quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Prenúncios de um Verão!

Nessa metade de novembro já sinto que o verão está se prenunciando. E mesmo atacado pelos demônios de minhas alergias primaveris vivo um momento de absoluto preparo para o verão que se avizinha.
Por certo ficarei dividido entre o desejo de permanecer sentindo o quente da areia e o frescor das ondas, e a necessidade das responsabilidades que crescem numa progressão geométrica com o advento do próximo solstício.
Já evoquei aqui, e evoco novamente o "São Oswaldo Montenegro" que profetiza:

"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio..."

Porque toda a mudança é traumática e os ambientes podem muito bem ser acolhedores como podem ser redutos  de sintomas que nunca senti e por isso não saberei identificá-los e...

"Que a morte de tudo que eu acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio..."

Porque o novo sempre vem (como disse o Belchior), não tenho certeza de ser capaz de domar os novos demônios que certamente surgirão e que minha tarefa mais difícil será identificá-los, e domados ou não terei que conviver com eles, porque vou desejar ...

" Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas 
Como a única coisa que resta  a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo..."

Porque por mais encantador que seja o brilho do sol, devo ter a convicção de que ele não é o deus dos Incas e Astecas mas pode sim produzir efeitos devastadores, e que se isso acontecer...

"Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão..."

E tomara que eu não tenha que decidir entre fazer o bem ou o mal, porque se tiver de escolher entre o caminho do Direito e o caminho da Justiça, certamente vou optar pela segunda, e assim terei que honrar minha decisão em nome de tudo aquilo que me fez ser o que sou e assim...

" Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é lembrança do que fui
A outra metade não sei..."

Penso que no verão, será exigido de mim bem mais do que tentar prever se a chuva vai atrapalhar ou abrilhantar o banho de mar. E de tudo, pelo meu ateísmo, acho que meus apelos não serão atendidos pelos deuses da terra e da água, mas mesmo assim, não serão poucas minhas oferendas a Iemanjá e Ogum, e certamente na beira da água do reveillon, vestindo todo o branco do mundo, vou desejar ...

"Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito  
E que o silêncio me fale cada vez mais  
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço..."

E, se no verão, entre uma e outra tempestade vespertina eu enlouquecer e decepcionar...

" Que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também!"

Fraterno abraço 
André  
P.S.: Juntei no texto acima, pedaços do poema METADE do Oswaldo Montenegro. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rescaldo das Eleições II

Findou-se o processo eleitoral do ano da graça de 2010 no território da República Federativa do Brasil. No balanço de quem ganhou ou de quem perdeu acho que todos ganharam, pois ganhar e perder é consequência do sistema democrático.
É óbvio que a democracia brasileira ainda precisa evoluir muito e muito, pois eu só acredito em democracia plena quando ela sustenta-se pelo livre acesso de todos à todo e qualquer patrimônio que democraticamente pertença a todos. 
Me explico:
Não é pura a democracia quando a liberdade de escolha é sufocada e chantageada pelo roncar de barrigas que vivem no limite da dor da fome...
Não é livre o sistema democrático em que as escolhas são feitas ou pelas oligarquias perversas ou pela ignorância de um povo cujo acesso à cultura, saúde e educação é arrancado violentamente pelas mãos gordas dos corruptos que locupletam-se as custas da miséria da massa humilde e humilhada.
Mas... ainda prefiro uma democracia que engatinha e  começa a aprender a ter voz, do que uma ditadura madura e poliglóta.
De qualquer forma, eu ganhei com as eleições.
Ganhei a experiência ímpar de trabalhar numa mesa receptora de votos. Meus amigos não acreditam, mas tenho em mãos uma declaração oficial da Justiça Eleitoral, dizendo que eu desempenhei com dedicação a função de segundo mesário nas eleições de 31 de outubro de 2010. E detalhe; Eu fiz questão disso.
Tá certo que eu era o último na hierarquia da seção, mas isso também pouco importou.
Tinha lá o Presidente Fábio. Jovem e dinâmico advogado e empresário, que com idealismo e destemor promoveu  harmonicamente o pleito. Nosso Presidente administrou com paciência e rigor os ébrios e os empastelados pela farinha maldita que chegavam para votar naquelas primeiras horas daquele domingo chicoteado pelo precoce vento dos finados.
E tinha a Adelaide primeira mesária. A super mãe do Pedro e super parceira do marido Diniel foi a digna representante do sexo feminino naquela que seria a eleição em que no final, a protagonista foi uma mulher. A Adelaide supriu nossa seção de sensibilidade e função materna com a mesma competência e criatividade que administra a melhor casa de carnes que eu já conheci.
E tinha lá o José secretário. Pelo que vi, o José é o representante comercial mais querido e festejado de sua região. Homem com história de dor e superação, o José foi o melhor exemplo de cavalheirismo, educação e civilidade.
São meus novos amigos, e à eles, eu agradeço pelos momentos em que estivemos juntos e sensibilizado, me orgulho muito de ter sido deles o mais humilde servidor. Certamente, O Fábio, a Adelaide e o José, serão personagens importantes em todos os meus sonhos onde a verdadeira e pura democracia for o objeto de meus desejos.

Fraterno abraço
André                     

sábado, 16 de outubro de 2010

Um Rescaldo das Eleições!

Confesso que fiquei abobalhado com os últimos acontecimentos do Brasil e do mundo e fiz uma pausa nas publicações, e me recolhi sob o pretexto de reinicializar o conjunto de meus sistemas, que inexoralmente se corrompem quando afetados pelos vírus da tristeza e da desesperança.
Acompanhei nos últimos meses, a jornada política e eleitoral de forma efetiva e me envolvi totalmente no processo.
Andei pelas ruas e conheci gente. E quanto mais gente eu conhecia mais eu me conflitava comigo mesmo e com as certezas de minhas próprias limitações.
Fiz amigos verdadeiros e tenho certeza que essas amizades sempre serão motivos impulsionadores para a confirmação da minha crença na causa dos povos.
E no meu passeio idealista, surgiram pessoas que somaram muito na minha sempre exagerada vontade de expandir minha experiência de vida.
Surgiu o Caio que me deu a oportunidade de exercitar minha cidadania. Homem de bem o meu amigo, e estou certo de que nenhuma administração pública ou parlamento estará completo sem a sua presença. A ele Caio, agradeço publicamente a chance que recebi de conhecer melhor as pessoas e as realidades. Nossa luta apenas está começando.
Ressurgiu o Ronaldo, a quem eu destino o título de Lord. Meu amigo há décadas, Ronaldo certamente ocuparia lugar de destaque na Távola Redonda de Arthur, se Arthur fosse o personagem de minhas fantasias de justiça, liberdade e humanidade.
Surgiu Vanderlei, que sendo um técnico financista, consegue ser brilhante profissional por entender os sofrimentos da alma humana e com seu sotaque fronteiriço semea amizade e simpatia resolvendo os problemas dos outros mesmo que isso já tenha lhe causado perdas que o tempo, senhor de todos os julgamentos, fará a devida justiça.
E foi muita gente e coisa boa que surgiu... e eu fiquei feliz...
Mas eu vi muita coisa triste...
Eu vi meu povo desdentado e bêbado rindo de sua própria miséria e fazendo graça de seu próprio vício.
Vi os humildes e humilhados iludidos pelos fisiologistas, fascínoras repaginados pela luz da democracia que eles insistem em escurecer e que nunca defenderam.
Vi cafetinas e proxenetas vendendo a "hermana muy hermoza" por trinta dinheiros tirados dos cofres da fé e da bolsa da usura.
E vi o que os jornalistas chamaram de voto de protesto. 
Mas minha visão, que meus críticos chamam de turva por ser elitizada (?????), não viu o voto de protesto com o mesmo entendimento.
O que vi, é que a candidatura mais vencedora no Brasil, foi exatamente aquela protagonizada por um palhaço desdentado e analfabeto, que por legítimo representante de seu povo, deverá assumir o cargo, e jamais será chamado de um mero sobproduto dos fascínoras usurpadores da dignidade da nação.

Fraterno Abraço
André       
            

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma Exclamação!!!

Os meus amigos leitores mais antigos que acompanham há mais tempo meus escritos, devem hoje prestar atenção na descrição que inclui no título do blog.
É uma frase do Freud e acho que todo psicanalista deveria ter isso em mente em todo o qualquer exercício que tenha que ser desenvolvido em decorrência de seu ofício, inclusive o ato de escrever sobre outros assuntos não relacionados à atividade clínica.
Então... à todos aqueles que de alguma forma ou de outra sentem-se desconfortáveis com certos fatos que publico aqui, não me justifico.
Quando falo negativamente de algo (pessoas, lugares, atitudes, etc), busco sobretudo ajudar no credenciamento que dá acesso aos questionamentos, pois são deles que muitas vezes surgem soluções surpreendentes.
Então, recito o mestre:
" UMA PESSOA QUE, COMO EU, EVOCA O QUE HÁ DE MAIS PERVERSO DENTRE OS DEMÔNIOS PARCIALMENTE DOMADOS QUE HABITAM A BESTA HUMANA, E TENTA ENFRENTÁ-LOS, NÃO PODE ESPERAR SAIR INCÓLUME DESTA BATALHA." 

Fraterno abraço, 
André    

terça-feira, 21 de setembro de 2010

De Princesa Dourada do Jacuí a XYZ do Centro!

Há exatos 12 meses, produzi um texto onde citava minha preocupação com o declínio econômico, cultural e social de uma cidade, que acabei apelidando de XYZ do Centro.
Eis o texto publicado aqui no blog, em 24 de setembro de 2009:


 A Morte de Uma Cidade!

