Sigo com a série Freud. De pronto, reitero que essa será a derradeira publicação da série, uma vez que publiquei recentemente uma série sobre a maturidade e a velhice. Aos interessados, está tudo nos arquivos do blog (www.aelacerda.blogspot.com) e mesmo da página Reflexões da Psicanálise do Facebook .
Freud foi um excelente aluno. Aos dezessete anos, já pôde entrar na universidade, tendo-se submetido aos exames da Matura (provas muito difícieis para a conclusão do secundário). Um dos examinadores elogiou seu estilo, preciso e elegante, notando no jovem o que agrada aos leitores de suas obras e que o levará a receber o Prêmio Goethe de literatura em 1929, pelas qualidades estilísticas de seus escritos. Em línguas era extremamente dotado. Além do alemão, conhecia latim, grego, francês e ídiche. Estudou italiano e espanhol, este último pelo desejo de poder ler Cervantes no original. Mas era o inglês que tinha as suas preferências, o que lhe permitiu, desde os oito anos, ler Shakespeare, que muito admirava pela compreensão da natureza humana.
Freud era ateu, sem necessidade de se vincular a nenhuma religião e sem prezar certas formas de arte como a música. Todavia tinha uma fé: a Ciência. Compartilhava da esperança do século XIX que a considerava o único caminho nos descaminhos da humanidade. As teorias evolucionistas de Darwin fascinavam-no, "pois ofereciam esperanças de extraordinário progresso na nossa compreensão do mundo" (autobiografia). Note-se que a visão evolucionista estará presente em suas primeiras pesquisas no campo da histologia e se manterá, ao lado de uma abordagem dinâmica, em suas obras psicanalíticas futuras nas quais estudará o desenvolvimento da libido, do ego, do juízo da realidade e o crescimento do paciente numa análise.
Em 1873, inscreve-se em medicina, matéria pela qual não sentia atração direta: "... nem naquela época, nem mais tarde...realmente senti qualquer predileção particular pela carreira de médico. Fui levado por uma espécie de curiosidade, que era, no entanto, dirigida mais no rumo das preocupações humanas do que no dos objetos naturais". Foi o fato de ouvir, numa conferência, o ensaio A Natureza de Goethe que o levou a tornar-se estudante de medicina.Isso, de certa forma, foi um equívoco, pois Freud futuramente não veria a hora de abandonar essa carreira, apesar de exercê-la bem.
Quando universitário, Freud realiza em Trieste uma pesquisa com enguias, confirmando terem esses animais, realmente, um órgão testicular que não chegou à maturidade, mas que atesta elementos evolutivos entre as espécies.
Diria mais tarde: " No laboratório de Ernest Brucke, encontrei tranquilidade e satisfação plena e também homens que pude respeitar e tomar como modelo".
Freud admirava a probidade científica de Brucke e fascinava-se com as teorias psicofisiológicas defendidas nesse laboratório pertencente ao movimento científico da Escola de Helmholtz.
Para eles "nenhuma outra força, a não ser as físico-químicas, acha-se em ação ativa no interior do organismo". Para eles o mundo orgânico ra uma parte do universo físico, e sua aparente diversidade resultava da evolução, que incluía vegetais, animais inferiores e superiores.
Ernest Jones, fiel discípulo de Freud, afirma que é frequente considerar o início das teorias psicológicas de Freud nos contatos deste com Charcot e Breuer, sobre os quais já falei aqui. Entretanto,ele acha que, antes desses contatos e durante toda a sua vida, Freud esforçou-se em ampliar os princípios de Brucke, primeiramente no estudo do sistema nervoso e depois no dinamismo do aparelho psíquico, por ter ficado muito impressionado com as teorias deste mestre. Devo apontar porém que Freud, com sua famosa teoria do desejo, futuramente reintegrará, na ciência psicológica, a noção de "aspiração" que a Escola de Hemholtz excluíra.
Então... o resto já está escrito... e aos que não acompanharam, indico os arquivos já citados.
Me inspirei para escrever essa série num erro de um colega... lembram??? Espero ter contribuído para que todos os que leram, terem conhecido um pouco mais do criador da Psicanálise. O IMORTAL Sigmund Freud.
Na imagem de hoje, um Freud clássico. Tenho essa foto em todo o qualquer consultório que atendi e atendo, desde o início de minha carreira. E gosto de imaginar o mestre lembrando:
"As vezes um charuto é apenas um charuto!"
Fraterno abraço!
André
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