quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ah! Morcegos...

Hoje vou relatar um de meus primeiros casos clínicos, lá no inicio da carreira. O faço, para que os leitores comecem a atender melhor como funciona o processo psicanalítico na sua forma clínica. Comunico (sem risos) a patrulha doi-codiana, que não tenho pretensão em ensinar atividade clínica a ninguém. Minha pretensão é continuar sendo um psicanalista e livre pensador, e se eu conseguir fazer com que mais gente entenda e se interesse pela psicanálise, certamente serei melhor psicanalista e mais livre em meu pensamento.
O caso:
Rapaz de 23 anos, procura atendimento clínico psicanalítico, achando-se deprimido, reprimido e retraído. Pais separados, desconfia que o pai não o admire nem goste dele, e tem sonhos recorrentes que produzem efeitos avassaladores à ponto de o paciente ter extremo medo do anoitecer e da hora de ter de dormir. No sonho, lhe surge um grande morcego enquanto dorme e a simples aparição desta "besta fera" lhe causa extrema dor e sofrimento.

Na primeira sessão, descartei o diagnóstico produzido por alguém (omito por questões éticas) pois mesmo aquele que se interessasse pouquíssimo por psicopatologias saberia que numa HD (hipótese diagnóstica) de Depressão, três aspectos incapacitantes deveriam ser observados: 1) A incapacidade de relacionar-se; 2) A incapacidade de amar e 3) A incapacidade de trabalhar. Não era o caso de meu novo paciente, e passei a ter (sem falar pra ele) como HD, aquilo que o CID(código internacional de doenças) 10 ( por ser sua 10ª edição)  estabelece com Estado depressivo Recorrente, com o código F 32, se não me fala a memória ( não vou ao cid pra conferir isso tá??? risos).
Passei  a escutá-lo. Muitas vezes me emocionei com ouvindo tanta falta de estima e tanta tristeza.
Eram três sessões por semana e comecei  a perceber que tinha algo muito maior do que toda aquela dor que meu paciente relatava cada vez com mais veemência.
Não tinha amigos, não tinha mulheres, não tinha amor, não tinha nada. No seu trabalho o consideravam um verdadeiro pateta e um coitado, apesar de seus empregadores o considerarem produtivo e inteligente. 
Ah... e sempre terminava as sessões contando o sonho da noite anterior... O grande morcego que o assombrava noite após noite.  
E assim foi...
Passadas algumas semanas, o paciente começa a melhor. Era lógico! estávamos juntos fazendo sua catarse. Estava sendo ouvido. Estava enfim  "limpando a chaminé".... fiquei feliz... mas ainda me faltava algo... 

Um dia, sessão normal, paciente já apresentando alguma evolução, notei que ele não falou do tal sonho...deixei... imaginei que provavelmente os motivos daquele sonho já pudessem ter sido dissolvidos em alguma sessão sem que eu me desse conta... esperei...
Outra sessão.. e nada do sonho...
Sessão seguinte... nada de sonho novamente.
Perguntei:
- Tens sonhado?
- Não!
- Então teus fantasmas cansaram de ti?
- Que fantasmas André?
- Aqueles que te visitavam a cada noite no início de nosso tratamento!
Ele me olha...
Noto que seus olhos se enchem de lágrimas... e pronuncia:
AH!!!! MORCEGOS.....
Silêncio absoluto por alguns minutos...
Perguntei:
- Que amor sentes que não podes falar? Que amor sentes que não pode ser visto?  
Então ele me contou... falou durante 5 sessões de amores proibidos e condenados... e isso não vem ao caso.
Notem, que apesar de  Lacan ter dito que os psicanalistas são os Xamãs modernos, não tenho e não conheço nenhum psicanalista com poderes mágicos ou metafísicos.
O Inconsciente se estrutura em linguagem.
O psicanalista ouve, o que está por trás da fala. É ali que muitas vezes o inconsciente se revela.
Perguntado pelos fantasmas que o assombravam, o paciente fala :
AH! MORCEGOS... E o psicanalista ouve:
AMOR CEGOS....
O Paciente está bem e feliz... e seus amores já tem olhos e podem ser vistos.
Fraterno Abraço
André

  

   

sábado, 25 de janeiro de 2014

Novamente Nossos Medos!

