Seguindo ainda comentando os textos relativos à obra de Laca, penso ser a alienação lacaniana do sujeito é mais radical, em um sentido, do que a de Freud e, também, diríamos, do que a de Marx. O homem, para Freud, está em crise, como resultado da luta entre sua natureza e a lei da cultura. Porém, mesmo quando enfrenta esse conflito, há algo que lhe pertence ou que lhe é próprio, tanto em sua natureza como em sua cultura. O homem de Laca, alienado entre o desejo que a identificação com o semelhante lhe impõe, e o desejo que a cultura lhe impõe, através da linguagem, sofre uma alienação constitutiva mais absoluta. Não há nada próprio dele, fica indefectivelmente preso entre o outro e o grande Outro. Lacan rechaça qualquer possibilidade de livre arbítrio. Nenhum ser humano organiza seu destino e suas motivações, ambos nascem no exterior. A problemática do sujeito, em Lacan, é um assunto muito mais amplo do que o genial, mas de todo modo mais modesto,projeto freudiano: o homem, com sua sexualidade e conflitos que esta lhe causa.
Torna-se difícil sintetizar as contribuições originais de Lacan. Menciono, inicialmente, algumas. Ele pensa o narcisismo com um novo critério, etológico e intersubjetivo. Toma de Hegel a dialética da relação com o semelhante; de Sartre, o tema do olhar, de Freud, o conceito de identificação e do narcisismo. O resultado final é de grande riqueza conceptual. Aplicado ao Édipo e ao vínculo com a mãe, abandona todo o desenvolvimento evolutivo e vai direto ao âmago: o desejo da mãe. Vincula o narcisismo à agressividade, assim progredindo muito, em um duplo caminho: deixa o meio da biologia e o reducionismo de uma pretensa pulsão de morte e amplia o nível de explicações da clínica.
Fraterno abraço!
André
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