quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Eu Quero!

Apagando as luzes do 2013...
Agradeço à todos os que me leram e de alguma forma interagiram comigo no decorrer do ano.
Em 2014 :
Eu quero paz e quero luta por dias melhores;
Eu quero saúde e quero que todos pensem que na doença ou na dor, é que se separam os homens dos meninos;
Eu quero dinheiro e quero que o meu seja uma energia positiva propulsora de felicidade e quero que meus olhos não se fechem pra miséria que não é apenas falta de dinheiro;
Eu quero muitos livros e quero também que boas leituras habitem os tablets, celulares e todas as modernas tecnologias;
Eu quero amor e quero também as paixões que habitam a alma humana porque são elas que movem o mundo;
Eu quero crer na vida e quero entender cada vez mais a morte;
Eu quero ter fé nas pessoas e no bem e quero que os vendilhões do templo se enforquem com as tripas dos tiranos como o Nietzsche desejou;
Eu quero ver a seleção em campo na copa e quero que os  times de médicos, psicanalistas, pedreiros, escritores, e de todos que constroem ganhem de goleada; 
Eu quero a realidade e quero que a minha me venha cada vez mais doce e fácil de engolir;
Eu quero que todos meus amigos tenham felicidade e segurança no ano que vai nascer. A minha felicidade e segurança, será revê-los em 2014 felizes e seguros!

Fraterno Abraço!!!
André


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Música Para Meus Ouvidos!

Pensei:
Não são somente as canções do Chico (Buarque) que me emocionam à ponto de ser catártico o ação de ouvir música.
Muitas outras coisas são músicas para meus ouvidos. E eles precisam muito de música.
Já que estamos nessa época de festas, lembro que o Contardo um dia me disse (e depois escreveu em em de seus livros), que o Psicanalista não recebe garrafas de vinho nas vésperas de natal como acontece com médicos, advogados e outros profissionais que de alguma forma contribuem para o desenvolvimento positivo da vida das pessoas.
O máximo que um Psicanalista deve desejar, é que ele seja comparado por seu paciente, como o vidrinho de remédio que o doente guarda no armário do banheiro. Depois de passada a dor, o paciente deixa o vidrinho ali, prevenindo uma provável recaída e se ela não vier, o destino do tal vidrinho deve ser o lixo.
Depois desses anos todos, quando um paciente meu me diz: 
"André... não preciso mais voltar... estou bem e posso viver minha vida!"
Bah... como fico feliz...
Isso significa que concluímos a reconstrução da parede que estava defeituosa e com vazamentos e o pedreiro aqui cumpriu sua empreitada. Com sorte, nunca mais nos veremos.
Isso é música para meus ouvidos.
Penso que nessa época, as aves estão em fase de reprodução de suas espécies. É lindo o canto dos pássaros machos prenunciando a vida que vem logo em seguida. Especialistas dizem que as fêmeas dos pássaros não cantam... mas eu (meio subversivo sempre) prefiro fantasiar que elas cantam sim e o canto dos pássaros nessa época do ano também são música para meus ouvidos.
E no verão... na beira do mar???  As mulheres lindas (e todas as mulheres são lindas na beira do mar... e longe do mar também..risos) passando o bronzeador nos maridos, filhos, netos e nelas mesmas??? Aquele "slep...slep...slep..." é música para meus ouvidos, pois é um som de festa, que misturado com a música que vem das ondas da deusa das águas, também é a música da vida.
E eu orgulhosamente gaúcho (provinciano?? risos) adoro aquele som que a gordura da picanha produz quando cai na brasa do carvão na churrasqueira domingueira... aquele "shhhhhhhhh" também é som de festa, e é igualmente música para meus ouvidos.
E tem o mais belo dos sons. A mais belas música que meus ouvidos que precisam ouvem.
Nesses tempos modernos, já não escuto mais com a mesma intensidade que gostaria, mas ainda escuto de vez em quando...
Sabem quando eu escuto ele???
Quando preocupado, pergunto para qualquer pessoa de minhas relações: 
"Está tudo bem?"
Quando o perguntado responde com um sorriso franco:
"Simmmm! Está tudo bem!!!!
Isso é música para meus ouvidos!
Fraterno Abraço
André
   
    

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Medo que eu tenho!

Eu nunca tive medo do escuro... e sempre tive medo da escuridão da cegueira. E não da cegueira dos olhos, mas da cegueira da alma que além dos olhos, escurece todos os sentidos...
Eu nunca tive medo do bicho papão... e sempre tive medo de ser devorado pelos demônios que eu mesmo criei... e os que os outros criaram também...
Eu nunca tive do câncer... e sempre tive medo do preconceito que corrói os princípios da humanidade, da fraternidade e da igualdade....
Eu nuca tive medo dos homens.... e sempre (e cada vez mais)  tive medo do produto nefasto produzido pelos equivocados instintos humanos...
Eu nunca tive medo da traição... e sempre tive medo de que minhas fraquezas e desatinos, ou mesmo minha incompetência de expressão, me dessa a pecha de traidor....
Eu nunca tive medo de fracassar... e sempre tive medo de que a covardia me transformasse num repolho que depois de colhido, apodrece na prateleira sem ser aproveitado...
Eu nunca tive medo de ir pro inverno... e sempre tive medo de que eu, por minhas ações, me transformasse no inverno de alguém...
Eu nunca tive medo da mentira... e sempre tive medo que a verdade que eu diga seja tão desprezível a ponto de ser preterida pela inverdade de alguém...
Eu nunca tive medo do ódio... e sempre tive medo de que meu amor pudesse ser odiado e se transformasse em grilhões diabólicos...
Eu nunca tive medo da dor... e sempre tive medo de que minha dor me incapacitasse os sentidos e me transformasse num lírio que depois de colhido, enfeita túmulos por mais um ou dois dias...
Eu nunca tive medo da morte... e sempre (e cada vez mais) tenho medo de que depois de morto, o fato que mais signifique na minha vida, seja o fato de deu ter morrido e que morto, eu me transforme em vil matéria inerte, que por inerte, nada signifique...
Então... valei-me São Oswaldo Montenegro: "Que a força do medo que eu tenho não me impeça de ver o que anseio..."

Fraterno Abraço
André
   
    

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sempre Contardo!

Se algum dia eu tivesse que apontar os responsáveis ou "culpados" pelo fato de eu ser quem sou, certamente o Psicanalista Contardo Calligaris encabeçaria um rol de uma meia dúzia de três ou quatro...(risos)
Pois eis que o Contardo está hoje na minha cidade e por convergências pessoais e profissionais não estarei lá para pedir a bênção do mestre e prestigiar o lançamento de seu livro Todos os Reis Estão Nus que aliás, recomendo.
Leio que Contardo, depois de lançar o livro vai estar na minha amada Associação Psicanalítica de Porto Alegre, onde vai conversar sobre "As Psicoses 20 anos depois. O que sobra? O que mudou?", comentando a reedição do seu livro Introdução a uma Clínica Diferencial das Psicoses.
O mestre e amigo, concedeu entrevista à jornalista Luiza Piffero do jornal Zero Hora e literalmente "babei" ao ler hoje cedo. Na publicação de hoje, transcrevo um trecho da entrevista que achei muito interessante...;

ZH: Você comenta sobre a importância de encontrar os pressupostos que moldam nossas experiências e opiniões. Como você chega a esses pressupostos?  
Calligaris: Sou psicanalista e clínico há 39 anos, meio que mundo afora. Não tenho muito como evitar que a psicanálise constitua meu ponto de vista privilegiado sobre o mundo. Isso não quer dizer que ela seja, para mim, ou para quem quer que seja, uma visão do mundo. Tampouco ela é um método para mim; eu diria que é uma maneira quase involuntária de ser, nesta altura. Uma parte relevante da escuta psicanalítica consiste em apontar os conflitos atrás das certezas, até porque as certezas, em geral, são soluções falsas e muito caras. Um exemplo? A grandíssima maioria das certezas morais são apenas tentativas de reprimir em nós a vontade de cometer os "pecados" dos quais acusamos os outros. Nunca encontrei um homofóbico que não estivesse sobretudo lutando contra sua própria homossexualidade.

ZH: Você pode citar alguns pressupostos que estão por trás da proposta da "cura gay"?
Calligaris: Sei que vai parecer curto e grosso, mas a verdade, às vezes, é curta e grossa. O único pressuposto atrás da proposta da "cura gay" é o desespero de seus proponentes, no esforço para reprimir sua homossexualidade inconsciente.