Hoje recebi um email de um amigo. Esse amigo, na minha opinião uma das mais brilhantes mentes e vozes que o Direito e a Justiça gaúcha tem, cada vez mais me chama a atenção pela sua sensibilidade e sobretudo pela maneira de demonstra-la.
Eis que, trocando idéias a cerca de uma cidade a qual ambos temos afeto especial, o grande advogado me escreve:

"Pois é, amigo André. XYZ do Centro (obviamente esse nome eu inventei porque vou propositalmente omitir o nome da cidade),hoje, é um vasto cemitério de pessoas vivas. Dormem, acordam, vestem-se, vão ao trabalho, mas é uma cidade de seres perdidos. Nada cresce, nada progride, apenas vegeta. Esta manhã, na rádio Gaúcha, ouvi informes sobre o tempo de mais de 50 cidades. Nem falaram de XYZ do Centro. Ficamos ilhados, esquecidos, perdemos a auto-estima, a vontade de progredir. Pobre XYZ! Não encontrei em nenhum lugar algo como o nosso ......(aqui o advogado cita um lindo monumento artístico que existe na praça matriz da cidade).Mas nem isso festejamos mais. Tristeza."

Depois de ler o email de meu amigo, fiquei pensando como pode uma cidade morrer ou deixar de viver, e lembrei que tempos atrás, outros dois amigos me falaram que XYZ do Centro, deveria ir para o Divã.
Naqueles tempos, escrevi algumas crônicas, mas os editores locais me censuraram dizendo que meu texto era elitista, e que somente meia dúzia de pessoas entenderiam meus escritos.
Joguei fora as mais de 10 crônicas, mas, gostando da idéia, escrevi a série "Porto Alegre no Divã", que aliás andei publicando aqui no ano passado e que ainda está à disposição de quem quiser ler.
Entretando, vou reproduzir algumas coisas que escrevi na época e que foram classificadas de elitistas, para que meu amigo citado e os demais leitores possam saber do porque na minha opinião uma cidade morre ou deixa de viver.
Acho que tudo se origina da falta de estima popular, uma vez que a massa que deveria evoluir se escraviza ao não poder, e aos vícios culturais de uma burguesia falida e há muito ultrapassada em seus conceitos de sociedade.
Noto que em XYZ, o jovem que quiser estar dentro do contexto da dita "alta sociedade local", só será aceito pela dita, se dirigir carro zero (de preferência com placa de Porto Alegre), gostar de péssima música que em volumes estratosféricos poluem toda a cidade, especialmente onde tenha Postos de Gasolina, e invariavelmente tem que ser da tribo daqueles adeptos do famigerado "pó de reboco".
No passado, os jovens de XYZ sonhavam apenas em se tornarem sargentos do exército ou funcionários do Banco do Brasil.
Também vejo que o povo de XYZ, não se dá o devido respeito e acho que nem sabe da força que pode ter um povo que se forma a partir de sua cidadania.
Todos dão muita importância à questão de nomes. Por exemplo: Ouço dizer que XYZ, existem apenas 3 sobrenomes que são importantes, e o resto é pura vassalagem que segue a rotina conforme a vontade do senhor de cada um dos 3 feudos.
Corre a língua solta, que pela vontade dos senhores feudais locais, até bem pouco tempo atrás um ser extraordinário, mago, bruxo, sei lá, mandava em tudo. Ele detinha a chave do cofre do povo, mas só do cofre do povo, pois os cofres dos burgos dependiam de outras esferas, como o crédito rural do Banco do Brasil. Parece que até museu do além e aeroporto da ET o tal alcáide pretendia fazer.
Menos mal, que o mago se foi. Deixou o cofre do povo vazio. Mas se foi.
Em XYZ, existe uma forte aversão ao novo. Vejamos:
Nada funciona do meio dia até às 13.30. E depois das 20 horas, pouco se vê. E o que se vê não é legal, pois se vê andarilhos escravos do crack habitando as abandonadas praças, e alguns pedintes ambulantes que pensam num jeito de arrumar dinheiro pra também se tornarem escravos da pedra maldita.
Comércio aberto fim de semana???? Nem pensar!!! E se for decisão judicial, daremos um jeito de burla-la, afinal o domingo é sagrado pra se afogar na caña e sequer sonhar com um mundo melhor.
É verdade.... caríssimo Doutor. TRISTEZA.
Mas... ainda acredito que outros nomes vão aparecer ou se fazerem notar. Nomes que carreguem consigo os sobrenomes de LIBERDADE, IGUALDADE E HUMANIDADE, e que não sejam meros dizeres esquecidos numa sagrada bandeira que é desfraldada apenas nos 20 de setembro do alto de um cavalo cagão.
E que estes nomes germinem que nem erva daninha braba, e que depois de crescidos todos saibam que na verdade, são belas flores da campanha.
Fraterno abraço
André     

Passado 1 ano... revelo que na verdade, XYZ do Centro refere-se à tradicional cidade de Cachoeira do Sul, outrora conhecida e reconhecida como Capital Nacional do Arroz, princesa dourada cujo resplendor era refletida nas águas do Rio Jacuí.
Acho que movido pelo “vício” clínico psicanalítico/sociológico/antropológico ( putz...peguei pesado..risos), pela neurose de entender, pelo delírio de querer saber e, sobretudo pelo desejo hipocratesiano de sempre consolar aos que sofrem, mesmo que não se possa amenizar a dor, resolvi me preocupar mais efetivamente com a cidade, e até porque tenho vivido mais em seu seio, mesmo que temporariamente. 
Tal vontade originou-se com maior força, quando recebi um email de um amigo pessoal, filho de Cachoeira, homem de leis e com sensibilidade hiper aflorada que reproduzo abaixo:

"Pois é, amigo André. Cachoeira, hoje, é um vasto cemitério de pessoas vivas. Dormem, acordam, vestem-se, vão ao trabalho, mas é uma cidade de seres perdidos. Nada cresce ; nada progride, apenas vegeta. Esta manhã, na rádio Gaúcha, ouvi informes sobre o tempo em cerca de 50 cidades. Nem falaram de Cachoeira. Ficamos ilhados, esquecidos, perdemos a auto-estima, a vontade de progredir. Pobre Cachoeira ! Não encontrei em lugar nenhum algo como nosso chateau-deau. Mas nem isso festejamos mais. Tristeza."



De: André Lacerda [mailto:andrelacerda15@gmail.com]

Enviada em: quarta-feira, 23 de setembro de 2009 14:11

Para: Undisclosed-Recipient:;

Assunto: Fw: DANÇA DE ÁGUA

Conheço uma cidade que foi pioneira da dança de água.

Encaminho o anexo, pra matar saudades do que foi perdido!

Abraço



Como podem reparar, o email do meu amigo, foi em resposta a uma mensagem que eu enviei mostrando uma fonte de águas de Barcelona, e fiz uma alusão a Cachoeira.

Então, percorri e observei...

Comecei a andar pela cidade. Percorri os bairros mais afastados, andei pelos bairros mais elegantes e tradicionais, e caminhei pelo centro.

Eu queria era observar gente, e como o acróbata demente do Piazzolla, saltei dentro do abismo daquelas pessoas que me deram ouvidos e me brindaram com suas falas.

Foram seis semanas que me dei de presente, e fui a campo conhecer a Cachoeira que lá no século passado ( to velho..risos) foi cenário de quase dois anos de minha adolescência.

Resolvi dividir em 3 fases minha andança: 1) arrabalde, 2) bairros de classes a e b, 3) centro (que em Cachoeira é social e comercial num mesmo espaço).

Não quero ser enfadonho e me coloco à disposição para os detalhes, portanto vou direto ao resultado de meu aprendizado sobre a cidade:


1) Arrabalde (vilas: Noêmia, Quinta B Vista, Cohab, Carvalho, N.Srª Fátima, Cristo Rei e proximidades do Morro da Cruz ( não sei o nome do lugar):

Metodologia aplicada: Abordagem direta (isso significa frequentar botecos, mercadinhos e transeuntes sob a alegação de necessidade de informação sazonal);

Clientela: 70 pessoas (10 em cada vila) acima de 14 anos;

Objetivo: Verificar satisfação das pessoas com relação ao ambiente que vivem (cidade) e testar o nível de consciência cidadã.

Conclusão:

1.1 Quesito inclusão: 93 % das pessoas observadas ainda não foram atingidas pelos benefícios do avanço tecnológico dos últimos 15 anos uma vez que:

- Nunca tiveram acesso à informática; ( muitos não sabem como o computador funciona, e teve um caso em que uma senhora de 38 anos está decepcionada por não conseguir um emprego administrativo, e olha que ela me apresentou um diploma de datilografia da Escola Cira Willig (acho que é este o nome da escola, mas não tenho certeza).

- Não sabem o que pode vir a ser TV à cabo;

- Dependem da ajuda de funcionários do banco para operar nos terminais;

- Não se preocupam com a questão ambiental e não sabem o que significa ecologia, nem mesmo aqueles que trabalham com lixo reciclado ( latas, pets, etc...)