Hoje, não posso deixar de compartilhar com os amigos e amigas, uma emoção que me fez chorar.
Trata-se de uma crônica do meu amigo pessoal, J.J. Camargo. Cirurgião e chefe do Setor de Transplantes da Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre, homem de extrema sensibilidade.
A crônica é do Camargo, mas a história com certeza já foi vivida por muitos profissionais da área da saúde. Inclusive por este que vos brinda com essa poderosa pílula de emoção produzida pelo grande médico. Eis a crônica:

 " De tudo resta uma perplexidade: Porque as crianças adoecem?
Na antiguidade, a doença era interpretada de muitas maneiras e se podia adoecer por vários caminhos: castigo por uma transgressão moral, feitiço encomendado por algum inimigo, invasão corporal por algum objeto misterioso e mágico, possessão por um espírito maligno, ou perda da alma por ação do demônio.
A ampla variedade de trilhas da doença explicava a diversidade de terapeutas e justificava a participação do mago, do xamã, do curandeiro e do pajé. Aproveitando a brecha do desespero de quem adoece, omo era de se esperar, se incorporou o charlatão, que terreno mais propício não poderia haver.
O espetacular avanço do conhecimento médico identificou os inimigos pontuais, as bactérias, os vírus, os fungos, os protozoários, entendeu os danos que eles poderiam causar às células, e descobriu como enfrentá-los e destruí-los com os antibióticos. Com a biologia celular, avançou-se no entendimento do mecanismo de crescimento e disseminação dos tumores. Quando se aprendeu que o metabolismo das células tumorais podia ser alterado por drogas, muitos cânceres passaram a ser curados com quimioterapia.
A conquista da medicina molecular e a descoberta do genoma e seus desdobramentos permitirão, no futuro próximo, a tão sonhada longevidade qualificada. Com todos estes mistérios desvendados, ainda restará uma perplexidade: mas porque adoecemos? Antes que alguém retome um teoria religiosa com a busca de culpas e penas, minha invocação particular: e as crianças precisavam adoecer?
Fiquei um tempão explicando ao Adriano, um garotinho de 10 anos, que teríamos um caminho pela frente para derrotarmos aquele tumor que lhe provocava dor no peito. Contei que o tratamento teria duas etapas: a quimioterapia, para que o tumor diminuísse, e depois a cirurgia para eliminá-lo.
Havia tanto medo naquele olhar que quase não resisti a pegá-lo no colo, mas isso não combinaria com a pose de homenzinho, de braços cruzados, sacudindo a cabeça depois de cada informação nova. Terminada a sessão de notícias, abri o questionário:
- Alguma coisa que queiras me perguntar, meu garoto?
- Eu vou morrer?
-Claro que não!
- Mas meu tio disse que aquele cantor, o Leandro, tinha esse tipo de tumor, que você tratou dele, e ele morreu!
(Socorro! Claro que não comentei que ter um tumor já era desgraça suficiente e que ele não merecia um tio desses!). Expliquei que a situação era diferente, que os adultos respondem mal à quimioterapia nesse tipo de tumor, e que nós iríamos conseguir. O Lábio tremia quando ele confessou:
- Tô com vontade de chorar!
- E por que não choras?
- Meu pai disse que chorar é coisa de mulher.
- Mas que bobagem! Eu choro quase toda a semana.
- E nunca te chamaram de mulherzinha?
- Não. Ninguém se arriscaria!
E então, nos abraçamos. Mais do que motivação, agora ele tinha companhia."

Confesso que chorei com o Camargo e com o seu menino paciente.À nós, que lidamos com a dor alheia, cumpre-nos seguir os ditos de Hipócrates: " Curar as vezes, aliviar quase sempre. Consolar SEMPRE!"

Fraterno abraço, e bom fim de semana à todos!
André
  

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Brasil Ferve!

E eu que andei e andei e andei ... e andei... e ando...
E citando o poeta popular ando conhecendo as manhas e as manhãs e provo o sabor das massas e das maças.... e tenho comido massas e maças...
E ferve o Brasil... até o meu amado Rio Grande ferve...
E as telas de tv no Brasil fervem entre closes de peitos, pernas e bundas... Mas e dai??? Citando o diretor Padilha de Tropa de Elite - "essa pica não é minha!". Ou é???
Penso que sou um aspirante à pescador. Queria saber pescar e que o peixe fosse a felicidade de todos e até daqueles que me detestam e que sonham em me sepultar...
E estou de volta... e citando  o São Caetano ( não aquele do bairro de Porto Alegre, mas o da Bahia e do Brasil)  - " Caretas de Paris e New York, sem mágoas estamos ai...".
E vamos continuar andando juntos por esse 2014 da nossa glória.
Aos queridos leitores, adianto que nos próximos dias vou retomar os textos baseados em Freud. Quero abordar a visão antropológica que o mestre tinha, e vamos falar sobre os interditos, sobre a horda primeva e do porque ainda hoje mantemos o repúdio à homicidas, incestuosos e canibais. 
Afinal, vivemos todos sob os auspícios da harmonia total, e ninguém mata ninguém, ninguém sacaneia a mãe e ninguém  anda por ai comendo gente  né? Ou não???
Fraterno Abraço
André   

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Uns dias de folga!