Com essa, desejo a todos uma ótima sexta feira 13 de dezembro de nossas esperanças....
Fraterno abraço
André



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Conhecendo os Mitos - NARCISO


 Neste texto, me valho dos ensinamentos dos professores Sérgio Lasta e Eustásio de Oliveira Ferraz, a quem agradeço pela bela contribuição.

  Narciso era um belo rapaz indiferente ao amor, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope. Por ocasião de seu nascimento os pais perguntaram ao adivinho Tirésias qual seria o destino do menino, pois ficaram muito assustados com a sua beleza rara e jamais vista. A resposta foi que ele teria vida longa se não visse a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso quando ele chegou à fase adulta, mas o belo jovem não se interessou por nenhuma delas.

 A ninfa Eco, uma das apaixonadas, não se conformando com a indiferença de Narciso, afastou-se amargurada para um lugar deserto onde definhou até a morte e restaram somente seus gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses que a vingasse. Nêmesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a se debruçar na fonte de Téspias para beber água. Nessa posição ele viu seu rosto refletido na água e se apaixonou pela própria imagem. Descuidando-se de tudo o mais, ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. No local de sua morte apareceu uma flor que recebeu seu nome, dotada também de uma beleza singular, porém narcótica e estéril.

   Narciso é um personagem enigmático e fascinante que traz em si um grande dilema: ver-se ou viver; ver-se e não viver ou não se ver e viver. Não podia conhecer-se, caso contrário não veria a velhice ou a vida eterna, como previra o oráculo. Por isso, era admirado por si mesmo, imobilizado e aprisionado em seu próprio mundo. Não podia se ver para continuar vivendo. Amava e não podia amar, amado, não podia deixar-se amar. Era solitário vagando pela floresta.

  O belo Narciso é independente, porém vive na solidão; evita qualquer aproximação, não respeita a sociabilidade. É imerso em si, anula a alteridade (o outro). Tem tudo, basta-se a si mesmo. É prisioneiro de sua própria aparência que lhe é irresistível e isso o faz sofrer. Sofre porque não consegue ter aquela imagem para si. Está tão próximo e ao mesmo tempo tão distante. Representa o eterno dilema da auto-sedução que não se realiza. Tem e ao mesmo tempo não a tem, porque essa é intocável, pode ser somente contemplada. É um amor platônico por si mesmo. Tocar a fonte de Téspias seria deformar aquela imagem tão bela e perfeita.


         Seu desejo é devorar-se a si mesmo. Tem a beleza desejada, idealizada, que todos querem possuir. Às vezes isso provoca a ruína, o que significa ver somente o ideal de si, um rosto bonito e não uma pessoa em sua inteireza. É uma imagem com muitos rostos onde o próprio EU não entra e esses rostos se confundem. Há o desejo de se tornar sedutor(a), de despertar desejos. E o sedutor(a) adquire uma imagem que não é sua, tem outra identidade, pois seu ego é frágil, nada sedutor.


         Ao contemplar-se nas águas da fonte, sua unidade rompe-se: o que era um parte-se em dois. É arrastado para fora de si. O que Narciso viu? O ideal de si e lutou para não perder essa imagem. Sua posição reclinada para baixo não permite ver a vastidão do horizonte, deixa-o envolto em si mesmo. Por isso a visão que tem do mundo é ínfima. Mas a imagem ideal refletida é inalcançável, isso o leva à morte como punição por não conseguir trazer para si a imagem desejada.


         Esse mito, ou lenda simboliza a imobilidade, a solidão e a infelicidade, porque Narciso não conseguiu vencer a sedução da própria imagem. Se isso acontecesse, teria que assumir responsabilidades sociais, enfrentar desafios, a realidade, as desilusões. Não há risco zero na vida. Exemplos? Basta prestar atenção na vida dos animais. Se ficar na toca certamente morrerá de fome e sede. É preciso enfrentar a realidade, mesmo sob o perigo de perder a vida. É também a busca da eterna beleza. Morrendo jovem e belo, seria lembrado assim, com sua juventude perpetuada. É a busca do aplauso, do reconhecimento. Esse ideal do belo provoca desejos irrealizados, prazer em seduzir e despertar desejos. Porém não permite que sejam satisfeitos. Isso leva à melancolia, o mundo perde o valor, a consciência aflige-se com fragilidade.


         O grande engano de Narciso foi errar na escolha de amor. Ao invés de dirigi-lo a outro, volta-se para si mesmo e comete um incesto intrapsíquico. Toda sua energia não se liga ao mundo externo e isso é patológico. O que ele ama é a sua sombra, o próprio reflexo, por isso não abandonou as águas da fonte. Somente ali essa ação é possível. Seu desejo era manter-se eterno, perpetuar aquela imagem que o seduziu e a sedução pelo eterno levou-o à morte.


         A fonte é o espelho que atrai e arruína. A imagem refletida não é o que aparenta. Mostra o que é e o que não é. Estimula na alma o desejo por uma imagem inatingível. Narciso achou que era a própria imagem, não se individualizou, não separou realidade e fantasia.


         Esse personagem também pode ser visto por outro ângulo, pois até aqui parece ser doentio. Todos têm um Narciso em si e isso leva a que cada um procure cuidar do próprio corpo; arrumar-se, enfeitar-se para agradar a si e aos outros demais. Isso não significa que esteja voltando sua capacidade de amar e ser amado só para si mesmo, mas tem a finalidade de encontrar alguém, ir em busca do outro e do mundo.

         Logicamente o mito presta-se para muitas outras interpretações. Porém Narciso perambula pela sociedade e está na personalidade de todos.


         O mito de Narciso nos mostra que vivemos na superficialidade, nas aparências. Somos seres sem profundidade.


         O mito de Narciso sempre quer falar algo do ser humano. De uma forma ou de outra sempre trazemos um Narciso dentro de nós. Narciso diz que cada ser humano tem que descobrir que ele é, e qual o caminho que o conduz à felicidade.


Fraterno abraço
André



sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Conhecendo os Mitos - ANTÍGONA

Antígona é a mais antiga obra conservada de Sófocles, representada provavelmente no ano de 442 A.C. Antígona é a filha de Édipo, pelo que se segue uma pequena introdução da vida deste para seguida de um resumo da obra. Partes desta introdução estão patentes na obra, mas não voltam a ser repetidas no resumo, e outras partes não estão nem explícita nem implicitamente na obra de Sófocles.
Como alguns leitores não perceberam que o objetivo destes textos é só contar o resumo da Obra que retrata o mito, repasso o texto de ontem que seria o primeiro e o de hoje seria sua sequência.
Espero que gostem...

Édipo era filho de Jocasta e Laio. Delfos tinha previsto que Laio morreria às mãos do próprio filho, que casaria com a mãe. Por isso ele deixou o filho no Monte Citerão pregado pelos pés, de forma a que morresse. Foi, no entanto, recolhido por um pastor e, mais tarde, adotado pelo rei de Corinto, sem que nunca soubesse as suas origens, nem os seus pais soubessem que estava vivo.
Um dia voltou a Tebas para matar a esfinge, mas pelo caminho encontrou Laio, o qual o mandou desviar-se da frente, pois ele era o rei de Tebas. Édipo não só não se desviou como ainda brigou com o "desconhecido" que acabou por matar. Acabou por matar a esfinge resolvendo o seu enigma e casou com Jocasta, a mãe. Tudo isto atraiu as Erínias.
Teve dois filhos da mãe, Etéocles e Polinices, e duas filhas, Antígona e Ismene. Quando descobriu quem eram Laio e Jocasta cegou-se e Jocasta suicidou-se. Antígona foi-lhe fiel e acompanhou-o enquanto estava vivo até ao exílio em Colono, onde morreu.
Entretanto Polinices tenta destruir Tebas, onde Creonte, irmão de Jocasta, se tinha tornado rei. O seu irmão, Etéocles, defende a cidade e é morto por Polinices, o qual acaba também por morrer. Tebas é salva, quando Menoceu, filho de Creonte, se atira para uma fogueira, pois fora previsto que a cidade só se salvaria se um dos filhos de Creonte fosse sacrificado aos Deuses.
Antígona volta à cidade e a história começa quando ela descobre o édito de Creonte: Etéocles será enterrado, mas Polinices será deixado a apodrecer para servir de comida às aves sem que tenha direito sequer a prantos.