- Desconhecem o sistema de saneamento básico que abrange seu local de domicílio;

- 97% dos indivíduos não tem concluído o ensino fundamental;

- Não se interessam (muitos não sabem se existe ) por movimentos ou associações comunitárias;


1.2 Quesito Qualidade de Vida: Utilizei aqui parâmetros que são utilizados por organismos internacionais ( ONU e suas seccionais)

- 65% dos indivíduos vivem de sub empregos, sem carteira assinada;

- 100% (dos observados) ganham menos de 1.000 reais ( destes, 90 % 1 salário mínimo );

- Não planejam e nem pensam em atividades de lazer;

- Desconhecem o funcionamento e a estrutura do sistema de saúde;

- Não consideram prioridade a atividade educacional, priorizando sim, a sobrevivência;


1.3 Quesito Cidadania:

- Completo desinteresse (desesperança??) pela administração pública ( municipal, estadual e federal);

- Desconhecem ou não sabem opinar sobre obras e projetos do executivo e legislativo municipal;

- Não elencam diferenças entre governo atual e anterior ( município);

- Acham o prefeito atual simpático e povão (???) e por isso gostam dele;

- Não sabem quem são ou como trabalham os membros de governo ( ministros, secretários, etc)

- Temem perder o Bolsa família/escola;

- Interesse superficial de política e gestão;

 
2) Bairros classe A,B e C:

Me reservo expor detalhes oportunamente, com apenas uma observação que considero grave:

- Aumento substancial do consumo de crack por adolescentes e jovens adultos destas camadas sociais, o que pode vir a ser um sério problema ( vide bairros nobres de Porto Alegre e SP);

- Elevado índice de endividamento ( tornando-se comum a existência do agiota no âmbito comercial);


3) Centro ( social e comercial )

Reflexo progressivo e multiplicado dos itens anteriores.

Contudo observei:

- Não estão felizes, mas não tem razão pra estarem tristes ( comodismo)

- Não fazem planos (os jovens) de ficarem na cidade, e sonham com Porto Alegre, Santa Cruz ou Santa Maria; (sobra ilusão fadada ao fracasso)

- Não acreditam no progresso da cidade, mas acham que isto sempre foi assim e nunca vai mudar.( falta estima e perspectiva)

- Existe em todos os lugares uma melancólica saudade do meio rural que reflete na desesperança urbana; ( a cidade precisa de sonhos para o futuro).

Com os devidos pedidos de perdão a quem se julgar ofendido, e com os votos de que Cachoeira do Sul volte a brilhar e a evoluir, 
Fraterno Abraço

André 

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dai Eu Rezo!

Acordei nesta manhã quase primaveril com a antiga música do poeta mineiro:
 "Quando entrar Setembro, e a boa nova andar nos campos, quero ver brotar o perdão, onde a gente plantou..."!
Sinto que o Setembro de nossas esperanças vai nos render luz e serenidade para que nossos demônios agostinos sejam exorcizados.
Setembro nos iluminará e em Outubro teremos a lucidez necessária para redefinir-mos o nosso destino.
Mas neste começo de Setembro ainda me arrepio com "las brujas del viejo Agosto", e penso que só pode ser devaneio meu quando imagino que:
- Como pode um tarado fascista que se diz evangélico, com seus parcos seguidores (menos de cinquenta  perturbados), ganhar a mídia e a atenção dos governantes mais influentes do planeta ameaçando queimar sessenta exemplares do alcorão?
Isso só seria mais um besteirol de mau gosto americano digno de piada e muitos risos se não houvesse do outro lado, milhares de outros fascistas perturbados dispostos à explodir seus corpos (e o mundo todo) em troca de 70 virgens para usufruirem quando chegassem ao paraiso.
Dai eu rezo: " Ala meu bom Ala... mande água pra iôiô...mande água pra iáiá..."  
- Como pode alguém ainda se surpreender com a quebra dos sigilos fiscais às vésperas de eleições na sagrada terra que diz ter parido a própria divindade (afinal dizem que deus é brasileiro)??? Escândalo????
E porque ninguém se escandaliza quando no sábado pela manhã as agências de tele marketing interrompem teu não menos sagrado sono, oferecendo tudo (desde contribuições para crianças carentes a ferventes estadas em paraisos infernais da prostituição e da degredação humana), e fazem questão de salientar:
" A gente poderíamos (sic) estar cadastrando o senhor??? Sabemos que o senhor tem conta no banco tal, sua renda é de tantos reais mensais e seu cpf está liberado conforme nosso sistema!"
Caramba!!! De onde essa gente tem essas informações??? Quantas milhares de vezes quebram nosso sigilo bancário e fiscal??? Onde se pega senha pra entrar na fila para participar dessa guerra de bugios???
Dai eu rezo: "Pai!!! Afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue..."

Enfim; Me depura Oh Setembro de minhas esperanças!!! Afinal, em 3 de Outubro vou ter um dia de glória.

Por fim, desejo à todos belos dias setembrinos.

Fraterno abraço
André 

  

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Agosto del diablo viejo!

Lá se vai o Agosto se despedindo com dias de primavera no sul do mundo. Os especialistas dizem que o Setembro vai trazer mais frio.
Ontem, vi a lua cheia que estava vermelha. Vermelha pela fumaça produzida pela quantidade enorme de desgraçadas queimadas que somam-se em todo o território brasileiro. Quisera eu que a lua estivesse vermelha saudando meu Inter, campeão da Libertadores.  
Eu que não creio, peço a deus por minha gente... Acho que já passou da hora de termos adquirido consciência ambiental...enfim!
Sempre gostei e acreditei no novo. Acho, como já contou Belchior, que o novo sempre vem, e estarmos vinculados aos mesmos ídolos de nossos pais só vai nos mostrar ali adiante que estes estão em casa, guardados por deus contando o vil metal.
Mas... "El diablo sabe por diablo, pero mas sabe por viejo!!!"
Então, acredito que toda a experiência de vida é válida, sobretudo se aprender-mos com base nos erros do passado, para que nosso futuro seja realmente novo e de esperança.
Por isso, quando Setembro entrar, quero que todas as minhas flores explodam pelos meus jardins e pelas minha alamedas.
Não vejo a hora de poder acompanhar o alarido frenético dos beija flores em busca do néctar das pitangueiras, larajeiras e pessegueiros floridos.
Não vejo a hora de chegar Setembro, e que se vá esse Agosto brado que os pario. Agosto da polícia filipina que resolve o sequestro matando os reféns. Agosto do tarado do Irã (e de seus amigos e companheiros) cujo maior prazer é apedrejar e lapidar mulheres sob a suposta égide saneadora da "deplorável civilização judaico cristã ocidental".
Que venha o Setembro da primavera que me dá vontade de voltar para um lugar onde nunca estive... para a Passárgada de meus sonhos onde sou amigo do rei.
Esperaças enfim, num setembro que na verdade só existe no imaginário de minhas fantasias, assim como o lugar que nunca estive  e que pretendo voltar... assim como a Passárgada e seu rei.
Mas... que bom que tudo isso está ai... e que o Agosto já está indo embora... 
Pelo menos, não teremos Agosto até o ano que vem...(muitos risos)
Fraterno abraço
André

          
    

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Pequeno Burguês No Inverno da Província!

Recentemente encontrei um velho amigo no Super Mercado. Médico célebre, intelectual com crônicas de sucesso, na minha opinião um dos ícones da cardiologia moderna, meu amigo é a imagem da simpatia em forma de gente.
Falamos do quanto (nós gaúchos) gostamos da "província" e o quanto ela nos aconchega e reconforta. Falamos do frio que de certa forma caracteriza a têmpera do homem do sul e dai eu acho que tive um rompante digno de pequeno burguês metido à besta, pois naturalmente (?!) eu falei que nestes dias de muito frio, me bastava a casa com lareira ascesa e um cálice generoso de cabernet sauvignon.  Nos despedimos, e já no carro, manobrando no estacionamento, eu pensei e eu mesmo me mandei ao raio que me partisse.
Como pode um cara que busca entender a frágil alma humana e que por consequência de seu ofício tenta ser consolador das dores das pessoas, falar que lhe basta uma lareira ascesa e vinho chileno para as noites do inverno provinciano???
Omito o nome do meu amigo por razões óbvias de preservação dele, e imaginei que se ele pensasse que eu me transfornei num babaca fútil, eu mesmo o avalizaria em sua tese.
Guiei até em casa pensando naquilo e martirizando a mim mesmo. Percebi que estava realmente frio pois as pessoas nas paradas de ônibus estavam encasacadas e batiam os pés para espantar a sensação gelada. O ar condicionado do carro me deixava numa situação agradável, mas eu percebi que estava frio.
Não saia da minha cabeça a babaquice burguesa na fila do caixa...
Em casa, o fogo da lareira já estava vivo e da porta do carro até a porta da casa, senti o gelo do agosto riograndense...
Ainda abalado com minha insensibilidade social, manipulando três controles remotos, já sentado no meu sofá predileto, liguei uma tela de tv que ocupa metade de uma parede, e pensei em selecionar entre meus arquivos de vídeo, algum que me resgatasse de meu rompante pequeno burguês. 
Escolhi o vídeo em que traz o Jair Rodrigues, defendendo no festival, a Disparada do Geraldo Vandré.
Ele começa:

"Prepare seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar..."

Pensei que eu não era digno da música do Vandré, pois eu não vinha do sertão e mesmo assim insistia em contar coisas que não agradam. Mas deixei rolar...
   
" Então não pude seguir, valente lugar tenente
De dono de gado e gente,
porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata
mas com gente é diferente..."

Cacete... pensei eu! Me enchi de culpa ao mesmo tempo em que enchia o copo com o cabernet sauvignon chileno. Eu precisava da calma que viria do vinho... e segue a música compassada com os maxilares de um burro...

"Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu, por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe que eu!"