Prezados Amigos...
O ano de 2013, foi um bom ano para todas as minha atividades. Principalmente para minha atividade de escrever. Agradeço aos que me prestigiaram com carinho, e mesmo aqueles que me xingaram. Tenham todos a certeza que bebi o carinho. Bebi também o ácido de todos os xingamentos. Teve gente que me desejou felicidades e prosperidade. Teve gente que desejou que eu morresse atropelado por um trem suburbano e que na minha necrópsia um legista tarado ainda comesse meu sacrossanto rabo. Bebi  todos os desejos de meus leitores... a parte do trem e do legista não gostei muito, mas gargalhei com meus familiares e amigos... então valeu.
Teve gente que me amou... e teve gente que mandou que eu procurasse minha mãe em vielas esquecidas dos mais humildes prostíbulos... Contei pra ela, e ela serena na sua crença oriental me disse: "Assim??? com 82 anos??? Nem no mais terrível puteiro!!!" 
Bebi e gozei com tudo! 
Agradeço com disciplina e com Liberdade, Igualdade e Humanidade, termos que tenho tatuado no meu braço direito (deveria ser o esquerdo??) e que nortearam momentos de luta e mudanças dos povos livres.
Dou à todos uma folga de mim por uns dias. Férias?? Não... contingências pessoais e profissionais...
Deixo um recado à todos nesta quarta feira da graça do verão brasileiro, na fala de um preto que ajudou a mudar a história do mundo moderno. Preto sim. Porque preto é uma cor.  Porque negros, são pensamentos e consciências...

"O ser humano deve desenvolver, para todos os seus conflitos, um método que rejeite a vingança, a agressão e a retaliação. A base para esse tipo de método é o amor." ( Martin Luther King que hoje estaria completando 85 anos de fosse vivo.)

Fraterno abraço... e até breve!
André 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Freud - Os Estudos Pré-analíticos!

Sigo com a série Freud. De pronto, reitero que essa será a derradeira publicação da série, uma vez que publiquei recentemente uma série sobre a maturidade e a velhice. Aos interessados, está tudo nos arquivos do blog (www.aelacerda.blogspot.com) e mesmo da página Reflexões da Psicanálise do Facebook .
Freud foi um excelente aluno. Aos dezessete anos, já pôde entrar na universidade, tendo-se submetido aos exames da Matura (provas muito difícieis para a conclusão do secundário). Um dos examinadores elogiou seu estilo, preciso e elegante, notando no jovem o que agrada aos leitores de suas obras e que o levará a receber o Prêmio Goethe de literatura em 1929, pelas qualidades estilísticas de seus escritos. Em línguas era extremamente dotado. Além do alemão, conhecia latim, grego, francês e ídiche. Estudou italiano e espanhol, este último pelo desejo de poder ler Cervantes no original. Mas era o inglês que tinha as suas preferências, o que lhe permitiu, desde os oito anos, ler Shakespeare, que muito admirava pela compreensão da natureza humana.
Freud era ateu, sem necessidade de se vincular a nenhuma religião e sem prezar certas formas de arte como a música. Todavia tinha uma fé: a Ciência. Compartilhava da esperança do século XIX que a considerava o único caminho nos descaminhos da humanidade. As teorias evolucionistas de Darwin fascinavam-no, "pois ofereciam esperanças de extraordinário progresso na nossa compreensão do mundo" (autobiografia). Note-se que a visão evolucionista estará presente em suas primeiras pesquisas no campo da histologia e se manterá, ao lado de uma abordagem dinâmica, em suas obras psicanalíticas futuras nas quais estudará o desenvolvimento da libido, do ego, do juízo da realidade e o crescimento do paciente numa análise.
Em 1873, inscreve-se em medicina, matéria pela qual não sentia atração direta: "... nem naquela época, nem mais tarde...realmente senti qualquer predileção particular pela carreira de médico. Fui levado por uma espécie de curiosidade, que era, no entanto, dirigida mais no rumo das preocupações humanas do que no dos objetos naturais". Foi o fato de ouvir, numa conferência, o ensaio A Natureza de Goethe que o levou a tornar-se estudante de medicina.Isso, de certa forma, foi um equívoco, pois Freud futuramente não veria a hora de abandonar essa carreira, apesar de exercê-la bem.
Quando universitário, Freud realiza em Trieste uma pesquisa com enguias, confirmando terem esses animais, realmente, um órgão testicular que não chegou à maturidade, mas que atesta elementos evolutivos entre as espécies.
Diria mais tarde: " No laboratório de Ernest Brucke, encontrei tranquilidade e satisfação plena e também homens que pude respeitar e tomar como modelo". 
Freud admirava a probidade científica de Brucke e fascinava-se com as teorias psicofisiológicas  defendidas nesse laboratório pertencente ao movimento científico da Escola de Helmholtz.
Para eles "nenhuma outra força, a não ser as físico-químicas, acha-se em  ação ativa no interior do organismo". Para eles o mundo orgânico ra uma parte do universo físico, e sua aparente diversidade resultava da evolução, que incluía vegetais, animais inferiores e superiores.
Ernest Jones, fiel discípulo de Freud, afirma que é frequente considerar o início das teorias psicológicas de Freud nos contatos deste com Charcot e Breuer, sobre os quais já falei aqui. Entretanto,ele acha que, antes desses contatos e durante toda a sua vida, Freud esforçou-se em ampliar os princípios de Brucke, primeiramente no estudo do sistema nervoso e depois no dinamismo do aparelho psíquico, por ter ficado muito impressionado com as teorias deste mestre. Devo apontar porém que Freud, com sua famosa teoria do desejo, futuramente reintegrará, na ciência psicológica, a noção de "aspiração" que a Escola de Hemholtz excluíra.
Então... o resto já está escrito... e aos que não acompanharam, indico os arquivos já citados.
Me inspirei para escrever essa série num erro de um colega... lembram??? Espero ter contribuído para que todos os que leram, terem conhecido um pouco mais do criador da Psicanálise. O IMORTAL Sigmund Freud.
Na imagem de hoje, um Freud clássico. Tenho essa foto em todo o qualquer consultório que atendi e atendo, desde o início de minha carreira. E gosto de imaginar o mestre lembrando:
 "As vezes um charuto é apenas um charuto!"
Fraterno abraço!
André