 Resumo da Peça  Antígona

Antígona quer enterrar o irmão Polinices mesmo indo contra a lei de Creonte. Ismene, pelo contrário, aconselha-a a não o fazer, mas acaba por não a convencer e promete não contar nada a ninguém. No entanto, como se descobre mais tarde, começa a agir de forma comprometida.
O corpo de Polinices era vigiado por várias sentinelas, de forma a que a lei fosse cumprida, mas um dia as sentinelas encontram o corpo enterrado. Hesitante um dos guardas acaba por contar o sucedido a Creonte, que os obriga a desenterrar o corpo e os ameaça de morte caso não encontrei o culpado, acusando-os de terem sido subornados.
Eventualmente os guardas apanham Antígona que, entretanto, está noiva de Hémon, filho de Creonte, o qual está perdidamente apaixonado por ela. A jovem confessa tudo e Creonte acusa Ismene, que tenta ficar com parte da culpa, enquanto que a irmã diz que tem vergonha dela por não ter honrado os mortos. Creonte acaba por perdoar Ismene, mas condena Antígona a ser enterrada numa gruta, onde não poderá ver o sol ou falar com ninguém, apenas deixando um pequeno buraco para lhe darem o mínimo indispensável de comida, de forma a não atraírem a vingança dos Deuses.
Hémon fala com o pai. Ao princípio tenta conter as emoções, tentando convencer o pai a soltar Antígona através da razão, mas não consegue e acaba por fugir angustiado. Depois o próprio adivinho Tirésias recebe um terrível presságio e corre, guiado por uma criança, visto ser cego, para aconselhar o rei a libertar Antígona e enterrar Polinices, dizendo que pedaços do corpo dele estão espalhados por toda a cidade, trazidos pelas aves, e a contaminam. Ainda assim, Creonte recusa e Tirésias prevê que, por isso, correrá sangue da sua família e em breve.
Temeroso, Creonte pede conselho ao coro de anciãos tebanos, que lhe dizem que o melhor é fazer o que o adivinho disse. Ele enterra Polidices e depois vai soltar Antígona. Mas ouve gritos do filho dentro da caverna e corre, para encontrar Antígona enforcada, por suicídio, e Hémon chorando agarrado a ela. O filho cospe-lhe na cara, odiando-o, e mata-se enterrando a sua própria espada no peito.
Creonte sofre, mas um sentinela corre ao palácio, onde Eurídice, mulher de Creonte, se inteira do sucedido e vai para o palácio em silêncio. Quando Creonte volta a Tebas recebe a notícia de que a mulher o culpa de tudo, incluindo a morte do outro filho, e se matara furando o fígado com as próprias mãos.
Esse é o mito retratado na peça de Sófocles.
Fraterno abraço
André


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Conhecendo os Mitos - ÉDIPO


Freud na sua genialidade compreendeu cedo de que para conhecer o homem, um bom começo seria conhecer o mito. E Freud adorava a mitologia.
A mitologia grega foi transmitida por vários poetas clássicos, e assim como Freud, adoto a obra de Sófocles como base de minhas reflexões cujo objetivo é tornar mais fácil a compreensão de como o mestre desenvolveu a teoria do complexo de Édipo.
Nesta teoria, Freud aborda a questão da criança, que ao atingir a maturidade sexual (segunda infância) entende as diferenças entre os sexos e tem sentimentos contraditórios de amor e hostilidade (amor à mão e ódio ao pai).
Então... Vamos ao mito???.

A lenda da família dos labdácidas, à qual pertencem Laio e Édipo, faz parte do Ciclo Tebano. Há várias versões, um tanto conflitantes; a mais conhecida, adotada aqui, foi transmitida pelo poeta trágico (e bota trágico nisso...risos) Sófocles que viveu entre 495 AC e 406 AC em Atenas na Grécia. Foi um dos maiores intelectuais da antiguidade clássica. Autor prolífico e consagrado em seu tempo, produziu cerca de 120 peças das quais restaram conservadas somente sete, entre as quais, Antígona, Ajax, Electra e Édipo Rei que passo a contar.

Laio era filho de Lábdaco, rei de Tebas, e reinou na cidade logo depois de Anfion e Zeto. Consta que os deuses amaldiçoaram toda a família devido aos seus amores não-naturais com Crisipo, filho de Pélops que governava a região do peloponeso. Mais tarde, casado com Jocasta, evitava ter filhos, pois o Oráculo de Delfos revelara que seria morto por um filho seu. Mas Jocasta embebedou-o certa vez e, decorridos os meses de praxe, Édipo nasceu.
Horrorizado, Laio mandou expor a criança aos perigos da natureza (crimes contra seu próprio sangue era o maior dos pecados), mas o servidor apiedou-se dela e o entregou a uns servos do rei de Corinto (ou de Sicion), Pólibo, que criou Édipo como um filho. Já homem feito, Édipo encontrou-se acidentalmente com Laio em uma encruzilhada e, durante a luta que se seguiu a uma discussão, matou-o.
Morto Laio, Creonte, irmão de Jocasta, assumiu provisoriamente o trono de Tebas; Édipo simplesmente seguiu seu caminho.
Tebas, algum tempo depois, foi assolada por uma terrível maldição: a Esfinge, monstro alado com corpo de leão e cabeça de mulher, postou-se nas imediações da cidade e devorava todos os seres humanos ao seu alcance. Consta que ela antes apresentava às suas vítimas um enigma e devorava somente aqueles incapazes de decifrá-lo — mas ninguém nunca atinava com a resposta correta...
Nessa altura Édipo havia descoberto, graças ao Oráculo de Delfos, que estava destinado a matar o pai e casar com a mãe. Assustado, exilou-se voluntariamente de Corinto e, ao saber do problema dos tebanos, decidiu enfrentar a Esfinge. Ela perguntou-lhe qual era o animal que de manhã andava com quatro pernas, ao meio-dia com duas e à noite com três. Édipo respondeu — corretamente — que se tratava do homem, pois ele engatinhava quando jovem, andava ereto na juventude e se apoiava em uma bengala na velhice. Enraivecida e frustrada com a perspectiva de uma longa dieta, a Esfinge atirou-se de um precipício e morreu.
Édipo foi nomeado rei de Tebas e ainda recebeu, como recompensa, a mão de Jocasta, viúva do rei anterior, que lhe deu os seguintes filhos: Antígona, Ismene, Etéocles e Polinices. Cumpriu-se, dessa forma, o oráculo, mas Édipo reinou sossegado em Tebas durante muitos anos.
Um dia, porém, a cidade foi assolada pela peste e, de acordo com mais um oráculo, a única maneira de debelar a doença era identificar e punir o assassino de Laio. Édipo conduziu as investigações e acabou descobrindo tudo: ele matara o próprio pai e se casara com a própria mãe.
Jocasta, ao saber da terrível verdade, enforcou-se; Édipo furou os próprios olhos com os grampos do vestido de sua mãe-esposa e abandonou Tebas, acompanhado apenas de sua filha Antígona. Antes de deixar a cidade, amaldiçoou seus filhos, Etéocles e Polinices, pois eles o desrespeitaram e destrataram. Em algumas versões, Édipo foi expulso da cidade por Creonte.
Já ancião Édipo chegou a Colono, na Ática, levado por sua filha Antígona. Foi bem acolhido por Teseu, então rei de Atenas e, agradecido, pediu para ser enterrado ali mesmo. Revelou então, ao rei, que a terra que recebesse seu corpo seria abençoada pelos deuses. Ciente disso, e na iminência do ataque dos sete chefes, Creonte tentou forçá-lo a voltar para Tebas; Teseu, porém, defendeu o hóspede e Édipo, ao morrer, foi enterrado em um local de Colono que apenas Teseu conhecia.
Bem... isso por si só, já seria muita tragédia não concordam?
Então aguardem até amanhã quando falarei de Antígona ...risos
Fraterno Abraço
André



quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Retorno à Freud - Os Escandalizados!

