritual comandado por um "expert" religioso, que por incrível que pareça teve sua instituição fundada à partir da execução na cruz de um homem que pregava o amor, a paz e a fraternidade.
Mas... isso tudo é coisa do passado né???
Opa...opa...opa.....!
Edir Macedo, no intervalo de uma pelada à beira da Pituba em Salvador, ensina em rede nacional como amealhar fortunas de 2 bilhões de dólares vendendo FÉ?????
Que São Freud me carregue para o quinto dos infernos!!!!!!!!
Fraterno Abraço
André

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A (IN) CONSCIÊNCIA ANTE OS ATOS

A rotina diária de nossas ações, tende a antecipar sempre a cada ato, uma consciência superegoica em todos os momentos de nossas vidas.
Na verdade, antes de estabelecermos o verdadeiro valor de nossos desejos e planos, nos surpreendemos estabelecendo limites que supostamente possam ser cobrados pela conjuntura da sócio-cultura que vivemos.
Assim, temos uma tendência absolutamente automática, a nos auto-censurar antes mesmo de projetar a execução de atos que uma vez executados nos dariam muito prazer e satisfação pessoal.
Existe uma gama de fatores que influenciam nessa dita consciência censurante que limita nossas ações mais simples e que não estejam comprometidas com os padrões ditos convencionais ou convencionados.
Assim, as vezes (digamos até muitas vezes), deixamos de fazer ou realizar aquilo que desejamos e que provavelmente nos fariam usufruir de momento absolutamente prazerosos.
A psicanálise lacaniana, ao abordar os 3 registros (Real, Simbólico e Imaginário) nos ajuda nesse raciocínio absolutamente contemporâneo.
Mas, como poderíamos estabelecer uma avaliação entre o certo e o errado, o decente e o indecente, o moral e o imoral, ou ainda o ético e o anti-ético.
Não farei uma dissertação estabelecendo as diferenças entre as nuances de ética, me referindo a Platão e Sócrates e fazendo as respectivas citações.
Mas em se tratando de felicidade (aquela que absoluta que só vemos pela tela do cinema, sem restrições ou censura e que normalmente não nos concederíamos em hipótese alguma), acho que todos nós somos platônicos.
E se somos, obrigatoriamente temos que creditar a irrealidade desses atos, à nossa consciência que cruelmente nos tira da tela ou da ribalta e nos remete a realidade crua de uma vida cheia de limites e responsabilidades(??).

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Os Escravos da Pedra Descendo a Ladeira!

Repasso aos leitores do blog, um texto que escrevi em maio para um jornal comunitário da cidade de Rio Pardo.
Parabéns ao jornalista Cícero, responsável pelo jornal Fato, e conte sempre comigo, sobretudo na campanha contra o Crack.
OS ESCRAVOS DA PEDRA DESCENDO A LADEIRA