sábado, 11 de janeiro de 2014

Freud - Personagens da infância e da Adolescência

A família de Sigmund, era numerosa e sempre teve muitas dificuldades financeiras.
Viviam Jakob e Amalie (sua terceira esposa) com as crianças: Sigmund ( primeiro filho desse casamento), Julius (nascido um pouco mais tarde e que morreu quando Sigmund estava para completar dois anos e Anna ( de 1858). Nas redondezas moravam os dois filhos mais velhos, tidos anteriormente por Jakob: Philipp (nascido 20 anos antes de Sigmund) e Emmanuel (de 1832) com sua esposa e três filhos. Quando mais tarde Emmanuel observou que a família consistia em três gerações simultâneas, Freud reconheceu ter ele apontado algo correto. Pela idade, Sigmund poderia ter sido filho de seus irmãos maiores, e justamente seu companheiro inseparável era seu sobrinho Jonh, um ano mais velho, havendo muita afeição e hostilidade se alternando entre os dois.
Certamente não devia ser farto o orçamento familiar, e mais difícil ainda se tornou, para Jakob, prover o bem estar dos seus quando, em Viena, nasceram outros filhos. Rosa, Marie, Adolfine, Paula e Alexandre ( este dez anos mais jovem que Sigmund). Assim, a pobreza foi uma característica da infância e juventude de Freud. E, ao longo de sua vida, mesmo quando famoso por suas descobertas e por seus dotes terapêuticos, nunca foi rico.
Jakob, vinte anos mais velho que sua esposa, Amalie, era um liberal, homem esclarecido, de gênio alegre, amado por toda a família. Freud descreveu-o como "alguém que sempre esperava que alguma coisa acontecesse". Veremos, adiante, como o honesto aprofundamento dos sentimentos ambivalentes que o ligavam ao pai, amado-rival, corroborado pela decifração de enigmas confirmativos vindos de outros campos, transformar-se-á num dos pilares da teoria psicanalítica individual e grupal: as angústias edípicas.
De seu pai, Freud conservará o arguto senso de humor, misturado, às vezes, a um profundo pessimismo diante das vicissitudes da existência; conservará também a atitude de livre pensador e o saber usar anedotas, muitas delas judaicas, como um meio alegórico de expressar situações morais. Todavia, em algo Freud passou a se sentir diferente do pai, e com certa decepção m relação a ele, quando, aos doze anos de idade, este lhe contou que um cristão lhe atirara o gorro na lama, gritando: "Judeu, saia da calçada!" " E você, o que fez?", perguntou-lhe indignado o filho. "Saltei para a sarjeta e apanhei o meu gorro." Essa falta de heroísmo de quem devia servir de modelo chocou o jovem Sigmund; a partir daí, em seu desejo de admirar alguém, começou a ter como heróis prediletos Amílcar e Anibal, defensores dos ideais de Cartago. O primeiro, por rogar ao filho vingar-se dos romanos opressores. E o segundo, que, por realizar a corajosa epopéia de galgar os picos dos Pirineus e dos Alpes, com soldados e elefantes, e tomar de surpresa o inimigo,motivou em Freud as mais vibrantes identificações.
De sua mãe, Amalie,  Freud dizia ter herdado a "sentimentalidade", palavra que no idioma alemão é ambígua, podendo significar emoções apaixonadas, como as que vivenciou, várias vezes, o fundador da Psicanálise.
Na imagem de hoje, a família Freud. O Mestre estás ao centro, olhando pra câmera.
Na próxima publicação,  abordarei os estudos, os professores e as pesquisas pré - analíticas.
Fraterno Abraço!
André