Antes de escrever o texto da série atual, quero comentar uma coisa que tenho acompanhado pelos jornais nos últimos dias. O caso da menina de 16 anos que tem sua foto mostrando os seios divulgada nas redes sociais pelo namoradinho também adolescente. A menina se matou quando se viu semi nua na rede, e antes do suicídio, avisa sua melhor amiga que iria faze-lo pois não suportaria a vergonha que o fato produziria. A amiga avisa aos familiares, mas estes chegam atrasado. Quando chegaram em casa a menina estava morta. O fato se deu essa semana no Rio Grande do Sul, e está nos jornais.
Pensemos meus amigos... qual foi a causa do suicídio?
Foi o fato de o garoto ter postado a foto da namorada semi nua na rede?
Foi o fato dela ter ficado semi nua numa web cam num momento de intimidade com seu namoradinho?
Foi o fato  da menina viver numa sociedade em que a (in) cultura estabelecida nega-se a tratar a sexualidade como uma matéria humana e por isso deveria ser tema obrigatório (nos moldes da realidade humana e não dos moldes do preconceito e da repressão) entre pais, filhos, médicos, psicanalistas, professores e todos os segmentos sociais???
Reflitam...
À propósito, no capítulo de hoje, vou mencionar  os eventos que deixaram muitos escandalizados quando Freud expôs a teoria da sexualidade...Mas isso foi no início do século passado né???? ( risos )
Os primeiros trabalhos de Freud não tiveram, quando publicados, eco na cultura dominante,  que preferiu ignorá-los. Os poucos eventuais leitores não formavam coro. Por exemplo, em 1900, num congresso de neurologistas e psiquiatras em Halle (Alemanha), sobre a patologia da histeria, ninguém citou Estudos sobre a Histeria publicado por Freud cinco anos antes. Mas, a partir de 1906, com a publicação de Três Ensaios e O Caso Dora, o silêncio não pôde mais ser mantido. Então, a cultura vigente, amparada por uma moral dita "sã", mas na realidade preconceituosa, e por uma ciência que preferia ignorar os processos psíquicos inconscientes e a sexualidade, com sua origem infantil, começou a berrar altos seus "retro-satanás", esperando assim solapar, nas bases, uma teoria e técnica que pareciam ameaçar a manutenção imobilizadora do status quo. E isso não somente na Áustria e na Alemanha, mas também na Inglaterra, Canadá, França, Hungria, etc.  
Seira impossível reunir aqui, todos os impropérios e acusações que Freud recebeu quando, com suas descobertas, foi sentido como o perturbador do doce sono em que descansava a humanidade. Contamos com um bom registro, feito por Jones em sua biografia de Freud, especificamente sob o título "Oposição". 
Embora com o passar do tempo a reação de opróbrio se apaziguasse bastante, ela foi particularmente acentuada nos anos que antecederam a primeira guerra mundial. Nessa época, o fundador da psicanálise e seus adeptos foram considerados perversos sexuais que favoreciam a licenciosidade; irresponsáveis que ameaçavam os altos valores da sociedade; paranoicos que avaliavam os outros pela perspectiva da própria loucura.
Em 1910, o professor Weygandt, num congresso em Hamburgo exclamou horrorizado:
"Esse ( a Psicanálise) não é um assunto que mereça ser discutido numa assembléia científica; é a polícia que se deve ocupar disso."
Em Budapeste, na Sociedade Médica, quando Ferenczi terminou uma conferência sobre a obra de Freud, foi informado tratar-se de pura pornografia e de que o lugar adequado para todo analista era a cadeia. No congresso de neurologia de Berlin ainda em 1910, o célebre professor Oppenheim propôs que se boicotassem todos os estabelecimentos onde as ideia freudianas fossem toleradas. Então, todos os presentes, inteiramente de acordo com a sugestão, levantaram-se, proclamando a própria inocência. Incentivando ainda mais o pathos, nessa atmosfera de caça às bruxas, o professor Raimann proclamou então:
" O inimigo deve ser perseguido em sua guarida!"
Em compensação, alguns anátemas daquela época soam hoje muito divertidos. Em 1910, num congresso na associação americana de neurologia, em Washington, o neurologista Joseph Collins referiu-se à tudo estudo psicanalítico como um trabalho "cheio de histórias pornográficas a respeito de puras virgens". Em Hamburgo, no mesmo ano, Weygandt afirmou que as interpretações de Freud nada mais eram do que "baixa literatura"; que seu método era perigoso porque provocava nos doentes ideias sexuais e que seu tratamento equivalia a "massagens nos órgãos genitais". Em 1912, Allan Starr, na Academia Médica de New York, qualificou Freud de " O libertino de Viena". Para Oppenheim, o relacionamento que se estabelecia no tratamento psicanalítico era uma forma moderna de "bruxaria delirante".
Enfim... ainda bem que isso era no início do século passado... né??? Ainda bem que as coisas mudaram e hoje, sabemos que quando o tema é sexo, não existe mais essa coisa de expulsar do paraíso ou necessidade de suicidar-se né??? ou não????

Fraterno Abraço
André
    

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Retorno à Freud - Obras da Maturidade

É interessante observar como algumas obras de Freud no período de maturidade encontram inspiração no que ocorrera com seus discípulos. Em 1913, na época da ruptura com Jung, um e dois anos, respectivamente, após a ida de Stekel e Adler, Freud publica Totem e Tabu, no qual dala do assassinato do pai da horda primitiva pelos filhos que se sentem subjugados por ele. Na história da humanidade, disso discorreriam restrições sobre os impulsos (culpa), originando as práticas religiosas (pelo receio de que outro crime se repetisse agora com eles) e o estabelecimento das normas sociais, com suas leis.
Também em 1913 conclui o ensaio Moisés de Michelangelo. Examinando os pormenores dessa estátua, observa representar Moisés vencendo o impulso de despedaçar a Tábua dos mandamentos no momento em que percebe que seu povo, ao construir o bezerro de ouro e dançar ao redor dele, regredira a uma crença anterior. Embora Freud não se refira especificamente a isto, neste ensaio, é possível, pela época, supor-se sua ira contida, identificando-se com Moisés, quando comenta, ao interpretar a postura da estátua:
" a luta bem sucedida contra a paixão anterior, em benefício de uma causa a que ele se dedicou", quando há " o conflito que deve surgir entre tal gênio reformulador e os resto da humanidade".
Freud considerava que, deixando de lado a teoria da sexualidade, seus discípulos dissidentes tinham buscado algo mais facilmente aceitável pela cultura, embora com isso fizessem regredir as conquistas alcançadas pela Psicanálise. Quase confirmando essa ideia, Jung escrevera-lhe da América: "Acho que minha versão da Psicanálise conquistou muitas pessoas que tinham até então permanecido afastadas em virtude do problema da sexualidade na neurose".
Em 1918 Freud publica História de uma neurose infantil ( o homem dos lobos), onde contesta as afirmações de Adler e de Jung, ao trazer um caso no qual se evidencia ter havido uma angústia sexual traumática infantil precedendo o desencadeamento posterior da neurose, na idade adulta.
Freud, preocupado pelo destino que teria a sua teoria e técnica nas ma~so de seus discípulos, começou a sentir certa saudade dos anos anteriores de "esplêndido isolamento", nos quais, como um Robinson Crusoé, embora sozinho, podia explorar sem intromissões sua ilha desconhecida, isto é, a Psicanálise. Comenta então em 1914:
"Quando penso nesses anos de solidão e os comparo com os anos de desordem e de tormentos nos quais vivemos atualmente, eles me parecem ter sido uma época bela e heroica". 
As dissidências de Adler e Jung foram as que mais tocaram Freud. Outros discípulos, ao se afastarem dele, deixaram-no muito menos atingido. Em parte por lhe serem menos importantes; em parte por ele ter, com o passar do tempo, um número sempre crescente de pessoas que o procuravam, assegurando-lhe, indiretamente, não haver risco de desmoronar o edifício psicanalítico por causa de alguém que se fosse.

Fraterno Abraço
André
  

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Retorno à Freud - A Maturidade

