Meus prezados amigos!
No tema em questão, devo permanecer por algum tempo e em várias publicações uma vez que no tema técnica psicanalítica, vou abordar a Transferência, o Sujeito do Suposto Saber, a Palavra Plena e o Ato Simbólico.
Antes de entrar no assunto porém, impõe-se alguns comentários gerais sobre a relação entre a teoria psicanalítica e a técnica. Quanto mais precisa for a teoria da técnica, a prática clínica, ao se ajustar a ela, deverá percorrer um caminho mais científico e seguro. Não pode ser subestimada, portanto, a intenção de estabelecer as categorias da técnica, seus parâmetros e operações, que são deduzidos a partir de concepções mais gerais, como a do inconsciente, a transferência ou a estrutura do conflito. Os princípios da associação livre, a análise dos sonhos, a neutralidade do analista, a análise da transferências (oriundos de Freud "o criador"), universalmente aceitos, servem para encaminhar a tarefa clínica do analista, tornando-a mais eficaz. Mas assim acontece com as constituições dos países. Existe a letra, e também sua aplicação. Não é irrelevante que a letra seja adequada, a melhor possível. Porém, depois virá sua aplicação e, então, o problema será dirimido na saúde mental do analista, em sua capacidade, integridade e análise pessoal. Qualquer constituição pode ser subvertida em sua aplicação e qualquer teoria da técnica pode ser invocada para os piores excessos e erros.
À propósito:
Não conheço profundamente nada da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. Li apenas seu livro autobiográfico (Memórias, Sonhos, Reflexões) e confesso que achei que Jung, escrevendo nos últimos anos de sua vida, ainda se sentisse perturbado pelo episódio de 1913 (rompimento com a Psicanálise e com Freud) . Sendo Psicanalista, Freudiano/Lacaniano, não considero Jung e sua Psicologia Analítica, parte do movimento psicanalítico pós 1913. A personagem Jung, seus relacionamentos pessoais, atitudes e práticas profissionais se baseiam nos volumosos registros disponíveis. Mas são minhas, como não poderia deixar de ser, a interpretação desse material e a expressão verbal que ora manifesto.
Interessa assim, a mim, discutir e apresentar as ideias de Lacan, no plano da teoria da técnica. No transcurso, vou falar sobre a diferença entre teoria psicanalítica e movimento psicanalítico. O movimento inclui muitos problemas de diferentes níveis: conflito de pessoas, características das instituições como fenômenos sociais e, evidentemente, questões ideológicas gerais que se misturam com as do movimento. Também na teoria incidem alguns destes fatores.
Lacan mudou vários dos critérios técnicos clássicos da psicanálise freudiana, mesmo insistindo que o futuro do movimento dependia de um retorno à Freud. Isto, entre outras coisas, foi um dos motivos manifestos de sua expulsão da Associação Psicanalítica Internacional. Ele pensa que no discurso do paciente pode haver palavra vazia e palavra plena. Há algo que se omite no discurso, quando o paciente recorre ao "molinete de palavras", esperando a gratificação narcisista de seus conflitos ou envolver neles o analista. O imaginário é mantido, ficando obstaculizado o acesso à verdade. Para tirar o paciente das fascinações especulares, Lacan apela mais à interrupção da sessão do que à interpretação. Crê que um corte adequado conseguirá, através do ato, um efeito simbólico, instaurando o Outro e a palavra plena. Procura-se desalienar o sujeitos de suas imagos, restaurando a verdadeira história, os determinantes de seu ser, os enganos do sintoma. O ato acentua, rompe, causa uma saída do imaginário; leva à palavra plena.
Dito isso, espero que tenha conseguido introduzir o tema... e amanhã entramos efetivamente na Transferência.
Fraterno abraço
André
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