        

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Freud - A Infância.

Num primeiro momento, tenho que manifestar meu profundo agradecimento aos comentários, carinho e principalmente a generosidade de todos os leitores. Não tenho certeza de ser merecedor de todas as deferências. Sei sim, como já disse aqui, que sou um obstinado pedreiro que ajuda a erguer tijolo por tijolo. Creio que essa é a função do psicanalista. E fiquem certos, de que minhas paredes se beneficiam com a participação de todos vocês, meus colegas pedreiros....
Então... seguimos no projeto de conhecer um pouco mais o Dr Freud, que para o desespero de alguns, vejo que muitas pessoas sensatas concordam que ele não morreu... risos ( só falta agora a "patrulha herdeira da gestapo" dizer que virei espírita e que estou vendo gente morta ( gargalhadas).
Valei-me Professora e Psicanalista Amina Maggi Piccini com seus escritos de 1986.

Sigmund Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg (Morávia) então pertencente ao império austro-húrgaro.
Cidadezinha histórica, com cinco mil habitantes, era, em sua grande maioria, constituída de católicos que falavam tcheco e muito se envaideciam de seus carrilhões, os mais afamados da província, que, repicando na alta torre da igreja se Santa Maria, pareciam estar reunindo a todos.
A família Freud não pertencia ao grupo comunitário maior. Compartilhava, com o mirrado número de judeus (dois por cento da população), do secular estigma de não ter recebido o batismo. Além disso, pelo fato dos judeus conservarem a língua alemã e a cultura austro-germânica, acabavam sendo considerados elementos um tanto estranhos, num meio cada vez mais permeado pelos ideais tchecos da revolução de 1848, que futuramente, após a primeira guerra mundial, fariam com que a Morávia fosse anexada à república tcheca.
Em " Um Estudo Autobiográfico" de 1925, Freud declara: " meus pais eram judeus e eu próprio continuei judeu". Nesse escrito, Freud supõe que seus ancestrais, devido à perseguições aos judeus do século XIV e XV, perambularam pela Europa até se fixarem na Áustria.
O pai de Sigmund, Jakob Freud, neto de rabinos, nasceu em 1815 na Tismênia, Galícia Oriental. Mudou-se para Freiberg com a atividade de negociante de lã. O advento da revolução industrial, deixou a atividade primária de Jakob em franca decadência, fazendo-o decidir por mudanças em busca de melhoria de vida para a família.
O  fato de Freud ser judeu, apesar de  ateu e livre pensador, é um dado importante que desempenhou papel significativo em sua identidade pessoal e em várias reações contra ele, mesmo depois que seu pai partiu de Freiberg. Ele e sua família, após permanecerem um ano em Leipzig, finalmente foram para Viena, onde Freud  viveu dos quatro anos até a velhice.
Freud, apesar de não ser praticante nem ter nenhum orgulho nacional que o ligasse ao judaísmo, confessaria sentir  irresistível atração pelos judeus e pelo judaísmo: "Vastas e obscuras forças emocionais, tanto mais poderosas quanto difíceis de serem expressas em palavras; a clara consciência de uma identidade íntima, a secreta familiaridade de possuir uma mesma arquitetura psíquica", foi em que escreveu  na carta à sociedade beneficente de B´nai B´rith, em 1926.
Estar sob o "anátema da maioria compacta" é apenas um aspecto de uma infância povoada de personagens e impressões...
No próximo texto, abordarei as personagens da infância e da a adolescência de Freud.
Na imagem... Freud menino e seu pai Jakob.
Fraterno abraço!
André

   

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Freud Está Morto!???