Em 1918, terminada a I Guerra, os livros de Freud começam a ser procurados com grande interesse e a ser traduzidos em várias línguas. Em todas as partes do mundo suas teorias eram discutidas  e seguidas, sobretudo nos meios culturais, apesar da oposição de pessoas de ideias antiquadas.
As descobertas de Freud sobre o inconsciente tinham também grande aceitação entre artistas, escritores e pintores. André Gide, um dos diretores da Nouvelle Revue Française, pedia autorização para a publicação das obras de Freud. Romalin Rolland e Stefan Zeweig visitavam-no e correspondiam-se com ele. Contatos íntimos pessoais e através de cartas estabeleceram-se com Arnold Zweig e Thomas Mann, fascinados pela perspectiva psicanalítica que tanto enriquecimento trazia a seus romances. Os surrealistas notavam mútuas confirmações entre suas inspirações e a descrição da psique dada pelo fundador da Psicanálise. André Breton, autor de Manifesto do Surrealismo, de 1924, aconselhava o usa da associação livre freudiana na escrita automática, para poder extravasar no papel a misteriosa riqueza das vivências mais profundas. Entre os que escreveram obras literárias em consonância com a Psicanálise, podemos lembrar: René Laforgue, F. Scott Fitzgerald, Aldous Huxley, James Joyce. O Pintor Dali, não somente quis visitar Freud, mas, traduzia em consonância  com ele, através de seus quadros, a complexidade conturbada da dimensão do inconsciente. Também a escola expressionista não se distanciou do reconhecimento dos dramas e conflitos humanos tão claramente captados por Freud.Com o passar do tempo, outra forma de arte, o cinema, interessou-se pela interpretação psicanalítica das personagens e de seus relacionamentos; dava-se idêntica perspectiva no teatro. Em 1936, quando já se delineavam no horizonte os perigos de uma perseguição nazista contra Freud, este recebeu, por ocasião de seu aniversário, como prova de estima e solidariedade, uma declaração trazida por Thomas Mann e assinada por mais de 191 escritores, entre os quais Romain Rolland, Jules Romains, H.G Wells, Virgínia Woolf, Stefen Zweig e outros importantes literatos.
Outra característica freudiana chama a atenção se olhar a foto (imagem de hoje) da reunião de 1929 em Oxford, onde observa-se o grande número de mulheres psicanalistas ao lado de seus colegas homens. Se pensamos que nas primeiras décadas  do século XX a mulher, por ser injustamente desvalorizada, era praticamente ausente nos meios científicos, devendo contentar-se, em caso de trabalho,  com empregos ínfimos, podemos facilmente concluir que o ambiente que Freud criara ao redor de si favorecia a colaboração igualitária  das mulheres, através de escritos e de iniciativas nas novas técnicas de tratamento.
Cito as que algumas que estavam presentes  na reunião de 1929 : Anna Freud (a dedicada filha de Freud que se tornou psicanalista especializada em crianças), Edith Jacobson, Melita Schmideberg, Karen Horney, Joan Rivière, Melanie Klein ( futuramente conhecida pela sua técnica de tratamento  e teoria referentes à criança), Ruth Brunswick, Barbara Low, Marie Bonapate ( fiel amiga de Freud já citada nesta série), Ella Sharpe , Helene Deutsch, Sybille Yates, Hermine von Hug- Hellmuth (que descobriu a técnica do brinquedo como instrumento para análise de crianças), Mira Oberholzer, Dorothy Burlingham, Eva Rosenfeld, Anny Katan, Marianne Kris e a brilhante Lou Andreas-Salomé que ingressou no movimento em 1912 já com 51 anos, e contribui para este com reflexões, pesamentos e dados por 24 anos. Até 1937, ano de sua morte.
estas foram as primeiras correligionárias da causa psicanalítica. Citei os nomes para facilitar,ao interessados, a eventual busca no "google" os nos manuais da literatura psicanalítica.
Vejam... isso, nas primeira décadas do século XX... Os amigos leitores lembras de alguma outra prática humana tão inclusiva com relação as mulheres antes da revolução da década de 1960???
Ainda sobre o apogeu, cabe dizer que Freud foi amplamente reconhecido:
Em 1921 eleito membro honorário da Sociedade Holandesa de Psiquiatria e Neurologia.
Em 1925, lord Balfour, em discurso famoso de Jerusalém, referiu-se aos três homens que mais tinha influenciado o pensamento contemporâneo, citando Bergson, Einsten e Freud. 
Em 1930, recebe o Prêmio Goethe de literatura.
Em maio de 1935, designado membro honorário da Royal Society Of Medicine.
Em 1936, eleito membro honorário da Associação Psiquiátrica Americana, da Associação Psicanalítica Americana, da Sociedade Psicanalítica Francesa, da Sociedade Neurológica de New York e da Real Associação Médico-Psicológica.

Fraterno abraço
André
          

sábado, 16 de novembro de 2013

Retorno à Freud - A Luta contra o Câncer e a Morte.

Insisto: O melhor estudo de Freud, está em Freud. Ou seja: O ideal, é ler a Obra completa do mestre, e sobre sua vida, tudo se vê nas famosas cartas de Freud.  Eu pessoalmente, tenho a obra completa com capa de couro na minha estante, mas nos últimos anos, tenho lido Freud no notebook e nos últimos meses, no tablet. A coleção eletrônica é completa e fácil de ter, portanto recomendo. 
Então, como dizem no meu amado Rio Grande do Sul... segue o baile e abre a gaita gaiteiro!
Reitero que na série em curso, me utilizo da maestria da psicanalista Amina Maggi Piccini através de seus estudos publicados em 1986.

Em abril de 1923 Freud informava, numa carta a Jones: 
"Detectei, há dois meses, um crescimento leucoplásico em meu maxilar e no meu palato, na parte direita, que removi no dia 20. Não voltei ainda ao meu trabalho e não posso engolir. Fui assegurado quanto à benignidade desse crescimento...Meu próprio diagnóstico foi de epitelioma, mas não foi aceito. O ato de fumar é estigmatizado como fator da etiologia dessa rebelião do tecido."  
Poucos dias antes de ser operado, Freud, no fim de uma conversa com seu colega médico Felix Deutsch, que fora encontrar-se com ele para discutir outras questões, pedira-lhe para dar uma olhada em sua boca, e foi  prevenindo de que lá veria "uma coisa desagradável". Deutsch, logo à primeira vista, percebeu tratar-se de um câncer em estado avançado, mas nada comentou a respeito, limitando-se a confirmar os conselhos dados pelo dermatologista Steiner de realizar uma ablação (oque foi feito) e de suspender definitivamente o fumo (o que foi seguido só esporadicamente). Conforme se pode deduzir das cartas a Jones, o Freud logo suspeitou da verdade que lhe foi ocultada. Sem avisar a família, Freud submeteu-se a essa cirurgia, não numa clínica bem equipada, mas num setor para pacientes externos dirigido por um tal Hajek, não havendo naquele momento nenhum quarto ou mesmo cama à disposição dentro do hospital e parecendo tratar-se, pela orientação do médico, de um problema fácil de ser resolvido. Só após a operação é que a família foi informada. A esposa Martha e a filha Anna, correndo ao hospital, encontraram Freud sentado numa cadeira de cozinha, banhado em sangue. Nenhum médico ou enfermeira estava de plantão naquele momento, mas somente uma freira. Na ocasião, ele foi salvo por um paciente internado, um anão débil mental mas amável e solícito que se precipitara para pedir socorro ao conseguir entender o perigo pelo qual estava passando o recém operado, impossibilitado de falar ou de pedir ajuda por intermédio de uma campainha desativada, mas enquanto isso esvaindo-se em sangue. Foi nesse clima que ocorreu a primeira das 33 operações que o martirizaram na tentativa de lutar contra o câncer. O laudo patológico revelou tratar-se de um epitelioma maligno, mas nada foi dito a Freud, que em seguida foi submetido a um tratamento doloroso de radiações.
Infelizmente, a operação não somente reduzira a abertura da boca, pela retração do tecido devido à cicatriz, mas tinha sido incompleta. Deutsch, percebendo pouco tempo depois a recorrência do tumor, comunicou aos discípulos mais próximos, reunidos em grupo (chamado de "Comitê"), Abraham, Eitington, Ferenczi, Jones, Rank e Sachs, a necessidade de uma cirurgia mais profunda, mas estes decidiram informar Freud somente depois da viagem que o mestre e sua filha Anna haviam programado meses antes a qual esperavam ansiosos ( viagem à Roma). Em seu último ano de vida, Freud sobre por Jones, dessa antiga e secreta decisão do "comitê" e com os olhos em brasa perguntou:
"Com que direito?".
Retornando de Roma, foi escolhido, por sugestão de Deutsch, o maior especialista em cirurgia bucal, Pichler, pessoa extremamente humana que não somente tratou de Freud com grande dedicação durante quinze anos, mas usou de sua autoridade e influência para protegê-lo quando da invasão da Áustria por Hitler.
Num plano operatório, feito em duas etapas (em 4 e em 12 de outubro de 1923), removeu-se todo o maxilar superior e palatar do lado direito. Essa operação mutiladora, que deixou a cavidade nasal e bucal unidas, foi realizada sob anestesia local porque a técnica de anestesia geral não estava ainda desenvolvida na Áustria. Poucos dias depois, percebendo não ter retirado tecido suficiente, Pichler efetuou uma terceira intervenção, desta vez completa. Freud não morreu de metástase desse tumor, mas de outro que apareceu posteriormente.
Sei e todos podem ter acesso as informações que mostram o quando Freud sofreu de 1923 até sua morte em 1939. Pensei em escrever os detalhes. Não me autorizo. Me recuso na verdade. Freud jamais deixou de analisar seus pacientes e nunca parou de escrever. Mesmo sem falar, compareceu à todos os seminários, e sua filha Anna lia suas palavras nas palestras que proferia. E me lembro que alguns anos atrás depois de extrair um dente que estava sobrando, fiquei 3 dias sem atender...
Em 1938, em Londres, Pichler realiza a 33ª cirurgia em Freud. Mas em fevereiro de 1939 reaparecia um novo epitelioma maligno, não muito  longe da base da órbita, num local que não permitia acesso para nova intervenção. Freud estava então definitivamente condenado.
"Sinto dores paralisadoras" escrevia à Arnold Zweig. E, a Marie Bonaparte: 
"Meu mundo é uma pequena ilha de dores flutuando num oceano de indiferença". 
Na região da última lesão havia agora tecido pútrido e um osso necrosado, o que dava origem a um desagradável odor que obrigou Freud à dolorosa decisão de não mais atender pacientes. Max Schur comenta a respeito:
"Seu estúdio transformou-se também no seu refúgio de doente, e do seu leito podia ver o jardim com as flores que amava. Contudo, o cãozinho chow a que Freud era tão ligado não podia suportar o mau cheiro...Quando levado até a sala do estúdio, o chow corria para o canto mais recuado. Freud sabia o que significava aquilo, e olhava para o seu cãozinho com uma tristeza trágica e consciente."
A doença continuou a avançar, causando-lhe terríveis sofrimentos, até que finalmente (dizem alguns que com a ajuda da filha Anna que ministrou altíssimas doses de morfina procedendo a eutanásia à pedido do pai) o pai da psicanálise, morreu em 23 de setembro de 1939.
Uau!!!!!!! Sofri para escrever isso...chorei escrevendo isso!
Na imagem abaixo, um vaso grego de 4 A.C., presente da princesa Marie Bonaparte à Freud. Esta peça, ostenta uma cena da lenda de Édipo e a Esfinge. Hoje, é a urna mortuária onde repousam as cinzas de Freud e sua amada Martha.
Fraterno abraço
André
       