Me lembro como se fosse hoje, de um tempo muito distante quando conheci Rio Pardo.
Chegávamos eu e meu avô, cria da terra, num grande carro preto. O carro era imenso. Me lembro que menino (mas bem menino mesmo) eu precisava ficar de pé sobre o banco do carro preto pra conseguir ver a cidade.
Meu avô estava radiante mostrando pra seu neto mais novo, a sua velha Rio Pardo.
Percorremos o centro, e ele me falava orgulhoso dos prédios... “ aqui era a escola militar... alí a prefeitura... e aqui o vô nasceu André!”
Estávamos hospedados na prainha do Porto Ferreira, mas meu velho fez questão de me levar pra conhecer sua cidade, e naquela tarde de verão, eu vi a noiva da igreja de São Francisco, e comi pastel lá embaixo na praia dos Ingazeiros onde mergulhei e provavelmente bebi das águas rio-pardenses.
Tudo isso estava escondido no meu inconsciente, lá naquele lugarzinho onde a gente esconde as coisas mais maravilhosas de nossa infância. As mais maravilhosas e as mais terríveis também. E lá, naquele lugar, também estava uma coisa que me fez perder o sono na época.
Lembro meu avô me mostrando a Rua da Ladeira. E ele me contava que a Rua da Ladeira foi calçada por escravos e que estes, amargaram chuva, frio, calor e o açoite do feitor, para que o imperador pisasse nas pedras ao invés de ter suas botas de pelica inglesa enlameadas.
Acho que meu avô teatralizou um pouco a história, mas o fato é que naquela noite, perdi o sono pensando naqueles pobres diabos carregando e se acabando no meio daquelas pedras.
Mas... são quase duzentos anos, e afinal os escravos não existem mais pelas ruas de Rio Pardo.
Ou Não????
Infelizmente acho que não...
Pelo que sei, ainda existem escravos em Rio Pardo, irmãos de outros escravos que habitam o Brasil e o mundo de norte a sul.
E estes, também são escravizados pelo peso e pela dor que pode causar uma pedra.
A pedra que escraviza hoje, não tem o mesmo peso e não serve para perenizar a história.
Os escravos de hoje, vivem em torno da pedra de crack que açoita mais do que o chicote do feitor de dois séculos atrás.
O feitor de hoje, é chamado de “soldado da boca”, e acho que ele é o mais inclemente dos feitores, que acompanhado de seu colega, o capitão do mato, hoje conhecido como “gerente da boca”, trabalha para o bem estar do imperador, hoje conhecido como traficante ou “dono da boca”.
Para o imperador traficante, pouco importa se as calçadas onde ele pisa sejam alicerçadas em vidas de pais, mães, e de toda sociedade enfim.
O imperador caminha altivo. Como se dono fosse. Rei e senhor de seu tempo. Pisando em vidas mortas e que quando vivas, eram os escravos da pedra nem tão branca assim.
O que mais me admira, é o fato de que as coisas são muito parecidas.
Ainda hoje, nós ficamos ali, olhando o imperador passar por cima de tudo o que construímos e alguns de nós até aplaudem.
Ele passa esmagando nossos filhos, nossos amigos e nossas esperanças, e nós ficamos parados, como que engasgados no sangue de nossos escravos da pedra maldita.
Enfim... que saudade do tempo em que eu perdia o sono pensando nos pretos que calçaram a Ladeira para Dom Pedro Passar.

André Lacerda
Psicanalista

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Quem foi que falou no Boi Voador???

Tudo bem que por incrível que possa parecer, nós, o povo brasileiro, ainda estamos aprendendo a viver num estado democrático de direito, uma vez que os anos de regime militar foram duros e por um longo tempo, e sobretudo geraram gerações de filhos de uma ditadura que bloqueava o livre pensamento.
Tudo bem que o exercício do livre pensamento não é estimulado pelo sistema político e social brasileiro e nossa sociedade é efetivamente caracterizada pela existência de dominantes e dominados tal qual descreveu o americano Irwing Goffman em sua obra "Manicômios, Prisões e Conventos" que aliás eu recomendo à todos que se interessam pelas diferenças estudadas pela antropologia social.
Tudo bem que adoramos o showzinho midiático que ocupa o tempo que insistimos em deixar vago e que é ocupado por exploradores que nos criam como se fóssemos bois e vacas que ruminam sob a desgraça do pasto seco e cada vez mais difícil de digerir.
Aliás, aquele perverso do Zé Ramalho já disse que éramos felizes com nossa vidinha de gado, e o satírico Chico Buarque já mandava prender aqueles que falavam do "Boi Voador", pois deste não se pode sequer falar de sua anormal característica que é voar.
Tudo Bem... Tudo bem... Tudo bem...
Mas... não nos empanturremos com os primeiros números do espetáculo circense.
Não esqueçam, que aquela gostosona de maiô que o mágico usa como assistente, nada mais é do que um instrumento que desvia nossa atenção enquanto o esperto manipula coelhos e pombas nos compartimentos ocultos de sua casaca impecável.
Atentemos para o princípio do devido processo legal, e NINGUÉM é culpado de nada antes de tudo ser devidamente processado.
E por falar em circo, hoje é Sexta Feira. Dia de passar o estandarte do sanatório geral por essa imensa avenida Brasil.
Fraterno Abraço
André

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Ira do Collor!