Aconteceu algum tempo atrás.
Não vou citar nomes nem de pessoas nem de instituições. Os motivos são óbvios.
O psicanalista não europeu e nem norte americano, curiosamente é convidado pra ministrar palestra num seminário de psiquiatria e neurologia num respeitado centro de referencia na progressista cidade de Boston no Estados Unidos.
Surpreso, viu o programa do tal seminário. Dezenas de neurocirurgiões, neurologistas e quase duas centenas de psiquiatras. Só ele de psicanalista. Tremeu. Seria devorado.
Percebeu a sacanagem quando viu o contrato. Eram treze palestrantes. neurocirurgiões, neurologistas, psiquiatras e ele - psicanalista. O cachê dele estava estampado no contrato. Era menos da metade que os outros receberiam. Percebeu a sacanagem.
Mas pateta (como era chamado pelos corredores sussurrantes) não era tão ingênuo quanto imaginavam os organizadores do tal seminário.
Adolescente, tinha sofrido com a família os rigores cruéis de uma das terríveis ditaduras da Latino América. Tinha sido exilado e sofreu (pouco mas sofreu) o horror do preconceito europeu para com os latinos. Mas aprendeu novos idiomas e novas formas de cultura e principalmente foi iniciado na ciência de Freud. Na origem.
Tinha experiência clínica e gostava de estudar. E era meio pedante. Sorriu. Resolveu encarar pensando que o certificado do seminário serviria de troféu e provavelmente faria piada no seu círculo psicanalítico.
Confirmou a sacanagem premeditada logo na entrada do prédio onde seria o seminário. Tinha uma faixa escrita identificando o seminário. Na faixa estava identificada a instituição promotora do evento ( em letra pequenas) e uma frase específica (em letras garrafais e em caixa alta):
FREUD´S DEAD!  ou seja: FREUD ESTÁ MORTO!
Chocou-se com a maldade. Afinal, ele seria o primeiro palestrante e falaria sobre a formação do inconsciente à luz da psicanálise. Com certeza seria ridicularizado nas 48 horas restantes e provavelmente no final de tudo seria assado ao forno com uma maçã na boca.
Coração limpo e alma serena, ajustou o nó da gravata italiana sob a gola da camisa branca Prada, abotoou o blazer da Buberrys, pigarreou e subiu ao púlpito, e tascou latinamente (mas falando um inglês digno de Churchil):

"Saúdo a todos os senhores doutores participantes do II seminário da ....(omito aqui o nome da instituição), e agradeço a honra que me está sendo concedida. Agradeço em meu nome e em nome de um morto. E como represento um morto, penso que eu não existo, assim como não existe a ciência que eu represento. Assim sendo, na última hora resolvi honrar os honorários que me foram pagos falando não de minha ciência inexistente, mas de técnicas que impulsionam essa maior potência econômica e militar do planeta e que tão generosamente me acolhe.
Vou falar da publicidade e da propaganda.
Os dignos doutos sabem que 90 % das ações de marketing desencadeadas no mundo são baseadas no perfil do modelo estado unidense???
E sabem que destes 90%, 80% são dirigidas ao público infantil????
E sabem porque???
Porque os especialistas sabem que crianças compram. Crianças compram automóveis, casas, roupas de grife e até preservativos. As crianças impulsionam os adultos às compras.
E sabem porque?
Porque os publicitários e financistas sabem que as crianças tem desejos."

O silêncio assombrou o salão onde isso acontecia. O psicanalista percebe o constrangimento gerado e prossegue:

"Mesmo morto, prezados doutores, Freud  ainda é uma das personagens mais intrigantes e polêmicas do mundo moderno. Inclusive sua morte é anunciada no portal deste grande centro de referência médica.
Muitos falam dele, mas nem todos sabem quem realmente ele foi e qual sua contribuição para a vida e o pensamento humanos. Dizem que descobriu "algo relacionado com sexo" e com "a cabeça das pessoas" - a Psicanálise.
Não me espanta que Freud continue a causar escândalo e incompreensão. A própria ciência que criou - a Psicanálise - sempre foi um escândalo, em mais de um sentido. Onde já se viu dizer que o Homem  não é dono de sua própria casa, isto é, de sua mente? Como é possível provar que a consciência que todos nós acreditamos possuir não governa necessariamente nossas vidas e nem é dirigida do modo mais racional e sensato como preferimos crer? Não será ousadia demais afirmar, como ele fez, que as crianças não são sem sexualidade nem que suas almas não estariam apenas povoadas de serenidades? Maldito Freud e os publicitários! Que absurdo é esse que Freud chamou de inconsciente, que não tem lógica, nem pé, nem cabeça e nunca terá?
Um escândalo. Um "judeu vienense", acusado de sensual e visionário pelos seus colegas cientistas, abalou os conhecimentos e as ciências do Homem de modo irreversível, a ponto de nada mais ser como era antes dele. Hoje sabemos que a primeira barreira que se levantou contra Freud, a da moral dita "saudável", foi apenas a fachada de enormes muralhas da resistência a um conhecimento revolucionário, inquietante e perturbador. O que se temia não era só o abalo da repressão sexual que a Psicanálise inevitavelmente traria, mas também e, talvez, principalmente a insegurança provocada em toda a cultura e em todos os saberes estabelecidos.
O que há de incômodo em Freud e na Psicanálise e que romperam com as certezas que forneciam aos homens a ilusão da verdade pronta e acabada. A "peste" que Freud trouxe ao nosso tempo é a da humildade diante do inesperado, do desconhecido e das limitações daquilo que acreditamos saber.
Ao contrário dos que viam os doentes mentais como seres sem recuperação, Freud dá uma mensagem humana e compreensiva das pessoas que eram antes condenadas. Também ofereceu o instrumento de crescimento e de entendimento que abre perspectivas para a saúde mental, individual e coletiva."

Silêncio cada vez mais sepulcral e rostos suados no seminário de Psiquiatria e Neurologia de Boston.
O psicanalista tira do bolso interno do blazer o cheque de seus honorários e rasga. Deixa duas partes do cheque sobre o púlpito e finaliza:

" Esse papel, pode servir de ignição para ascender a fogueira que serei queimado nos próximos dias. Como estou morto, não sentirei dores. E como estou morto, nos encontraremos no inferno. Felicidades à todos, e bom seminário. Até um dia doutores!"

E sai... assoviando uma milonga argentina... risos

Fraterno abraço
André
   

 
  
       

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Freud de Olho no Erro!

Algum tempo atrás escrevi um texto (Os erros do suposto saber) onde reconheci meu erro na escuta de uma paciente e me retratei publicamente. Depois da dose de realidade que recebi naquele caso, acho que minha escuta analítica foi beneficiada pelo fato de eu me obrigar a entender todas as linguagens. Inclusive aquelas que estavam gramaticalmente fora do contexto.
E no texto de hoje, quero retomar o assunto. E sei que muita gente boa vai me condenar a queimar na fogueira ainda existente da inquisição ( isso é uma metáfora amigos da patrulha neo fascista).
Vou falar dos erros. E vou falar das três áreas que conheço. 
Os médicos estão errando muito. A mídia e os Conselhos Regionais e o Conselho Federal dão testemunho disso rotineiramente, com notícias on line e em tempo real.
Os advogados estão errando muito. Apesar de não ser advogado e nem ter pretensão de um dia ser, tenho formação acadêmica jurídica e gosto do Direito enquanto Ciência Social. Os erros dos advogados estão igualmente na mídia cotidiana, e nas provas e nos processos administrativo da Ordem dos Advogados do Brasil.
E... cortando na própria carne: Os psicanalistas estão errando. E os erros verificam-se por eles mesmos quando se manifestam (sem conhecimento devido) nas mídias. Me explico:
Recentemente, vi num desses canais a cabo, uma manifestação de um colega psicanalista, que perguntado sobre as questões da histeria masculina detonou:
" Essa questão da histeria masculina é discutível."
A jornalista meio surpresa (ela deve ter lido mais que o psicanalista) pergunta: "Como assim Doutor???"
Nosso herói lança a seguinte pérola:
" Na própria obra do Freud tem um conceito de que o termo histeria vem do termo grego hysteros que significa útero, o que exclui o homem dessa perturbação."
Não acreditei... e como dizem no meu amado Rio Grande, Me caíram os butiás do bolso!!!!!
Acionei o repeat que as operadores de TV oferecem... e repeti... muitas vezes... e verifiquei... Ele não estava brincando... ele estava sério.
O que consta na obra do Freud é totalmente diferente. Quando o mestre em Viena, apresentou na Sociedade de Psiquiatria seu trabalho em conjunto com Charcot ( A Histeria Masculina) foi ridicularizado. E Freud conta o episódio com certa ironia:
"Um dos cirurgiões presentes pôs em dúvida até meus conhecimentos culturais perguntando-me se eu não sabia que histeria vinha do termo grego hysteros (útero) e até meus conhecimentos médicos pois perguntou-me se eu não sabia que homens não eram dotados daquele órgão."
Então...
Em 2013, escrevi uma série onde abordei a teoria de Lacan e uma série onde  abordei a evolução da obra de Freud. As séries, foram publicadas em todas as mídias que escrevo que, por questões contratuais só posso citar o Blog O Criador e a Criatura (www.aelacerda.blogspot.com) e a página do Face Book  Reflexões da Psicanálise onde sou criador de conteúdos com outros colegas.
Vou retomar nesse incio de ano essa abordagem mais técnica. Vou inciar amanhã com a pré história da técnica analítica. Vou dedicar aos leitores leigos e aos pacientes. Mas ficaria feliz se meus escritos de alguma forma ou de outra, pudessem evitar erros tão básicos com os do colega televisivo.
Fraterno Abraço
André