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

De Filosofia em Filosofia....

Não sou apegado a essa coisa de datas comemorativas e alusivas ao que quer que seja. Penso que emoções, sentimentos e memórias inclusive, são atemporais e se inserem em cada indivíduo conforme as demandas do cotidiano e da própria história de vida.
Contudo, hoje comemora-se no Brasil a proclamação da república.
Eu poderia escrever sobre isso a começar pela definição de Republica, de suas origens gregas e falar da RES = coisa,  Publica = do povo. Mas não vou falar....risos
Hoje, também comemora-se o Dia Mundial da Filosofia....
Desejei filosofar...
Mas filosofar num mundo onde o avanço tecnológico é milhares de milhões de vezes mais efetivo que o avanço filosófico é meio complicado...
Penso que Sartre, Roterdã, Schopenhauer e outros tantos mais antigos não tiveram tamanha concorrência desleal...
Penso que a filosofia hoje tem mais adeptos reclusos ante uma lareira acolhedora com um generoso copo de cabernet sauvignon cintilando sob o reflexo do fogo,  do que nos bancos acadêmicos...
E penso como disse o velho recluso Belchior, que se um analista amigo meu falasse hoje, ele diria que "o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual......".
E repenso que filosofar é um exercício também de vida e morte. Vida que vem e precisa ser atualizada a cada dia, mesmo que seja nas teclas F5 do computador que há muito deixou de ser um mero aparelho eletro eletrônico...
Vida que vai entre pingos de reconfortante néctar e cascatas torrenciais de uma mistura do mais terrível fel de nossos dissabores e da cachaça amarga que nos "consola" pois o velho recluso Chico Buarque já filosofou " que também, sem a cachaça, ninguém segura esse rojão...".
E tem a morte...
E penso que cada vez penso mais, que desejo que ela me venha como já descrevi aqui:  "Como uma balzaquiana gostosa, bronzeada de sol e com marquinhas de biquíni...".
E complemento repensando que depois que ela me sugasse com seu beijo gelado e depois de incinerados todos os meus podres, alguma alma generosa jogasse minhas cinzas no rio ou no mar que jamais estive, e que neste momento, tocasse no seu I Phone  uma ária de Puccini cantada pelo Pavarotti.

Bom feriado à todos... e fraterno abraço!
André
P.S.: A ária é Nessun Dorma ... e vos ofereço... risos

http://www.youtube.com/watch?v=k0J-Ur04_qE
 
  


Retorno à Freud - A Invasão Nazista e a Fuga da Áustria.

Bem no início do ano de 1933, Adolf Hitler assume o poder na Alemanha, dando início a um longo período de terror para os judeus, que começam a ser perseguidos. Muitos psicanalistas, prevendo épocas conturbadas, já haviam emigrado no ano anterior para os Estados Unidos, e, agora, os que ficaram eram obrigados a fugir pelo iminente fechamento do Instituto e da Sociedade de Psicanálise de Berlim. Também os filhos de Freud que, com suas famílias, viviam nessa cidade tiveram de abandoná-la. Embora várias pessoas aconselhassem Freud a emigrar para a Inglaterra ou para os Estados Unidos, por estar a Áustria ameaçada pela proximidade de um país dominado pelo nazismo, ele se recusava a expatriar-se, esperançoso de que sua terra fosse preservada da avassaladora destruição, como dizia, de Logos (do saber) e de Eros (do amor) efetuada por Hitler. Até a queima de seus livros em praça pública em Berlim pelos nazistas, em 1933, deixara-o ainda capaz de ironicamente comentar:
 "É um progresso o que está se passando. Na Idade Média, eles teriam jogado a mim na fogueira; hoje em dia contentam-se em queimar meus livros."
Em 1936, provando, pelo contrário, que os nazistas não se contentavam com isso, a Gestapo apoderava-se de todos os haveres do movimento psicanalítico alemão (inclusive da Verlag editora). E, em 11 de março de 1938, os alemães invadiram a Áustria trazendo a onda negra de perseguições judaicas. Nesse mesmo dia vários amigos acorreram à casa de Freud, insistindo novamente para que deixasse o país; conseguiram finalmente convence-lo, só que um pouco tarde, pois agora os judeus, para sair, deviam obter uma prévia "permissão legal".
A casa de Freud foi invadida várias vezes por gangues perambulantes das S.A. ( milícias nazistas), "jovens de olhares canalhas, armados de punhais e pistolas", conforme descrição de Schur (médico pessoal de Freud), que pilharam o dinheiro, ocorrendo o mesmo na sede da Verlag em Viena, onde se encontrava Martin Freud (filho). Mais sérias eram as buscas efetuadas pelos agentes da Gestapo entre as cartas e fotografias, procurando as assinadas por Einsten, considerado inimigo da pátria alemã. Um dia levaram Anna (filha), deixando aflitíssimo o pai, que ficou andando para cima e para baixo o dia inteiro de sua ausência, sem parar de fumar, pelo terror de que ela não mais voltasse, como ocorria frequentemente aos judeus quando arrastados de suas casas. Mesmo querendo agora sair do país, Freud  não tinha condições de pagar a "taxa" pedida pelos nazistas, de vinte por cento dos bens para cada judeu que quisesse emigrar, pois sua família era relativamente grande, ao passo que os cofres de casa e da editora já tinham sido esvaziados. Quem os ajudou nesses momentos foi Marie Bonaparte, que pagou as taxas devidas, embora Freud aceitasse o auxílio com a condição de reembolsá-la.
Com relação às complicadas formalidades, sabemos por intermédio de Ernest Jones (amigo e biógrafo de Freud) que Freud teceu um novo comentário irônico quando foi obrigado a assinar, para o visto de saída, um documento no qual devia atestar ter sido "bem tratado pela Gestapo...podendo viver e trabalhar em plena liberdade... não tendo qualquer razão de queixa". Freud perguntou se lhe era permitido acrescentar uma sentença do tipo: "Posso de coração recomendar a Gestapo a qualquer pessoa???".
No dia 4 de junho de 1938, Freud deixava definitivamente Viena, acompanhado por sua mulher, pela filha e por duas fiéis empregadas. Seu médico particular, Schur, viajaria em seguida.
Ao passar por Paris ( onde permaneceu na casa de Marie Bonaparte por um dia "que nos devolveu a dignidade e a têmpera) e em sua chegada à Inglaterra foi acolhido com estrondosas honrarias. Freud gostava desse seu país adotivo que sempre estimara e onde Jones, vários discípulos e futuros pacientes o tinham esperado ansiosamente. Ele podia passar agora horas deliciosas no belo jardim em frente ao seu escritório. Apesar das regalias, comentou um dia:
"O sentimento de triunfo ao me ver libertado acha-se tão fortemente vinculado à dor, já que amei profundamente a prisão da qual fui libertado."