Não sei ao certo, mas acho que lágrimas desoladas começaram a cair sob meu rosto que eu amanhã vou ter de polir com lustra móveis ou oléo de peroba...
Pensei nas pessoas com frio e com fome e me calei com a boca de filé grelhado com sete ervas e arroz selvagem cozido com cogumelos, enquanto o home teather reproduzia em qualidade quadrifônica pelos 6 cantos da sala:

"Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei." 

Pedindo perdão pela ironia, desejo um bom final de semana...
P.S.: Pode nevar no RS neste final de semana. Alguém sabe de algum hotel com vagas na serra?

Fraterno Abraço
André  




       

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O GAUDÉRIO SOCIALISTA CRENTE!

Tudo bem!! Me desculpem pelos dias em que não publiquei. Estou envolvido em projetos de cunho profissional e acadêmico, mas agora, tudo serenado, volto a publicar no mínimo semanalmente.
Então... segue o baile!
Tchê guris e gurias!!!! Acho que essa estrela gigante que descobriram recentemente está afetando a coerência humana. Ou, peremptoriamente, eu sou um retardado que está iludido desde sempre.
Me explico:
Desde criança minha simpatia e afetividade pelas esquerdas libertárias sempre estiveram explícitas. Nos filmes americanos da idolatrada 7ª cavalaria do Custer, eu sempre torcia para que os índios ganhassem, e sempre preferi Cavalo Doido e Touro Sentado ao famigerado general.
Mesmo no comum desejo armamentista de guri (todo menino quer ser soldado), quando me perguntavam o que eu queria ser, respondia: "Soldado e GAITEIRO DA ZONA"(saudades de meu velho pai que me ensinou esse bordão)!
Não podendo ser diferente, na segunda metade da década de 70, ainda adolescente (naquilo que chamavam de segundo grau escolar) , eu já militava a esquerda do Brasil.
Um velho médico de nome Luiz, que tinha um prédio no centro, perto da Praça da Alfândega, cedeu o espaço (que era embaixo da escada, numa sala de máquinas) para que os "subversivos comunistas" se reunissem. 
Lembro que eu era o mais novo e nas reuniões de quinta à noite, vinham os rapazes mais velhos (universitários) para doutrina esquerdista.
O pessoal do exílio estava voltando para o Brasil,  e o clima era de euforia pela aberturinha que a ditadura estava começando a produzir(!? não acredito nisso, pois democracia não é coisa pra qualquer João dar... democracia é desejo e vontade do povo, e só o povo conquista).
E naquelas noites de quinta, debatíamos a teoria de Marx, as teorias revolucionárias do Chê, a revolução francesa e até a constituição dos Estados Unidos. Queríamos viver num país livre e democrático, onde os direitos e as leis fossem para todos, assim como o pão e a cultura.
Lembro que na escola, essa coisa toda era nítidamente verificada. Tinha a turma dos subversivos e a turma dos alienados. Os primeiros eram identificados porque sempre estavam portando livros que haviam sido proibidos ou que eram censurados. Os segundos eram os queridinhos dos padres do colégio, e eram os bambambans nos esportes. 
Tinha um professor de geometria, que era militar aposentado e malvado ao extremo. Era perverso mesmo. Imagina um professor de geometria perverso??? O supra sumo da tortura!!!!!
Eu criei uma alcunha pro dito: Agente do Dops!
Um dia, resolvi irritar o cara. Na saída da sala, quando deveria mostrar ao agente do dops os exercícios feitos, premeditadamente (como um criminoso) tirei um livro antes do caderno e botei na mesa à pretexto de procurar o caderno dentro da pasta. Título do livro: SANDINO - O GENERAL DE HOMENS LIVRES. Era o relato da revolução sandinista. 
O professor ficou vermelho, e eu fiquei com medo. Pensei que o cara fosse me bater. Mas o cara engoliu seco e me deixou em paz ( eu acho que os padres do colégio freavam um pouco as explosões docentes, afinal era colégio pago, etc...).
Mas então, numa daquelas noite de quinta, quando falávamos que o pensamento socialista tinha que ser laico, materialista e etc, eis que surge uma figura que jamais esquecerei. O nome esqueci, mas o jeitão e a estampa jamais.
Era bem mais velho que todos e devia andar pela casa dos trinta anos. Apareceu vestido de bota, bombacha, lenço vermelho no pescoço e um chapéu de abas largas, e trazia consigo o mate pronto e uma garrafa térmica com água quente, e já foi diretamente ao ponto:
- É aqui que se junta o pessoal do MDB que não gosta dos milicos???? 
Gelamos todos. Pensei que a casa tinha caído e que aquilo só podia ser um agente do dops e que iria passar a madrugada no pau de arara da delegacia da  Rua Riachuelo.
O coordenador do grupo, um alemãozinho que fazia engenharia, tremendo, saiu na frente dizendo que éramos um grupo de estudos, e que alí debatiamos a abertura política no Brasil, e etc...
O personagem troveja entre um gole e outro de chimarrão:
- Pois então estou no lugar certo. Sou metalúrgico e dizem que um colega meu de São Paulo é do grupo de vocês, e eu quero participar. E tem mais. Minha mãe hoje, é a luta pela democracia!
Bah!!! Fizemos uma festa pro gaudério!!! 
Passadas  umas horinhas de fervoroso debate ateu/socialista/revolucionário/democrático, o gaudério levanta-se e pede a palavra.
- Olha gurizada... ( e sorveu um longo trago de seu mate) Eu até gostei do assunto de vocês e podem contar comigo se houver peleia. Até vou ler estes livros que me deram. E até me convenci de tudo que vocês falaram. Mas já vou avisando: SE ME PROIBIREM DE IR NA MISSA DA IGREJA SÃO JORGE COMO EU FAÇO TODOS OS DOMINGOS... EU JURO... ASSINO FICHA NA ARENA!!!!!   
Tá André, me pergunta o leitor amigo: Onde está a falta de coerência humana nisso???
Eu respondo meio zonzo por ser um retardado iludido:
Sabem o metalúrgico de São Paulo que o gaudério falou que lhe espelhou na luta pela democracia no final da década de 70?????
É o mesmo que nesta semana, no alto de seu cargo de Presidente da República do Brasil, se disse amigo, irmão e companheiro do sanguinário Ahmadinejad, o terrível tirano ditador do Irã.  
Fraterno abraço
André
       


       

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Jogo da Roleta Russa!

Os que acompanham O Criador e a Criatura nesses quase três anos, sabem que muitas vezes já falei (alguém pode até me achar chato e/ou demagogo) da importância da mulher no desenvolvimento humano dos últimos 50 anos.
Quisera eu ter tido a oportunidade de presenciar "in loco" toda aquela movimentação da revolução feminista dos anos 60 e seguintes. A queima dos sutiens provavelmente foi a metáfora que representava o rompimento com a aceitação passiva do poder do "mais forte" sob o "mais fraco", e principalmente a declaração de que relacionamentos entre homens e mulheres não mais seriam admitidos por elas, como instalação de um regime de poder controlador numa instituição total onde existiriam controladores e controlados.
Pra quem não se lembra ou não sabe, o americando Irwing Goffman escreveu sobre o tema na sua obra "Manicômios, Prisões e Conventos", que aliás eu acho que já recomendei aqui.
Enfim... que bom que as mulheres estão ai cada vez mais ativas e participantes, livres de preconceitos e não são mais usadas conforme a vontade dos senhores feudais. 
Ou não?? Será que ainda existe um ranço primitivo na sociedade contemporrânea ?
Vejamos informações contidas na imprensa brasileira:
Caso 1: Fulana ganha a vida protagonizando filmes de conteúdo sexual (pornográficos) e muitas vezes arrecada vultuosas quantias de dinheiro participando de festas onde os limites são aqueles estabelecidos pela vontade daqueles que patrocinam as ditas festas e isso tem a ver com a quantidade de pó ou de bebidas que estes consomem. Está desaparecida, e segundo a polícia, seu corpo foi esquartejado, descarnado, comido por cães e os ossos concretados numa lage periférica. 
Caso 2: Sicrana de 16 anos envolve-se com homem mais velho, e aceita o convite para uma volta de carro e quando nega os carinhos, recebe 6 tiros no rosto e milagrosamente sobrevive e clama justiça. Seus vizinhos protestam contra o sistema e  manifestam que sentem vontade de justiçarem com próprias mãos o homicida.
Caso 3: Outrana vive um relacionamento conturbado há 3 anos com homem violento que invariavelmente, por ciúmes e por insegurança, a agride, privando-a do convívio com sua família. Ela sucumbe à razão, e mesmo que esporadicamente ainda sai com seu amante agressor. Dia chega, em que mergulhadores a encontram morta no fundo de uma lagoa qualquer com um tiro no queixo. 
Ora, prezados amigos!!!! Principalmente as prezadas amigas!
Está em cartaz num desses canais de filmes da TV à cabo, o filme "IN LIVE", tendo o título aqui no Brasil de "Ao Vivo". 
No filme, a bela Eva Mendes é uma produtora de TV que para tirar sua emissora do buraco, precisa criar um programa que bate todos os recordes de audiência. Então ela cria o programa In Live, onde seis participantes devem jogar o jogo da roleta russa, o que significa que somente cinco sobreviverão. Estes, ganham 5 milhões de dólares cada. Não vou contar o fim do filme, e recomendo à todos. 
Pensei :
Será que nossas amadas filhas, irmãs, amigas e desconhecidas, herdeiras da Simone de Bevoir libertária, não estão inconscientemente jogando o perigoso jogo da roleta russa?
Pensemos...
Fraterno abraço
André     


  
     

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Do Açougue Virtual Para O Canil!