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Templo!

Era um domingo de sol e calor extremo na lado de baixo do equador....
A beira mar estava quase deserta naquele fim de tarde...
Eu vi ela saindo da água entre o azul do mar e branco da areia daquela praia linda.
Pensei no brilhantismo de Lacan quando definiu a inexistência da mulher e gosto de pensar que assim o fez por ser a mulher inatingível. O homem a vê e a deseja. Tenta alcançá-la, mas não consegue. E quando a tem, pensa que a alcançou, mas engana-se. Alcança apenas o objeto. Ela é inalcançável, assim com deus...
Ela é estrela... um astro que nossos sentidos teimam em tentar tocar, mas jamais conseguiremos...
E pensei nas mulheres como maiores protagonistas daquilo que chamamos de desenvolvimento humano.
Pensei em Cleópatra e em Antonieta. Pensei em Melanie Klein e na deusa Lou Salomé...
Pensei em Simone a adorada de Sartre e na Natália a adorada de Lenin...
E pensei na Anna, filha e depois mãe do Freud...
E pensei na minha professora de Educação Física que embalou minhas fantasias infanto juvenis...
E quando ela arrumou naturalmente o biquíni naquela saída da água, pensei que as mulheres são a marca da civilização. Sem a natural delicadeza da mulher, provavelmente a raça humana ainda estaria em cima de árvores desconhecendo os talheres.
E pensei que aquela visão que eu estava tendo merecia um estudo filosófico...
Mas... como definir aquela visão?? Era somente um belo corpo que eu não conhecia... e nada sabia!
Então... valei-me São Freud e todos os seus discípulos....e veio enfim a explicação:
Aquilo que eu vi era um templo. Sereia, deusa... mas antes de tudo um templo!
Aquele lindo corpo, molhado de mar e acariciado pelo sol, era casa da mais poderosa e importante representação da natureza humana. 
Aquele corpo era o templo que abrigava a MULHER!
Dedico o texto de hoje aos homens que ficam sob sol, no verão do Brasil. 
Vos apresentei o templo. Por favor... orem!
Dedico também, a minha amiga Professora Luana Armoa, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
Fraterno abraço
André
     

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ódio e Rancor!

Tenho orgulho de não ter desafetos e de não ter (pelo menos não de propósito) semeado rancores e ódios. Acho que nem as mulheres que amei e nem as mulheres que me amaram algum dia poderão me desejar mal. Penso que na maioria dos casos, os rancores e ódios nada mais são do que parasitas que se instalam nos corpos (e mentes) através de uma estúpida atitude contaminadora. O bom da história é que quase toda a contaminação parasitária é eliminada naturalmente pelas nossas próprias defesas. No máximo um tratamento simples e o parasita morre e é eliminado.
Penso ainda que o rancor é imensamente mais estúpido do que o ódio. O ódio (afora casos de maldade extrema e patológica) é uma reação. O rancor normalmente é o resultado de ininterruptas doses de idiotice pura.
Então, penso que nunca ninguém poderá me odiar. E se alguém sentir rancores em relação a mim, penso que não vou me preocupar e nem deixar de ter orgulho de ser quem sou e de fazer o que faço.
A atividade clínica psicanalítica, as vezes me coloca frente ao ódio. Muitas vezes me coloca frente aos rancores. Sei que ambos podem ser remediados. Coisa boa poder escrever isso. 
Então... nesse início de ano, tenho fé de que cada vez mais pessoas entendam que o ódio deva ser eliminado, e que os rancores, nada mais são do que vermes gerados a partir da contaminação de um copo de água. Uma simples pastilha de cloro resolve o problema... risos!
Fraterno abraço
André