Na próxima publicação da série, abordarei a morte de Freud.
Na ilustração abaixo, o consultório de Freud em Londres, até hoje preservado e visitado diariamente por milhares de pessoas.
Fraterno abraço
André
  

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Retorno à Freud!

Citei várias vezes e repito: Não tem como considerar-se psicanalista, sem ter a essência freudiana. Lacan, em seu seminário de Roma estabeleceu aos seus alunos: "Vocês que sejam lacanianos. Eu, sou e sempre serei, Freudiano!" 
Então, vou dar uma folga aos leitores (risos), e deixo de lado (pero no mucho...risos) Lacan e suas teorias ( que ao meu juízo foram as mais efetivas releituras e retorno à Freud) e inicio hoje a série RETORNO À FREUD.
Sigmund Freud, está na minha opinião, entre os 5 maiores pensadores da história humana. Ainda na minha opinião, é o maior deles. Todo mundo cita Freud. Dentro dessas circunstâncias, me surgiu a ideia de escrever a série que inicio hoje. Espero que gostem e através dos comentários, espero também aprender com todos que prestigiarem meu texto.
Vou citar vários biógrafos do mestre. Mas fundamentalmente, vou me apoiar no trabalho da Psicanalista Amina Maggi Piccini (Freud, Ed Moderna, 1986) que notabilizou-se por estudar e ensinar a obra freudiana e na obra citada fotografa com maestria não só as ideias, mas também a vida pessoal e a época do narrado.
Meu trabalho, diferente do usual, começará pelo fim. Vou começar com os últimos momentos, e assim vamos evoluindo até o nascimento. 
Então... segue o baile.

No fim da vida a inspiração de Freud foi conseguir terminar a vultuosa obra Moisés e o monoteísmo, o que realmente ocorrerá com sua publicação em 1939, enquanto Esboço de Psicanálise foi deixado inacabado.
Em carta ao amigo Romain Rolland, o fundador da Psicanálise escreveu:
 " Uma grande parte da obra de toda a minha vida tem sido gasta tentando destruir as minhas ilusões e as de toda a humanidade."
Penso que essa frase possa ser a mais indicada para iniciar esse estudo de retorno à Freud.
Vejam prezados amigos, que uma narrativa sobre a vida de alguém deveria terminar quando esse alguém morresse. Contudo, isso é impossível em se tratando de Freud, que continua vivo através de suas obras, algumas das quais escreveu competindo com a morte, para que esta não o levasse à linha de chegada antes de concluí-las.
Apesar das dificuldades por que passou, e que vou tentar resumir no decorrer da série, Freud nunca decresceu no vigor de sua produção literária e científica.
Destaco para início de conversa, a grande "briga" que o mestre adotou como sua escrevendo ( em péssimas condições de saúde física) A Questão da Análise Leiga que foi motivada pelo processo que vitimara seu discípulo, não médico, Theodor Reik. Freud colocou-se em posição diferente da de seus próprios discípulos, que preconizavam a Psicanálise exercida apenas por médicos. O mestre, ao contrário, considerava que a Psicanálise não poderia ser apenas "mucama" da medicina.
Ao percorrermos as últimas obras de Freud podemos perceber duas características. A primeira é que várias delas (Psicologia de grupo e análise do ego, de 1921; O futuro de uma Ilusão, de 1927; O Mal estar na civilização, de 1930; Moisés e o monoteísmo, de 1937-1939) abordarão questões culturais, sociológicas, históricas e antropológicas, enquanto ele aprofundava questões clínicas. Todavia, devemos lembrar que para Freud esses estudos não se inserem em áreas separadas da psicologia mas constituem uma continuação dela, vista em suas aplicações mais abrangentes. A segunda característica é que em suas últimas obras Freud traz um tom bem menos otimista, diríamos até bastante pessimista, da condição humana dentro da cultura, que frequentemente nega a verdade psíquica das pessoas que a compõe.
Mesmo com relação ao tratamento, é possível perceber uma diferença entre a euforia de suas primeiras obras e a avaliação meditada dos perigos e limitações quando usado por pessoas despreparadas, ou apressadas, ou levadas pela crença superficial de que a pesquisa do inconsciente possa ser previamente estabelecida quanto ao seu rumo (conforme aparece em Análise terminável e interminável, de 1937).
Amanhã seguimos...
Fraterno abraço  
André


  

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Comentários de Publicações Anteriores VI

Então sigamos. Depois de alguns dias, retomo a série comentários.

Para Lacan, o inconsciente se reduz à função simbólica. Em sua obra, o desejo humano é causado pela estrutura, é estrutura em si mesmo, pois desliza, como faz o significante.
A ideia de explicar o desejo, a partir de um deslizamento incessante do significante, é muito atraente, pois ilustra, tanto o aspecto de isca que o objeto desejado tem, como também porque o sujeito tem uma sequência infinita de objetos desejados. Também separa o desejo da fonte biológica, dando prioridade ao aspecto simbólico sobre o fisiológico ou material. De todo o modo, resta explicar a relação entre o simbólico e os aspectos fisiológicos, temática que não escapa à inteligência de Lacan, quando procura compreender a articulação das ordens simbólica e real.
Lacan nos propõe uma versão do desejo e sua relação com a linguagem, que é bastante elaborada. Pensa-a de três maneiras diferente: duas são estritamente linguísticas e a terceira introduz um fator alheio à cadeia significante. Em um sentido ontológico, o desejo surge porque há linguagem; em um enfoque mais moderado, a linguagem é modelo para o desejo, trata-se de uma analogia ou de uma metáfora: o significante desliza e supõe-se que acontece a mesma coisa com o desejo e, ao mesmo tempo, seu resultado. É o objeto que se liga à fantasia. Este terceiro modo de raciocinar possui uma independência relativa dos outros dois.

Fraterno Abraço
André
  

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Comentários de Publicações Anteriores V

Depois de uns dias sabáticos retorno com a série comentários. Insisto que à tudo o que estamos comentando, encontra-se nos arquivos da página e do blog. 
Dito isso... sigamos:

Depois de Freud, Lacan e Melanie Klein são os que foram mais longe na reformulação global da teoria psicanalítica. Estes dois gigantes introduziram tal vastidão de mudanças nas concepções que, com acertos e erros, a psicanálise se modificou depois deles. Assim como nos anos 60 houve a moda kleiniana, agora ( depois da década de 80), em alguns lugares como Buenos Aires e Porto Alegre no Brasil, dissemina-se o ensino lacaniano. 
Em Lacan, o poder da letra e do código sobre o indivíduo é completo. A obra lacaniana insiste em que o sujeito fica inscrito a partir de fora, sem liberdade de escolha.O estruturalismo utilizado revive a paixão pela razão, colocada na estrutura, como a racionalidade causal auto-regulada; desaparece ao acaso, a casualidade, exagerando-se o determinismo dos fatores externos ao sujeito. Atualmente, muitos pensam a mente como um lugar em que se produzem sentidos infinitos. Freud, por seu turno, propôs, com sua teoria das séries complementares, um equilíbrio entre o interno e o externo.
A primazia do significante, entendida não só como fato linguístico, mas em um sentido amplo e social, leva-nos a pensar que o símbolo determina o homem, torna-o escravo de sua marca, do emblema e da tradição ou ritual. O discurso da ciência (fora das paixões imaginárias) é discurso simbólico, mas, como aceitar seu desenvolvimento, sua mudança, a criação, a intuição ou a especulação, quando se entra em um beco sem saída, ao asseverar que a estrutura significante é inapelável para o sujeito, tendendo a se repetir continuamente?
Lacan diz, algumas vezes, que o significado luta por se expressar, e, em outras, que o significante tem atividade produtiva e não expressiva. Pode ser que se trate de contradições internas do modelo, mas é também possível que se refira a ordens diferentes. Em um sentido, a primazia do significante reivindica o peso da cultura na determinação do sujeito. É através da linguagem e dos símbolos que o sujeito se constitui, pois é determinado por eles. Primazia do significante quer dizer, então, que a estruturação do sujeito deriva da convenção linguística e social. Indubitavelmente, há verdade nestas ideias.

Fraterno abraço
André
          

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Comentários de Publicações anteriores IV.