O Einsten já tinha referido que a estupidez humana é a única coisa certamente infinita.
O Jayme Caetano, poeta de meu Estado, dizia que: "Tenho visto coisa feia! Tenho visto judiaria!!"
Séculos atrás, quando eu fazia parte de uma instituição centenária, ouvia muito de meus veteranos colegas, a expressão: " Vou doar meus olhos para continuar vendo mesmo depois de morto!"
Então acho que por mais chocante que seja, o caso do goleiro que (se comprovado) mandou matar a mãe de seu filho e jogar suas carnes (dantes objeto de seu desejo e de seu gozo) para que os cães comessem, não é de causar tanta surpresa assim.
Via de regra, a fórmula para que eventos dessa natureza sejam desencadeados, é simples e assustadoramente corriqueira no nosso meio social.
Eis a fórmula:

O poder (oriundo do vil metal) adicionado à despreparo psicossocial, multiplicado pela glamourização da truculência dos poderosos e elevado a enésima potência pela mídia idiotizante que cria ídolos levianos e perversos.

É simples e matemático isso.
Me perdoem os crédulos, mas não consigo compartilhar da opinião de que tudo é vontade de deus. E se é, com todo o respeito aos religiosos, parafraseando o Saramago em Caim, está na hora de mandar deus à merda.
Mas... vamos aprofundar a análise?
Vivemos de maneira de tem dias em que a gente se sente como quem partiu ou morreu como cantou o Chico Buarque.
Que ídolos nascem  em civilizações onde as pessoas divertem-se enchendo a cara em postos de gasolina para depois conduzirem seus veículos na caça de postes, árvores e pedestres e tudo isso tendo como trilha sonora a duvidosa poesia intitulada Rebolation???
Que mães e esposas originam-se num meio social onde as meninas orgulham-se de se oferecerem como se fossem suculentos bifes que são devorados em troca de uma pedra e de um cachorro quente (não necessariamente nesta ordem)??  Do açougue virtual (as chamadas redes sociais) para o canil é um pulinho!!!
Insisto no tema, não por ser o assunto do dia. Insisto por tentar entender essa realidade, e adoraria que isso acontecesse antes que meus olhos, doados há muito tempo, vissem pelos sentidos de um ex cego.
Fraterno Abraço
André 
    

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Terror do TCC

Tenho acompanhado efetivamente e as vezes até afetivamente, o sofrimento a que se submetem acadêmicos que na fase final de seus respectivos cursos de graduação devam produzir e defender os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC).
Caramba!!!!! Que crueldade!!!!
Me explico:
O graduando, depois de cinco, seis, e as vezes até 10 anos (o preço do ensino superior faz com que cursos praticamente se extendam por muitos anos...), coerentemente tem que apresentar-se como apto para o desenvolvimento de sua atividade de nível superior. 
Nada mais justo. Acho muito boa essa forma de avaliação final.
Acho que o exercício da escrita é extremamente válido e a sabatina por parte de uma banca deve até ser o primeiro ato de um rito de passagem fundamental para o formando.
Ok. Assunto encerrado. Infelizmente não.
Eis que, parte da avaliação, é feita pela forma de como é feito e digitado o dito trabalho.
É lógico que defendo que a forma de apresentação deva ser padronizada, limpa e sobretudo feita de maneira que torne compreensiva e explicativa a visão do aluno que termina seus estudos.
Contudo.... pelamordedeus!!!!!!!
O que se vê é extremamente cruel e eu diria até perverso. 
Vi e vejo verdadeiras sessões de tortura por parte de certos orientadores que num preciosismo descabido, fazem com que seus alunos percam o foco do verdadeiro objetivo da monografia.
Vi um orientador ameaçar com reprovação uma aluna porque um dos sub títulos do TCC estava alguns centrímetros fora do ditado pela ABNT.
Fiquei obviamente calado observando aquilo.... cena de opressão, de violência e dor... e famigeradamente ( como se fosse possível ser pior) aos olhos de todos os que estavam nos corredores da faculdade.
O que vi me fez pensar...
Se eu fosse um graduando em por exemplo, Direito, e se no meus anos de estudo eu desenvolvesse uma tese que tornasse a justiça mais acessível, mas celere e mais humanitária, esta não teria o valor devido se o quinto sub título do TCC não estivesse oito centímetros da margem superior, e meu mérito seria diminuído pois eu, mentecapto, digitei contando apenas seis centímetros. Errei por dois centímetros!
Se eu fosse um graduando em Biologia ou Bio Medicina, e no decorrer de meus estudos eu criasse uma fórmula para frear o desenvolvimento do vírus da SIDA ou do Câncer, isso teria menos importância se no meu TCC de apresentação, eu não tivesse inserido os dois pontos depois do local da publicação citada na penúltima referência bibliográfica.
Se eu fosse um formando em Odontologia e tivesse criado um sistema de saúde bucal para as vilas marginais de minha cidade, eu seria classificado como inapto se ao digitar o TCC eu tivesse dado um espaço (0,5 cm) no quinto parágrafo da minha conclusão.
Com certeza, eu que não creio, peço à deus por minha gente... 
Ah... já ia esquecendo... a frase acima é do BUARQUE, Chico. Rio de Janeiro: Poligram, 1972. f. 5.

Fraterno abraço
André              

terça-feira, 8 de junho de 2010

Política - Origens e Escolha.

Depois de muito falar, escrever e principalmente de ouvir sobre os problemas sérios e definitivos que avassalam a nossa vida cotidiana, resolvi me envolver de corpo e alma na tentativa de ajudar a melhorar as coisas.
Contudo, meu alcance pessoal creio que não seja suficiente para fazer alguma diferença.
Como psicanalista, acho que fiz e continuo fazendo a minha parte, o que, no universo de sofrimentos constatados no campo da saúde psíquica, humildemente reconheço que é muito pouco.
Como aspirante à escritor, procuro fazer com que meus textos sejam fonte de questionamentos aproveitáveis, e principalmente que meus escritos carreguem os sentimentos de todos que não tem voz e espaço.
Acho também muito pouco!
Então... resolvi militar! E hoje, me declaro um militante ativo da política, e assim, devo inexoravelmente me explicar e defender minhas crenças e esperanças num futuro que se avizinha, afinal em outubro temos eleições. 

Vamos começar entendendo a política. Para isso, vamos ao google, que ao meu ver é cultura democrática e acessível.
A palavra política é grega: ta politika, vinda de polis.
Polis significa cidade, entendida como a a sociedade ambientada e organizada, formada pelos habitantes cidadãos (politikos), isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade perante a lei) e a isegoria (o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a Cidade deve ou não deve realizar).
Ta politika são os negócios públicos dirigidos pelos cidadãos: costumes, leis, erário público, organização da defesa e da guerra, administração dos serviços públicos (abertura de ruas, estradas e portos, construção de templos e fortificações, obras de irrigação, etc.) e das atividades econômicas da Cidade (moeda, impostos e tributos, tratados comerciais, etc.).
Civitas é a tradução latina de polis, portanto, a Cidade como ente público e coletivo. Res publica é a tradução latina para ta politika, significando, portanto, os negócios públicos dirigidos pelo populus romanus, isto é, os patrícios ou cidadãos livres e iguais, nascidos no solo de Roma.
Polis e civitas correspondem (imperfeitamente) ao que, no vocabulário político moderno, chamamos de Estado: o conjunto das instituições públicas (leis, erário público, serviços públicos) e sua administração pelos membros da Cidade.
Ta politika e res publica correspondem (imperfeitamente) ao que designamos modernamente por práticas políticas, referindo-se ao modo de participação no poder, aos conflitos e acordos na tomada de decisões e na definição das leis e de sua aplicação, no reconhecimento dos direitos e das obrigações dos membros da comunidade política e às decisões concernentes ao erário ou fundo público.( Fonte: http://www.google.com/)

Pois bem...
Gosto da teoria da antropologia social que conta a seguinte história:
No começo, as tribos que formavam as polis, viviam na perfeita harmonia, onde os frutos do trabalho de todos, serviam à todos, e eram divididos isonomicamente. 
Contudo, num determinado momento, foi observado que o conteúdo do trabalho de todos (tesouro público), estava sendo misteriosamente roubado. Os cidadãos então, resolveram escolher entre eles mesmo, alguém que cuidasse de todos os bens da polis, assim como de seus tesouros. Assim, nomearam a POLITEIA (polis = cidade, e teia = administração), que latinizado o termo virou POLITIA.
Os homens e mulheres nomeados para a politeia, não precisariam mais plantar, caçar, pescar ou ter qualquer atividade para produzir o tesouro da polis. O seu sustento seria por conta da Polis, e seu trabalho seria proteger e administrar a coisa pública.
Num exercício transcedental, tal como nossos ancestrais de antanho, estou procurando meus canditatos para a eleição de outubro.
Nessa busca, encontrei meus candidatos à Deputado Federal e Estadual. 
Encontrei  homens populares que demonstraram conhecer os sofrimentos de seu povo e a vontade (clínica, diria eu) de buscar alternativas para as curas das feridas;
Encontrei dois políticos inseridos no contexto do cotidiano social, sem a demagogia e o populismo que nos afeta tanto quanto a incapacidade e a corrupção que são "bens" comuns dos demagogos e dos populistas.
Encontrei dois representantes com capacidade legislativa e administrativa, preparados e instruídos, mas comprometidos em ouvir os anseios da "Civitas".
Encontrei enfim, meus candidatos. Tenho certeza que meus candidatos eleitos, vão saber dizer SIM e NÃO quando forem me representar. E suas linguagens serão claras e precisas. E eles não ficarão cheios de dedos (ou com dedos a menos) para representar as bandeiras de justiça, da humanidade e do progresso.
Meus candidatos, são LUIZ FERNANDO ZÁCHIA ,para Deputado Federal, e CAIO ROCHA, para Deputado Estadual  e eu os recomendo à todos, com a responsabilidade que sempre tive com meus pacientes, amigos e leitores.
Fraterno abraço
André                 


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Aos Humildes e Humilhados Públicos!