Juro que fiquei com medo daquele olhar do Collor. Pensei que o Simon seria baleado ou coisa assim. Mais... pensei que o Collor iria estirpar o Simon.
Como pode isso acontecer no seio da casa do povo??
Sempre duvidei da lucidez do dito, mesmo quando ele acertadamente abriu o mercado para que todos nós pudessemos andar de carro e deixar as carroças.
Mas o que vi, ao vivo pela TV senado, é de tirar o sono. Na novela da Globo, provavelmente esse personagem seria objeto de alguma explicação sobre psicopatia.
Mas.. dai à Cesar o que é de Cesar... o cara foi eleito democraticamente pelo povo de seu Estado.
Mas o Sarney também...né???
O tantos outros também né???
Pensemos .... mas POR FAVOR, não me venham com essa de querer fechar Congresso que isso nunca foi e nunca será solução para nada.
Mas, pensemos...
fraterno Abraço
André

terça-feira, 4 de agosto de 2009

H1N1

Mesmo não sendo minha área, quero falar hoje sobre o mal que nos assola nestes dias atuais.
Não... não vou falar do Sarney ou do Collor, etc.
Meu assunto hoje é a gripe A causada pelo famigerado H1N1, e como vejo isso sob a ótica do psicanalista preocupado com tudo o que se refere à saúde e ao viver com qualidade.
Os especialistas afirmam e informam que a gripe A, é exatamente igual à gripe comum em todos os aspectos, inclusive em diagnóstico clínico, prognóstico e tratamento. Bem... aqui a minha primeira observação:
Essa afirmação ( volto à dizer que verdadeira), tende a tranquilizar as pessoas uma vez que todos se "gripam" seguidamente. ERRADO esse pensamento, pois culturalmente a população brasileira usa o termo "gripado" para citar um RESFRIADO que é bem mais ameno que a GRIPE.
A gripe meu amigos, é uma doença que requer cuidados médicos adequados, e mata milhares de pessoas todos os anos no Brasil, e milhões no mundo.
Portanto... CUIDADO. A Gripe ( tanto a antiga como a nova ) pode sim levar ao óbito.
Menos mal, é que o tratamento existe e é eficiente e eficaz, e pelo que consta, nosso país está preparado pra qualquer tipo de evento relacionado ao caso.
Como o melhor remédio sempre é a prevenção, aspectos de higiene devem ser a prioridade de todos nós.
Fraterno abraço
Cuidem-se lavando sempre as mãos ( sem paranóia )
André

sábado, 1 de agosto de 2009

Milongueando!

Sábado ainda nebuloso, e aqui no coração do pampa onde estou, nada melhor que ouvir uma milonga num dia como hoje.
A milonga é um ritmo pampeano, ou seja, é do pampa, e isso significa que ela é gaúcha brasileira, argentina e uruguaia.
Recomendo as milongas do Mauro Moraes, cantadas pelo Bebeto Alves com o violão de Lucio Yanel.
Publico hoje, de "regalo" como dizem aqui, a Milonga Amarga, que tem a ver comigo... Mas isso é um papo pra outras publicações...
Fraterno Abraço!
André


Milonga Amarga ( Mauro Moraes )

Depois de matear com uns amigos,
Deixei minhas tristezas maneadas
Lá onde o coração se conforta
E nunca falta um violão na conversa.
O brabo é aceitar a idéia da perda,
Permanecer fiel a esse amor,
Sem derramar uma lágrima à toa,
Limpando o pátio com a baia vazia.
E a quem importar quanto me doa,
Vou dando bóia às galinhas...
Os lugares que me viam abatido,
Sujeito estranho, um olhar distraído,
Não imaginam fazendo o meu momento,
Povoando a alma com a rima no ouvido.
Estendemos juntos os arreios à sombra,
O campo até parecia diferente...
Olhava em frente e nada faltava,
Como era mesmo o tempo da gente...
Toca vidinha uns "troço", à gosto,
Que eu faço gosto escutar...
Sou feliz porque assim deve ser,
Buscando em tudo urgência e prazer.
A vida é o livro, o poeta, o peão,
O patrão, a vítima, o ladrão...
Conforme a perda e a espera, ah! quem me dera
Mapear o verso com a cara do mundo,
Eu sei no fundo o resto é pouca miséria
Pra quem mobilha o galpão...
(Lá no coração do pampa,
Por quem se ama, eu ando louco de atar...)