Sem querer ser enfadonho me explico:
Por semanas, abordei aqui assuntos relativos à teoria lacaniana. Foram tratados aqui :A constituição do sujeito, a transferência, o sujeito do suposto saber, a palavra plena e o ato simbólico.
Nesta sequencia de comentários ( que já estão em IV), faço comentários pessoais da série publicada. Na dúvida, consultem as publicações anteriores que ainda estão nos arquivos.
Dito isso... comento:
Os enfoques linguísticos de Lacan podem ser discutidos. Muitos não aceitam a primazia do significante, apoiando a ideia de de um equilíbrio ente este e o significado. Também é acusado de um reducionismo, em sua conceptualização do inconsciente. Porém, mesmo assim, não se pode negar a originalidade das teses lacanianas, nem deixar de reconhecer os problemas que resolve ou as vias que inaugura. A ideia de Lacan evita uma dificuldade, apresentada na proposta freudiana de inconsciente, a qual, apesar de sua grande utilidade clínica, complica-se teoricamente quando tem de harmonizar fenômenos biológicos com outros que não o são (representações, linguagem e sentimentos). A proposta de Lacan, por mais questionável que possa ser, parece simples e harmônica com o que se procura estudar. É metáfora ou realidade que o inconsciente está estruturado como linguagem?
Indubitavelmente, é um acerto da teoria lacaniana pôr a prioridade fálica como centro da sexualidade humana. Não se pode subestimar o interesse de um tema que tinha ficado um tanto relegado, devido ao auge das teorias das relações objetais. Mas faz algo mais: de uma maneira que não se tinha feito até então, relaciona a significação do falo, em um sentido antropológico geral, com a conflitiva neurótica. Continuam a sair, da inspiração lacaniana, teorias, observações, opiniões. Como fazer justiça a tantas questões ao mesmo tempo? fala-se da relação do sujeito com a cultura, da que existe entre a linguagem com a psicanálise e o inconsciente, também lembremos sua diferenciação entre desejo, necessidade e demanda, a criação dos três registros (real, simbólico e imaginário), a concepção do desejo humano, a proposta de um homem, alienado entre o desejo do Outro e do outro, a imbricação da linguística com o sintoma, a importância dada, no homem, ao simbólico e a convenção significante. Lacan ensinou a pensar a problemática da castração, tanto em relação à ordem imaginária ( ser o falo ou ter o falo, confundir a pessoa com a lei), quanto à estrutura significante, portanto a ausência, a falta, está presente, dentro de um sistema de relações, como carência de ser do sujeito enquanto significante.
E amanhã prosseguimos...
Fraterno abraço
André


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Comentários de Publicações Anteriores III.

Seguindo ainda comentando os textos relativos à obra de Laca, penso ser a alienação lacaniana do sujeito é mais radical, em um sentido, do que a de Freud e, também, diríamos, do que a de Marx. O homem, para Freud, está em crise, como resultado da luta entre sua natureza e a lei da cultura. Porém, mesmo quando enfrenta esse conflito, há algo que lhe pertence ou que lhe é próprio, tanto em sua natureza como em sua cultura. O homem de Laca, alienado  entre o desejo que a identificação com o semelhante lhe impõe, e o desejo que a cultura lhe impõe, através da linguagem, sofre uma alienação constitutiva mais absoluta. Não há nada próprio dele, fica indefectivelmente preso entre o outro e o grande Outro. Lacan rechaça qualquer possibilidade de livre arbítrio. Nenhum ser humano organiza seu destino e suas motivações, ambos nascem no exterior. A problemática do sujeito, em Lacan, é um assunto muito mais amplo do que o genial, mas de todo modo mais modesto,projeto freudiano: o homem, com sua sexualidade e conflitos que esta lhe causa.
Torna-se difícil sintetizar as contribuições originais de Lacan. Menciono, inicialmente, algumas. Ele pensa o narcisismo com um novo critério, etológico e intersubjetivo. Toma de Hegel a dialética da relação com o semelhante; de Sartre, o tema do olhar, de Freud, o conceito de identificação e do narcisismo. O resultado final é de grande riqueza conceptual. Aplicado ao Édipo e ao vínculo com a mãe, abandona todo o desenvolvimento evolutivo e vai direto ao âmago: o desejo da mãe. Vincula o narcisismo à agressividade, assim progredindo muito, em um duplo caminho: deixa o meio da biologia e o reducionismo de uma pretensa pulsão de morte e amplia o nível de explicações da clínica.

Fraterno abraço!
André
    

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Comentários de Publicações Anteriores II

Então sigamos....
A obra de Lacan, impressionantemente por seu nível teórico, pela formalização que alcança e pela vastidão de seu gênio criativo, aparece como uma renovação profunda dos esquemas conceptuais psicanalíticos. A convergência de preocupações da psicanálise com outras disciplinas do tipo filosófico, antropológico e linguístico admite muitos vértices de análise. A concepção lacaniana do sujeito não é a mesma que a da estrutura do inconsciente ou da técnica psicanalítica. Nenhuma obra é homogênea e, menos ainda, uma obra desta magnitude. Quantos Freud existem? Há o sagaz observador da natureza humana e, também o cientista materialista lamarckiano do século XIX, o criador de teorias especulativas e o clínico rigoroso. A obra de Lacan é heterogênea, como também o é a de outros grandes psicanalista. Melanie Klein, por exemplo. Por acaso não se poderia aceitar nela a genialidade de seus achados clínicos e a profundidade de seu pensamento, questionando, simultaneamente, outros aspectos de sua obra, como as proposições genéticas ou instintivas??
Embora seja pouco provável presumir uma avaliação equânime do pensamento lacaniano, tenho tratado de tentar me aproximar, deste ponto virtual. Ideias anteriores e outras experiências clínicas influem em nossa perspectiva. A dificuldade de aprender uma língua nova, quando uma pessoa é adulta, consiste em que sua língua original atua como "tela" psicológica, obstaculizando o acesso ao outro idioma. Algo semelhante nos acontece ao estudar Lacan.
Na obra de Lacan  a qual aliás, abordamos poucos pontos básicos aqui, sobressaem a originalidade e a audácia de seu pensamento. Cria novos modelos, para pensar os problemas da psicanálise, entre eles a relação do inconsciente com a cultura.
Lacan usa o ardil da convivência humana dentro do movimento psicanalítico. Apenas quando sua posição se afirma, estabelecendo-se a liderança, pode destacar as diferenças entre  sua obra e a de Freud.
Penso que sua reformulação é muito profunda. Modifica-se o eixo de referência da teoria e metapsicologia. 
É disso que trataremos nesta série de comentários. 

Fraterno abraço
André 


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Comentários de Publicações anteriores I.

Sobre as publicações anterior, todas elas voltadas para a Técnica Psicanalítica com base em Jacques Lacan, vou iniciar comentando o que publiquei com algumas ressalvas. Quero diferenciar, em primeiro lugar, meu nível de análise, a obra em si, a teoria, da política e do movimento. Pensei mais no texto de Lacan do que em suas qualidades ou defeitos como pessoa e nos avatares de sua vida. Com este recorte instrumental, analisarei suas ideias. Vou deixar de lado a discussão sobre o movimento psicanalítico, os homens e a política institucional.
Em um mundo em que se criticam ou se aceitam teorias, de acordo com questões secundárias e até da moda, a reflexão científica se impõe como uma tarefa afastada, tanto quanto possível, da luta pelo poder, da busca de posições dentro do movimento ou da aspiração de êxito social. Por vezes, a crítica equânime e racional parece uma utopia inalcançável. A estás dificuldades deve-se acrescentar uma, fundamental: a psicanálise não tem um sistema e avaliação empírico, convincente para todos, que permita asseverar a superioridade de uma teoria sobre outra. As demonstrações psicanalíticas podem surgir de uma combinação da experiência, reflexão crítica e aproveitamento da capacidade do ser humano em apreciar a verdade. A atitude emocional que buscamos procura integrar a aceitação amistosa do pensamento alheio com certa cautela, em relação às expectativas exageradas que cada teoria  possa causar.
O "fenômeno" Lacan converteu-se no centro da vida psicanalítica da França, há trinta ou quarenta anos. Dali se difundiu  para outros ambientes, como alguns países europeus e latino-americanos. Sua influência nos Estados Unidos e Inglaterra é quase nula,pelo menos até o momento. Suscitou partidários acérrimos e críticos recalcitrantes. Como toda teoria, serviu para estudar novos problemas e também, lamentavelmente, como bandeira política.
Depois da morte da Lacan, a luta por sua herança desencadeou batalhas violentas entre facções rivais. A escola lacaniana está, atualmente, bastante fragmentada. Contudo, ao meu juízo, é a mais sólida.  
Introduzidos os comentários, amanhã continuamos....
P.S.: Na publicação de hoje, a foto ilustrativa é minha... no consultório... aos atentos, podem reparar o divã freudiano, e quadros de Narciso e Freud... 
Fraterno Abraço
André