Buenas e me espalho!
Enchi o saco de questões meramente voltadas para a meta física, meta psicológica, física quântica e tral e tal como diria o Chico Buarque.
Afinal, passei anos e muitas publicações escrevendo sobre todas as dúvidas que formam um conjunto inquantificável de demandas minhas e acho, que de todos os que acompanham meus escritos. E os que não acompanham também.
Depois de mais de 5.000 (CINCO MIL) acessos  neste meu blog que alimento e amo como se filho fosse, vou me dar o direito de abordar fatos e rotinas do cotidiano de uma maneira mais pragmática, e que (observem a minha pretensão prezados críticos) possam vir a ajudar à todos numa tomada de decisão para outros mil fatos e rotinas do seu próprio cotidiano. Quem sabe até do cotidiano coletivo...risos!!!
Então hoje, vou abordar duas questões que envolvem "a coisa" pública.
Aqueles que me conhecem, sabem que posso falar de cadeira sobre as questões que envolvem o funcionalismo público. Primeiro, porque fui (durante 22 anos), e segundo, porque recebi e recebo centenas de demandas clínicas onde observo "in loco" e  escuto "in verbis" todo o sofrimento que essa massa humilde (na maioria) e humilhada (praticamente a totalidade) absorve na rotina profissional e que espraia-se para o pessoal.
Explico-me:
Como posso (e quem pode??) falar em meritocracia quando tenho um quadro de professores públicos que sequer conseguem manter uma assinatura de jornal pois seus minguados caraguatás são absorvidos no final de cada mês pela agiotagem (oficial e extra oficial) ???
Como posso exigir que professores públicos profiram aulas de sociologia e filosofia com conteúdo aproveitável se o último contato que a maioria destes tiveram com tais assuntos, foi no recesso cultural e educacional promovido pela ditadura, onde era proibido até mesmo pensar???
Ahhh, dirão alguns, que as escolas públicas são munidas de computadores conectados na internet, e etc, e que cursos de atualização são promovidos tanto de forma presencial como "on line". À estes, peço que não me façam rir com uma falácia destas num assunto tão sério.
Dia desses, puxando assunto com uma professora de ciências falei:
"E aí professora??? Hoje sua aula será especial, afinal é o dia da Gaya!!!" 
Ela me respondeu: 
"É??? Em que turma ela está matriculada na minha escola???"
E se formos aprofundar o papo levando em conta considerações à cerca de Skiner, Peajet, Klein e outras tantas tendências didático/pedagógicas, então é uma covardia ao humilde e humilhado professor público.
E a culpa é de quem?
A culpa é de quem recruta professores entre desempregados frustados, e depois de admití-los os trata exatamente como desempregados frustrados;
A culpa e de quem despreza o ensino público e acredita que a escola pública é uma mera creche de descamisados;
A culpa é de todos aqueles que agridem os professores pois acreditam que seus filhos são clientes da escola e que o cliente sempre tem razão;
A culpa enfim, é de todos nós que passivamente deixamos que nossos professores públicos sejam rotineiramente agredidos e humilhados.
E isso vale para os nossos policiais, técnicos científicos, agentes administrativos e todos aqueles homens e mulheres que lutam contra a corrupção, a burocracia que nos escraviza à todos, e que mesmo humilhados, na sua imensa maioria combatem o bom combate.
O segundo tópico de meu posicionamento, tem a ver com o ano eleitoral. 
Estou certo que a democracia é o ÚNICO meio de viabilizar a coisa pública.
Vou consultar meus candidatos, e se eles autorizarem, farei aqui a exposição de suas plataformas. E depois, farei aqui, um fórum de cobranças e críticas obviamente. Os mais de 5.000 acessos de certa forma refletem a minha responsabilidade de cidadão e de livre pensador.
Aos filhotes das antigas e das novas ditaduras, lembro que a internet é um meio livre desde que utilizado com ética, legalidade e principalmente responsabilidade.
Fraterno abraço
André        

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Senhora "K" e a borboleta!




A arte da foto, diga-se de passagem, não é minha. Minha loura camaleoa que já foi motivo de textos aqui, e que na verdade é motivo em minha vida nos últimos 300 anos, é quem emprestou sua sensibilidade artística e foi a criadora nesta publicação do Criador e a Criatura.
Fraterno abraço
André  

quinta-feira, 13 de maio de 2010

"K" - A Fêmea dos Olhos Azulados!

Os atentos conseguem vê-la nas noites furtivas pelos caminhos suburbanos rondando locais as vezes iluminados e outras vezes escuramente sombrios.
Pelo jeito, ela gosta de ser reconhecida somente pela inicial de seu nome que muitas vezes fica tatuada nas camas, poltronas e até das paredes que lhe servem de suporte nas aventuras arrabaleiras... e ao amanhecer, resta um "K" marcado à ferro e fogo pelas suas unhas de fêmea no cio.
E então... um dia... enquanto eu mateava o verde amargo de minhas esperanças, à vi naquilo que imediatamente identifiquei como início de sua busca pelo desejo. 
E vi nos olhos de "K", o reflexo de muitos desejos.
E vi naqueles olhos hipnotizantes, desejo de morte, desejo de sangue, desejo pedrador e sobretudo o desejo gelado dos que sabem subjugar tudo aquilo que pode servir ao seu prazer e satisfação.
Logicamente que ela não percebeu minha presença, e por isso não fui privado de presenciar um espetáculo fantástico de suspense e terror, que confesso, ao contar aos amigos, me causa arrepios...

"K" estava silente, camuflada por sob as sombras de um dos tantos obstáculos urbanos naquele ambiente que ela dominava. 
E eu a vi ali... linda...selvagem... corpo esguio que emanava volúpia, frieza e paixão pela arte de submeter.
Nascera para isso. Submeter... e para isso usava com louvor e precisão todos os atributos que lhe foram fornecidos pela sua origem e pela natureza de seu desenvolvimento.
É sabido que "K" vinha de uma linhagem de maestrinas da hipnose e da sedução, e sabe-se que até no velho Egito suas antepassadas eram tidas como divindades.
E naquele dia, entre um mate e outro eu vi... 
Já tinha ouvido falar que "K" tinha requintes de crueldade na busca do seu prazer, pois depois de subjugar seu objeto de desejo, e depois ainda de horas e horas usando do corpo escolhido, praticava com esplendor a "arte" da degola com a destreza de um guerreiro gaúcho das guerras de antanho.
E ali deixava o corpo morto, sem cabeça, à disposição das formigas e de outros insetos...
Eis que vejo nada menos do que os oito vultos desatentos e desavisados que cantando e divertindo-se uns com os outros, nada sabem do fato de já terem sido escolhidos para divertirem "K" pelas próximas horas.
Vi nos olhos claros a certeza de que ela daria conta dos oito... e mais: Vi que ela estava refletindo sangue naqueles lindos olhos azulados e faiscantes...
Achei na hora, que aquelas vítimas já tinham sido escolhidas e que "K" de há muito havia planejado aquela orgia sanguinária naquele começo de noite, que infelizmente eu seria a testemunha ocular.
Roçando-se lascivamente pelos obstáculos, ela aproximava-se cada vez mais dos ainda quase meninos desavisados que sem saber estavam  entre "K" e seu incontrolável desejo.
À poucos metros, eles se dão por conta do risco e vi que o olhar do "K" os petrificou.
Cessaram-se os cantos e a alegria. Iniciou-se o pavor. Eles queria correr, voar pelos telhados se possível fosse... mas era impossível. Estavam sob o jugo gelado e mortífero de "K".
Ela se alonga, e seu corpo mostra toda a beleza de sua natureza esplêndida...
Chegou a hora... vai começar...
Também eu estou hipnotizado e nada consigo fazer, e penso que também a mim ela hipnotizou. 
O desejo sádico de "K" precisava de uma testemunha, e na verdade eu era parte de seu plano, pois desde o início ela sabia que eu estava ali, e que veria tudo. Veria tudo calado e inérte.
E pronta... ela prepara seu primeiro salto naquele massacre! Não consigo fechar os olhos... e uma voz interrompe a cena:

"KIKA... deixa os canários do André em Paz!!!!!!! Vai comer tua ração!!!!!!"

Era a voz de minha mãe, chamando atenção de sua siamêsa Kika com relação aos meus canários...
Era a voz da realidade que fez voltarmos todos (eu, "K" (kika), e os oito canários) para nossas rotinas pacíficas e harmônicas...!

Fraterno abraço
André        

  

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Grito pela América Latina!

