sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A Constituição do Sujeito... (Aplicações teóricas e Clínicas) II

Sigo então, dando sequência ao assunto....
A agressividade, fenômeno que sempre foi polêmico em psicanálise, produz-se quando é questionada a imago especular que se construiu.
Na conferência intitulada "L´agressivité en psychoanalyse" (1948), Lacan enuncia várias teses que,em conjunto, procuram demonstrar que a agressividade, como vivência essencialmente subjetiva, surge do encontro entre a identificação narcisista, da qual o indivíduo é portador, e as fraturas, clivagens, rupturas, às quais a imago está submetida. Esclarece que este efeito da ação do outro sobre o ego especular somente pode ser verificado porque, antes da identificação antecipatória, o sujeito tem uma imago fantasmática de si mesmo, correspondente à do corpo fragmentado.
No começo da conferência mencionada, em sua tese II, Lacan explica: "  A agressividade, na experiência, nos é dada com intenção de agressão e como imagem de deslocamento corporal, e é deste modo que se demonstra eficiente." 
Basta recordar os jogos e os desenhos das crianças, nos quais arrancar a cabeça, abrir o ventre, estripar a boneca constituem eventos completamente naturais.
Acrescenta Lacan : " deve-se folhear um álbum que reproduza o conjunto e os detalhes da obra de Hyeronimus Bosch, para reconhecer neles o atlas de todas estas imagens agressivas que atormentam os homens...Voltamos a encontrar, constantemente, estas fantasmagorias nos sonhos, especialmente no momento em que a análise parece ir se refletir no fundo das fixações mais arcaicas... São todos dados primários de uma gestalt própria da agressão no homem, ligada ao caráter simbólico...".
Tomando como base estas evidências primitivas e a função integradora que o estágio do espelho realiza, Lacan ainda postula: "A agressividade é a tendência correlacionada, a maneira de identificação, que chamamos de narcisista, e que determina a estrutura formal do ego do homem e do registro de entidades características de seu mundo".
Com o imaginário, que instaura o estágio do espelho, começa, em Lacan, a reflexão sobre a intersubjetividade humana. Relação entre o sujeito e o semelhante, entre a criança e a mãe, do homem com o outro. Captação do desejo humano no desejo do outro, através do olhar. Lacan retoma a reflexão hegeliana da Fenomenologia do Espírito, especialmente a "Dialética do Senhor e do Escravo". É na relação interdependente, mútua, de imprescindível necessidade entre os dois membros do diálogo, que se constitui a identidade. É-se senhor porque existe o escravo, e vice-versa. Dialética da intersubjetividade em uma organização dos lugares, através da estrutura.
O olhar do outro produz em mim minha identidade,por reflexo. Através dele, sei quem sou e, nesse jogo narcisista, me constituo a partir de fora.
O olhar deve ser entendido como uma metáfora geral: é o que pensam de mim, o desejo do semelhante, o cartel e o espetáculo de propaganda, o posto na família, no trabalho e na sociedade. Identificação no outro e através do outro, este é meu eu. Lacan diz, em uma fórmula: O lugar de moi é i(a), identificação com o desejo de a, autre (outro). Torna-se evidente que então também se inicia a temática de alienação. 

Fraterno abraço!
André  


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