Certamente eu devo estar paranóico ou com problemas para entender a realidade que os jornais estão estampando (pelo menos à mim).
Será que só eu estou vendo uma manobra populista que planeja escravizar à Latino América, com tentáculos fortes no Brasil?
Será que a minha loucura atingiu a fase delirante que me fez sentir e ver que as instituições estão sendo bombardeadas pelos mesmos pseudo ideais que dizimaram o Leste Europeu nas décadas de 50, 60,70 e 80??
Será que o meu delírio paranóico está me fazendo temer o fato de que o populismo fascista de caudilhos pode ser a pá de cal numa cultura absolutamente libertária e justa na sua origem?
Apelo aos meus amigos juristas que não esqueceram que o Direito é somente o caminho para a JUSTIÇA;
Apelo aos meus amigos artistas que ainda acreditam que só é justo cantar, quando o canto representa aqueles impossibilitados de ter voz;
Apelo aos meus amigos professores que ainda não foram inoculados com o veneno déspota dos aventureiros sociais que teimam em transformar nossos jovens em idiotas massificados;
Apelo aos meus amigos militares que nunca confudiram patriotismo com fanatismo e tirania;
Apelo aos meus amigos médicos que ainda vivem para amenizar o sofrimento humano sabendo que o máximo que podem prometer é consolo;
Se eu estiver enganado ou delirando, por favor meus amigos me esclareçam...
Mas o que vejo, é uma massificação latino americana, onde o niño pueblero, menino cidadão, não pode ter outro sonho que não seja ser um testa de ferro do traidor dos aplausos, instrumento sem maiores pretensões como diz Silvio Rodriguez no poema que transcrevo abaixo, inclusive com a tradução.
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La Maza ( Silvio Rodriguez )


Si no creyera en la locura
De la garganta del sinzonte
Si no creyera que en el monte
Se esconde el trino y la pavura

Si no creyera en la balanza
En la razón del equilibrio
Si no creyera en el delirio
Si no creyera en la esperanza

Si no creyera en lo que agencio
Si no creyera en mi camino
Si no creyera en mi sonido
Si no creyera en mi silencio

¿Qué cosa fuera, qué cosa fuera la maza sin cantera?
Un amasijo hecho de cuerdas y tendones
Un revoltijo de carne con madera
Un instrumento sin mejores pretenciones
Ue lucecitas montadas para escena
¿Qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
¿Qué cosa fuera la maza sin cantera
Un testaferro del traidor de los aplausos
Un servidor de pasado en copa nueva
Un eternizador de dioses del ocaso
Júbilo hervido con trapo y lentejuela
¿Qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera?
¿Qué cosa fuera la maza sin cantera?
¿Qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera?
¿Qué cosa fuera la maza sin cantera?


Si no creyera en lo más duro
Si no creyera en el deseo
Si no creyera en lo que creo
Si no creyera en algo puro

Si no creyera en cada herida
Si no creyera en lo que rondé
Si no creyera en lo que esconde
Hacerse hermano de la vida

Si no creyera en quién me escucha
Si no creyera en lo que duele
Si no creyera en lo que quede
Si no creyera en lo que lucha

¿Qué cosa fuera, qué cosa fuera la maza sin cantera?
Un amasijo hecho de cuerdas y tendones
Un revoltijo de carne con madera
Un instrumento sin mejores pretenciones
De lucecitas montadas para escena
¿Qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera?
¿Qué cosa fuera la maza sin cantera?

A Massa

Se eu não acreditasse na loucura
Da garganta do pássaro cantor,
Se eu não acreditasse que no monte
Se esconde o canto e o medo...

Se eu não acreditasse na balança,
Na razão do equilíbrio,
Se eu não acreditasse no delírio,
Se eu não acreditasse na esperança...

Se eu não acreditasse no que gerencio,
Se eu não acreditasse no meu caminho,
Se eu não acreditasse no meu som,
Se eu não acreditasse no meu silêncio...

Que coisa fosse, que coisa fosse a massa sem pedreira?
Um amassado feito de cordas e tendões,
Uma confusão de carne com madeira,
Um instrumento sem melhores pretencões
De luzinhas montadas para cena...
Que coisa fosse, coração, que coisa fosse?
Que coisa fosse a massa sem pedreira?
Um testa-de-ferro do traidor dos aplausos,
Um servidor antigo com taça nova,
Um eternizador de deuses mortos,
Júbilo fervido com trapo e lantejoula . . .
Que coisa fosse, coração, que coisa fosse?
Que coisa fosse a massa sem pedreira?
que coisa fosse, coração, que coisa fosse?
que coisa fosse a massa sem pedreira?

Se eu não acreditasse no mais duro,
Se eu não acreditasse no desejo,
Se eu não acreditasse no que acho,
Se eu não acreditasse em algo puro...

Se não acreditasse em cada ferida,
se não acreditasse no que ronde,
se não acreditasse no que esconde
Se fazer irmão da vida...

Se eu não acreditasse em quem me escuta,
Se eu não acreditasse no que dói,
Se eu não acreditasse no que fique,
Se eu não acreditasse no que luta...

Que coisa fosse, que coisa fosse a massa sem pedreira?
Um amassado feito de cordas e tendões,
Uma confusão de carne com madeira,
Um instrumento sem melhores pretenciones de luzinhas Montadas para cena...
Que coisa fosse, coração, que coisa fora?
Que coisa fosse a massa sem pedreira?

Fraterno abraço
André

quinta-feira, 29 de abril de 2010

2012 é AGORA!

Como meus amigos que acompanham o blog tem percebido (e me cobrado!!), tenho espaçado mais as atualizações e as publicações estão se dando em média de um texto por semana.
Explico aos que cobram, que tal espaçamento é em virtude de eu estar envolvido em outros projetos imediatos e que em breve serão divulgados aqui mesmo. Prometo novidades boas, até porque tenho obrigação de projetar soluções, uma vez que sou peremptoriamente crítico.
Dito isso, vamos aos fatos como diria o causídico de processos já julgados...
Sou adepto daqueles canais que a tv à cabo nos oferece, mesmo achando que os preços são exorbitantes, e que na verdade, não é possível imaginar democracia plena quando informação de qualidade e cultura são produtos à serem cobrados. Enfim... sendo assim, dá-lhe novelas e editoriais comprometidos com "a" ou "b" (sendo o povo "c"), e nos intervalos um palhaço perverso que se diverte com a miséria humana atirando notas de dinheiro em troca de alguma humilhação.
Mas... vamos ao mundo do nat geo, discovery e history channel...
Vejo que estes canais de cunho científico e histórico contém invariavelmente em suas programações, as questões que avaliam as profecias relacionadas ao fim do mundo em dezembro de 2012.
Particularmente acho que esse processo já iniciou-se.
Me explico:
1) O poder do crime movido pelo crack é tão grande, que depois de transformar-nos todos em reféns, vítimas e muitos de nós defuntos, agora por cúmulo que possa parecer, até as botoneiras das sinaleiras são tiradas por escravos da pedra maldita que fazem câmbio com traficantes;
2) Certa igreja brasileira que inclusive detém poder sobre canais de tv, rádios e jornais, remete ao exterior cerca de 5 milhões de dólares todo o mês de maneira ilegal o que nos últimos 4 anos a cifra negra (termo originário da criminologia científica)  atinge à mais de 400 milhões de dólares;
3) Procuradora de justiça no Rio de Janeiro, é acusada de espancamento de sua filha adotiva de 2 anos, e uma série de reportagens mostra que agentes penitenciários e quadrilheiros presos e não presos formam um mesmo cartel de corrupção, tráfico de drogas e armas e etc... Pra citar Gonzaga Jr.:
 "Já nem sei se acredito na polícia ou no ladrão...!";
4) Tudo leva a crer que na América Latina ensaia-se um golpe populista articulado por diversas tendências de déspotas que calam a boca do povo com feijão e farinha; 
5) Pra não dizer que não falei de flores, há soldados armados amados ou não, que ocupam as fronteiras da Latino América e confundem-se sobre quem os comanda, se o Chaves ou se as Farc;
6) 90 % da população brasileira tem telefone celular, e a frase mais dita com todo esse poder de comunicação é: " Me liga que eu não tenho crédito!!!!!"
Sinto informá-los que... 2012 é agora!!!!!!!!!!

Fraterno abraço
André
        
     

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os verdadeiros Autores!

Em tempo hábil, me desculpo e me corrijo graças ao apoio e a atenção do grande João de Almeida Neto.
Os autores do poema O MEU PAÍS são ORLANDO TEJO, GILVAN CHAVES E LIVARDO ALVES.
Aproveito, para recomendar o site do João, onde inclusive pode-se ouvir e ver verdadeiras obras primas.
Obrigado João...
Fraterno abraço
André

 

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Meu País!

À poucos dias atrás, fiz contato com um velho conhecido cujo último encontro se deu nos corredores da universidade, e nosso assunto (acho que ele nem lembra) correu em torno dos mitos e lendas do Rio grande do Sul.
Meu objetivo, era solicitar que o brilhante músico e não menos brilhante advogado, me autorizasse publicar aqui no blog, um poema que eu julgava ser seu, e que publico abaixo.
Na resposta, o João de Almeida Neto, me autorizou com a ressalva de que eu publicasse o nome do autor, que não era ele e sim o poeta Afif Jorge Simões Filho.
Segue o poema abaixo, neste 21 de Abril que na verdade, pelas circunstâncias atuais, deveria ser lembrado por sermos o país de milhares e milhares de Joaquins Silvérios dos Reis...
    

O Meu País

Intérprete : João de Almeida Neto
Composição: Orlando Tejo/Gilvan Chaves/Livardo Alves



Um país que crianças elimina;
E não ouve o clamor dos esquecidos;
Onde nunca os humildes são ouvidos;
E uma elite sem Deus é que domina;
Que permite um estupro em cada esquina;
E a certeza da dúvida infeliz;
Onde quem tem razão passa a servis;
E maltratam o negro e a mulher;
Pode ser o país de quem quiser;
Mas não é, com certeza, o meu país.


Um país onde as leis são descartáveis;
Por ausência de códigos corretos;
Com noventa milhões de analfabetos;
E multidão maior de miseráveis;
Um país onde os homens confiáveis não têm voz,
Não têm vez,
Nem diretriz;
Mas corruptos têm voz,
Têm vez,
Têm bis,
E o respaldo de um estímulo incomum;
Pode ser o país de qualquer um;
Mas não é, com certeza, o meu país.


Um país que os seus índios discrimina;
E a Ciência e a Arte não respeita;
Um país que ainda morre de maleita, por atraso geral da Medicina;
Um país onde a Escola não ensina;
E o Hospital não dispõe de Raios X;
Onde o povo da vila só é feliz;
Quando tem água de chuva e luz de sol;
Pode ser o país do futebol;
Mas não é, com certeza, o meu país!


Um país que é doente;
Não se cura;
Quer ficar sempre no terceiro mundo;
Que do poço fatal chegou ao fundo;
Sem saber emergir da noite escura;
Um país que perdeu a compostura;
Atendendo a políticos sutis;
Que dividem o Brasil em mil brasis;
Para melhor assaltar, de ponta a ponta;
Pode ser um país de faz de conta;
Mas não é, com certeza, o meu país!


Um país que perdeu a identidade;
Sepultou o idioma Português;
Aprendeu a falar pornô e Inglês;
Aderindo à global vulgaridade;
Um país que não tem capacidade;
De saber o que pensa e o que diz;
E não sabe curar a cicatriz;
Desse povo tão bom que vive mal;
Pode ser o país do carnaval;
Mas não é, com certeza, o meu país!

Fraterno Abraço
André

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Nosso Destino Espartano!

Pois é!!! Andei meio sem inspiração...
Foram alguns dias de difícil digestão.
Vi corruptos contumazes deixarem o cárcere com suas caras de vítima e com suas belas acompanhantes que fazem pose para chamar a atenção de alguma revista de belas fotos e de índole duvidosa.
Vi psicopatas perversos mutilando, estuprando e matando inocentes e depois de tudo feito, na mais perfeita lucidez e calma rescaldarem os cadáveres destroçados não demostrando o menor respeito pela vida humana.
Vi a bela cidade de joelhos no lixo que cobria os corpos dos pigmeus do boulevard.
Vi professores e pais subjugados pela fúria cracolenta que consome numa progressão geométrica, aquilo que poderíamos chamar de civilidade.
E vi e vivi tudo isso nestes últimos dias...
E de tudo que vi, para meu absoluto espanto e desespero, tudo estava sob a égide da lei, e tudo estava outorgado pela a autoridade e pela justiça...
Então... estupefato, parei!
Precisava respirar o ar da esperança que catárticamente deveria retemperar minha alma ferida de morte.
Busquei o tal ar andando pelo Rio Grande.
Andei do ocidente ao oriente e percorri com orgulho provinciano as terras gaúchas.
Em cada palmo de chão que eu pisava, cada passo era marcado pela minha respiração ofegante que buscava captar cada partícula de ar.
E eu pisava no mesmo solo republicano que moldurou de lirismo a história heróica de meu Estado!
Quanto mais distâncias eu percorria, mais distante eu ficava da realidade que me fez andar...
E o chão sagrado me inspirava. O mesmo chão sagrado onde lutavam juntos negros, italianos, alemães e brasileiros contra a injustiça e a opressão, fundamentados todos pelo ideal gaúcho republicano.
Perto da fronteira, pude sentir minha alma sendo reformada pelos atabaques libertários dos lanceiros negros de Netto e Teixeira Gavião Nunes.
Pelos rios do pampa, pude sentir amenizar a sede de meu espírito com os cantos alegres dos carbonários italianos que os entoavam flamulando lenços tricolores com dizeres de Liberdade, Igualdade e Humanidade...
Voltando, a BR 290 e seu movimento progressivo, aos poucos ia me fazendo voltar do doce delírio que me levou ao tempo dos farrapos.
Agora que retornei, acho que algo de meu sonho pampeano ficou martelando no meu consciente urbano que sofre com as agruras do século 21.
Acredito que os bons ventos que se originam no oriente possam nos trazer esperanças que culminem quando o minuano bater nas nossas janelas de junho...
Então, quando o inverno chegar, que sejamos gregos na glória, na virtude troianos e que se reviva Atenas.
Mas não esqueçamos jamais, que o destino nos fez ESPARTANOS!

Fraterno abraço
André             

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Grande Útero do Rio Grande do Sul!

Nesta semana, comemoramos o aniversário de Porto Alegre. Com saudade, passei a semana escutando Kleiton e Kledir e Isabella Fogaça...
Dia 26 de março, além do aniversário da capital dos gaúchos, é pessoalmente uma data de absoluta importância para mim, e como é pessoal, as explicações ficam para a próxima vez...
Reproduzo hoje, uma coluna que escrevi em 2008, e que foi publicada como um projeto piloto que eu mesmo abortei  por amar demais a cidade. Me senti incapaz de fazer uma análise cotidiana, pois neurótica e provincianamente, acredito que Porto Alegre é o melhor de todos os lugares...
Enfim...
" A saudade é demais... é lá que eu vivo em paz!"
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Porto Alegre No Divã (1)

Quando te vi ali, na entrada do consultório, sentadinha, cabeça baixa e olhos fixados no jornal de ontem, tremi ao pensar no que podias querer.

Tenho estado contigo nos últimos 40 anos, e jamais me passou pela cabeça que precisasses de meus ouvidos de psicanalista lacaniano.

Um rastro de luz me transportou num "flashback" delirante para o início de nosso amor, onde eu, ainda no colo do avô, velho portoalegrense, criei aquela que seria a primeira lembrança que levarei até o último pensamento consciente.

Era um final de tarde qualquer perdido num inverno dos meados da década de 60. Lembro com nitidez branquíssima, das luzes amarelas da Borges, por onde passava o nosso transporte - talvez um dos últimos bondes elétricos.

Lembro do gosto do diamante negro e da mancha que ele produziu na camisa volta ao mundo branca de meu avô.

Passei a te amar naquele dia, e acho que ali decidi que serias minha, uma vez que tu ali me encantaste.

Na infância, pouco te vi. Mas te amando ao longe, sabia meu inconsciente, que viveríamos juntos, meus sonhos, meus pesadelos e um pouco da tua e tudo da minha futura história.

Adolescente, te fiz minha enfim, e acho que sequer percebeste que eu te invadia com todo meu desejo recalcado e juvenil...

Me sinto ainda percorrendo teu centro, como se teu útero fosse. Eu entre milhões buscando o caminho de tua fecundação? ( Ainda hoje caminhando na Andradas gosto de fantasiar com isso...)

Naquele tempo, tudo me era esperança e fé. Lembro de me benzer ao passar na catedral da praça da matriz, pedindo bênçãos antes de chegar no Água na Boca da praça Conde.

E tinha a feirinha da Ladeira, com os hippies que faziam bolsas, cintos e chinelos que deixavam expostos nas vitrines de concreto, e pintavam à mão camisetas com o rosto do Che que deixavam ocultas dentro de sacolas, que naquele tempo, mesmo que moribunda, a “Dita” ainda era dura...

Nos 80, deu pra ti (no bom sentido!)... Lembro da fila do táxi na frente da OSPA, saindo da Papagayus, indo pra velha New Looking e seus ambientes.. ali... passando a Ipiranga.

E tinha teu cotidiano arrabalero, que mesmo sendo metropolitano vestia-se de interior nos domingos do Cristal, do Partenon, da Zona Norte, onde nos churrascos de passeio público, riam Maria que trabalhava na loja do centro, o Carlos mecânico da Azenha, o Paulinho do SulBrasileiro, etc, todos esperançosos mas com saudades de suas cidades de origem.

Mas.... espera ai! Isso tudo é até que bem recente! Não vejo razão pra demandas melancólicas.

Ainda temos o pôr do Sol (e o gasômetro está mais bonito!), temos os domingos da redenção, ainda temos GRENAL, e temos.... Ah! Um monte de coisas TRI ainda...

Ta certo... tens razão! Tem uma neurose te afetando.

Há poucos dias, vi meu filho, somando-se a muitos de teus filhos, naquele mesmo centro que eu fantasiei de útero materno, sangrado por uma faca impulsionada pela miséria e pelo crak por não querer voltar pra casa sem os Nike e o telefone (mas não exagera!! o atendimento no HPS foi rápido e o guri ficou bem).

Tens razão.... novamente! Minha mulher, como todas as tuas filhas, não pode mais olhar as vitrines da Rua da Praia tranqüila ( é... mas tens o Praia de Belas, Iguatemi, e os outros, e logo logo também o Barra Shoping ali do Cristal, acho que estás exagerando e se queixando de barriga cheia...).

Era só o que faltava! Estás te queixando porque o arrabalde mudou????É claro... isso é fruto de teu crescimento, é uma tendência mundial desde a revolução industrial. Ah??? Não é isso???

Mais uma vez tens razão...

As Marias, Carlos, e todos os outros não habitam mais os domingos festivos e milongueiros... O arrabalde é território... território da boca, do patrão, do gerente da boca, do aviãozinho, do mula, do tecasso e do menino morto esperando o DML e com sorte, uma lágrima da mãe.

Tentei evitar te aceitar como paciente. Acho que meu amor por ti desencadeou um impedimento inconsciente de te analisar...

Mas me entrego!

Vem cá ...ocupa meu divã freudiano. Me fala de tuas dores, de tuas faltas, de teus sonhos. Fica bem à vontade Porto Alegre! Vamos conversar um pouquinho????

09 de setembro 2008.